segunda-feira, 19 de novembro de 2018

A Canção na Pólis

A música realmente faz parte da formação humana, não tem como negar. Em todos os lugares por onde se vai, lá está ela, em forma, em estilo, em alto ou mesmo em tom baixinho, nas avenidas da vida. Em minha vida, por exemplo, desde o momento em que coloco os pés no chão, ao final de minhas preces, a música está presente. E mesmo ausente, quando observo o cantarolar das aves, roçando o telhado, em pequenas brigas de "casal" de periquitos, no aviso do bem-te-vi, nas disputas por comida em grupos de pardais, lá está ela...

E quando abro as janelas de vidro, que somam mais de cinco metros de arrasto, e assisto ao  céu firme, sem nuvens, com uma brisa em minhas narinas, sussurrando o vento que vai chegar, e entre laços firmes em meio ao verde da árvore, farfalhando as folhas em tom musical, me sinto com uma grande vontade compor uma música... Mas não sou músico. E sorrio aos quatro ventos.

A música é a alma desse mundo, e foi de um passado bem distante, e desse, em outros. Foi a Alma dos deuses, dos heróis, dos monges, dos grandes templos, mas percebo que hoje é alma contaminada dos homens, confundida, enlameada pelos versos ridículos, nos quais colhe-se a elucubração de um povo sem cultura, que pede ajuda, socorro; de vários seres que morrem dentro de suas vestes, dentro de suas peles.

Não é mais como no passado, onde o respeito mútuo e a cultura prevaleciam, onde a real música era cantarolada, assobiada pelo menos culto ou ou mais culto, mas ao mesmo tempo tinha uma canção, um ritmo, uma natureza musical não distinta do passado que lhe criou.

Depois de séculos, descobre-se que se pode fazer da música (ou pelo menos acreditam que seja) uma salada de letras sem fundamentos, de ritmos sem harmonia, concatenados com a debilidade dos dias humanos, nos quais paixões arredias, vontades suicidas, dores físicas e psicológicas fazem parte de uma micelânia quase que vulgar do homem atual, na visão do terceiro andar do céu.

Para onde foi a música?
Assim como valores que esperam ser "chamados", a música ainda existe e persiste em uma natureza não muito distante. Muito pelo contrário. Se revela nos brios de uma natureza mítica e ao mesmo tempo divina, quando a ela se percebe. Assim como Mozart, Bethoven, Bach, Wagner, Brahms, Chopin, entre outros, os quais plasmaram aquilo que estava acima de suas personalidades frágeis, podemos fazê-lo. E quando não, façamos em forma de poemas, de comportamentos, de pensamentos e meditações. A música, a meu ver, sintetiza não apenas o espírito individual, mas também de uma sociedade, de uma época em que, se nos parametrarmos em algo maior, pode a vir em maior ou menor tom.

Desse algo maior a música -- que veio de Musas -- em homenagem a elas, veio. Não porque sim, não porque alguém apreciou o bater do pé de um transeunte que se sentara em bar e se empulgou, dando margem a outros ritmos, com hoje se faz. É um pouco mais profundo... É a religação natural e sutil que transcende os sentimentos humanos, que, hora ou outra, se conecta com esse fio que perpassa no mundo invisível e pronto..."Fez" a música.

Ela está em tudo, em todos os lugares, seja em forma física audível ou não, perceptível aos grandes compositores ou não. Depende. Se pretendemos elevar nossa consciência, vivenciar o melhor dos mundos, respirar a vida, mergulhar em oceanos misteriosos, compreender a alma humana e suas nuances ante ao seu ideal, escutamos música.

Se pretendemos dançar, ouvir o passado humano em forma de ritmos frenéticos ou melodiosos, cheio de floreios, sem a profundidade a que lhe inerente.... também podemos. Temos escolhas. E quando nos referimos a escolhas, vem a nossa mente a palavra caminho, e quando temos caminhos, escolhemos apenas um. E para escolhê-lo temos que refletir acerca do que é evolução e involução. 

A partir desse quesito que o mestre Platão, filósofo grego, nos coloca o real valor da Música junto à República, quando se refere à educação. Para ele, a criança deveria, ainda no ventre, "escutar" canções para que sua personalidade seja, já, moldada a partir de elementos naturais, que lhe propiciem uma boa formação: crescimento interno, vontade, determinação, intuição, astral, desapego, enfim, semente que mais tarde crescerá nele e será vital para defender os a Pólis.

Temos que fazer nossas escolhas.



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