sexta-feira, 30 de novembro de 2018

A Sombra do Sol

Diziam os gregos, há mais de dois mil anos, que onde houver um ser humano pátrio que deseja conectar-se com Deus, também é um grego. Filosofia antes enunciada pelos egípcios que acreditavam em seus deuses até o momento em que outras religiões iniciaram seu processo de disputa pelo céu terrestre. Nela, na Terra Vermelha, tudo era símbolo natural-concreto do que estaria no céu real, como ideias que eram plasmadas pelo homem -- ser único que poderia fazê-lo conscientemente, -- de modo que não era difícil concretizar e dizer "Aqui é o Céu".

Na própria Roma Clássica, quando grandes generais amavam o que faziam pelo amor à sua terra, sabiam que a responsabilidade maior era trazer à tona elementos coerentes, vivos, tradicionais não apenas para a história pessoal de cada um, mas para Roma, seu amor real. Um amor que ultrapassava fronteiras, quebrava paradigmas, ensinava a humanidade a lidar com as folhas mortas que se rebelavam novas, mas serviam apenas para serem varridas.

Roma, a Terra da Loba que alimentou Rômulo e Remo, foi prática dos ensinamentos gregos, e estes, do Antigo Egito, e assim por diante, talvez de uma Atlântida quem sabe, ou nem se sabe. A realidade é que todas elas, não somente elas, como quero salientar, possuíram, e em sua essência possuem, um legado riquíssimo do qual jamais a humanidade irá esquecer-se, a depender da alma coletiva do mundo...

Por que isso? Percebo que estão criando "sabedorias estanques" comportamentais, na tentativa de dissuadir o mundo a não olhar o passado com os olhos naturais de um um homem que viveu e que morreu em busca do conhecimento... A prova é que se estudam menos os heróis, os quais são apenas bonecos de lojas, referenciados em filmes americanizados, cujo teor foge e muito do que um dia aprendemos em um passado distante..

A beleza do passado, percebo, em forma de estátuas e de templos antigos, e  de quadros de artistas idem, progridem à medida que os preservamos, porém, a religiosidade, a sacralidade destes estão se perdendo como gritos únicos na multidão enraizada de fúria. Uma fúria política, social, familiar, a qual desanda até mesmo o raiar do sol, que um dia vimos, apreciamos e hoje não temos tempo de vê-lo graças à maldita filosofia de olhar para as paredes eternas, sucumbindo às sombras.

Há em nós um grego, um romano e um egípcio; entretanto, temos que buscá-los na medida de nossos passos em direção ao que realmente nos importa como humanos. Se pretendemos religiosidade, sacralidade, amor à busca profunda e simbólica na natureza, seremos Egípcios; se desse amor nos restar uma válvula que nos faça melhorar nossos relacionamentos amistosos, em família e ou sociedade, e que deste exercício interno nos sobrar tempo para sentir as algemas do presente em nossos pulsos psicológicos, seremos gregos; se conseguirmos andar apesar dos pesares, digo, das dores, em meio às batalhas, das pequenas guerras e respeitar o próximo, em sua vida e morte, seremos romanos.



Aos Meus Amigos.

quarta-feira, 28 de novembro de 2018

Faz Parte de Nós

Chegamos a uma certa idade em que nos cansamos de participar das coisas, dessas do tipo baladas, festas infantis, shows "inéditos" de bandas idem, os quais um dia fizemos parte como amantes loucos, em épocas loucas, com letras ainda mais incompreensíveis, porém, que retratavam uma realidade por que passávamos, e fazíamos isso tão cegos quando uma vaca em meio ao trânsito de São Paulo.

A cegueira se descobre depois de anos. Hoje, enxergo a minha. Não gosto de viajar em "túneis do tempo" e começar a reviver um passado no qual não havia objetivos, apenas alegria desmedida por algo que somente alguns vão se lembrar, e mesmo assim, como um dia em que pulamos, gritamos, caímos bêbados, e arrotamos bobagens como pagãos antes da prisão.

Hoje, realizado, me sinto com outras vontades, com sentimentos de realização, de fome de alcançar algo maior do que eu, do que aquele que se julga melhor do que eu, do que eu mesmo, que me julgo o que não sou, enfim, com uma finalidade subjetiva de alcançar o que está nas entrelinhas do mundo, que não muda, que se repete friamente, gerações após gerações, como que cavasse eternamente uma cova enterrando crianças, jovens, adultos, senhores, senhoras...

