quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Fúria de Titãs...


Em todas as culturas orientais e ocidentais, antes de Cristo, o simbolismo era muito enraigado quando o assunto era formação do universo. Contudo, não se podia revelar ipsis literis aos leigos os mistérios profundos de uma realidade a que jamais o homem poderia expor de maneira que fosse tão clara quanto o sol que vimos, todos os dias...

Mais do que isso, nessas culturas, o próprio homem e sua personalidade eram temas em contextos mitológicos nos quais, para aquela cultura, era tão normal quanto ir para a escola, ou mesmo se sentar em um banco da praça. Discutia-se, de forma intrínseca e ao mesmo tempo filosófica, quase científica, o simbolismo de tudo.

Quando se chegava ao homem, por mais que fossem especialistas – cientistas da época, filósofos, etc – não havia outra forma senão experimentar, na própria carne, a vivência do mito. Assim, tínhamos a educação propriamente dita.

E por falar em educação, os escravos – no caso grego – ensinavam filhos de militares a se comportar, a serem estrategistas, e a respeitarem as culturas, os mitos...enfim, não havia escola pública, nem privada, apenas o saber advindo daqueles que possuíam experiência para tanto. Assim, nasciam Julius Césares, Marcus Aurelius, Adrianus, sempre em meio a filósofos como Epíteto, um dos percussores do estoicismo, entre outros.

Depois que se criou o mito e seus simbolismos perfeitos – isso por volta de dez e quinze mil anos antes de Cristo, por iniciados, todas as explicações em torno do mundo se tornaram “fáceis” do ponto de vista grego, romano, egípcio, celta... Mas não do nosso ponto de vista. Tanto que, hoje, a palavra mito significa mentira, longe, e muito, do seu significado real.

O mito, como diziam, retratava, simbolicamente, uma realidade profunda. Não é um conto, uma lenda, nem mesmo uma história, embora muitos acreditam em finais felizes e, quando assistem a filmes americanos com o título “Fúria de Titãs”, acreditam que seja uma história contada com monstros, heróis, deuses, havendo, portanto, um final feliz – talvez haja, mas não é com esse intuito que o mito exista, mesmo assim esperamos.

Na História de determinadas civilizações, como a da própria Grécia, houve um processo mitológico por detrás da narrativa. Homero, grande historiador, conta em Ilíada e Odisseia dez anos de batalhas entre espartanos e gregos, nas quais deuses e heróis jamais vistos em nenhuma narrativa se fundem com uma realidade que fora o nascimento de uma grande civilização. Aqui, ficam dúvidas da existência da batalha, mas arqueólogos já encontraram vestígios do que fora a maior guerra de todos os tempos. Todavia, procuram ignorantemente os cientistas os fantasmas dos heróis, como o do grande Aquiles, o qual ganha notoriedade por suas características: grande, forte, belo, semideus e que confrontava as divindades da época como ninguém, além dos próprios inimigos.


Aquiles foi vencido pelo calcanhar. Quando pequeno, sua mãe o banhara no mar da imortalidade, pegando-o pequeno Aquiles pelos calcanhares, esquecendo de molhar estes. Assim, nasceu a sábia expressão “todos têm um calcanhar de Aquiles”. Razão porque o mito nos traduz algo maior e mais profundo, todavia, superficialmente, a fim de que possamos interpretar – vamos dizer assim – ao nosso dia a dia.

Assim como o mito de Aquiles, que morrera com uma flechada no calcanhar, apesar de sua enorme habilidade de guerreiro, temos outros mitos que nos retratam a alma humana, de maneira sutil e ao mesmo tempo indecifrável aos nossos olhos. Talvez por isso as más intenções na relação entre o que se vê e o que se compreende.

Mitos como o do labirinto no qual se resguardava o Minotauro, metade homem, metade touro. Nele, Teseu, o herói se inclina em matar a fera, levando consigo um novelo de linha para não se perder. Nesse mito, apesar de sua profundidade, conseguimos nos infiltrar e sentir que somos mais uma vez vistos como o próprio labirinto, e que a fera que nele mora são nossos instintos, ou em um nível universal a decadência do mundo.

Ainda no labirinto, o herói, nossos princípios, convicções referenciadas no sagrado, tenta por meio de um novelo, talvez a própria filosofia grega, encontrar o animal e destruí-lo; assim, como em uma prova iniciática, nossos instintos são domados – ou isolados de nossa esfera – e, aproveitando o novelo, saímos do labirinto, nos tornando jovens internamente, pois nossos valores são outros.



Volto já.



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