sexta-feira, 31 de janeiro de 2014

Homens Rochas, Homens Pedras...

Podemos nos mover, temos sempre um porquê.


Acho que todos sabemos  o que é uma pedra. A pegamos, sentimos e percebemos o quanto é concreta, sólida, podendo até ser chamada de rocha, por ser  constituída de minerais. Não iremos aqui nos estender em petrologia, ou o estudo das pedras, mas fazer referências metafóricas a um ser que, na maioria das vezes, se equilibra, vai às batalhas, vence  e não olha para trás. Mas também ao um ser que não vai atrás de seu ideal, por menor que seja...

Um ser humano. Este podendo ser objeto de várias referências; hoje, contudo, faço questão de coloca-lo semelhante a um sólido, no sentido mais claro possível. E quando  este se revela forte, divino, e consegue transmitir medo aos inimigos, antes de puxar a primeira flecha, nos o chamamos de herói...  Assim como um dia fomos generais, lideres faraós...

Ramsés II

E por falar em faraós, podemos falar de Ramsés, um dos maiores da história egípcia, que reinou durante anos, e foi responsável por uma das melhores épocas pela qual passou aquela nação. Ramsés (1279/1213), filho do faraó Seti I, recebeu seu primeiro título, o de “primogênito do rei”, o que equivalia ao herdeiro do trono, mesmo tendo irmãos à altura, que poderiam sê-lo antes dele.

Ramsés cresceu e desenvolveu sua política baseada nas máximas de seu pai, e dos antigos que um dia transformaram o Egito em uma nação de ouro. No entanto, assim como a melhor das nações, essa passou por turbulências, nas quais Ramsés foi obrigado a agir como uma rocha, ou um senhor do equilíbrio.

Relatos há de grandes egiptólogos que, uma dia, o grande Faraó, sozinho, vencera inúmeras batalhas, e uma das mais belas foi a de Kadesh, quando se deparou com o inimigo, após a debandada de seus homens de frente, os quais, após sentir que o inimigo, os hititas, do norte da Síria, estavam em vantagem numérica. Mas era só isso.

Com o glamour dos grandes homens, que um dia iriam virar lenda, Ramsés, não apenas filho de um faraó com nome de Deus (Seth), mas de um real Deus, tinha em suas mãos apenas duas espadas, e do seu lado dois animais de estimação – um cão na direita e um leão na esquerda – os quais transformaram a batalha, que já estava perdida, em um momento divino.

Para os estudiosos, além dos relevos em paredes, que contam até hoje, “não era apenas um homem que ceivava soldados inimigos”... Ou seja, estava acima das possibilidades humanas identificar em que se transformara o grande faraó, em nome de um povo que tanto amava. E assim o foi até o fim de seu reinado.



Sesotris III


Assim o foi, Sesostris III (1878 aC/1842 aC), revelado como um homem voltado às batalhas, nas quais o poderio militar era o que mais a ele interessava. Não deixando por menos, como diriam os grandes historiadores, a própria religião se afastar de sua nação, mesmo sabendo que se tratava de um Egito que já estava às margens de ser invadido e tomado por outras nações, ou por mentes fanáticas que mudariam o mundo daquela época em diante.

Mas Sesostris III, por isso, revelou-se, contra tudo e  todos, uma rocha, contra as modificações ditas modernas para época, relutando em entregar ao mundo o seu Egito. Assim, entre tantos, por meio de seu grande amor ao povo, tal quais os grandes governantes, sua disciplina faraônica, presa aos valores naturais de seu país, Sesostris enfrentou possibilidades de reformas em todos os sentidos, as quais, como ondas, arrebentavam em sua pessoa, uma das maiores rochas da história egípcia.


Mandela


Temos, por assim dizer, grandes rochas no passado, no presente e quem sabe em futuro próximo, o qual gostaríamos muitos de presenciar. Assim  como Mandela, a rocha africana que não se deixou levar pelas dores da prisão, levando seres humanos acreditarem que tal ato só cabia aos seres mais elevados do mundo... E não era. Mandela era simplesmente um ser humano que aprendera que estamos postos a aprender com nossos erros literais, e muito mais com nossos acertos. E preferiu, assim, renascer ao invés de morrer em palavras e atos de discórdia contra aqueles que o prenderam.