É pedir demais, talvez.
Vejo, no entanto, outras mentes, com finalidade gêmeas à da minha, porém, quando penso naquele ser que se penetra no mundo, em uma tentativa quase bélica de mudá-lo com seus instrumentos frágeis, vejo a ilusão nascer e morrer e nascer o que chamamos esperança, que vem de esperar. E aquele que morre em tentativas vãs, que, como um grande guerreiro se vai com seu arco, com sua arma, com suas mãos e mentes ao lado do outro, a nos fazer levantar e sentir que podemos... Baixo a cabeça e me sinto culpado por tudo...

Aqueles shows inúteis, dos quais participamos, nos foram chupetas imensas dadas pelos grandes senhores interessados em manter o sistema zumbi, nos quais seres humanos, hipnotizados pelo nada, pelo invisível sentimento de mudança calcado em letras tangíveis, não nos mudou. Pelo contrário. Viramos políticos corruptos, religiosos sem lastro algum de compreensibilidade sagrada quanto ao real invisível, quanto a real face divina que paira em tudo, a cair no mesmo fosso arcaico dos homens que misturam dor com castigo, pecado com errado, vida com benção, morte, como maldição... Homens medrosos da noite, medrosos ante a educação, coluna vertebral do mundo, além de nos fazer cruéis, monstros, animais bípedes, sempre seguidos de seus interesses e desculpas.. E aqui, antes de tudo, morremos em pernas.

Lutar... Como?

No início, éramos apenas noite, até o momento em que a mão divina nos acordou e tudo virou dia. Acordamos, realizamos, participamos, nos encontramos e buscamos motivos relativos em nome de nosso ego, esquecendo que somos parte de uma grande forma indescritível de paz e harmonia, que se igualam no final das retas. Contudo, ao pequeno pensamento incalculável do livre arbítrio, desfazemos nossos sonhos, dentro do Sonho, que um dia, antes de acordamos era uma grande realidade.

E não vejo outro mode de mudar além do de lutar contra aquilo que nos emperra a mente, a alma... Pois, lutar é antes de mais nada uma forma de comportamento necessário a uma organização individual, a qual se torna coletiva com o tempo, qualquer que seja nossa intenção, palavra, percepção, tudo se revela uma prova do que seremos ante ao Todo.

Assim, e por isso, temos que perceber, o quanto antes, que somos necessários ao tempo, à história -- não a nossa história, mas -- aquela que modifica uma pequena parcela do mundo, no sentido mais bíblico possível, pois somos humanos e mesmo que não percebemos estamos fazendo parte de um contexto no qual pessoas acreditam em nossas palavras, quando começamos a andar em direção àquilo que acreditamos ser correto.

Por isso que eu sempre digo: todos os dias nascemos e morremos para as coisas. A única diferença é que  apenas alguns percebem isso muito tarde.

segunda-feira, 26 de novembro de 2018

A Xícara Quebrou

Apegar-se aos bens, ainda que se pareça ridículo, é natural. Tão natural quanto morrer em função deles, dar a vida por eles, mesmo sabendo que não se pode nada fazer. Tudo se vai, até mesmo o mais belo sol de uma galaxia distante, que explode dando lugar a outros sóis, mundos, galaxias, enfim; entretanto quando esse ego longínquo deixa de sê-lo, se infiltra em nosso cotidiano imaginário ou como peças de um bem-querer, semelhante a um ser que fez parte de nossas almas até então, torna-se perigoso.

Não é de hoje, claro, que adotamos esse princípio: de levar para si o que é da terra, o que é de sua origem. Nossas mentes, corpos e almas funcionam em favor de uma centralidade natural, o que facilita a entrada de exércitos inteiros de forças que nos incitam a tomá-los e a reivindicá-los, o que na realidade nos faz dependentes daquilo que não temos e nunca tivemos. Parece que é de nossa natureza amar o que não é para ser amado... 

Antes de amar, talvez, deveríamos respeitar todo o processo pelo qual todo aquele exército passou, entrou e fez parte de nossas vidas. A questão, no entanto, é que somos crianças no sentido eterno da palavra, pois acreditamos que tudo não passa de brinquedos imensos sobre os quais temos direitos, e não é bem assim. Não temos direito a nada, a não ser deixar que a liberdade faça parte daquilo que adotamos como nosso.

