Nas manhãs de domingo, quando o sol se apossa das serras, sobrevoa o céu azulado, sem nuvens, em busca de um espaço para se afixar, percebe-se que suas forças não mudam, sua vontade idem. E os objetos, abaixo de suas longas barbas amarelas, presos ao chão, à terra, mas fixos como filhos de plantas recém-chegadas, como pedras que não se movem há séculos, parecem sorrir, mas não. São apenas filhos sendo regados pelo pai que passa por cima dos ombros de uma família infinita.
Lá vem o homem a abrir a janela de seu quarto, pensar em coisas mutáveis, que terminam com o tempo, sustentando apenas em seu olhar a relativa vontade de entender seu dia a dia. Mal sabe este que, ao abrir aquele quarto, é sondado pelo grande círculo amarelo, que um dia nasceu, mas também um dia se vai, contudo antes, dar-lhe-á vida, força, mistérios a serem desvendados, outros não, no entanto, apenas pelo simples prazer de ser o sol, pelo simples e belo prazer de ser justo.
Ao nos depararmos com esse grande cenário, no qual a universalidade se faz pelo simples modo de revitalizar o todo, refletimos ao mais alto dos átomos e, ao passo, mínimo, que se esconde na poeira, nas ondas, no chegar da noite e no brio do sol. Antes, destes então, percebemos que há outros que se engendram na roupagem natural das folhas, dando o verde, o branco, o vermelho, entre outros, nos quais se digladiam em nome de uma beleza que não se vê, no entanto se percebe quando quadros naturais nascem à beira dos campos elísios terrestres.
Tudo que há aqui deve ser reflexo do alto, como já diziam na tradição; pois toda a perfeição que se vê possui elementos discutíveis ao humano, mas não ao absoluto, que trabalha em função de outros absolutos, nos quais há outros, que se aperfeiçoam em nome de outros, até chegarem ao invisível por si, em meio a sincronias cuja perfeição não se deduz.
Algo, porém, nasce em meio ao todo, como forma de desfazer o sentido de tudo: a dúvida, e dela nasceram os rótulos, ao mesmo tempo, a imposição destes, como que para desvencilhar do caminho o concreto, o pétreo, inabalável, a própria alma do mundo -- é a resistência à verdade que bate às portas, pelo mesmo motivo de que um dia o eterno nos bate a consciência quando imersos na busca por Deus.
Não há, no entanto, livre arbítrio nas células, nos astros, nem mesmo nos deuses, intitulados heróis do dia a dia, mesmo porque o mito não pede a literalidade, apenas acoberta, com pano de veludo, a Inteligência infinita, não dita, nem mesmo reverenciada pelos passageiros terrenos. Nem poderiam. Não se questiona o "ParaBraham", ou como diziam na Índia Clássica, o indissociável das espécies, o invisível leve, eterno puro.
E ainda nos perguntamos, para onde vamos... para fazer lá o quê... A inquietude da alma em pensar sobre o que somos e para onde vamos, numa espécie metódica, analítica, com frutos que nascem e crescem, e morrem, mas sempre com pretensões de questionar e não viver. O que bate em nossas portas é o egoísmo, simplesmente porque somos humanos, porque podemos chorar e questionar a ida do próximo, e do próximo, e assim por diante, num mero leito de morte... Sem saber que estamos a acordar em um outro leito de Vida...
A relativa vontade de descansar, de estar junto dos deuses, de Deus, como uma criatura que fizera simplesmente o bem, em forma humana... E outros, pelo ateísmo clássico, se rompendo em dor, apenas pelo prazer de ser o melhor entre aqueles que julgam... Santos. Na realidade, somos apenas flores complexas que pensam, refletem em torno de seu campo, de seu jardim; flores que acordam com vontade de viver e às vezes morrer, mas sempre flores que enfeitam universos, nos quais, em meio a esse microuniverso, desconhece a si próprio e vive de sistemas outros, antes mesmo de viver o seu.
Não precisamos disso: precisamos olhar mais a vida, os lírios do campo, as metáforas naturais entre a rocha e a correnteza; entre o homem e a mulher, entre a vida e morte. Eu prefiro assim... Pois o que sou é muito complexo, assim como Deus. Então começo pelo simples, e termino pelo mais simples ainda. O complexo vem com o tempo.
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