domingo, 7 de outubro de 2012

Identidades, Oceanos e Divindades (i)

Temos um pouco de tudo.
Já percebeu como somos outra pessoa em frente a uma tela de computador? Todas as vezes que teclamos, e enviamos recados, seja estes em forma de brincadeiras, de seriedades disfarçadas, ou mesmo alegres, já percebeu o quanto somos diferentes? Não? Somos tão diferentes que não há nada que nos faça despir dessas capas que criamos, inventamos, baseadas em premissas mais falsas ainda, ou seja, em riquezas, pobrezas, entidades notórias do dia a daí, as quais admiramos, e a depender dessa admiração queremos sê-los.

A quebra da identidade se inicia desse modo: tentando ser o que não somos, e mais, amar a máscara, e achar que somos ela. E o pior de tudo, fazer reverência a esse estado psicossocial, do qual não se consegue sair.
Há aquele que bate no peito e diz “sou assim mesmo, e daí?”, o que na verdade é um desrespeito à própria evolução natural humana,  a si mesmo, simplesmente ninguém pode dizer que é ou não algo, mesmo porque somos tudo e ao mesmo tempo nada.
Tudo, como foi dito, pelo fato de que podemos nos apaixonar, desde a tenra idade, a personagens benditos ou malditos, e se referenciar neles como um sol dourado, e isso é perigoso, quer dizer, ser o que não é de forma que se sinta outra pessoa além de si mesmo, é algo que, repito, beira ao perigoso. Pois, além de perder a identidade, buscamos outra além da nossa natural.
É algo difícil no sentido racional da questão em saber lidar com isso, porque envolve opiniões filosóficas, cientificas, psicológicas, e por que não dizer religiosa? Sim, claro, a exemplo do que me refiro, digo que a religião nos faz acreditar que somos Diadorins ou cristos, na medida dos atos em relação a ela.
E quando me refiro à religião, não digo daquela que une, mas a moderna, aquela que desune, enfim, nesse aspecto, encontram-se em nós atributos divinos, às vezes, terrenos, para não falar material, e diabólico, e tratam desses quesitos personalisticos como se fossem nós mesmos.

Na científica, surgem racionalidades baseadas em preceitos físicos, não emocionais, espirituais, emotivos, mas bem voltados a uma superficialidade que adquire, com o tempo, a capa do que não somos. A maioria dos estudantes de ciência, professores e cientistas desconhecem a realidade da alma, pois toda e qualquer sensação são taxadas como respostas advindas do cérebro – uma máquina.
Na psicológica, a complexidade vem a partir de escritores modernos que se baseiam  em reações advindas de comportamentos problemáticos ou não. Como se fossemos uma grande personalidade, dentro da qual outras menores tentam se “ajeitar” e quem sabe determinar o que realmente sou dentro da sociedade...
Na filosófica, talvez a mais completa em termos de tentar entender o que somos, busca-se intrinsecamente o que o homem é. E dentro dessa premissa, talvez, por ser uma das maiores e mais intrigantes formas de conhecer a si mesmo, não se leva a sério.
Nessa chave permite-se dizer que, antes de qualquer coisa, seja ela natural, material, mineral, vegetal, animal, possibilita-se um estudo que engloba o universo externo e interno humano. E nessa ‘viagem’, podemos nos perder ou nos encontrar...
Por exemplo, quando dizemos que somos uma coisa, a própria filosofia desvenda a necessidade de vários questionamentos, ao contrário do quesito religioso, que taxa, imprime e regula o individuo na tentativa de pegar as rédeas de sua personalidade e dizer o que ele pode ser.
Na filosofia, podemos dizer que temos ‘eus’, e estes sobrevoam o maior dele, que fica no centro como uma grande consciência a comandar, às vezes pela emoção, às vezes pelo racional, porém, sempre com o compromisso de fazer-nos entender que tais eus nada mais são que miniaturas de nós mesmos, as quais podem evoluir para o grande Eu, para isso, este deve estar enraigado dentre de cada eu, com a grande finalidade precípua de ser o que os outros, no fundo, são: o eu consciente de todos.
Para visualizar o que digo, é preciso imaginar um grande circulo no qual há, no meio, um ponto. Tal ponto seria  o grande Eu, e ao seu redor – ainda dentro do círculo – os pequenos eus. Estes, com todas as suas existências, experiências, buscam sua identidade.
Depois de serem o que não são, ou seja, de se apaixonarem por tudo e se identificarem com tudo, esquecem-se de suas finalidades: e de olhar para o centro, observar, ou mesmo sentir o clarão do grande Eu, fogem e se agarram a psicologias, religiões e filosofias baratas, de modo que não conseguem mais voltar a ser o que são ou de seus objetivos.
Mas  saga natural humana nada mais é que se aprofundar nesse oceano, tal qual um pingo que se perde, se encontra, e, independente de suas divagações acerca das águas em que mergullha, ele terá sempre características de seu mundo, de seu universo – o grande oceano da vida.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

A Parte que nos Falta

"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....