sexta-feira, 2 de janeiro de 2015

Medo dos Outros, a Sombra do Mundo.

Quais elementos fazem sair das sombras?



Debaixo do colchões de cada um mora a consciência medrosa de enfrentar o mundo, de conflitar com o próximo, de render-se ao desespero humano, aos falsos guerreiros do dia a dia; debaixo dele estamos todos nós, cansados de levar a dor no peito, onde se guarda a peça mais nobre do homem, o coração...

Ano após ano, temos que repensar o que fazer para, mesmo por meio de uma olhadela, sair, olhar o mundo, o céu físico que nos espera para apreciá-lo, ver as gaivotas, ou mesmo um sol que nos cega com tanta beleza. Mas em nervos nos configuramos com o primeiro aperto de mão, com o primeiro abraço, com o primeiro “Oi!”...

Contudo, as palavras saem, tão dispostas energicamente, que acreditamos que chegamos à lua com o primeiro foguete feito com as próprias mãos! Acreditamos que o universo é nosso, que somos dotados de forças mágicas, que Deus acordou do nosso lado, que as estrelas brilharam por nós...!

E a ingenuidade contínua se faz nos primeiros passos, com os pés firmes e fortes, a claudicar, agora pouco, em meio a brasas expostas por um passado cuja fumaça ainda nos deixa rever o que somos: misteriosos seres em busca do nada! Por quê?

Não queimamos o colchão, e em nossa consciência medrosa, o aperto de mão, o abraço, as pegadas, as falas sempre estarão na contramão de caminhos mais profundos, e medrosos, calados, em desespero, estaremos ao encontrar elementos que nos faça voltar para debaixo dele – do coxão maldito.

Abrir os olhos sem medo. Levantar da cama, partir para o banheiro, tomar o primeiro banho; chorar lágrimas reais e vê-las se confundir com a água do chuveiro. Vestir-se, olhar a roupa mais simples, tentar levantar o braço, a escolher a camisa, a calça, e após, o mais difícil, por as meias, as quais sobre elas vão os sapatos, parceiros de campo, que brilham solitários nas esquinas frias, onde o sol não bate.

Respirar fundo, bater no coração para se saber se ainda está lá. Ao sentir seu ritmo, um sorriso breve, curto, preso, pois não podemos demonstrar as razões de nossa alegria, mesmo que imbecil, aos flagelos humanos que se dizem humanos. Cantar uma breve canção para aquecer o mundo, harmonizar-se com as folhas que balançam, com as sombras das árvores frescas que nos dão formas com seus galhos e troncos.

Sentir o cheiro da brisa, isso bem discretamente, como se estivéssemos em uma missão secreta; mais uma vez, respirar, agora andar, ainda que trôpego, em direção ao destino...O coração, acelerado, sabe o quanto vai sofrer; a mente, se alimentando de fatos passados, cujos elementos são uma fornalha ao dia, se encarrega de matar, radicalmente, o bem e o mal.

Estamos aqui, frente ao céu, às serras, às pontes, ao verde, às construções modernas; estamos aqui, observando os pássaros, e eles, a nós, e ainda pequenos carros, de onde estamos, a correr como pilotos profissionais, em nome de algo, de alguém, ou por nada, por ninguém, talvez apenas pelo prazer estar vivo, mais nada.

Ficamos aqui, a repensar a ideia dos colchões. O que faríamos sem eles? Tão pequenos, duros, estreitos, tão... Compensadores, o que seriamos sem eles? É uma das melhores ideias, talvez, depois dos grandes braços da mamãe, que se foi, e não voltará. É mais um elemento metafórico, porém grandioso, pois nos faz refletir acerca de tudo e do Todo, como crianças no frio, sem cobertor.

Hoje, temos uma maldição. O medo do que somos; o que enfrentaremos, quem enfrentaremos, por quê? Qual o benefício de conflitar com o outro, a necessidade vital disso? A resposta está em crescimento. Uma outra ideia em que devemos acreditar como toda partícula que cresce, se transforma, desenvolve-se, torna-se uma grande árvore, ou mesmo em um fruto doce, porém, sem antes passar seus mistérios, não há fruto, não há semente, nada...

O medo do confronto é real. Para muitos, para isso, é preciso que sejam a peça da dor, que sejam eles mesmo os monstros, um dragão, um homem do mal, com sentido prático de levar a todos o que mais se teme, o confronto. É mais fácil, mas ao mesmo tempo se vão as amizades, a família, ou mesmo o melhor amigo, pelo simples fato de querer ser o monstro, não o habitante que mora debaixo dos colchões...


Vamos refletir acerca disso.

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