As ondas desse homem foram mais internas que externas. Mas ele conseguiu suportar, em sua pequena cela, apesar de tudo por que passou, o homem vingativo, o homem que apregoava os direitos dos negros em particular, o homem que poderia se armar, ou armar o povo e desfazer materialmente seus inimigos...

Mas graças ao grande homem que nele se escondia, venceu a si mesmo, e por fim, a batalha, a guerra, e conseguira a paz, entre negros e brancos.

Todos esses homens e mais outros milhares que se mostraram no passado foram heróis, porque saíram de seus lugares e deram ouvido – assim como Giordano Bruno, o grande sacerdote católico que descobrira a verdade – e foram atrás do Ideal. Não se arrependeram – se é que existe arrependimento para estes homens – mudaram o mundo, e nunca serão esquecidos...


Pedras e Homens


A palavra pedra, no entanto, nos remete a frialdade natural da vida, da impossibilidade de movimento, ainda que exista o ditado “as pedras se movem”, mas até elas se moverem, o mundo já se foi. Tal palavra ainda nos remete a dureza, a palidez, à forma estática de ser do mundo...

E quando nos comparamos a ela, vem-nos à cabeça nossos valores a que tanto obedecemos, de um passado que fazemos questão de perdurar ainda estejamos errados. Aqui nasce o homem pedra.

Com sua  maneira “ígnia” de ser, bate no peito, e diz “EU sou assim, e não quero mudar”. E com preceitos modernos ou, na maioria das vezes, arcaico, se surpreende com sua falta de iniciativa, com as discordâncias a partir do que sabe, e mesmo assim não muda. E mesmo sabendo que tudo que sabe não serve para os dias de hoje e nem para o futuro, não quer mudar.

O homem pedra se recusa até mesmo a ser homem planta, pois se recusa a sentir, apenas estacionar, enclausurar-se, e acreditar piamente que o mundo deve ser tal qual aquilo em que acredita.

E no meio desses homens – Pedra e Rocha – agimos de maneira, às vezes, inconsciente. O que nos faz ser críticos com relação a tais seres que já se definem. Pois, também acreditamos que estamos corretos em nossa inconsciência... Por quê?

A inconsciência é a falta de centro, é a falta de princípios conscientes, aos quais devemos por ser homens-humanos obedecer. E a esses últimos devemos buscar, pois nossa tendência para quem ama a estática é se esvair em erros, e mais neles acreditar – e morrer acreditando.

quinta-feira, 30 de janeiro de 2014

Entre a noite e a manhã.

Reflexão





“Há mais mistérios entre o céu e a terra que a vã filosofia desconhece”
 Shakespeare.


Hoje, em meio a um mundo material, totalmente voltado ao complexo centro de nossas ambições, na maioria das vezes,  acreditamos que a vida é só isso. Ter, sorrir e morrer. Dessa forma fica mais fácil entender o paraíso  burguês, as cascatas de mel, as quarenta virgens a nossa espera, o trono dourado de Deus, a vida eterna sem qualquer trabalho a nossa espera...

Mais fácil ainda é estruturar gerações a essa filosofia de vida quando outras já o fizeram em nome de vários ídolos do passado. Assim, prosseguimos em mistérios fáceis de decifrar, pois todos eles estão já prontos para serem desmistificados com nossa visão turva, a qual, há muito tempo, vem formando plantas ambulantes em nome de um deus criado pelo homem materialista.

Às vezes, acreditamos não sermos tão materialistas, tão compenetrados em nossas vidas frias e sem cor. Tanto que, ao nos ocorrer um mero problema, nos entregamos ao primeiro deus de plantão – ou ao pequeno santo, que se resguarda para as horas mais raras de nossos conflitos. Isso nos prova o quanto somos doentes, e que a cura entregamos a entidades que, provavelmente, a nosso ver, ficam a espreita de nossas vidas, como guardiões. E isso é real.

Platão nos disse um dia, “Nossa maior doença é a ignorância”. Não sabemos o que nos acontece biologicamente, com nosso corpo, e não temos, assim, especialidades para sanar tal enfermidade, por isso, o médico. No entanto, a mente, embriagada de desejos e problemas, na maioria das vezes, é a responsável pelas dores que possuímos em quase todo nosso corpo.

A parte que nos cabe, assim, seria nos informar a respeito do aspecto psicológico, ou melhor, espiritual, que nos atordoa sempre. Muitos, assim mesmo, entregam-se a deuses, e em suas orações acreditam que nosso corpo e mente dependem naturalmente de uma cura que vem do céu, como se fôssemos especiais. E somos, mas não para isso.

