quarta-feira, 18 de janeiro de 2017

O Caçador Solar

Há dez anos eu ganhei o mundo, após me tornar aluno de uma escola de Filosofia à Maneira Clássica, dela retirando uma série de premissas fortes e básicas para o meu bem-viver; talvez mais do que isso, mais que premissas, um motivo, uma ideologia -- um ideal, que não necessita do humano para sobreviver, porém não digo o contrário, pois depois que o descobri me sinto adjunto, dentro de um processo de formação voluntário, no qual não há restrições em aprender, em viver e entender o todo, 

Depois que sai dela, dessa escola, não penso em voltar contudo, mesmo porque não há aventura melhor que a de mergulhar em conceitos e praticá-los, sob uma ótica tradicional em que os mestres do passado estão inseridos. Para mim, foi a maior honra do mundo e quero não perdê-la jamais, pois está em mim, ou melhor, está em tudo que escrevo e faço.

Esse texto de hoje é uma palha precisando de um fogo para se queimar e ao resto do mundo, no sentido de nos movimentar em favor de uma causa nobre, porém difícil, assim como tudo que é Bom, Justo é Belo, mas raro de ver, como o sol que nasce.






Boa parte da humanidade, para não dizer menos do que isso, tentou resgatar seus valores em meio a uma História que os estancou. Prova disso é a queda de vários governos nos quais a Ditadura  e miséria se fizeram como lodos em tempos de chuva. Quebraram regras naturais de uma sociedade, empurraram grupos, inventaram homens de bem e pacíficos a pensarem em liderança, em revolução. O preço de tudo isso foi a mudança...

Nem toda mudança, no entanto, fora para o bem; os mesmos homens que eram ditadores, os quais proliferaram a mesma miséria no passado, voltaram sob forma de cordeiros e com palavras lisas das quais o perdão jorrava como cascatas naturais de florestas. E o povo, cansado, teve que acreditar, pois mortes de inocentes, massacres de heróis foram vistos e nada apreciados pelo mais puro dos seres.

Assim, em meio a esse cansaço – de guerras e batalhas, e revoluções inúteis, -- os ratos que já eram grandes em épocas passadas, vestiram seus ternos e trabalharam mais ainda suas pronuncias junto ao demais, que, em outrora, tinham visão. Apostou-se na ignorância dos iletrados, na falta de informação acerca de outras culturas, nas quais o sistema falido morrera e nunca mais tomara conta da terra.

Apostou-se na falta de consciência do seu próprio povo, na falta de amor pelo país, pela terra, por si mesmo. E assim, todos foram assaltados pelos ratos de plantão e pelos “peles lisas” e cheirosas, dos quais perfumes foram feitos com rosas de nossos próprios jardins. Apostou-se na morte prematura de um povo, o qual, em um sistema guiado, mais do que no passado, por redes televisivas, não andaria, não falaria, não viveria mais em função de suas ideologias naturais – a de mudar para melhor seu mundo --, pois em tudo que colocamos as mãos há sinais de imperfeições. E quando ratos, lobos, cobras nos chegam em forma de homens cultos, belos, mais cheios de falácias, percebemos que morremos dentro da vida.

Eles apostaram e ganharam. Contudo, uma semântica tradicional, como que uma leve brisa, veio a tomar as narinas do homem buscador – o qual foi chamado de filósofo por amar em demasia a verdade, e por ela se apaixonar --, o fez repensar os sistemas, os grupos, o porquê de sua formação, e sua insistente perseguição pela felicidade.

E quando seu rosto deixou de ser apenas o reflexo do espelho, olhou para o alto de suas pretensões, enxergou, em si, soluções para si mesmo, para seu grupo, sociedade e até mesmo dos sistemas. Partiu do invisível para o visível, e nesse intervalo, viu a Justiça em todos os seus aspectos e tentou plasmá-la e quando o fez não conseguiu explicá-la, mesmo porque não seria um valor apenas, seria mais que isso, seria parte de um novo mundo, dentro do qual o homem não saberia andar, por isso a dificuldade em transpassar-lhes o conceito de Justiça.

