quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Entre a noite e a manhã.

Reflexão





“Há mais mistérios entre o céu e a terra que a vã filosofia desconhece”
 Shakespeare.


Hoje, em meio a um mundo material, totalmente voltado ao complexo centro de nossas ambições, na maioria das vezes,  acreditamos que a vida é só isso. Ter, sorrir e morrer. Dessa forma fica mais fácil entender o paraíso  burguês, as cascatas de mel, as quarenta virgens a nossa espera, o trono dourado de Deus, a vida eterna sem qualquer trabalho a nossa espera...

Mais fácil ainda é estruturar gerações a essa filosofia de vida quando outras já o fizeram em nome de vários ídolos do passado. Assim, prosseguimos em mistérios fáceis de decifrar, pois todos eles estão já prontos para serem desmistificados com nossa visão turva, a qual, há muito tempo, vem formando plantas ambulantes em nome de um deus criado pelo homem materialista.

Às vezes, acreditamos não sermos tão materialistas, tão compenetrados em nossas vidas frias e sem cor. Tanto que, ao nos ocorrer um mero problema, nos entregamos ao primeiro deus de plantão – ou ao pequeno santo, que se resguarda para as horas mais raras de nossos conflitos. Isso nos prova o quanto somos doentes, e que a cura entregamos a entidades que, provavelmente, a nosso ver, ficam a espreita de nossas vidas, como guardiões. E isso é real.

Platão nos disse um dia, “Nossa maior doença é a ignorância”. Não sabemos o que nos acontece biologicamente, com nosso corpo, e não temos, assim, especialidades para sanar tal enfermidade, por isso, o médico. No entanto, a mente, embriagada de desejos e problemas, na maioria das vezes, é a responsável pelas dores que possuímos em quase todo nosso corpo.

A parte que nos cabe, assim, seria nos informar a respeito do aspecto psicológico, ou melhor, espiritual, que nos atordoa sempre. Muitos, assim mesmo, entregam-se a deuses, e em suas orações acreditam que nosso corpo e mente dependem naturalmente de uma cura que vem do céu, como se fôssemos especiais. E somos, mas não para isso.

Nossa ignorância nos permite refletir no sentido oposto da questão. Deixando margens a uma série de questionamentos que poderiam ser feitos e ao passo respondidos, e, com certeza, levados à prática no sentido sanar qualquer dor no homem. Aqui entra a ciência.

A Ciência, como mero buscador de verdades físicas – não apenas no homem, mas no universo – revela-se cruel em todos os sentidos, ainda que seja para o bem – curando, descobrindo, etc; pois traspassa o racionalismo doentio e despreza a existência de mistérios além-matéria.

Ao contrário dos simples buscadores, ou mesmo do homem que não busca, sinto que já passamos por uma ciência mais ampla, na qual homens sábios, talvez mais sacerdotes que cientistas, revelaram-se mais humanos e espirituais que os de hoje. Tanto que situações há em suas vidas particulares, que precisam esconder-se a tentar entender o porquê ou como aquilo aconteceu...

Estou me referindo a cientistas que não acreditam em mistérios além-matéria e se espantam com imagens de pessoas mortas a visitar seu ambiente terreno. Aqui vence o pequeno trabalhador, que acredita em divindades celestes, e tem a resposta no final da frase... “É Deus!”...

A realidade, a verdade, no entanto, está tão longe quanto o maior dos mistérios a ser desvendado por um simples transeunte que viola uma simples lei. Então, se a única forma de o homem tentar dirimir sua ignorância é nela se perpetuando, como responder a menor das perguntas que a natureza espera?...

No meio de Tudo

Um dia um grande professor nos disse, “Estamos no Antakarana da vida. Entre o céu o inferno”. Na busca desenfreada por entender Deus, o homem não consegue desligar-se de sua visão cotidiana e científica. Não consegue deixar de ver um Deus dentro de suas limitações humanas, e assim, limitando entidades que ele mesmo cria, em círculos idem.

Por mais que nos enclausuramos em nossas respostas, e as tentamos resolver dentro do que elas pedem, estaremos a fazer isso apenas com nossos olhares, não menos que isso. Não adianta passarmos por mistérios realmente válidos, os quais são notórios de pessoas que buscam, mas todas elas terão focos a partir de nossos olhos internos e externos.

Dessa forma, fica fácil criar deuses, e, já que nos impressionamos com tudo, seremos obrigados a louvar as referidas entidades por visões extra cósmicas, ou mesmo pelo simples fato de o dinheiro entrar em nossa conta no fim do mês.

O céu, tão material quanto o mundo, será cheio de conforto, vigiado por anjos puros e belos, ou a depender de nossa cultura, cheio de cascatas imensas a desabar em rios de mel, rodeado por virgens, ao lado do beneficiário... O inferno, como legado ao mal que nos inibe, terá a entidade que nos espera para fazer o maior mal que aquela cultura, em seu intimo, espera. Tudo, apesar de tudo, sempre nos soará sempre humano.

Impossível

Se somos humanos, e se somos voltados à matéria tanto quanto ao nosso próprio Eu, no sentido mais filosófico da palavra, podemos, no entanto, vencer certas amarras que nos prendem e nos fazem fixos a pensamentos que já foram vencidos com o tempo. Cada amarra desatada, ou em cada tentativa, o próprio homem, em seu equilíbrio, entre o céu e o inferno, pode alinhar seus próprios desejos ao que a natureza É.

O impossível, que é deixar de ser humano, tornar-se-á possível aos nossos olhos, e por ele seremos ate mesmo sábios, deuses, entidades partícipes de um universo que criamos, com vistas a um maior. Para isso, devemos fechar os olhos, e aceitar que somos parte, assim como os vermes são parte da terra, ou assim como os próprios átomos o são das estrelas que compõem o todo – e não me refiro apenas às visuais, mas principalmente às que estão próximas do Infinito.


O cientista, como profundo conhecedor da matéria, assim, verá a consciência orbitando em nome de uma harmonia que jamais poderia ser vista. O homem comum, ainda que parco em sua busca, entenderá somente essa consciência por meio de seus meros valores, colhidos em vida. Ainda sim, os dois – cientista e homem comum – serão ignorantes.

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