terça-feira, 17 de agosto de 2010

Sonhos destruídos, Dois.


Hoje, quem pode repensa o fato de trazer ao mundo uma criança; se não houver estrutura financeira, psicológica, adeus. Mesmo assim, ainda que havendo todos os meios necessários para se criá-la, temos o mundo como se fosse um dragão à espreita a jogar seu fogo na primeira hora em que sai da casa em busca de uma amizade, de um emprego, de uma pequena aventura. É como se criássemos um filhote de águia, porém o medo da grande raposa em devorá-lo ou transformá-lo numa outra raposa, nos fizesse ser vigias constante da cria.

Criou-se o medo de criar, cuidar, estender nossa linhagem. A razão disso talvez seja um Estado falho em segurança, educação etc, etc... por consequência os anti-heróis tomam conta de nossas ruas, na noite, no dia... A refletir nos becos, ou mesmo a céu aberto, o tráfico, a decadência da juventude em busca de aventuras e que terminam em cárceres privados ou em cemitérios.

Mas discutir as falhas de algo que é relativo, mesmo em proporções dantescas como nosso mundo, estado, sociedade, país... é como se pedíssemos para averiguar nossas próprias falhas, porque nos soa como se fôssemos omissos a tudo que criticamos. Contudo, quando criticamos, levamos pontos a serem analisados em uma sociedade quase cega que deve entender e se informar em relação a tudo, principalmente em relação ao próprio sistema, o democrático.

Levantar questionamentos acerca dele, começar a produzir efeitos pelos atos que podem ir de encontro a esse mal que nos corrompe em forma de falas e propagandas, leis... Propagandear o bom senso entre os jovens, leva-los uma realidade maior do que essa pela qual passamos, mostrar-lhes o valor de fazer o bem, dar-lhes a visão do bônus em acreditar em heróis reais, os quais um dia viveram em nossa terra como semideuses, com seus atos até hoje, de tão maravilhosos que foram e são, duvidosos.

A democracia, como um rio enlameado, no qual em quatro e quatro anos nos mostra as fezes de ratos dos ratos-humanos, surge como uma salvação para a escolha do bem, da “solução” aos cidadãos, que, em meio a má-educação, péssima saúde, péssimo tudo, graças ao hipócrita sistema, funciona como bomba genocida e, por mais que não vemos, inteligentíssima, pois nos faz acreditar que somos um povo, um governo e um país harmônicos.

Harmônicos não quer dizer tudo dentro de um mesmo saco. Muito pelo contrário. Cada qual cumpre (ou cumpriria) seu papel, dentro de sua natureza, dentro de sua necessidade, assim como o sol e o próprio homem. A grande esfera iluminando a todos independente da natureza das pessoas, animais, plantas e pedras, sem a escolha que se faz quando a natureza é humana. O sol não escolhe a quem iluminar, sempre cumprindo seu ciclo, sua natureza, sem pedir, sem férias, sem pagamentos extras, enfim, o que sempre esperamos de um grande ser.

E nós podemos sê-lo. Contudo, a raiz que conduz ao pensamento... “Temos que votar para que possam fazer algo por nós”... é uma raiz profunda de uma ignorância até mesmo infantil, a qual se alastra em tempos e tempos, de maneira que não podemos pensar em outra coisa senão em nós mesmos – essa é a razão de acreditarmos na democracia. O próprio interesse humano em se abster de seu papel idealizador, de fazer algo pelos outros, até mesmo pela natureza que o cerca, e acreditar que somos os comandantes, os generais do mundo, nos faz mais distantes de uma realidade pela qual utopicamente lutamos.

Ou pelo menos acreditamos que estamos lutando.
Os idealistas sumiram. Os homens de grande valia que queriam mudar o mundo estão sentados à beira da estrada, pegando carona, viajando pelo mundo. Não há mais força em suas palavras, pois soam como discursos falhos, cheios de democracia – retórica, enganos, demagogia, mentiras... – com algum interesse em se filiar a partidos, colocar uma gravata, ser nutrido dos grandes salários (serem corrompidos)!

A corrupção é como se fosse um lixo imenso só igualado aos grandes lixos do mundo, no qual pairam urubus, que somos nós, a beliscar o que nos deixam de pútrido às margens do mundo.

Assim, os sonhos se vão, em meio a disputas por uma presidência ou mesmo por uma representação de uma sala de aula. São a mesma coisa. Os dois visam um fim que não são de sua natureza.

Os sonhos estão sendo destruídos propositalmente. Por esconderem a face do caminho a ser percorrido, da mística, da divindade em nós, da real humanidade; os sonhos são perigosos, pois nos faz confrontar com os maiores sentimentos de amor e liberdade a que jamais vimos nesse mundo.

Os sonhos escondem a face de Deus. Nele vimos a dor e sorrimos; sentimos a paixão e nos despimos da escravidão – ao contrário do que nos ensinam e já nos embutiram na alma. Nele, o amor se sobrepõe, edifica, dá a glória ao idealista, e, em meio a feridas e guerras, continua-se a batalha, por mais difícil que seja.


Não deixemos de sonhar, nunca!






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