“quando morre um ser humano, morre um pouco de mim; deixo de me conhecer um pouco” (C.G.Jung)
Umas das máximas mais humanas que já pude constatar talvez seja essa do psicanalista e filósofo Carll G. Jung, o qual sabia que em cada um de nós nascem, mas também vivem aspectos de uma personalidade (ou de personalidades) que se vai antes mesmo de nos conhecer.
Inicio assim, porque, hoje, em razão das tragédias que se seguem – sejam elas políticas ou religiosas, ou mesmo por fatalidades, como a que ocorreu em Porto Alegre, -- podemos dizer que morremos um pouco, não apenas por termos compaixão, mas, principalmente, porque somos humanos, e temos uma alma que precisa conhecer os meandros de si mesma, e desfalece ao passo dos acontecimentos quando um ser se vai de maneira tão triste e vil, e injusta.
O que ocorreu, e com certeza pode vir a ocorrer, é um exemplo da falta de competência conjunta de empresários, sociedade, governos (não necessariamente nessa ordem...), os quais não se compadecem com qualquer tipo de acidente que pode vir a acontecer em qualquer circunstância. O capitalismo corrompeu o ser humano, não é de hoje.
Se houvesse uma estrutura que assegurasse a todos a proteção, segurança, em todos os níveis, dentro e fora daquela boate, não haveria qualquer perigo. Porém, o que nos bate à porta, pelo menos é o que percebo, é a realização desordenada, em nome do conforto perigoso, em nome das realizações rápidas, ao passo insanas e interesseiras, a um público que, antes de tudo, confia em uma modernidade tecnológica, sinônimo de "fortaleza"...
Pelo que vimos, tais estruturas precisam ser vistas e revistas, ao ponto de chegar ao cume do cansaço. Se o sucesso depende do público, e este provido de seres que confiam nas instituições, a possibilidade de vir ocorrer desastres é sempre eminente. Então, devem-se abrir vários leques, e revê-los no sentido de fechar qualquer possibilidade de erro. Pode ser fatal.
Enchentes.
No Brasil, graças ao descaso, todos os anos pessoas de baixa renda, que moram em encostas, em favelas, sofrem com a chuva. A maioria, ainda que saiba do que pode vir a ocorrer – quedas de barrancos, quedas de casas, mortes coletivas, em família, em grupos... – não consegue sair de seus lugares, pois não têm onde morar, ou mesmo algum parente. Nesse caso, contam com a sorte ou com a benevolência divina...
Nada, no entanto, faz com que autoridades, a saber dos riscos eminentes anuais, trabalhem no sentido de retirar antecipadamente os moradores, ou invista em lugares mais seguros para as famílias. Assim, já sabemos que no ano que vem teremos mais lágrimas, e mais desvio de recursos...
Não faz muito tempo vimos as tsunamis tomarem conta do Japão. Milhares de pessoas se foram para o desconhecido – morreram. Os estragos foram na ordem de bilhões de dólares, e várias entidades governamentais estrangeiras fizeram questão de ajudar o país destroçado...
Ao contrário do Brasil, que anualmente extermina milhares de pessoas com desvios de recursos advindo de auxílios internos e externos, o Japão aceitou o auxilio bilionário, usou-o e devolveu o restante às entidades que o ajudaram.
Hoje, o Japão, como meio de vida, sabe lidar em sociedade não apenas consigo mesmo, mas com a maioria dos países do mundo.
Ensinamento...
Depois do ocorrido na boate em Santa Maria, Porto Alegre, havia pessoas -- não sei se de bom juízo – a dizer que os que haviam morrido tinham que tê-lo, pois não obedeciam aos pais e por isso estes não teriam que ficar tristes, pois poderiam ter outros filhos e educá-los corretamente da próxima vez...
Nunca podemos pensar jamais dessa forma. É claro que esse senhor, uma essa pessoa conturbada com os seus, teria dito isso de maneira que tentasse encaixar a sua própria situação, de maneira virulenta, ao que aconteceu com os jovens, os quais eram, no mínimo, educados, pois eram de universidades daquela cidade.
Nunca podemos dizer que tal pessoa tinha que passar por isso ou por aquilo, pois, naquela circunstância, seja ela qual for, poderíamos ter alguém que amamos, ou não. Mas isso não invalida a pessoa, pois somos humanos, e precisamos ter no mínimo de humanidade nessa hora, e refletindo acerca de tudo em nossas vidas, principalmente na morte.
As instituições existem, mas todas elas são feitas por humanos interesseiros. Ao mesmo tempo, devemos refletir que, ainda que estejamos longe de tais instituições, há coisas com as quais não sabemos lidar, e estão à nossa espreita na primeira esquina que entrarmos; é por isso é por outra que devemos estar sempre atentos e principalmente vivos.
E não esquecer jamais que um ser humano que se vai é um pouco de nós que se foi.
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