segunda-feira, 16 de janeiro de 2017

Quarenta e Nove de Janeiro






... Hoje, em uma data não muito festiva, não significando nada no calendário juliano, sem aquela ressalva vermelhinha, natural dos feriados, faço aniversário. Antes de mim, minha irmã e com certeza, nessa mesma data, outras vidas tão importantes quanto eu o fazem. Não sei o que pensar... apenas viver, trabalhar, observar o que vem pela frente e trabalhar.

Antes, porém, em outros aniversários, reflexivos pensamentos me vinham acerca do somos e do que são os animais: não era apenas o dia em que saímos de um corpo feminino, ganhamos a vida e choramos. É o dia em que chegamos ao mundo, colocamos nossa consciência física a todo vapor, em forma de instintos, tais quais animais que saem do ventre de suas mães e ganham o pasto. Não somos diferentes, pensava eu.

Depois disso, continuamos com nosso caminho, sempre fazendo paralelos com a vida dos irracionais a nossa volta, e percebemos que, mesmo depois de crescidos, nos distinguimos muito pouco deles, só nos restando os pés, as mãos, a cabeça pensante, nossos modos, os quais salientam educação comportamental, contudo, quando a ciência descobre que certos animais se assemelham ao homem em tudo isso, ficamos pasmos acerca do que somos... "Será que nunca deixaremos de ser animais em evolução?"... Pelo menos é o que pensava até então.

"Quando é que seremos um pouco melhores?"... 

Esses dias, em um programa sobre a vida dos elefantes, mostrou a significante luta de um dos maiores mamíferos da terra em sobreviver com sua manada em meio a uma África em que caçadores de marfins buscam arrancar seus chifres e vender a fim de fabricar remédios. O mesmo acontece com os pescadores de tubarões, que arrancam barbatanas do animal com finalidades medicinais; mas o que me fez (e me faz) pensar no elefante é o seu modo de ver a perda do seu amigo ou mesmo um parente da manada. É quase que humano seu comportamento: ficam estáticos frente ao corpo da vítima, choram, e ficam tocando aquele corpo como que se despedissem de alguém valioso...

"Como? Por quê? Por que motivo fazem isso?" -- É preciso que tenham uma alma quase que humana para se ter pena, compaixão, emoção e reflexão acerca do ocorrido com o próximo. Eram elefantes! E o que mais me choca é que a humanidade não percebe que estamos a perder essa característica humana, que, como tempo, repete-se em demasia nos tornando dormentes.

Não irei mais falar de animais, senão iria me referir aos golfinhos, os quais, de certo modo, nos parecem almas humanas em corpo de peixe! Queria falar sobre algo maior, bem mais universal, falar dos sonhos, desses dos quais já falei muitas vezes, Dos sonhos que animais nenhum sonham, apenas nós, humanos... 

O dia em que constatarmos um vaga-lume a sonhar em ser um sol, um cachorro a ser tal qual o seu dono, ou como diria Machado de Assis, do próprio sol a ser o próprio vaga-lume, deixaremos um legado humano para trás, até mesmo o que realmente somos. Mas não iremos presenciar tal fato, mesmo porque somos uma raça que percebe os erros e os transformam em tijolos para o crescimento. 

Somos o que de mais soberbo há no universo, ainda que encontrem marcianos hiperinteligentes, fantásticos, naturais de galáxias longínquas, porque jamais entre eles haverá um Drummond de Andrade, uma Clarisse Lispector, um Manuel Bandeira, um Shakespeare! Nenhum animal sentirá no corpo lágrimas caindo pela beleza de um magnífico pôr do sol, nem mesmo a paz em um coração quando a sinfonia de Bach, Mozart ou mesmo Bethoven lhe tocarem a alma.. Não mesmo.

Assim, quando nascemos e passamos a existir, leva um pouco de tempo para nos tornarmos cientes do que somos e pretendemos ser; muitos escolhem ser o que as profissões são, outros, o que a natureza lhes pede desde o inicio; outros, nem um, nem outro, apenas atrapalham o viver dos demais.

Até esse dia, porém, é preciso que tenhamos coragem -- o que advém do coração --; lutar e relutar a favor de tudo que é nobre, belo e verdadeiro; sem isso, nascemos apenas para o mundo, para um emaranhado de números, filhos de um capitalismo que insiste em matar nossos sonhos.

Os sonhos, nossas pretensões humanas, não podem se perder e nem se perdem, são reavivados pela consciência natural quando sentimos a presença do divino em nós. E o dia em que isso nos acontece nascemos de novo.

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