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Professores: o que seria de nós? |
Quantas vezes nos apaixonamos pela professora do primário, do ensino médio ou até mesmo pela gatona de vestido clássico da faculdade? AH, que tempo bom! Tempo dos grandes homens e mulheres que fluíam seu linguajar em nome de uma nobre causa, a de ensinar a essas sementes a serem, um dia, árvores, e dizer, ainda, a essas que poderiam ser frutos do amanhã!... Que nobres eram, que nobres são!
Um dia, todos esses grandes homens e mulheres que lidam com a lousa diariamente foram alunos. Todos eles vocacionados a ensinar, seja junto de seus irmãos em pequeno, seja junto de seus amigos, quando lhes faltavam a compreensão de alguma matéria. São professores que nascem ao nosso lado, destinados a dar caminhos, a viver por algo, ou por alguém.
São grandes, desde a tenra idade... Pois alimentam a esperança vulcânica de uma sociedade que pode transformar-se baseada em premissas educacionais, não políticas, não pseudo-religiosas, mas políticas no sentido mais amplo possível, e religiosas, sem amarrações.
São seres cuja responsabilidade ultrapassa, às vezes, a do pai... a da mãe, pois estes, ainda que tenham forças e ânimo, podem não possuir a dinâmica, a didática, a palavra secreta, resguardada para durar eternamente em nossos corações, porque pais, na maioria das vezes, têm medo de machucar, de disciplinar, e de libertar o filho de suas correntes.
O professor, não. São seres dotados de enigmas, pois têm em sua alma o ensinar, têm o caminho como adjunto, complemento, e são predicativos de um sujeito que não aceita atributos falhos, ainda que errem, ainda que se sintam culpados...
Professores não podem ser culpados. Culpados são aqueles que ainda que se vestem, que se levantam, que andam e que dão aulas, mas não possuem a didática, e acima de tudo o amor... São aqueles cegos que conduzem os mais cegos ainda ao abismo do maior mal do mundo, a ignorância. Esses nunca foram professores!
Conceituar professor é conceituar o eterno, o universo, a vida, pois todos eles nos ensinam em micro aulas (ou eternas) o que somos e para onde vamos; são aqueles seres especiais, naturais, assim como nós, que vivificam a terra, tal como pássaros dotados de asas brilhantes, que não voam, mas nos fazem voar, sonhar, sentir os pés fora da terra, na terra, e, após lições de amor ao próximo, chegam à sua casa, e vão corrigir nossas provas!
Experiência
Uma vez, fui professor. Sou formado em Letras, e, antes de terminar meu curso, tinha que fazer um estágio para completa-lo. Foi uma experiência única.
Em um colégio muito humilde, chamado Setor Leste, pude perceber a organização, dedicação e disciplina que eram leis naquele estabelecimento de ensino. Professores mangas! -- que se mostravam flexíveis por fora e feito caroços por dentro. Assim, eu fui durante uns dois meses.
Em sala de aula, pude ter uma visão um tanto quanto aterradora, e ao mesmo tempo fascinante do que é ser professor. Alunos desordeiros, sem disciplina, arrancando atitudes frias dos mestres; ao passo, havia o contraponto dos reais alunos que aprendiam, se dedicavam, e amavam ser alunos. Estes eram os motivos dos mestres; eram tudo.
Antes de ser professor por dois meses, tive que me referenciar em alguns deles, o que não foi fácil. Eu não tinha nada para ensinar, apenas o “emprego da vírgula” e mesmo assim batia-me o nervosismo, a tremedeira, o suor, entre outros, como a mudança de cor rs.
Mas o dia tinha chegado. Eu tinha que lidar com aqueles marmanjos feios, e meninas lindas, com os quais tive que trabalhar naqueles dias que, para mim, eram sinônimo de pesadelos e sonhos. Pois estar à altura dos grandes era como se eu estivesse bebendo da água deles, há tempos!
Mas não era.
Em meu discurso primeiro, dei ênfase à liberdade de expressão, à garra de cada um, à busca pelos objetivos, e ao amor ao estudo. Fui aclamado. Palmas tomaram conta de minha voz. E eu, perdido, não sabia se sorria ou saia correndo. Foi belo.
A partir daí, eles eram meus. A professora nem sequer queria presenciar a minha aula, pois sabia (não sei como, talvez em razão de minha aparente segurança..) que seria excelente, e foi. Até eu aprendi naquele dia...
Aprendi que tenho que estudar muuuuuito, que todos que te almejam como professor são uma parte da humanidade que espera uma vocação, paciência, paz e ao mesmo tempo amor ao que será abordado em sala, porque não é somente a didática que conta, mas tudo, desde a hora em que se entra em sala, até a sua saída... E nesse quesito, eu não fiquei devendo.
Mas, na verdade, o que me fez mais feliz foi, um dia, em uma biblioteca, quando saía com uma jovem amiga, que um aluno perdido naquele recinto gritou em minha direção... “professor, professor!”, e eu, sem saber com quem o rapaz falava, sequer olhava para trás...
Ao saber, no entanto, que falava comigo, olhei para trás lentamente e sorri. Realmente era comigo! Ele havia me chamado! Fez isso porque no dia de minha aula sobre vírgulas ele havia apreciado e jamais esquecido o assunto.
Antes de Tudo...
Eu nunca quis ser professor, mas, graças ao destino, fui pego e passei pela experiência acima, mas, desde a tenra idade, dei aulas aos meus irmãos, que por sua vez, eram mais velhos que eu. Dei aulas aos meus sobrinhos, e ainda, quando me procuram, faço a honra em ser-lhes um didático-filos-professor, o que me rende um caldo de experiências naturais e ao mesmo tempo didáticas, colhidas com a vida.
Hoje, após anos de lembranças daquele dia belo, sou pai, sou filósofo, e pretendo ser, acima disso, professor de meu filho, ensinando mais que histórias, geografias, português, física, química, quando lhe (ou me) convier, mas principalmente acerca da vida, dessa mãe-maior, professora maior.