quinta-feira, 27 de abril de 2017

A Razão sem Espaço





Alguns historiadores modernos dizem que os maiores filósofos gregos clássicos, como os pré-socráticos, como Thales de Mileto, Anaxímedes, Anaximandro, além do trio conhecido e reverenciado pelo mundo até então, Sócrates, Platão e Aristóteles, deixaram de mão os mitos e se infiltraram em opiniões tangentes em relação a eles. Ou seja, deixaram que estes respondessem por um época e iniciaram um processo de busca individual, com a finalidade de explicar o mundo, seja biológica, seja espiritualmente...

O mito, aquele que demonstra a luta pelo poder do cosmos, como ilustraram na grande batalha pelo poder do Olimpo, não o faz por meio de ferramentas explicativas, mas pela necessidade cultural de uma época em demonstrar que existem potencialidades sagradas (rotuladas de deuses) na natureza que modificam a estrutura não apenas física do mundo, mas a interna do homem. E os grandes homens do passado se edificaram em cima disso. Tanto que em suas obras, principalmente Platão, tiveram que "explicar" situações nas quais eles estavam inseridos, e que nos servem até hoje, como é o caso do Mito da Caverna.

Por isso, os mesmos historiadores que subjugam a história com seus prismas racionais, devem, antes de mais nada, entender que não se se desliga de algo que, por sua natureza, esconde e ao mesmo tempo revela o que está por trás de uma época.

Outro engano que se dissipa pelos livros modernos é quando dizem que a Filosofia surgiu quando os pensadores pararam de crer nos mitos! Muito estranha essa afirmativa, mesmo porque, mais uma vez a dizer, o mitos sempre o ajudaram em todos os sentidos, ainda que não compreendemos o porquê de sua existência, mas eles, os gregos, os egípcios, romanos e muitos outros povos tão civilizados quantos muitos de hoje, sempre tiveram o mito desde que o homem é homem! 

E quando à Filosofia, podemos dizer que não nasceu ou surgiu quando pararam de dar créditos ao mitos. Muito pelo contrário. Ela é inata, está presa no inconsciente coletivo humano, desde sempre -- antes mesmo de qualquer pensador conhecido. A Filosofia não é somente, como diria Pitágoras, o Amor à Verdade, mas muito mais que isso, ela transcende seu próprio valor quando um ser humano se questiona acerca dele mesmo, da vida e do seu lugar no Universo. Ela, a Filosofia, não se infiltra em vozes racionais apenas com o intuito de ser a líder de massas, ou mesmo como porta voz das artes também racionais, não, sinceramente, não.

Temos ela como um metal forjado pelos deuses para que possamos fundir nossas espadas internas contra o mal que nos assola interna e externamente. É reflexão em favor de mudanças, de buscas corajosas -- de coração --, é o fio de Ariadne, que nos retira, todos os dias, do labirinto do engano. É a retidão pela qual passou Dédalo quando seguiu após a morte de seu filho rebelde Ícaro, que preferiu não seguir seus conselhos.

Se filósofos começaram a racionalizar acerca do mundo, a culpa é do ser humano. Nascemos para isso, embora muitos não o façam, ou muitos são proibidos em fazer,




quinta-feira, 20 de abril de 2017

A Grande Prudência





Ao olhar o céu, penso que somos minúsculos e ao mesmo tempo privilegiados. Minúsculos em tamanho, mas privilegiados em contemplá-lo, em transformar nossas vidas pelo simples olhar em direção ao céu. Há muitos que discordam, mas fico sempre com aquela premissa de que humano não é apenas aquele que cresce e se multiplica, no sentido mais literal da palavra... Mesmo porque animais também se multiplicam.

Ser um pouco mais que estes seres maravilhosos por natureza é a nossa tônica, entretanto, estamos passando ou deixando se passar por uma época em que somos obrigados a observar maravilhas pre-fabricadas pelo homem -- algumas aproveitáveis, outras não -- o que nos faz relativistas, observadores didáticos, não naturais.

