Mito da Criação por Dali: há sempre algo que lembre a tradição.
Em todas as épocas o homem buscou saber lidar consigo mesmo. E não conseguiu. Em todas as vezes que tomara decisões em situações nas quais ele teve que se sobressair, poucas vezes o conseguiu. Fora os grandes homens da humanidade que tiveram seus dias dourados, os mitos clássicos parecem ter nascido de erros e fragilidades humanos.
Em todos eles, o homem é um ser vilão e ao mesmo tempo símbolo do conhecimento universal, às vezes, por representar o logos masculino, como heróis em batalhas dantescas. Em outras vezes, a passividade, a inocência, a pureza, chegando ao desconhecimento, a traduzir profundamente o que Platão chamava de nows no homem.
Ou seja, já partindo da premissa de que nós não somos apenas personalidades isoladas em meio a um universo desconhecido, somos mais que isso, e como diria o mesmo filósofo “fomos deuses um dia, e disso nos esquecemos”.
Explicarei, com parcas ferramentas, um pouco do que representam alguns mitos mundiais creditados como reais histórias pelas quais se passou o homem-símbolo. E por ser símbolo, representara uma força de compreensão além-humana...
Como por exemplo...
Adão e Eva
Adão e Eva, um dos maiores e mais conhecidos mitos do mundo, foram figuras que explicaram a Noite e o Dia, ainda, a posse do conhecimento humano, e mais ainda a sensibilidade da alma em buscar a certeza através do coração.
Após ter desobedecido a Entidade, adão e Eva foram expulsos do paraíso, a demonstrar a fragilidade humana ante ao que é proibido. No entanto, há de convir que a Consciência foi despertada no ser humano, e que a o Conhecimento – como consequência – foi refletido.
Contudo, face ao que estamos passando, não podemos ser frágeis àquilo que sempre conhecemos, ainda que soe como uma linda maçã, melão, banana, melancia, sei lá – mas a maçã, não citada na bíblia, o é teoricamente em razão de vários contos e textos darem a mesma finalidade ao fruto, mas que reflete, e sempre o fará, de maneira sutil ou mesmo extravagante, a uma personalidade curiosa, emblemática e acima de tudo humana.
Outros mitos de algum modo traduzem tal personalidade mas a colidir com aspectos universais, que é o caso da Arca de Noé.
Noé
Aqui, a Bíblia relata a história de um casal que fora escolhido por Deus para salvar o que resta de bom na humanidade – igualando-se a vários mitos gregos, celtas... Os quais têm em sua natureza o inicio de uma nova era.
Noé, grande homem que servia a Deus, foi escolhido entre muitos para salvar o pouco dos homens que havia no mundo. Salvar, também, os animais, os quais teriam que subir em par na grande Arca.
Após, o dilúvio Divino, a destruir o mundo do homem, a estrutura teve que passar meses em altas ondas violentas até que o mundo estivesse em paz, após as águas. E baixou. Mas será que Deus tinha nos dado outro mundo? Havia outras terras?
Assim, na dúvida, o escolhido retirava uma pomba do pombal navegante, soltava-a e esperava que ela trouxesse algum ramo de planta, ou algo parecido. Depois, enviava um pássaro negro a saber, com intuito trazer outros pássaros – então, haveria vida enfim, e terra para se morar.
Na passagem, assim como na grega, assim como na asteca, celta, a cultura cristã abordou com transcendência a passagem dos ciclos nos quais o homem passou. Quando soltou a pomba, o homem (genericamente falando) queria saber se haveria paz, beleza, ordem e sacralidade no mundo... Quando soltou o pássaro negro, significou que havia ainda mistérios a serem descobertos, e ainda estão por sê-lo, de acordo com o entendimento sagrado, pois o homem se fechou à divindade.
Aquele que haviam “morrido” pelas águas nada mais significa, de acordo com a tradição, que se deram por completo na matéria. Noel, que ficara acima das águas, que significam o ‘horizontalismo’ da matéria, tornou-se um ser espiritual, iniciou-se nos mistérios sagrados, ‘salvando a humanidade’, a criar novos rumos, novos mundos não terrenos, e acima de nossas possibilidades e compreensões.
Assim, deixa-se claro que o homem, apegado às sensações, possui em si a morte antes que ela, literalmente, o leve. Mas também tem em sua estrutura a necessidade de estar além daquilo que a personalidade lhe oferece. Tem o profano e sagrado, o gelo e sol, tem a terra e o céu, tem a paz e guerra. E Noé, ao estar acima de nossas visões, como um cisne na visão de um peixe, é detentor dos mistérios.