O que seria a liberdade nesse caso? Deixar que as leis se façam como que suficientes para determinar os dias e as horas daquele ou daquela pessoa em nossas vidas; para isso, porém, teríamos que adotar uma postura firme diante de tudo, inclusive das pequenas coisas com as quais vivemos: até mesmo antes da xícara que mamãe nos deu e que um dia vai quebrar! Imaginem do carro, das roupas, entre outros utensílios que damos a vida para obter...

Tudo isso, no entanto, se torna obsoleto, quando comparado ao "alguém", aquele ser que se infiltrou, em nossas vidas, desde que nascemos. Tudo é tudo, tudo é divino, sagrado, perdoável, porém, também se vai. E quando se vai, nada é sagrado, nada é perfeito, divino, nada é nada...! O mundo não é mais mundo, as almas se perdem, corpos se titubeiam nas ruas, olhos não enxergam, luas e sóis não mais existem, apenas o chão que nos aparou com a queda que damos.

Isso me lembra o que um dia um grande filósofo pré-socrático nos disse a respeito da origem de cada um: se pensas que um dia não iremos morrer, lembre-se dos grandes homens do passado, da vida maravilhosa que tiveram e hoje fedem com esterco (nem isso mais) em suas covas. Outro, mestre desse último, dizia... Se quiser iniciar o desapego, comece com uma pequena xícara que quebrou, depois reflita sobre o que ela significava para você, e pense "ela voltou à sua origem"...

Mas tudo isso se desfaz, quando presos à matéria, às pessoas e ao mundo frágil das medalhas, como dizia Platão, ao citar a República, capítulo VII, sobre nossos apegos ao mundo das sombras, as quais norteiam nossas ideias de ter ou não, segundo o mestre grego. Lá, presos em algemas, indivíduos como nós, humanos, com ideais e projetos de crescimento, são (estamos) presos por amos que praticam seus "queres" junto a esses que nunca crescem, e são, como pequenos porcos, presos a cercados, a espera de prêmios.

Antes, penso, de obter sentimentos fortes em relação ao que pretendemos chamar de nosso, reflitamos sobre sua origem, inclusiva a sua. Pensemos no porquê daquele amor, mesmo sabendo que um dia tudo se vai. Amar, penso, não faz mal, muito pelo contrário: amar não é restringir a natureza do outro daquilo que adotamos como nosso, mas saber que um dia as coisas se vão em nome de sua natureza, ou mesmo do Amor, que pede, que muda, sempre, em nome de algo maior que nosso egoísmo.

quinta-feira, 22 de novembro de 2018

Precisa-se de Alguém

O ser humano, desde o dia em que nasceu nos braços dessa terra, clamou o primeiro deus e realizou suas façanhas, em aventuras que até então têm servido como experiências para descobertas, progressos, crescimentos materiais e espirituais, entretanto, sabe-se que na maioria das vezes busca-se desculpas para realizar seus sonhos com auxílio de outro ser humano, e quando o faz, descobre, enriquece, se intelectualiza, às custas daquele que sempre lhe deu apoio e o esquece.

Machado de Assis, em um de seus poemas, fala de uma famigerada linha, que, depois de virar um grande vestido de linho, esquece-se do grande momento em que esteve ao lado de sua amiga agulha. Por que somos assim? Por que nos esquecemos das batalhas vencidas graças aos grandes mestres, professores, pais, dos quais salientamos a vida toda aquelas frases de efeitos, nas quais a sobriedade e até mesmo a luz se dissipam sem serem chamadas. Não precisamos dar ouvido apenas à consciência da ação desmedida, como sinal de maturidade, de guerreiros que vão para as trincheiras como que deuses estivessem ao nosso lado a nos proteger... Não.

É no mínimo, tolice. Temos que, a priori, ter bom senso dos passos e dos caminhos que damos em direção a qualquer lugar, até mesmo o da cama, para qual vamos altas horas da noite: como vamos, por que vamos e fazer o quê. Perguntas simples das quais, no entanto, que nos retiram véus que perfazem nossos rostos desde a infância, e se desfazem com o mínimo de palavras que ficam em nossas almas, depois que escutamos uma mãe, um pai, uma irmã ou mesmo um irmão que chegou à sua excelência antes de nós.

Precisamos de alguém. Precisamos procurar esse alguém. Encontrar sob o assobio da manhã, ao lado do grande fogão de pedra, cozinhando aquele feijão, se lembrando da infância querida que não volta mais. Sentar e conversar, mesmo que a conversa não chegue a um ponto em comum, contudo, entender que não é simples, e que funciona como uma engrenagem natural da qual, em comunhão com a natureza das coisas, sempre flui ou um dia fluirá e tudo se tornará um.

