sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Meu Guri

(Ao filho que um dia será pai)
Colher frutos fresquinhos de uma horta, levá-los à mesa, e ter medo até de ingeri-los de tão belos que são. Olhar para o sol, sentir aquele fulgor interno de seus raios, criando ladrilhos dourados em seu coração... Ver o mar pela primeira vez, sentir aquele susto maravilhoso, como se a alma saísse e voltasse em questão de segundos... Apenas porque não se sabe de onde vem tanta água... Receber uma brisa pura no rosto, o odor da terra molhada no nariz, a água no corpo, depois de um dia suado...

E ainda vencer a partida mais difícil de algo; colher o sorriso da criatura mais ranzinza depois de anos de tentativa... Receber o amor divino, a consecução espiritual, a realização de uma obra, o concretizar de um objetivo... Nada, nada é tão belo quando o dom de ser pai pela primeira vez. Nem mesmo uma bela manhã de domingo...

Nada substitui a experiência em ver nascer o filho, cheio do sangue, do choro, da alma puros. Nada se contrapõe ao pegá-lo no colo, após o parto – ainda que desajeitado, em braços mais ossos que músculos...

Nada substitui o sorriso da chegada, o choro da partida. O grito de mentirinha, o choro de verdade... A alegria da união, a tristeza natural... Sei que a vida vai me nutrir dessas imagens durante muito tempo, e sei que outras surgiram. Contudo, o primeiro momento em que se vê uma criança a bater o pezinho no útero como se quisesse voar para vida afora, é misterioso.

Tudo isso será infinito como uma obra clássica, em minha alma. Pois nunca, nem mesmo no post-mortem, eu me esquecerei.


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"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....