Moisés
Na época em que Moisés fora do antigo Egito, esse personagem tão incrível, o qual serviu maravilhosamente o faraó, que, um dia, quase o foi, se não fosse por problemas circunstanciais, detinha conhecimentos além-povo, e por ele ‘levar’ seu povo à Terra Prometida.
Depois de ser o escolhido por Deus para libertar (ninguém sabe de que o povo hebreu..., pois o grande Ramsés nunca fizera qualquer ser humano de escravo, muito menos povos ecléticos em sua religião, pois tinham uma religião politeísta, aceitando, assim, deuses de vários clãs), e assim, retirá-los do grande sofrimento...
O profeta Moisés, enfim, após várias ‘conversas’ com o faraó, que, segundo a bíblia cristã, era pior do que vários hitleres!, retirou-se da grande terra, levou seu povo pelo deserto, porém, antes, teve que passar pelo mar Vermelho, o qual teria sido aberto após pedidos ao Senhor... O povo, então, teria passado facilmente, pois as águas do grande mar teria sido dividida. Contudo, não há, em nenhuma escritura egípcia, tal relato... Seja de um povo escravizado, ou mesmo de passagens em mares.
Lenda Egípcia
Existem, porém, nas escrituras egípcias, explicações simbólicas de um ato que se repetiu quando o profeta fugiu dos guerreiros do faraó. É o ato de traspassar o mar. Reza a lenda que havia pessoas, da mais humilde até a mais reconhecida pelo povo... O homem deus, segundo contam, tentavam passar com apenas um toque da mão na água do mar misterioso.
“Eu sou o faraó, e exijo que os deuses me deixem passar!”, dizia o texto egípcio. “Eu sou o sacerdote, e sou filho obediente e guardador da sacralidade do alto e baixo Egito! Por isso quero passar”. E aí, vinha o cidadão comum, com sua pompa de trabalhador e... “peço aos deuses que me deixem passar, pois pago meus impostos!”. Porém, em todas as situações, as águas nem se quer se moveram em qualquer sentido. Quando de repente, uma mulher, um tanto quanto bem vestida, com linho nas ancas, com véus dourados a tapar seu rosto, nem sequer olhara para os outros que ainda estavam ali, mas agora sorrir da senhora bela que, com certeza, tentaria passar pelo grande mar...
E conseguiu. Sem qualquer palavra, ato ou pensamento, a linda senhora se foi em meio a um caminho mágico que se fizera quando seus pequenos pés tocaram as águas misteriosas, que não se abriam nem mesmo para os faraós. E então a perguntaram... “como conseguires passar nesse mar, se nem mesmo és uma sacerdotisa ou rainha, ou sei lá quem és?!”. Olhando para trás, já no meio do mar, ela disse “Eu sei quem eu sou”.
Mitos que se vão...
Há mais, muito mais. Há realidades que se escondem por detrás de muitos outros, mas que possuem significados que foram desvirtuados com o tempo; porém não deixam de evidenciar o que há muito procuramos, que é a compreensão de nós mesmos!
Neles, no entanto, apesar dos pesares, brilha o que grandes sacerdotes do passado tentaram demonstrar – pode ser cultural ou universal, a depender da civilização que os viveu – que foi o significado intrínseco do mito, o qual fizera parte, tal qual religião o é hoje, de várias civilizações...
O homem, por ser universal, servira de personagem, não apenas como homem, teve que se revestir de Deus e explicar o papel das divindades. Muitos, no entanto, não entenderam esse papel humano nas histórias gregas, romanas, célticas, egípcias, e acreditaram que poderia ser o individuo uma entidade.
A questão, assim, se desdobrou e a massa desinformada, romântica e iletrada acreditou e ainda acredita em papeis literais do homem em contos, mitos, o que na realidade é impossível. A significação literal, como sempre digo, revelou trouxe uma humanidade mais desligada de seu objetivo. Não se pode acreditar em um Deus que retirara do homem uma costela e criara uma mulher; não se pode acreditar que uma maçã, ou sei lá qual seja o fruto, tenha sido o proibido, e sem o qual a pureza humana teria seria abatida.
Há elementos fortes nos quais pondera um significado maior. Cada peça – personagem, ambiente, elemento terra, água, fogo... deve ser religada ao que fora no passado (e que em algumas culturas ainda o são)! Para isso, a tradição resguarda, a sete chaves, aos realmente escolhidos – mestres --, os quais passarão aos seus discípulos, de forma mais resguardada ainda, o segrego de cada um.
E assim, a passar pelos problemas que se vão, o homem estará perpassando o que há muito chamamos de mito. Cada um em seu nível, igualando-se a um Noé, Moisés... Ulisses, a um Aquiles, Heitor, a um Sanção, Hercules, os quais, em sua essência, falam do homem que superou a si mesmo e alcançou o céu.