A paciência, aqui, é uma virtude, uma força descomunal que percebemos somente depois do estrago das palavras e dos atos que pronunciamos, atuamos, perseguimos e não encontramos. Deve a paciência ser o alvo do tudo (não de tudo), só assim teremos condições próprias para entender o porquê de nossas diferenças, sejam elas físicas, emocionais, racionais, raciais, as quais entram em comunhão em um patamar elevado de compreensão na qual devemos pura e simplesmente buscar e chegar.

Precisamos de alguém para mostrar nosso sentimento quanto ao que fica e ao que ficou, mas não se apropriar desse terremo, mesmo porque o outro quer não apenas ouvir, mas falar, interpretar, sorrir e ao mesmo tempo aprender junto com aquele que está bem perto dele: na verdade, buscamos a nós mesmos e não sabemos.

E quando nos aprofundamos no outro, em busca do que ele é, nos encontramos, ainda que em defeitos, em ódios, nos alimentamos e às vezes saímos correndo de nós mesmo com aquela desculpa: caramba, como ele é chato! Bem que um dia Marcus Aurelius, imperador filósofo, disse, "Todos os dias diga para si mesmo: encontrarei um tolo, um imbecil, mas sei que suas naturezas devem ser diferentes, pois, assim como as partes debaixo dos dentes são necessárias à de cima, precisamos entender que somos diferentes com o sentido de harmonizar o todo".

Precisa-se de um mestre e com ele nos sentar, falar de nossas dúvidas quanto ao ideal, quanto às razões da vida, que não cessa, que não estaciona, porém que se transparece nos humanos como algum somente nosso, meu e teu. Falar dos enganos naturais  e de nossa escolhas frias, sem referenciais, e de nossa educação ao que fazemos no mundo, além  de nosso real papel ante ao que fazemos e deixamos de fazer. E muito mais.

Precisamos de alguém.

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segunda-feira, 19 de novembro de 2018

A Canção na Pólis

A música realmente faz parte da formação humana, não tem como negar. Em todos os lugares por onde se vai, lá está ela, em forma, em estilo, em alto ou mesmo em tom baixinho, nas avenidas da vida. Em minha vida, por exemplo, desde o momento em que coloco os pés no chão, ao final de minhas preces, a música está presente. E mesmo ausente, quando observo o cantarolar das aves, roçando o telhado, em pequenas brigas de "casal" de periquitos, no aviso do bem-te-vi, nas disputas por comida em grupos de pardais, lá está ela...

E quando abro as janelas de vidro, que somam mais de cinco metros de arrasto, e assisto ao  céu firme, sem nuvens, com uma brisa em minhas narinas, sussurrando o vento que vai chegar, e entre laços firmes em meio ao verde da árvore, farfalhando as folhas em tom musical, me sinto com uma grande vontade compor uma música... Mas não sou músico. E sorrio aos quatro ventos.

A música é a alma desse mundo, e foi de um passado bem distante, e desse, em outros. Foi a Alma dos deuses, dos heróis, dos monges, dos grandes templos, mas percebo que hoje é alma contaminada dos homens, confundida, enlameada pelos versos ridículos, nos quais colhe-se a elucubração de um povo sem cultura, que pede ajuda, socorro; de vários seres que morrem dentro de suas vestes, dentro de suas peles.

Não é mais como no passado, onde o respeito mútuo e a cultura prevaleciam, onde a real música era cantarolada, assobiada pelo menos culto ou ou mais culto, mas ao mesmo tempo tinha uma canção, um ritmo, uma natureza musical não distinta do passado que lhe criou.

Depois de séculos, descobre-se que se pode fazer da música (ou pelo menos acreditam que seja) uma salada de letras sem fundamentos, de ritmos sem harmonia, concatenados com a debilidade dos dias humanos, nos quais paixões arredias, vontades suicidas, dores físicas e psicológicas fazem parte de uma micelânia quase que vulgar do homem atual, na visão do terceiro andar do céu.

Para onde foi a música?
Assim como valores que esperam ser "chamados", a música ainda existe e persiste em uma natureza não muito distante. Muito pelo contrário. Se revela nos brios de uma natureza mítica e ao mesmo tempo divina, quando a ela se percebe. Assim como Mozart, Bethoven, Bach, Wagner, Brahms, Chopin, entre outros, os quais plasmaram aquilo que estava acima de suas personalidades frágeis, podemos fazê-lo. E quando não, façamos em forma de poemas, de comportamentos, de pensamentos e meditações. A música, a meu ver, sintetiza não apenas o espírito individual, mas também de uma sociedade, de uma época em que, se nos parametrarmos em algo maior, pode a vir em maior ou menor tom.