Nossa ignorância nos permite refletir no sentido oposto da questão. Deixando margens a uma série de questionamentos que poderiam ser feitos e ao passo respondidos, e, com certeza, levados à prática no sentido sanar qualquer dor no homem. Aqui entra a ciência.

A Ciência, como mero buscador de verdades físicas – não apenas no homem, mas no universo – revela-se cruel em todos os sentidos, ainda que seja para o bem – curando, descobrindo, etc; pois traspassa o racionalismo doentio e despreza a existência de mistérios além-matéria.

Ao contrário dos simples buscadores, ou mesmo do homem que não busca, sinto que já passamos por uma ciência mais ampla, na qual homens sábios, talvez mais sacerdotes que cientistas, revelaram-se mais humanos e espirituais que os de hoje. Tanto que situações há em suas vidas particulares, que precisam esconder-se a tentar entender o porquê ou como aquilo aconteceu...

Estou me referindo a cientistas que não acreditam em mistérios além-matéria e se espantam com imagens de pessoas mortas a visitar seu ambiente terreno. Aqui vence o pequeno trabalhador, que acredita em divindades celestes, e tem a resposta no final da frase... “É Deus!”...

A realidade, a verdade, no entanto, está tão longe quanto o maior dos mistérios a ser desvendado por um simples transeunte que viola uma simples lei. Então, se a única forma de o homem tentar dirimir sua ignorância é nela se perpetuando, como responder a menor das perguntas que a natureza espera?...

No meio de Tudo

Um dia um grande professor nos disse, “Estamos no Antakarana da vida. Entre o céu o inferno”. Na busca desenfreada por entender Deus, o homem não consegue desligar-se de sua visão cotidiana e científica. Não consegue deixar de ver um Deus dentro de suas limitações humanas, e assim, limitando entidades que ele mesmo cria, em círculos idem.

Por mais que nos enclausuramos em nossas respostas, e as tentamos resolver dentro do que elas pedem, estaremos a fazer isso apenas com nossos olhares, não menos que isso. Não adianta passarmos por mistérios realmente válidos, os quais são notórios de pessoas que buscam, mas todas elas terão focos a partir de nossos olhos internos e externos.

Dessa forma, fica fácil criar deuses, e, já que nos impressionamos com tudo, seremos obrigados a louvar as referidas entidades por visões extra cósmicas, ou mesmo pelo simples fato de o dinheiro entrar em nossa conta no fim do mês.

O céu, tão material quanto o mundo, será cheio de conforto, vigiado por anjos puros e belos, ou a depender de nossa cultura, cheio de cascatas imensas a desabar em rios de mel, rodeado por virgens, ao lado do beneficiário... O inferno, como legado ao mal que nos inibe, terá a entidade que nos espera para fazer o maior mal que aquela cultura, em seu intimo, espera. Tudo, apesar de tudo, sempre nos soará sempre humano.

Impossível

Se somos humanos, e se somos voltados à matéria tanto quanto ao nosso próprio Eu, no sentido mais filosófico da palavra, podemos, no entanto, vencer certas amarras que nos prendem e nos fazem fixos a pensamentos que já foram vencidos com o tempo. Cada amarra desatada, ou em cada tentativa, o próprio homem, em seu equilíbrio, entre o céu e o inferno, pode alinhar seus próprios desejos ao que a natureza É.

O impossível, que é deixar de ser humano, tornar-se-á possível aos nossos olhos, e por ele seremos ate mesmo sábios, deuses, entidades partícipes de um universo que criamos, com vistas a um maior. Para isso, devemos fechar os olhos, e aceitar que somos parte, assim como os vermes são parte da terra, ou assim como os próprios átomos o são das estrelas que compõem o todo – e não me refiro apenas às visuais, mas principalmente às que estão próximas do Infinito.


O cientista, como profundo conhecedor da matéria, assim, verá a consciência orbitando em nome de uma harmonia que jamais poderia ser vista. O homem comum, ainda que parco em sua busca, entenderá somente essa consciência por meio de seus meros valores, colhidos em vida. Ainda sim, os dois – cientista e homem comum – serão ignorantes.

quarta-feira, 29 de janeiro de 2014

A Crença nas Palavras

Opinião




Sem Palavras



Quem aprende as primeiras palavras, balbuciando as primeiras sílabas, unindo todas elas e perfazendo uma série de caminhos psicológicos, sabe o quanto letras, sílabas e palavras, ao fim, são  jornadas naturais pelas quais se passa – e para muitos, aventuras.