Temos que parar e se possível nos ajoelhar ante às grandes construções do passado -- não fabricadas para angariar fundos, ou para suprir a demanda de moradores, mas -- porque foram elevadas com ideais grandiosos, com o sentido mais simbólico, mas hermético, porém sagrado possível. Como as pirâmides egípcias, maias, hindus, além de templos iniciáticos que os cristãos não conseguiram derrubar em razão da própria ignorância em saber o que eram.

Projetos/Ideais

O importante, nesse universo, não é viver basicamente em função de projetos pessoais desligados da condição humana, é transformar cada minuto em ideal espirituais, e sentir nas mãos e nos pés a razão de estar vivo, preso a algo que um dia nascemos para cuidar, descobrir ou construir. Mais ainda, é saber transformar seus projetos pessoais em minúsculos sóis, dos quais retiramos chamas, tais quais larvas vulcânicas, com o fim de irradiar por onde passamos.

Não importa a religião -- essa eterna formadora de caráter --, nem mesmo se somos ou não ateus. Antes de mais nada, precisamos nos localizar, por os pés no chão, e a depender de onde estamos e com que nos encontramos, respirar o ar sagrado do passado, no qual olhares eram voltados ao céu interno, tendo como símbolo o sol, a chuva, as árvores, o fogo, a lua,...E potencializar em ideal. Não existe nada melhor, acreditem. É o mais próximo de Deus que podemos chegar. Mais próximos do mitos, dos grandes homens do passado, de nós mesmos. 

E por falar em Deus...

Já se preocupou em sentir as leis no compasso de tua vida? É fantástico! Encontre um meio de relacionar seus pensamentos com algo que você ama em fazer. Trabalhe-os. Pratique-os. Seja na parte da manhã, da tarde ou da noite, faça-os como se "não houvesse o amanhã", e tudo vai se parecer com um grande dia interminável, e belo, simplesmente porque nos encaixamos na grande lei.

Assim trabalham os astros, os planetas, o próprio átomo invisível, seus elementos, com o intuito de fazer com que a vida seja sempre mais vida, ou seja, que o oceano primordial seja sempre ele mesmo, sem o livre arbítrio que nos é conhecido; a lei permanece em cima e embaixo.

E pelo fato de termos o grande livre arbítrio, esse fogo divino mal canalizado, nos elevamos, ainda que por segundos e transformamos nossas vidas em um grande processo dentro qual buscamos entender o porquê de tudo, e por isso lemos... questionamos... nos apaixonamos... nos viciamos em religiões loucas, subimos montanhas sem saber por quê, caímos em desespero e morremos sem saber nada...

Por isso, a necessidade da grande prudência. Ler os clássicos, buscar os grandes heróis, procurar seu mestre, entender o que é realmente religião, praticá-la, não ter medo de Deus, do homem, de você mesmo, arriscar-se somente de coração em projetos que te engrandecem, viver como um artista que busca a melhor canção, falar somente quando palavras de bom grado querem sair de seu coração, não acreditar em heróis midiáticos, fazer a política real, que é salvar pessoas da ignorância, e fazê-las ver a face do sol, pelo menos alguns instantes e dar-lhes a dúvida, não a certeza profana.

Amém.




terça-feira, 18 de abril de 2017

Controle Remoto, Banho Quente...





Não sei qual sua religião, seu partido político, sua ideologia em relação ao mundo, mas vou dizer-lhe uma coisa, como é difícil lidar com qualquer projeto que nos faça sair do sofá e pegar o controle remoto bem longe da TV. Imagino como nos acostumamos no passado com as televisões que possuíam apenas aqueles botões imensos na frente e um transformador ao lado. Depois do advento do controle remoto, da era digital, do toque em celulares, ninguém mais se imagina com projetos grandiosos, em que se precise deslocar-se, mover-se, transitar em nome de um corpo que pede, por natureza, deslocamentos constantes.

