quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Caminhos Invisíveis



"Aquele que procura achará".
Bíblia.



Quando eu era pequeno e tinha minhas escolhas conscientes, lembro-me de sempre tentar fazer aquilo, qualquer coisa que fosse, do meu jeito – às vezes, me saía bem, outras não, de modo a sempre ficar na expectativa de me dar bem – e quando minha mãe me pedia para fazer algo, lá estava eu novamente a pensar se faria ou não do meu jeito, sem que ela soubesse, claro, contudo, todas as vezes que eu me lançava a fazer do jeito dela... sempre dava certo... Como somos ridículos!

E hoje, após anos de vida, casado, tento educar meu filho de cinco anos na tentativa de vê-lo sobressair de seus primeiros deveres e obrigações que a vida lhe propõe. E aí penso nos dias em que meu livre arbítrio frente às problemáticas do passado me fizeram equilibristas, a cair na certeza ou na incerteza, sem seguir qualquer voz, comando... caminho, e isso me (não só a mim..) transformou em um homem que tentou seguir seu próprio caminho, porém com uma voz interna, reta, de uma experiência que, à época, não sabia, mas de uma pessoa que não só era mais avançada em idade do que eu, mas que também tinha passado por tudo na vida...

Esse alguém era minha mãe. E depois que passamos pelas tempestades – claro que por ignorância por ela passamos – sentimos, lá no fundo, a necessidade de ter escutado mais, e encontrado nossos caminhos sem ter passado por eles como passarinhos em ninhos de urubus.

E hoje, quando vejo meu filho refutando, com aquela idade, minhas ordens, eu me vejo nele. Começo a sorrir sozinho, sem que ele perceba, com uma pitada de orgulho e outra de medo, pois sei que, assim como muitos que não seguem linha alguma – ou melhor – caminho algum, sem ter escutado seus pais, ou mesmo a eles obedecido, a depender do individuo, passa por situações desnecessárias, nas quais a lembrança de alguém que um dia tinha mais experiência, mais vida, sabedoria, vem a nossa mente, como mágica...

Tenho a certeza de que muitos jovens metidos na escuridão da vida têm a mesma opinião. A maioria se engendra por caminhos tortuosos, se perdem, encontram a luz e voltam para casa ao encontro daqueles que um dia lhe disseram: “não vá por esse caminho!”... mas sempre vão na tentativa de mostrar a eles mesmos e ao mundo a independência, a autonomia, etc e que podem mudar suas vidas, e o próprio universo.

Sim, podem. Contudo, senão tiverem planos de destruição em suas agendas virtuais, podem ouvir a voz da experiência dos pais, ou mesmo de professores que são destinados a serem professores, não loucos que se sentam em cima de mesas e brincam de cantar em nome da educação.

Os jovens podem mudar o mundo, seguindo os preceitos nos quais foram criados e educados; podem sentir em suas mãos a política, a religião, a ciência, a beleza de sentir as transformações humanas e estruturais. E isso é real. Não é sonho. Por isso muitas gerações se sobressaíram, por meio do grito, da vontade de mudar, em nome de uma educação que seguiam desde pequeno, a qual um dia cochichava em seus ouvidos da alma a dizer... “podemos escolher, pois, agora, sabemos qual nosso caminho”.

A juventude de hoje, no entanto, claudica no entendimento do que significa “caminho”, e mais, sente que o mundo, ou o que acontece nele, querendo ou não, é fruto do descaso politico e de alguma forma teme a reação dela (da política) para com seus objetivos de mudança.

Uma coisa é certa. Se tais objetivos não forem tão claros, não adianta ir às ruas, gritar em nome de Deus, da Educação, de uma boa política, pois estar-se-á construindo castelos de areia em cima do oceano.


Tradição.

E quando me bate o ar da reflexão, penso não só em minha mãe, e seus ensinamentos raros, mas em meus mestres, os quais ditam o passado – o legado humano – como forma fundamental para construirmos um mundo melhor. Nele, nesse legado natural, porém mais humano que tudo, começamos a mudança por nós mesmos – não pelos fatores externos, inicialmente, como sempre o fazemos. Desde nosso pensamento com relação às coisas nas quais acreditamos ser belas, e que no fundo são panos de fundo materiais, até o próprio espirito, tão divulgado e ao mesmo tempo tão massacrado pela ignorância humana.

Os mestres, não só os que penso, mas todos, deixaram-nos obras, histórias, mitos, lendas, palavras... tudo em nome de uma real mudança na qual o próprio humano, com suas próprias ferramentas, se transforma todos os dias em alguém melhor.


Entretanto, assim como nossos filhos menores, ou como os jovens de hoje, duvidamos e tentamos estancar qualquer vinculo com o passado, com seus ensinamentos, mesmo sabendo que todos os mestres, inclusive nossos pais, estão corretos.




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