Nelas, nas palavras, que um dia foram monumentos naturais como expressividade humana e divina, nas quais, hoje,  formas revestidas de linhas e símbolos se perpetuam, tudo foi (e é) necessário para uma conexão com o outro e com o Todo.

E nós, ao abrir nosso órgão expressivo de voz, nossos pensamentos se traduzem – algumas vezes de maneira simples, outras complexas, no entanto, sempre com o objetivo de sintetizar o que sentimos ou o que racionalizamos em torno de um objeto.

E das palavras, ordenadas em forma de rima, tão complexas na escrita, com um ritmo acelerado, outras vezes lento, em suas junções, harmonizadas belamente por meio de sons, cantamos, e trazemos à tona, desafinados ou não, o que pensamos, passamos, ou mesmo a história de alguém, senão a nossa própria.

Aqui, traduções  de um coração magoado, de uma sociedade indignada, de um povo injustiçado, revelam mais, que chegamos ao nosso céu particular em minutos... E as palavras, mãe dos primeiros artifícios, são esquecidas, ou pelo menos seu papel. Entre loucuras abstratas criadas pelo pensamento humano, por sonhos jogados ao mundo, elas perdem seu valor.

Seu papel, filho das escritas cuneiformes, dos antigos sumérios; ou mesmo dos hieróglifos egípcios, haveria de  transmitir um universo maior que o de agora, que se resume em explicações eternas de algo que não nos interessa na maioria das vezes, e assim, por isso, não conseguem realizar o que há muito se conseguiu. Traduzir, por sua semântica, o papel do homem no mundo, ou interpretar uma natureza que se esvai bela e doce ao nascer na manhã, ao se ir na tarde plena de crianças nas praças e parques.

Não há palavras para sintetizar o que sentimos. Apenas um olhar como tentativa de elucidar os mistérios que se escondem por detrás da grande consciência, que faz questão de ser misteriosa em nome de Deus. Por quê?

Claro que há uma necessidade de traduzirmos tudo, mesmo porque somos céticos por natureza, e duvidamos até mesmo de nossa existência, se deixar. Mas não podemos encontrar termos literais a todo preço, simplesmente porque é impossível. E aí caímos em nossa indignação primeira.

Mas é preciso. Podemos, contudo, chegar perto do objeto, tentar clarear a bruma espessa que fora jogada de propósito pelos homens do passado e aprender que devemos deixar a rica bruma em seu lugar. Ou seja, nem tudo podemos interpretar, mexer, levar ao homem, pois há quem se beneficie de verdades para criar a sua própria, usando as mesmas palavras que um sábio um dia usou para nos trazer o conhecimento.

E as palavras, como símbolos perfeitos, como pontes naturais entre o universo e o homem, sorriem, trabalham em perfeita harmonia como formigas em nossa mente, cantam divinamente, acima de nossas cabeças, o som das esferas, de Pitágoras, das Musas, de Platão.

As palavras, em algum lugar desse universo o qual somente os poetas têm acesso, se reservam e se manifestam, ao ponto de criar meios de nos locomover quando citadas. São as palavras de fogo, quando vêm do coração em chamas,  as quais queimam o ser humano por dentro, dando-lhe motivos, e ao passo indignação com o Injusto.

Por outro lado, palavras há que descem ao rio, caem como folhas, e são levadas pela dor do grande mar que criamos. Tais palavras não nos elucidam nada, nem mesmo nos servem, são parcas de sabedoria, mas nos revelam nosso mais pobre ser, nossa alma envelhecida por nossas buscas vãs.

Eu fico com o silêncio das palavras. E as observo, encantado, seu valor como pequenas curvas que sintetizam a necessidade de traduzir o que podemos e sentimos, do cume de nossa maior montanha, e quem sabe um dia de nosso espírito.

terça-feira, 28 de janeiro de 2014

Jornada Insana






"É preciso coragem para revelar o que velamos."





Meu  beijo,
Em teu beijo,
Com sobejo à míngua,
Corre solto
Em teu corpo
Maduro,
E eu, tão puro, a levar minha
Língua
Ao som de um quarto
Escuro...

