Minha querida mãe era uma pessoa dedicadíssima a Deus, e em suas breves leituras da Bíblia, sempre que podia, em seu quarto meio escuro, com parca visão, óculos meio caídos, com a perna direita sempre enfaixada, cruzada uma em cima da outra para aliviar a dor que sentia, nos dava aulas de catequese meio que forçadas, mas que, sempre, nos foram úteis a vida inteira...
E quando entrávamos sorrateiros naquele "biongo", como sempre brincava, cheio de amarguras e problemas, cansados de tudo, de nada; e às vezes chorosos como crianças grandes, não havia melhores dias. A senhora de mais de setenta anos, dos quais mais de cinquenta dedicados à igreja, dizia "O choro pode durar uma noite, mas a alegria vem pela manhã"...
Ela estava a se referir da voluveidade de um tempo que nos faz acreditar muito mais nas intempéries do que nas vivacidades naturais, as quais somos protagonistas, todavia, só nos 'lembramos' do que nos leva para o chão, para a decrepitude a que temos obrigação de enfrentar, conflitar e sair vitoriosos...
Porém, difícil é entender que nas entrelinhas da vida somos todos iguais, lá dentro, no mais profundo de nosso âmago, pois somos humanos, e nada nos faz ser melhor ou pior do que somos. Não adianta chorar, beber, falar em morte ou mesmo pular de prédios, dizer que somos os últimos dos últimos, a sentir pena de nós mesmos. Temos que enfrentar, com nossas dores, como guerreiros simples que somos, ou como peixes, pequenos ou grandes, mas tão importantes a esse mar quanto as pedras porque passamos, o que nos é natural a esse mar, mas que, para nós, uma grande perseguição de algo, de alguém, de alguma coisa...
Não. Nada nos persegue, a não ser nossa própria ignorância em entender que somos, em vida, desde o dia em que nascemos, e criamos consciência, adotamos princípios, erramos, na busca por caminhos, opiniões, ou seja, na concretização de nosso caráter, semeadores de jardins que serão vistos mais tarde em forma de flores belas ou pisadas com a nossa arrogância sem fim.
É mais que isso... Abracemos não somente a teoria do "Plantou, colheu", e preparar-se para as tristezas e alegrias nas quais somos não somente protagonistas, mas responsáveis-mores... Assim como o nascimento de uma criança, em que nos sentimos presenteados pela Divindade, e na maioria das vezes o único dos únicos, e na morte, o pior dos piores, o abandonado, o isolado pelo Criador...
Aqui, não há o mais forte ou o mais fraco. Existe o mais preparado em convicções, em certezas pelo seu caminho, e quanto mais conhecimento em relação a si mesmo, menos será o impacto... Mas a questão é que acreditamos que os sinos dobram por nós, que os oceanos existem por nós! Que existe um Deus na penumbra de nossos quartos a nos escutar quando nos lamentamos pela falta, pela dor ou desespero cíclico -- estes, flores pisadas que esquecemos de regar.
Contudo, em nossa falta de conhecimento, não percebemos que a Natureza é sábia. Pernoitamos híbridos de pensamentos loucos a meditar sobre o que somos frente às pessoas, a nós mesmos, e iniciamos um processo de ponderação de nossos atos, Queremos, enfim, sermos espirituais!... Buscar a Deus na mínimas coisas, sentir suas vestes na natureza relativa, tentar entender aquele vizinho que há muito nos procura e nunca demos ouvido; enfim, a santíssima trindade se faz em nós, simplesmente pelo fato de que temos um problema...
Quando a Bíblia diz... "Eu sou o seu Deus e estarei contigo por onde quer que tu se encontres", estamos lendo uma tradição milenar na qual diziam os mais sábios.. "Deus está em tudo, até mesmo em você", e se diante de uma afirmativa dessas ainda claudicamos em acreditar e praticar, e nos sentir abandonados, não há mais o que dizer...
Fico com a máxima de um filósofo que um dia me fez repensar as dores, os desesperos, e também as alegrias da vida... "A Alegria pode até passar, mas a Tristeza também".
Á minha querida mãe.
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