Nossa mente transita entre o mais objetivo possível e o mais confortável com vista à realizar sonhos, de todas formas, estruturas, redondos ou quadrados, porém, sem levantar-se do grande sofá do ego. No passado, segundo um dos maiores especialistas em história (que não vou dizer o nome), me contou um dia que o grande Império Romano caiu em virtude do chamado "banho quente" !!. Fiquei pensativo, relativo, pasmo com a brevidade da aula, a qual se resumia em uma conversa informal muito mais que aquelas aulas tórridas, nas quais cospe-se no chão e o professor nem sequer te manda para casa. Uma conversa metafórica, simbólica, filosófica, que se buscava entender o porquê da hipocrisia humana em relação aos seus objetivos, e caímos em Roma, o grande império, que fora a eterna prática dos valores humanos, fosse nas batalhas ou não...

Porém, segundo mestres, por possuir uma ideologia que abrangia a todas as outras, fosse religiosa, partidária, familiar, contanto que fosse de uma essência romana, poderia vir a ser parte do Império. Esse foi o grande mal, disseram. Pois levou soldados de diversos países a fazer parte de um dos maiores e melhores exércitos que se tem notícia. Simplesmente porque juraram a Roma sua lealdade, seu amor, sua vida. Contudo, segundo especialistas (como o grande professor), não seria o mesmo de uma família que há séculos demonstrava seu amor aos deuses e ao que Roma representava. Aqui residia a hipocrisia daqueles que não eram natos romanos; daqueles cuja família foi obrigada a se render ao grande império para não morrer sem honra.

Roma era a Honra no passado. Era a possuidora dos maiores e mais sábios governantes. Entre eles Marcus Aurélio, Adriano, Julius César, entre outros, os quais, ainda que em final de vida, tentavam reerguer a grande Senhora, pelos ideais que há muito por eles foi erguida. E quando o grande professor ao dizer "caiu (o grande império) em virtude do banho quente", queria dizer, com certeza, que nas frentes de batalha não havia mais romanos natos, com honra, com amor aos deuses que potencializaram uma época, nem mesmo sacerdotes ou imperadores que a amavam. Triste queda.

Havia o amor ao conforto, como hoje, entre nós e o controle remoto, entre nós e nossos ideais, entre aqueles que criticam poderes, corrupção, como se fossem especialistas natos, mas não conseguem nem mesmo ganhar uma batalha no próprio sofá.

Os romanos têm história, e tiveram até mesmo o direito de cair. Nós, não. Nem história nós temos! Vamos iniciar uma, a qualquer momento.




terça-feira, 11 de abril de 2017

A Arte da Prudência (iv)

Manter o mistério





Disciplina não se resume em um conjunto de ordens obedecidas pelo indivíduo, sejam elas quais forem. Existe por trás de todas elas, das disciplinas, uma semântica que retrata a natureza humana em seu sentido mais estrito, mais natural até. Nas entrelinhas, pode-se ver que sempre há uma percepção que nos faz ser mais equilibrados em termos físicos e emocionais e psicológicos, assim como em exércitos que um dia brilharam no passado.

Contudo não era disso que tenho a dissertar, e sim da maneira como devemos nos portar ante ao mistério, à porta que se abre ante a nós, da escuridão profunda que nos bate quando o desconhecido nos olha de longe e se nos aproxima, bem devagar.

Para muitos, o medo, a loucura e a indisciplina se fazem como avalanches que vêm do nada e se instalam em nossas mentes, evoluindo para o pavor. Para outros, a minoria, é como entrar em contado com a divindade, com o mais profundo sagrado, uma volta ao passado, em colisão com os mestres, que um dia disseram que mistérios são véus a serem retirados da face divina, a qual, todos os dias, nos mostra uma realidade, por meio dos problemas, soluções, indagações e respostas que dele recebemos.

