Há dez anos eu ganhei o mundo, após me tornar aluno de uma escola de Filosofia à Maneira Clássica, dela retirando uma série de premissas fortes e básicas para o meu bem-viver; talvez mais do que isso, mais que premissas, um motivo, uma ideologia -- um ideal, que não necessita do humano para sobreviver, porém não digo o contrário, pois depois que o descobri me sinto adjunto, dentro de um processo de formação voluntário, no qual não há restrições em aprender, em viver e entender o todo,
Depois que sai dela, dessa escola, não penso em voltar contudo, mesmo porque não há aventura melhor que a de mergulhar em conceitos e praticá-los, sob uma ótica tradicional em que os mestres do passado estão inseridos. Para mim, foi a maior honra do mundo e quero não perdê-la jamais, pois está em mim, ou melhor, está em tudo que escrevo e faço.
Esse texto de hoje é uma palha precisando de um fogo para se queimar e ao resto do mundo, no sentido de nos movimentar em favor de uma causa nobre, porém difícil, assim como tudo que é Bom, Justo é Belo, mas raro de ver, como o sol que nasce.
Boa parte da humanidade, para não
dizer menos do que isso, tentou resgatar seus valores em meio a uma História
que os estancou. Prova disso é a queda de vários governos nos quais a
Ditadura e miséria se fizeram como lodos
em tempos de chuva. Quebraram regras naturais de uma sociedade, empurraram
grupos, inventaram homens de bem e pacíficos a pensarem em liderança, em
revolução. O preço de tudo isso foi a mudança...
Nem toda mudança, no entanto,
fora para o bem; os mesmos homens que eram ditadores, os quais proliferaram a
mesma miséria no passado, voltaram sob forma de cordeiros e com palavras lisas
das quais o perdão jorrava como cascatas naturais de florestas. E o povo,
cansado, teve que acreditar, pois mortes de inocentes, massacres de heróis foram
vistos e nada apreciados pelo mais puro dos seres.
Assim, em meio a esse cansaço –
de guerras e batalhas, e revoluções inúteis, -- os ratos que já eram grandes em
épocas passadas, vestiram seus ternos e trabalharam mais ainda suas pronuncias
junto ao demais, que, em outrora, tinham visão. Apostou-se na ignorância dos
iletrados, na falta de informação acerca de outras culturas, nas quais o
sistema falido morrera e nunca mais tomara conta da terra.
Apostou-se na falta de
consciência do seu próprio povo, na falta de amor pelo país, pela terra, por si
mesmo. E assim, todos foram assaltados pelos ratos de plantão e pelos “peles
lisas” e cheirosas, dos quais perfumes foram feitos com rosas de nossos próprios
jardins. Apostou-se na morte prematura de um povo, o qual, em um sistema
guiado, mais do que no passado, por redes televisivas, não andaria, não
falaria, não viveria mais em função de suas ideologias naturais – a de mudar
para melhor seu mundo --, pois em tudo que colocamos as mãos há sinais de
imperfeições. E quando ratos, lobos, cobras nos chegam em forma de homens
cultos, belos, mais cheios de falácias, percebemos que morremos dentro da vida.
Eles apostaram e ganharam.
Contudo, uma semântica tradicional, como que uma leve brisa, veio a tomar as
narinas do homem buscador – o qual foi chamado de filósofo por amar em demasia
a verdade, e por ela se apaixonar --, o fez repensar os sistemas, os grupos, o
porquê de sua formação, e sua insistente perseguição pela felicidade.
E quando seu rosto deixou de ser
apenas o reflexo do espelho, olhou para o alto de suas pretensões, enxergou, em
si, soluções para si mesmo, para seu grupo, sociedade e até mesmo dos sistemas.
Partiu do invisível para o visível, e nesse intervalo, viu a Justiça em todos
os seus aspectos e tentou plasmá-la e quando o fez não conseguiu explicá-la,
mesmo porque não seria um valor apenas, seria mais que isso, seria parte de um
novo mundo, dentro do qual o homem não saberia andar, por isso a dificuldade em
transpassar-lhes o conceito de Justiça.