Teu nome
Em meu nome
Devora ateu
Tua ânsia, tua alma,
Tão mansa,
Em um mundo sem véu,
Tão preso à tua anca;
Leva-te meu doce,
Meu conto,
Meu canto lírico,
Meu mel, minha crônica...

Desafio a gravidade,
E, sem maldade,
Percorro, nas vias,
Tuas ruas vazias, vadias,
 E eu, vadio, a suar.

Não fui santo em te amar,
Éramos caracóis presos ao vicio,
Desde o inicio,
Solitários humanos,
Quiçá mais insanos,
Sem mundos a governar.

E o cansaço do medo
Desatou-me segredo,
Fez-me ao céu meditar,

Deu-me o espaço somente,
Tu, como estrela presente,
Com voz presa ao desejo,
Deu-me último beijo,
Deu-me o derradeiro respirar...!

Morri num espaço sem cor,
Num universo sem verso,
Desafiando leis íntimas da vida,
Mergulhando em rios de amor

Sem regresso.

segunda-feira, 27 de janeiro de 2014

O Preço da Queda

O preço da queda: perder um dos mistérios da vida.





Ontem, ao sair de casa, por volta das seis e quinze da manhã, me deparei com cenas belas, ao olhar para o céu. Estrelas ainda existiam, a lua ainda estava lá, e à medida que o tempo passava, a cada minuto, um laranjado forte tomava conta das nuvens ao longo dos olhos. Era o sol avisando da sua chegada. Era hora dos primeiros astros irem embora, de mansinho.

Pássaros que dormiam, acordavam, e aos poucos, cantarolavam. Nuvens se abrindo, pessoas saindo de suas “tocas”, carros educados, apesar das pistas vazias, passavam a menos de sessenta, e paravam  fazendo gestos com a mão, para que o transeunte passasse sem problemas na faixa. O dia estava só começando...

Aos poucos, como a face de alguém por detrás das cortinas, o sol surgia, tímido, como criança que boceja ao acordar, nos trazendo sua mensagem de bom dia. E por ser o sol, por ser essa estrela milenar, muitos não olham, nem querem saber, pois estão cansados de olhar para cima e se espantarem com aquela beleza, que, para muitos, sempre foi a mesma.

Eu, fã incondicional desse deus antigo, digo-lhes, “nunca é o mesmo”. Assim como nunca é semelhante à maneira como  se levanta, quando se põe os pés no chão quando se vem trabalhar; nunca é o mesmo sorriso do filho, da esposa – pois sempre aparecem com um “quê” diferente... – e a esfera que alimenta a terra, quando se sobrepõe aos pequenos astros brilhantes pela manhã, nunca é a mesma...

No entanto, os homens, não acostumados a vislumbrar as belezas do próprio espaço que Deus lhe deu, observa o rosto dos outros homens, critica-os, e vai ao longe em suas interpretações racionais. Assim, o horizontalismo toma conta das vidas diárias que se alimentam de trocas de diálogos irrelevantes, na tentativa de encontrar algo que os incite... Isso, com um sol que nos pede, o tempo todo para elevarmos nossas consciências, e buscar, verticalmente, nossas soluções diárias.

A solução não chega, e penetramos nas esferas mais sombrias do ser humano. Aqui, nesse pequeno contexto, relevam-se buscas por sangue, por violências, por palavras chulas, pelo pequeno desrespeito que, no mais tardar, tornar-se-á  dor. O próprio Hades desaparece dando face a outro mais obscuro deus, o do Egoísmo.

E deuses das profundidades se tornam homens, tomam pessoas, fazem-nas acreditar no mal revestido de bem, tão refinado e elegante, que seus olhos, ao penetrar naquelas almas tão simples, congelam a todos, petrificam, assassinam seus seres, tornando-os vegetais ambulantes.

E descemos. E chegamos ao mais violento do ser. O ser da revolta. Revolta pelos sistemas, pelos homens, por Deus. Aqui, nem mesmo o mais belo pode ser distinguido, pois perdemos a direção da essência – nosso caminho. Não há ninguém que nos faça voltar, nem a melhor das experiências, nem a presença furtiva de um mistério sagrado ao lado, vai fazer a uma dor se extinguir. É o rancor na alma.