Para esse guerreiros, ainda que montanhas sejam inalcançáveis no cimo, a metade do caminho já lhes trouxe muita revelação. Aqui, eles sorriem, clamam aos deuses (ou a Deus), dançam e saltitam como crianças, mas, no fundo, sabem que a montanha nem sequer se "mexeu". Para a maioria, religiosa, política, enfadonha, triste e apaixonada, a montanha existe somente em sonhos, pois não praticam seus passos nem mesmo em suas ruas, com o medo de serem assaltadas.

Tudo, acredito, em nosso nível, assim, se transforma em um microprojeto pessoal, de consecuções passageiras, dentro dos quais se necessita andar, falar, opinar em relação a qualquer notícias, mas nunca buscar neles algum aprendizado que supere o seu próprio significado. 

Da maneira como fazemos ou da maneira como os aceitamos pode levar tudo a perder, mesmo porque assim o somos, mas também somos peça fundamental no universo, que comunga valores além Todo, na labuta diária de se conhecer a si mesmo! Temos que ser mais misteriosos, manter o suspense, entrar em contado com os símbolos, reverenciá-los, respeitá-los como parte de nossas vidas, assim como o foi há dois mil anos!

Cada passo que damos está em comunhão com algum elemento invisível e temos que percebê-lo, dentro de nossos eus. Cada passo não pode ser qualquer passo, cada subida, em qualquer degrau ou monte, ou até mesmo em cada ato em direção ao próximo. Tudo deve ser regado de sacralidade (leia-se), amor, dedicação, buscando no pó de seus solados ou mesmo nas mãos que se harmonizam no trabalho, nas pernas que caminham em terras desconhecidas, mas sempre integradas com o caminho, seja na fonte em que bebemos água, no sol, do qual retiramos a fé para a vida... Temos que nos igualar ou (antes) nos aproximar dos deuses.


Feliz Páscoa!

segunda-feira, 10 de abril de 2017

A Arte da Prudência (iii)

"Caráter e Inteligência"






Platão, filósofo grego, já dizia que toda a ferramenta que dispomos tem um finalidade, mas se não levada a ela, perde a sua essência. Resumindo, se temos inteligência e a convertemos em algo que não é dela, deixa de ser inteligência. No mundo relativo, esse em que vivemos, é dessa forma, e não podemos abrir mão disso, mesmo porque quando se trata de algo que seguramente tem um objetivo, assim como qualquer humano, pode perder ou mesmo se distanciar daquilo para qual veio.

E a inteligência, dentro de nossa realidade, é um substantivo de valor, ainda que o usamos de encontro à sua essência, não somente ela, mas a maioria de tudo que preservamos. Percebemos isso nas mínimas coisas, seja no sofá que vira cama, na cadeira que se transforma em descanso para os pés; no carro, em dormitório; a própria casa, que, as vezes, fazemos de salões de jogos, discotecas, enfim, perdendo a alma de um lar.

A conseqüência de uma inteligência que não faz o seu papel e se distancia de sua prodigiosa forma de ser (essência) é um dos fatores mais graves em que a humanidade se propõe a manter. Claro que não se aprende de um dia para o outro, da noite para o dia, em questão de meses, porém podemos alavancar ao poucos, em pequenos princípios nos quais mora o conhecimento.

Segundo Baltazar Gracián, "caráter e inteligência são polos que fazem produzir os predicados. Um sem o outro é apenas meia felicidade. Não basta ser inteligente; é preciso também ter o caráter apropriado (...)".

O caráter nada mais seria que o ideal da inteligência: elevar o raciocínio em prol de um referencial que se coaduna com seus princípios essenciais. (contudo) Nosso racional, como diria um professor de filosofia, com o qual tive o prazer de ter aulas, "nosso racional funciona como um espelho voltado ao chão, não ao céu, para o que deveria espelhar-se". e tinha razão ele, o qual sempre dizia que razão nada mais era que conceitos predeterminados à igualar-se ao universo, ou seja, a única direção de  nosso racional (nossa inteligência) seria para cima, elevando nossas opiniões (que são semeadas e cultivadas da terra) e fazê-las em harmonia com a parte sagrada, não profana, como sempre fazemos.