Assim, como tudo que se
relativiza, a justiça foi plasmada, reinventada,
e passou a ser estudada, detestada, amada, mas nunca alcançada em seu real
sentido. Muitos filósofos mais tarde, como Platão, em meio a tantas injustiças
pelas quais seu mestre Sócrates havia sofrido numa Grécia decadente, escreveu o livro “A Republica”, na qual transfere toda
sua racionalidade e perfeição, seguida de mitos desconcertantes, somente para
explicar o mundo Justo, ou melhor a Justiça.
Antes dele, Zoroastro, Tales de
Mileto e os pré-socráticos tinham seus conceitos, além das escolas iniciáticas,
como a Estoica, a qual permanece até hoje como uma das mais perfeitas e
influentes escolas do passado, tão forte quanto o próprio cristianismo, porém perfeita
demais pelo fato de seguir uma linhagem constante, uma árvore sóbria do
passado, cujos frutos, meio amargos, mas necessários, fortaleceram (e
fortalecem) indivíduos que participaram das mais árduas missões humanas.
Mais tarde, dentro do
relativismo, como sempre o fazem, desmistificaram sua filosofia, pisaram nos
grandes heróis que a fizeram e os enterraram em covas profundas. Boa parte desse
enterro involuntário foi feito pelo cristianismo, que, não somente ao
estoicismo, como também a maior parte da essência de outras culturas – ditas
como pagãs – que, no passado, não violavam nenhuma religião, não assassinavam
por motivos frios, não enterravam, não destruíam, mas ensinavam a construir uma
sociedade melhor dentro da religiosidade humana e universal, sem obediências
hipócritas a qualquer deus único.
Enfim, depois de Sócrates e
Platão, houve outros filósofos que abarcaram a filosofia de mudança social e
individual, mas sempre com vistas ao todo, os quais, sob grilhões, algemas, cordas
no pescoço, pernas amarradas, contudo com o espirito tão latente, que não foram
calados. E nem poderiam. A própria
sociedade, em meio a conflitos de todos os gêneros, precisa de uma saída, de
uma tangente espiritual – mesmo que não saibam o porquê. Mas quando pensam em
um Cristo, em um Buda, ou mesmo em um santo inventando, criam forças do nada, e
prosseguem.
Pensar em uma sociedade é
complexo, dar-lhe uma resposta, mais ainda. Quando se percebe, individualmente,
que estamos bem, partimos para o alto, sem amarras, sem algemas, e ganhamos e
céu; mas quando estamos presos aos degraus do mundo velho, repensando nossos
problemas, relativizados até mesmo a poesia, isto é, tudo são matos, capins,
espinhos, o que nos faz egoístas, fracos e falhos em nossa busca para o mundo
melhor.
Se não conseguimos ultrapassar os
primeiros degraus de uma escada imaginária, quiçá a de uma real! No fundo, no
entanto, percebemos que, no alto, há uma vitória a nos esperar, não troféu, não
qualquer prêmio, mas uma real vitória, daquela que nos faz cair várias e várias
vezes os primeiros degraus, machucar-se, e continuar caminhando para cima.
Tal caminho, no passado (falo das
escolas) foi percorrido pelos padres, anciões, sábios, os quais em sua latente
vida foram filósofos por repensar o papel do homem no universo. Muitos, no
entanto, escorregaram e caíram –
principalmente padres – pelo vaidosismo extremo, pela religião sem religião, e
sobreviveram por sua verdades parciais, as quais se distanciaram da real
verdade e que até hoje fazem discípulos (fiéis) sem sê-los.
Assim, aqueles que deviam lutar
por uma sociedade melhor, aqueles que deviam repensar o que somos, para onde
vamos e porquê, aqueles que podem fazer algo pelo ser humano – falo de seus
valores perdidos -- hoje fazem parte da
mesma Caverna Mitológica a que Platão se refere na República, mas, agora, como
amos daquela, que faz gerações e gerações algemadas, presas por ideologias
sombrias, pelo pouco, pelo nada.
Sabemos, no entanto, que somos
filósofos, e que sempre há meios de refletir acerca de qualquer caverna,
sistemas, mundos, doenças, mortes, frialdades, e delas sair ilesos, a querer ou
não os ditadores e fabricantes de miséria.