Reflexão
“Há mais mistérios entre o céu e a terra que a vã filosofia
desconhece”
Shakespeare.
Hoje, em meio a um mundo
material, totalmente voltado ao complexo centro de nossas ambições, na maioria
das vezes, acreditamos que a vida é só
isso. Ter, sorrir e morrer. Dessa forma fica mais fácil entender o paraíso burguês, as cascatas de mel, as quarenta
virgens a nossa espera, o trono dourado de Deus, a vida eterna sem qualquer
trabalho a nossa espera...
Mais fácil ainda é estruturar
gerações a essa filosofia de vida quando outras já o fizeram em nome de vários ídolos
do passado. Assim, prosseguimos em mistérios fáceis de decifrar, pois todos
eles estão já prontos para serem desmistificados com nossa visão turva, a qual,
há muito tempo, vem formando plantas ambulantes em nome de um deus criado pelo
homem materialista.
Às vezes, acreditamos não sermos
tão materialistas, tão compenetrados em nossas vidas frias e sem cor. Tanto
que, ao nos ocorrer um mero problema, nos entregamos ao primeiro deus de
plantão – ou ao pequeno santo, que se resguarda para as horas mais raras de
nossos conflitos. Isso nos prova o quanto somos doentes, e que a cura
entregamos a entidades que, provavelmente, a nosso ver, ficam a espreita de
nossas vidas, como guardiões. E isso é real.
Platão nos disse um dia, “Nossa maior doença é a ignorância”. Não
sabemos o que nos acontece biologicamente, com nosso corpo, e não temos, assim,
especialidades para sanar tal enfermidade, por isso, o médico. No entanto, a
mente, embriagada de desejos e problemas, na maioria das vezes, é a responsável
pelas dores que possuímos em quase todo nosso corpo.
A parte que nos cabe, assim,
seria nos informar a respeito do aspecto psicológico, ou melhor, espiritual,
que nos atordoa sempre. Muitos, assim mesmo, entregam-se a deuses, e em suas
orações acreditam que nosso corpo e mente dependem naturalmente de uma cura que
vem do céu, como se fôssemos especiais. E somos, mas não para isso.
Nossa ignorância nos permite
refletir no sentido oposto da questão. Deixando margens a uma série de
questionamentos que poderiam ser feitos e ao passo respondidos, e, com certeza,
levados à prática no sentido sanar qualquer dor no homem. Aqui entra a ciência.
A Ciência, como mero buscador de
verdades físicas – não apenas no homem, mas no universo – revela-se cruel em
todos os sentidos, ainda que seja para o bem – curando, descobrindo, etc; pois traspassa
o racionalismo doentio e despreza a existência de mistérios além-matéria.
Ao contrário dos simples
buscadores, ou mesmo do homem que não busca, sinto que já passamos por uma
ciência mais ampla, na qual homens sábios, talvez mais sacerdotes que
cientistas, revelaram-se mais humanos e espirituais que os de hoje. Tanto que
situações há em suas vidas particulares, que precisam esconder-se a tentar
entender o porquê ou como aquilo aconteceu...
Estou me referindo a cientistas
que não acreditam em mistérios além-matéria e se espantam com imagens de
pessoas mortas a visitar seu ambiente terreno. Aqui vence o pequeno
trabalhador, que acredita em divindades celestes, e tem a resposta no final da
frase... “É Deus!”...
A realidade, a verdade, no
entanto, está tão longe quanto o maior dos mistérios a ser desvendado por um
simples transeunte que viola uma simples lei. Então, se a única forma de o
homem tentar dirimir sua ignorância é nela se perpetuando, como responder a
menor das perguntas que a natureza espera?...
No meio de Tudo
Um dia um grande professor nos
disse, “Estamos no Antakarana da vida.
Entre o céu o inferno”. Na busca desenfreada por entender Deus, o homem não
consegue desligar-se de sua visão cotidiana e científica. Não consegue deixar
de ver um Deus dentro de suas limitações humanas, e assim, limitando entidades
que ele mesmo cria, em círculos idem.
Por mais que nos enclausuramos em
nossas respostas, e as tentamos resolver dentro do que elas pedem, estaremos a
fazer isso apenas com nossos olhares, não menos que isso. Não adianta passarmos
por mistérios realmente válidos, os quais são notórios de pessoas que buscam,
mas todas elas terão focos a partir de nossos olhos internos e externos.
Dessa forma, fica fácil criar
deuses, e, já que nos impressionamos com tudo, seremos obrigados a louvar as
referidas entidades por visões extra cósmicas, ou mesmo pelo simples fato de o
dinheiro entrar em nossa conta no fim do mês.
O céu, tão material quanto o
mundo, será cheio de conforto, vigiado por anjos puros e belos, ou a depender
de nossa cultura, cheio de cascatas imensas a desabar em rios de mel, rodeado
por virgens, ao lado do beneficiário... O inferno, como legado ao mal que nos inibe,
terá a entidade que nos espera para fazer o maior mal que aquela cultura, em
seu intimo, espera. Tudo, apesar de tudo, sempre nos soará sempre humano.
Impossível
Se somos humanos, e se somos
voltados à matéria tanto quanto ao nosso próprio Eu, no sentido mais filosófico
da palavra, podemos, no entanto, vencer certas amarras que nos prendem e nos
fazem fixos a pensamentos que já foram vencidos com o tempo. Cada amarra
desatada, ou em cada tentativa, o próprio homem, em seu equilíbrio, entre o céu
e o inferno, pode alinhar seus próprios desejos ao que a natureza É.
O impossível, que é deixar de ser
humano, tornar-se-á possível aos nossos olhos, e por ele seremos ate mesmo
sábios, deuses, entidades partícipes de um universo que criamos, com vistas a
um maior. Para isso, devemos fechar os olhos, e aceitar que somos parte, assim
como os vermes são parte da terra, ou assim como os próprios átomos o são das
estrelas que compõem o todo – e não me refiro apenas às visuais, mas
principalmente às que estão próximas do Infinito.
O cientista, como profundo
conhecedor da matéria, assim, verá a consciência orbitando em nome de uma
harmonia que jamais poderia ser vista. O homem comum, ainda que parco em sua
busca, entenderá somente essa consciência por meio de seus meros valores,
colhidos em vida. Ainda sim, os dois – cientista e homem comum – serão ignorantes.
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