Desse algo maior a música -- que veio de Musas -- em homenagem a elas, veio. Não porque sim, não porque alguém apreciou o bater do pé de um transeunte que se sentara em bar e se empulgou, dando margem a outros ritmos, com hoje se faz. É um pouco mais profundo... É a religação natural e sutil que transcende os sentimentos humanos, que, hora ou outra, se conecta com esse fio que perpassa no mundo invisível e pronto..."Fez" a música.

Ela está em tudo, em todos os lugares, seja em forma física audível ou não, perceptível aos grandes compositores ou não. Depende. Se pretendemos elevar nossa consciência, vivenciar o melhor dos mundos, respirar a vida, mergulhar em oceanos misteriosos, compreender a alma humana e suas nuances ante ao seu ideal, escutamos música.

Se pretendemos dançar, ouvir o passado humano em forma de ritmos frenéticos ou melodiosos, cheio de floreios, sem a profundidade a que lhe inerente.... também podemos. Temos escolhas. E quando nos referimos a escolhas, vem a nossa mente a palavra caminho, e quando temos caminhos, escolhemos apenas um. E para escolhê-lo temos que refletir acerca do que é evolução e involução. 

A partir desse quesito que o mestre Platão, filósofo grego, nos coloca o real valor da Música junto à República, quando se refere à educação. Para ele, a criança deveria, ainda no ventre, "escutar" canções para que sua personalidade seja, já, moldada a partir de elementos naturais, que lhe propiciem uma boa formação: crescimento interno, vontade, determinação, intuição, astral, desapego, enfim, semente que mais tarde crescerá nele e será vital para defender os a Pólis.

Temos que fazer nossas escolhas.



terça-feira, 13 de novembro de 2018

A Sinfonia

Nas manhãs de domingo, quando o sol se apossa das serras, sobrevoa o céu azulado, sem nuvens, em busca de um espaço para se afixar, percebe-se que suas forças não mudam, sua vontade idem. E os objetos, abaixo de suas longas barbas amarelas, presos ao chão, à terra, mas fixos como filhos de plantas recém-chegadas, como pedras que não se movem há séculos, parecem sorrir, mas não. São apenas filhos sendo regados pelo pai que passa por cima dos ombros de uma família infinita.

Lá vem o homem a abrir a janela de seu quarto, pensar em coisas mutáveis, que terminam com o tempo, sustentando apenas em seu olhar a relativa vontade de entender seu dia a dia. Mal sabe este que, ao abrir aquele quarto, é sondado pelo grande círculo amarelo, que um dia nasceu, mas também um dia se vai, contudo antes, dar-lhe-á vida, força, mistérios a serem desvendados, outros não, no entanto, apenas pelo simples prazer de ser o sol, pelo simples e belo prazer de ser justo.

Ao nos depararmos com esse grande cenário, no qual a universalidade se faz pelo simples modo de revitalizar o todo, refletimos ao mais alto dos átomos e, ao passo, mínimo, que se esconde na poeira, nas ondas, no chegar da noite e no brio do sol. Antes, destes então, percebemos que há outros que se engendram na roupagem natural  das folhas, dando o verde, o branco, o vermelho, entre outros, nos quais se digladiam em nome de uma beleza que não se vê, no entanto se percebe quando quadros naturais nascem à beira dos campos elísios terrestres.

Tudo que há aqui deve ser reflexo do alto, como já diziam na tradição; pois toda a perfeição que se vê possui elementos discutíveis ao humano, mas não ao absoluto, que trabalha em função de outros absolutos, nos quais há outros, que se aperfeiçoam em nome de outros, até chegarem ao invisível por si, em meio a sincronias cuja perfeição não se deduz. 

Algo, porém, nasce em meio ao todo, como forma de desfazer o sentido de tudo: a dúvida, e dela nasceram os rótulos, ao mesmo tempo, a imposição destes, como que para desvencilhar do caminho o concreto, o pétreo, inabalável, a própria alma do mundo -- é a resistência à verdade que bate às portas, pelo mesmo motivo de que um dia o eterno nos bate a consciência quando imersos na busca por Deus.

