quinta-feira, 6 de abril de 2017

A Arte da Prudência (ii)

"Fazer um sábio no presente exige mais do que se exigiu para fazer sete no passado. E atualmente é preciso mais habilidade para se lidar com um só homem do que antigamente com todo um povo."



Sábio no presente e no passado




... O tópico anterior nos traz, posteriormente à sua colocação, talvez por implementação natural que se pede, uma síntese dele, e revela a opinião do autor. Com certeza, Gracián foi muito feliz em sua exposição mesmo porque também vai ao encontro às tendências tradicionais, nas quais, já falamos, adormece o conhecimento humano.

Nele, nesse tópico, percebe-se que estamos a nos referir à épocas nas quais nasceram homens de bem, e por isso uma sociedade que almejava o mesmo, graças às suas ideologias presentes. Via-se nascer heróis, ainda que com parcos instrumentos para tanto; via-se nascer reais políticos com palavras certeiras das quais poderiam brotar a confiança humana, e reis que governavam para a bem-aventurança do povo.

Tudo iniciaria-se com o homem, esse ser que nascera com finalidades além corpo, além pensamentos, emoções e raciocínios, elevados sonhos, não apenas relativos, mas absolutos, fortes, de modificação interna, sempre se espelhando no universo, pois teriam a sacralidade voltada para a sua origem, para além dele -- ou melhor, para dentro do seu microuniverso. 

E hoje, se sabe, cientificamente, que o que temos encima, temos embaixo; e o que temos além universo, tem também dentro de nós, tal quais imagens invertidas que singularizam o que somos. Porém, de tanto materialismo, de tanto sairmos pela tangente universal, desfazemos esse caminho, nos retirando de nossas obrigações para com a verdadeira face de Deus, que se esconde em nós.

É por isso que o sábio no presente é mais difícil de encontrar do que no passado, simplesmente porque, em algum lugar de nossas vidas, saímos de nosso caminho, nos perdemos nos bosques dos deuses errôneos, os adoramos, praticamos suas ordens sem nem mesmo sentir a verdadeira força para qual eles vieram.

Tínhamos essa força, tínhamos o respeito e por tabela a sacralidade visível somente nos mitos, compreendida pelos sacerdotes, praticada pelo povo, assegurada por um só homem, na pele de um rei ou mesmo um faraó.

Nos desconectamos. Nos isolamos. Buscamos princípios interesseiros, de acordo com a dor que nos persegue, seja ela no calcanhar, seja ela no último fio de cabelo -- não pelo que a Força antiga nos representava, a unidade do Tudo.

Resgatar nossa sabedoria não depende da filosofia, que ainda demonstra fôlego durante esses séculos que nos passaram, mas do próprio homem, que perdeu a fio da meada de seu conhecimento. Por isso é mais fácil fazer um povo acreditar em Deus (à sua maneira), do que um homem (à Maneira Clássica).



Continua.

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