Moldar nosso caráter para tanto seria nosso ideal, transformar o  que vemos e sentimos em poesias naturais, em poesias práticas, como em auxílios à humanidade, e a si mesmo. Simplesmente porque sem que tenhamos a visão do que somos e para onde iremos, e porquê, tais atos de lógica, ainda que usemos para o bem, seriam para o interesse do ego e não para o conhecimento de si mesmo.




quinta-feira, 6 de abril de 2017

A Arte da Prudência (ii)

"Fazer um sábio no presente exige mais do que se exigiu para fazer sete no passado. E atualmente é preciso mais habilidade para se lidar com um só homem do que antigamente com todo um povo."



Sábio no presente e no passado




... O tópico anterior nos traz, posteriormente à sua colocação, talvez por implementação natural que se pede, uma síntese dele, e revela a opinião do autor. Com certeza, Gracián foi muito feliz em sua exposição mesmo porque também vai ao encontro às tendências tradicionais, nas quais, já falamos, adormece o conhecimento humano.

Nele, nesse tópico, percebe-se que estamos a nos referir à épocas nas quais nasceram homens de bem, e por isso uma sociedade que almejava o mesmo, graças às suas ideologias presentes. Via-se nascer heróis, ainda que com parcos instrumentos para tanto; via-se nascer reais políticos com palavras certeiras das quais poderiam brotar a confiança humana, e reis que governavam para a bem-aventurança do povo.

Tudo iniciaria-se com o homem, esse ser que nascera com finalidades além corpo, além pensamentos, emoções e raciocínios, elevados sonhos, não apenas relativos, mas absolutos, fortes, de modificação interna, sempre se espelhando no universo, pois teriam a sacralidade voltada para a sua origem, para além dele -- ou melhor, para dentro do seu microuniverso. 

E hoje, se sabe, cientificamente, que o que temos encima, temos embaixo; e o que temos além universo, tem também dentro de nós, tal quais imagens invertidas que singularizam o que somos. Porém, de tanto materialismo, de tanto sairmos pela tangente universal, desfazemos esse caminho, nos retirando de nossas obrigações para com a verdadeira face de Deus, que se esconde em nós.

É por isso que o sábio no presente é mais difícil de encontrar do que no passado, simplesmente porque, em algum lugar de nossas vidas, saímos de nosso caminho, nos perdemos nos bosques dos deuses errôneos, os adoramos, praticamos suas ordens sem nem mesmo sentir a verdadeira força para qual eles vieram.

Tínhamos essa força, tínhamos o respeito e por tabela a sacralidade visível somente nos mitos, compreendida pelos sacerdotes, praticada pelo povo, assegurada por um só homem, na pele de um rei ou mesmo um faraó.

Nos desconectamos. Nos isolamos. Buscamos princípios interesseiros, de acordo com a dor que nos persegue, seja ela no calcanhar, seja ela no último fio de cabelo -- não pelo que a Força antiga nos representava, a unidade do Tudo.

Resgatar nossa sabedoria não depende da filosofia, que ainda demonstra fôlego durante esses séculos que nos passaram, mas do próprio homem, que perdeu a fio da meada de seu conhecimento. Por isso é mais fácil fazer um povo acreditar em Deus (à sua maneira), do que um homem (à Maneira Clássica).



Continua.

quarta-feira, 5 de abril de 2017

Arte da Prudência (i)

Sei que não sou digno em me expressar sobre determinados valores que nos são legados pelos grandes do passado, mas sei também que o faço em razão de uma regra que um dia me deixaram, não muito tempo atrás, de que "Quem busca os mistérios já os tem em um determinado nível"

Assim e por isso, tentarei expor à luz da filosofia um pouco do grande manual de Baltasar Gracián, o qual foi elogiado por Nietzsche: "A Europa nunca produziu nada tão poderoso". 





As pessoas


"Tudo alcança a perfeição, e tornar-se uma verdadeira pessoa constitui a maior perfeição delas".

