sexta-feira, 13 de janeiro de 2017

Parabéns ao Sagrado (reflexão acerca do nascimento)




Quantas e quantas vezes nos escondemos para não sermos percebidos pelas massas, pelos vizinhos, pelos amigos de plantão, que ficam a nos espreitar feito gatos em frente à mesa para aproveitar o bife da senhoria, que nos ama tanto. Quantas e quantas vezes nos isolamos feito fugitivos na tentativa de sumir do mundo, da sociedade, dos grupos, Enfim... Quantas e quantas vezes queremos ser aquela estrela não lembrada em dia de sol forte, somente para curtir o que somos, o que pretendemos com nossas vidas, como o que fizemos no passado... Pois o dia em que nascemos vai nos fazer lembrar de todas as lhanuras, intempérie, céus, paraísos, pelos quais passamos, e olharemos para nós mesmos e nos sentiremos mais vivos do que nunca.

São os ecos chegando como uma canção ao ouvidos da alma, que nos fazem refletir o que somos, o que realmente queremos nessa imensidão cósmica chamada vida. Tal qual uma cobrança divina que, com o passar dos tempos, soa mais forte e ao passo mais aguda, nos elevando a seres humanos mais atentos, firmes em nossos propósitos, e espiritualmente mais observadores, mesmo porque a morte, filha da vida, levanta-se de seu trono pessoalmente e nos avisa de sua presença...

Sua voz, grave, reverbera em nossos ouvidos semânticos, adormece em nossas camas físicas, sorri de nossos atos secretos, e cochicha à vida... "Ele ainda tem muito que viver".  Isso sentimos quando chegamos a uma idade em que o dejavú é mais do que um dejavú, é uma batalha entre pensamentos e práticas, entre os relativos bem e mal, entre demônios e deuses, em um caldeirão chamado corpo, que se dilata com o tempo e nos mostra que nossas pretensões, sonhos, projetos devam ser, a partir daquele momento, mais restritos.

A grande Consciência, mãe de nossas relativas consciências, nos pega em seu colo, nos transforma em filhos gigantes, nos faz chorar, e nos faz indagar a respeito de nossa estada nesse mundo, no qual tantas almas enganadas ainda se precipitam em dar valor ao que se vai com o tempo. Mesmo depois de sentir que a terra e todos os seus subelementos se vão, ainda que nos pareçam espirituais, questionamos e duvidamos disso, e nos apegamos mesmo assim.

Mesmo depois que sentimos a presença natural da morte, e da própria vida que insiste em nos fazer refletir acerca do que somos e podemos fazer frente a ela, nos apegamos ao físico. Esquecemos que, antes de tudo, temos uma alma invisível, mas tão concreta e forte quanto qualquer corpo, e sedimentá-la como tal é o nosso papel. Mesmo sabendo que em sua profundidade, em um mundo tão profundo e distante, porém dentro de cada um, permeia nosso espírito, tão forte quanto à terra, o corpo, a alma, residente do terceiro andar de nossas possibilidades, ainda gerencia nosso universo desde o dia em que nascemos, duvidamos...

O ato de acreditar, talvez, assim como muitos o fizeram no passado por ideais grandiosos, em nome dele, do grande espírito, seja mais um fator educacional que religioso. Levando em consideração que educação seria desenvolver nossos reais potenciais em fazer nosso conhecimento próprio, ao contrário do fator religião atual, o qual nos faz temer a vida e a Deus, de modo a nos distanciar de uma realidade a que temos direito como indivíduos.

Religião no passado, porém, teria a mesma função que a própria Educação, a qual, não se sabe, devia ser outro subelemento da primeira, a qual significa religar-se com o todo, com o universo e consigo mesmo. Ou seja, as duas têm o poder de nos unir e não nos separar da grande consciência cósmica, que burla internamente no homem, e na própria Natureza.

Enfim, o dia em que nascemos é o dia em que mais um sagrado se fez, mais um mistério se alojou na esfera constante do Uno, de Brahma, de Deus. É dia em que não apenas nasci ou nascemos, mas o que em que a Consciência percebeu que a nossa presença física vale à pena, pois sabe que, dentro daquele corpo que nasce, uma alma será mais forte que o mundo.




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