Não há, no entanto, livre arbítrio nas células, nos astros, nem mesmo nos deuses, intitulados heróis do dia a dia, mesmo porque o mito não pede a literalidade, apenas acoberta, com pano de veludo, a Inteligência infinita, não dita, nem mesmo reverenciada pelos passageiros terrenos. Nem poderiam. Não se questiona o "ParaBraham", ou como diziam na Índia Clássica, o indissociável das espécies, o invisível leve, eterno puro.

E ainda nos perguntamos, para onde vamos... para fazer lá o quê... A inquietude da alma em pensar sobre o que somos e para onde vamos, numa espécie metódica, analítica, com frutos que nascem e crescem, e morrem, mas sempre com pretensões de questionar e não viver. O que bate em nossas portas é o egoísmo, simplesmente porque somos humanos, porque podemos chorar e questionar a ida do próximo, e do próximo, e assim por diante, num mero leito de morte... Sem saber que estamos a acordar em um outro leito de Vida...

A relativa vontade de descansar, de estar junto dos deuses, de Deus, como uma criatura que fizera simplesmente o bem, em forma humana... E outros, pelo ateísmo clássico, se rompendo em dor, apenas pelo prazer de ser o melhor entre aqueles que julgam... Santos. Na realidade, somos apenas flores complexas que pensam, refletem em torno de seu campo, de seu jardim; flores que acordam com vontade de viver e às vezes morrer, mas sempre flores que enfeitam universos, nos quais, em meio a esse microuniverso, desconhece a si próprio e vive de sistemas outros, antes mesmo de viver o seu.

Não precisamos disso: precisamos olhar mais a vida, os lírios do campo, as metáforas naturais entre a rocha e a correnteza; entre o homem e a mulher, entre a vida e morte. Eu prefiro assim... Pois o que sou é muito complexo, assim como Deus. Então começo pelo simples, e termino pelo mais simples ainda. O complexo vem com o tempo.





quinta-feira, 8 de novembro de 2018

Pólis, a Educação

Já vimos que a palavra política veio de pólis, que significa cidade, em grego. Sabemos que as cidades que deram origem a essa palavra eram as cidades-estados gregas Esparta, cuja política era mais pela força física do que as outras, e de Atenas, a qual possuía um viés ideológico mais cultural, interno, se sobressaindo no quesito educação. Daqui, Platão retirou um pouco de cada uma para trabalhar em sua "República", no sentido de criar uma filosofia perfeita entre os homens.

Na Cidade Perfeita, como havíamos trabalhado em outro ponto, segundo nos consta, após a tomada de consciência em relação ao próprio sistema, o cidadão agora, depois de ter levado consigo vários instrumentos que o fariam ideológico quanto ao seu papel na pólis platônica, se sente na possibilidade de "voltar" e demonstrar sua nova forma, ou melhor, seu papel junto aos seus.

Agora mais aberto, com instrumentos firmes, o cidadão, ético, moral e virtuoso, já o seria por si mesmo uma microforma dentro de outra -- da cidade, mesmo porque o papel de todos seria a indelével maneira de encontrar sua função junto ao pequeno mundo que se formava.

Não haveria outro modo a não ser trabalhar junto ao próximo, ensinar, fazer-lhe acreditar que existe o céu, aqui e agora, de modo simples, sem abalar estruturas sistêmicas. Aqui, não poderia haver a informação inútil pelo fato de tudo que se aprendera, na grande experiência de ver o Bem em forma de sol, era repassar na prática o que foi visto, não o que lhe deram para ver.

A prática, nesse quesito, seria a força natural do homem da cidade, cuja vontade de religar-se com estruturas simples, com vista a outras mais complexas, o deixaria mais perto de seu ideal. Não poderia ser diferente, pois o que nascia ali não era apenas uma cidade, mas a possibilidade de nascimento humano, no ser humano.

O Sol da Ética

Para nos moldar, é preciso que tenhamos a parte ética moderada, naturalmente posta no homem, não de forma brutal, mas, sim, como se estivéssemos a caminhar em um passeio ao por do sol. E já o trazendo como forma exemplar, podemos ver o rei solar como uma espécie de grande exemplo entre nós, uma grande estrela simbólica que se sintoniza com todos os valores humanos e não humanos -- o que nos fazer refletir acerca do que somos e por quê.

Não apenas o sol, mas a toda forma de vida que nos faz repensar o que podemos fazer aqui e agora pela natureza, pelo próximo, por nós mesmos, a nos dar motivos de levantar, iluminar e dormir satisfeitos com o que fazemos. A educação platônica paira em cima desse conceito ético de vida.


A Parte que nos Falta

"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....