Assim, como tudo que se relativiza, a justiça foi plasmada, reinventada, e passou a ser estudada, detestada, amada, mas nunca alcançada em seu real sentido. Muitos filósofos mais tarde, como Platão, em meio a tantas injustiças pelas quais seu mestre Sócrates havia sofrido numa Grécia decadente, escreveu  o livro “A Republica”, na qual transfere toda sua racionalidade e perfeição, seguida de mitos desconcertantes, somente para explicar o mundo Justo, ou melhor a Justiça.

Antes dele, Zoroastro, Tales de Mileto e os pré-socráticos tinham seus conceitos, além das escolas iniciáticas, como a Estoica, a qual permanece até hoje como uma das mais perfeitas e influentes escolas do passado, tão forte quanto o próprio cristianismo, porém perfeita demais pelo fato de seguir uma linhagem constante, uma árvore sóbria do passado, cujos frutos, meio amargos, mas necessários, fortaleceram (e fortalecem) indivíduos que participaram das mais árduas missões humanas.

Mais tarde, dentro do relativismo, como sempre o fazem, desmistificaram sua filosofia, pisaram nos grandes heróis que a fizeram e os enterraram em covas profundas. Boa parte desse enterro involuntário foi feito pelo cristianismo, que, não somente ao estoicismo, como também a maior parte da essência de outras culturas – ditas como pagãs – que, no passado, não violavam nenhuma religião, não assassinavam por motivos frios, não enterravam, não destruíam, mas ensinavam a construir uma sociedade melhor dentro da religiosidade humana e universal, sem obediências hipócritas a qualquer deus único.

Enfim, depois de Sócrates e Platão, houve outros filósofos que abarcaram a filosofia de mudança social e individual, mas sempre com vistas ao todo, os quais, sob grilhões, algemas, cordas no pescoço, pernas amarradas, contudo com o espirito tão latente, que não foram calados.  E nem poderiam. A própria sociedade, em meio a conflitos de todos os gêneros, precisa de uma saída, de uma tangente espiritual – mesmo que não saibam o porquê. Mas quando pensam em um Cristo, em um Buda, ou mesmo em um santo inventando, criam forças do nada, e prosseguem.

Pensar em uma sociedade é complexo, dar-lhe uma resposta, mais ainda. Quando se percebe, individualmente, que estamos bem, partimos para o alto, sem amarras, sem algemas, e ganhamos e céu; mas quando estamos presos aos degraus do mundo velho, repensando nossos problemas, relativizados até mesmo a poesia, isto é, tudo são matos, capins, espinhos, o que nos faz egoístas, fracos e falhos em nossa busca para o mundo melhor.

Se não conseguimos ultrapassar os primeiros degraus de uma escada imaginária, quiçá a de uma real! No fundo, no entanto, percebemos que, no alto, há uma vitória a nos esperar, não troféu, não qualquer prêmio, mas uma real vitória, daquela que nos faz cair várias e várias vezes os primeiros degraus, machucar-se, e continuar caminhando para cima.

Tal caminho, no passado (falo das escolas) foi percorrido pelos padres, anciões, sábios, os quais em sua latente vida foram filósofos por repensar o papel do homem no universo. Muitos, no entanto, escorregaram  e caíram – principalmente padres – pelo vaidosismo extremo, pela religião sem religião, e sobreviveram por sua verdades parciais, as quais se distanciaram da real verdade e que até hoje fazem discípulos (fiéis) sem sê-los.

Assim, aqueles que deviam lutar por uma sociedade melhor, aqueles que deviam repensar o que somos, para onde vamos e porquê, aqueles que podem fazer algo pelo ser humano – falo de seus valores perdidos --  hoje fazem parte da mesma Caverna Mitológica a que Platão se refere na República, mas, agora, como amos daquela, que faz gerações e gerações algemadas, presas por ideologias sombrias, pelo pouco, pelo nada.


Sabemos, no entanto, que somos filósofos, e que sempre há meios de refletir acerca de qualquer caverna, sistemas, mundos, doenças, mortes, frialdades, e delas sair ilesos, a querer ou não os ditadores e fabricantes de miséria. 

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