O ser humano, desde o dia em que nasceu nos braços dessa terra, clamou o primeiro deus e realizou suas façanhas, em aventuras que até então têm servido como experiências para descobertas, progressos, crescimentos materiais e espirituais, entretanto, sabe-se que na maioria das vezes busca-se desculpas para realizar seus sonhos com auxílio de outro ser humano, e quando o faz, descobre, enriquece, se intelectualiza, às custas daquele que sempre lhe deu apoio e o esquece.
Machado de Assis, em um de seus poemas, fala de uma famigerada linha, que, depois de virar um grande vestido de linho, esquece-se do grande momento em que esteve ao lado de sua amiga agulha. Por que somos assim? Por que nos esquecemos das batalhas vencidas graças aos grandes mestres, professores, pais, dos quais salientamos a vida toda aquelas frases de efeitos, nas quais a sobriedade e até mesmo a luz se dissipam sem serem chamadas. Não precisamos dar ouvido apenas à consciência da ação desmedida, como sinal de maturidade, de guerreiros que vão para as trincheiras como que deuses estivessem ao nosso lado a nos proteger... Não.
É no mínimo, tolice. Temos que, a priori, ter bom senso dos passos e dos caminhos que damos em direção a qualquer lugar, até mesmo o da cama, para qual vamos altas horas da noite: como vamos, por que vamos e fazer o quê. Perguntas simples das quais, no entanto, que nos retiram véus que perfazem nossos rostos desde a infância, e se desfazem com o mínimo de palavras que ficam em nossas almas, depois que escutamos uma mãe, um pai, uma irmã ou mesmo um irmão que chegou à sua excelência antes de nós.
Precisamos de alguém. Precisamos procurar esse alguém. Encontrar sob o assobio da manhã, ao lado do grande fogão de pedra, cozinhando aquele feijão, se lembrando da infância querida que não volta mais. Sentar e conversar, mesmo que a conversa não chegue a um ponto em comum, contudo, entender que não é simples, e que funciona como uma engrenagem natural da qual, em comunhão com a natureza das coisas, sempre flui ou um dia fluirá e tudo se tornará um.
A paciência, aqui, é uma virtude, uma força descomunal que percebemos somente depois do estrago das palavras e dos atos que pronunciamos, atuamos, perseguimos e não encontramos. Deve a paciência ser o alvo do tudo (não de tudo), só assim teremos condições próprias para entender o porquê de nossas diferenças, sejam elas físicas, emocionais, racionais, raciais, as quais entram em comunhão em um patamar elevado de compreensão na qual devemos pura e simplesmente buscar e chegar.
Precisamos de alguém para mostrar nosso sentimento quanto ao que fica e ao que ficou, mas não se apropriar desse terremo, mesmo porque o outro quer não apenas ouvir, mas falar, interpretar, sorrir e ao mesmo tempo aprender junto com aquele que está bem perto dele: na verdade, buscamos a nós mesmos e não sabemos.
E quando nos aprofundamos no outro, em busca do que ele é, nos encontramos, ainda que em defeitos, em ódios, nos alimentamos e às vezes saímos correndo de nós mesmo com aquela desculpa: caramba, como ele é chato! Bem que um dia Marcus Aurelius, imperador filósofo, disse, "Todos os dias diga para si mesmo: encontrarei um tolo, um imbecil, mas sei que suas naturezas devem ser diferentes, pois, assim como as partes debaixo dos dentes são necessárias à de cima, precisamos entender que somos diferentes com o sentido de harmonizar o todo".
Precisa-se de um mestre e com ele nos sentar, falar de nossas dúvidas quanto ao ideal, quanto às razões da vida, que não cessa, que não estaciona, porém que se transparece nos humanos como algum somente nosso, meu e teu. Falar dos enganos naturais e de nossa escolhas frias, sem referenciais, e de nossa educação ao que fazemos no mundo, além de nosso real papel ante ao que fazemos e deixamos de fazer. E muito mais.
Precisamos de alguém.
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