Sabe-se que a tradição, em seu legado, a partir de grandes sábios, nos deixa a crer que o que somos, o que realmente somos, está bem longe do que opinamos. Cientistas -- biólogos, físicos, astrônomos, entre outros, -- definem o ser humano a partir de premissas físicas, cósmicas, as quais, na realidade, não estão tão longe, mas, por si mesmas, marginalizam, flutuam, e ficam como balões subindo na atmosfera, fugindo do centro.

O que precisa ser dito, no entanto, é que a Ciência, com seu comportamento não inútil, mas também não muito útil, revela-se "dona da verdade", assim como muitas religiões o fazem, porém de forma mais material. Não que, diga-se de passagem, não precisamos da Ciência para o autoconhecimento. Muito pelo contrário. Ela nos força refletir a partir do que não temos. Moral e Ética, por exemplo.

E tais valores, tão em falta, eram tão relevantes, que exércitos não iam às batalhas sem eles. A prova disso é que anos depois da morte de Epíteto, o estoico, tivera seu manual homônimo como um dos mais necessários à época, assim como o livro "O imperador filósofo", de Marcus Aurélio, também o é, hoje, e muitos outros, para finalizar, como "A Arte da Guerra", de Sun Tsu. Todos com uma só meta... Descobrir a partir de referenciais antigos o caminho para os valores humanos.

Por quê?

Platão, filósofo grego, discípulo de Sócrates, disse um dia que "o que somos está preso, amarrado, dentro de nós", o que nos faz repensar o que seria isso, esse nós. Fala de um Ser, de algo superior, de algo que estaria mais além de nossas possibilidades de conhecimento, de finalidades relativas, não absolutas a nos conhecer realmente.

E isso é que nos falta, essa tendência, declinação filosófica no sentido mais estrito da palavra, com vistas a refletir, praticar, e em cada plano, seja ele material ou emocional, intucional, ser uma pessoa. Esta, segundo o autor Gracián, deveria alcançar o ser "pessoa", como uma conquista, um ideal. E isso coadona com vários mestres do passado.




Continua.


terça-feira, 4 de abril de 2017

Fuga de Si Mesmo





Na tentativa de encontrar a nossa verdade, que, às vezes se encontra mais longe da real, nos distanciamos de nós mesmos. A culpa é dos interesses, desses castelos frágeis que montamos e remontamos através dos tempos em que vivemos. A culpa poderia ser, também, de vários outros interesses que nos contaminam e nos distanciam mais ainda daquilo para qual somos idealizados. 

Os deuses nos idealizaram. Para quê?

Se nos surgem oportunidades de repensamos o que somos, para onde vamos e por quê, desviamos e saímos da rota de colisão, que, por sua vez, somente uma ou duas vezes, nos ocorre na vida... Os outros noventa e nove por cento são fórmulas criadas racionalmente para opinarmos, ficarmos alegres, nos sentimos mais inteligentes, mais humanos até, como se fôssemos donos da ocasião.

Temos que tomar cuidado com isso.

Fomos moldados à imagem dos deuses, com elementos híbridos dos quais podemos retirar a água, a terra, o vento e o fogo sem medo. Mergulhar em nós mesmos, buscar a realidade que tanto nos bate à porta da consciência, mas sempre voltados a uma direção nos enviada pelas potencialidades divinas, concretizadas pelos melhores homens do mundo.

Não tem erro.

O único erro talvez seja o medo em excesso. Esse ser tão poderoso, que nos faz correr para debaixo das camas metafóricas (ou reais), é uma ferramenta maravilhosa se usada com pudor. Fora disso se transforma em um caos, conflitos, desespero enfim, em tudo que deságua nos rios depois de virado produto mal cheiroso. É o medo em excesso.

Nada melhor, portanto, do que termos cautela, e dar os primeiros passos em direção ao que um dia buscamos: a verdade. Devagar e sempre, sem embrutecer o coração, sem baixar a guarda, sem irracionalizar a mente, apenas seguir como um cavalheiro em busca do dragão perfeito.

A Parte que nos Falta

"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....