Como diria uma grande amiga, “dores físicas passam, cicatrizam, mas quando se machuca a alma, a dor nunca passa”. É uma outra violência que se aloja, primeiramente, em nossos racionais, ou seja, em uma mente cansada de um mundo que está em decadência, principalmente em termos religiosos. Uma mente cansada de ver e ouvir homens que se julgam sacerdotes a transformar o mundo em uma jaula de interesses, a partir de escrituras clássicas. Cansados de ouvir que a política é um meio natural de escolha para uma vida melhor, a partir de homens que nunca tiveram nada ou de homens que sempre tiveram tudo, e querem mais, custe o que custar...


O sol se foi, a sombra se funde com a alvorada; os caminhantes aceleram o passo com medo dos homens, e as estrelas, mesmo assim, aparecem, cheias e magia a espera de alguém que as decifre.

sexta-feira, 24 de janeiro de 2014

Simples






A rua sozinha,
O chegar do vento,
O espalhar das pedras.
A brisa que de sobremaneira
Aquece a madrugada;
O acender  das velas;
Amada.

A nuvem teimosa,
A luz gigante de uma lua,
O mover-se das ondas.
O rosnar de um cão,
O caminhar do homem,
O poder de um não.

O farfalhar das asas
De uma borboleta
Que não dorme.
A escuridão que não dói.

O brotar de uma palavra,
A ideia que acorda,
A mente que desperta,
A alma que dança,
O sol que vem tímido...
A esperança me corrói.

Alaranjado, o céu é majestoso;
Formas abstratas,
Coloridas, expansivas...
Olhos efusivos,
Pássaros que acordam.

Teclas na saudade,
Música que não veio,
Orquestra do silêncio,
Harmonia dos céus,
Fúria das árvores,
Sonho interrompido.
E abelha mestra
A espera do mel.

  
Mãe que acorda,
Filhos que sonham,
Pai que trabalha,
Família.

Água que pinga,
Cachoeira que nasce,
Sombras que vêm,
Sombras que vão,
Fruto que cai.
Armadilha.

Terra que edifica
O homem que planta.
Livro que edifica
O homem que sabe.

Letras que somam,
Sílabas que unem,
Palavras que nascem,
Textos que matam.

Vermes no corpo,
Alma que se foi sem dor,
Vidas que renascem,
Paz que se revela.
Amor .









À mãe eterna.


quinta-feira, 23 de janeiro de 2014

Caminhos Invisíveis



"Aquele que procura achará".
Bíblia.



Quando eu era pequeno e tinha minhas escolhas conscientes, lembro-me de sempre tentar fazer aquilo, qualquer coisa que fosse, do meu jeito – às vezes, me saía bem, outras não, de modo a sempre ficar na expectativa de me dar bem – e quando minha mãe me pedia para fazer algo, lá estava eu novamente a pensar se faria ou não do meu jeito, sem que ela soubesse, claro, contudo, todas as vezes que eu me lançava a fazer do jeito dela... sempre dava certo... Como somos ridículos!

E hoje, após anos de vida, casado, tento educar meu filho de cinco anos na tentativa de vê-lo sobressair de seus primeiros deveres e obrigações que a vida lhe propõe. E aí penso nos dias em que meu livre arbítrio frente às problemáticas do passado me fizeram equilibristas, a cair na certeza ou na incerteza, sem seguir qualquer voz, comando... caminho, e isso me (não só a mim..) transformou em um homem que tentou seguir seu próprio caminho, porém com uma voz interna, reta, de uma experiência que, à época, não sabia, mas de uma pessoa que não só era mais avançada em idade do que eu, mas que também tinha passado por tudo na vida...

Esse alguém era minha mãe. E depois que passamos pelas tempestades – claro que por ignorância por ela passamos – sentimos, lá no fundo, a necessidade de ter escutado mais, e encontrado nossos caminhos sem ter passado por eles como passarinhos em ninhos de urubus.

E hoje, quando vejo meu filho refutando, com aquela idade, minhas ordens, eu me vejo nele. Começo a sorrir sozinho, sem que ele perceba, com uma pitada de orgulho e outra de medo, pois sei que, assim como muitos que não seguem linha alguma – ou melhor – caminho algum, sem ter escutado seus pais, ou mesmo a eles obedecido, a depender do individuo, passa por situações desnecessárias, nas quais a lembrança de alguém que um dia tinha mais experiência, mais vida, sabedoria, vem a nossa mente, como mágica...

Tenho a certeza de que muitos jovens metidos na escuridão da vida têm a mesma opinião. A maioria se engendra por caminhos tortuosos, se perdem, encontram a luz e voltam para casa ao encontro daqueles que um dia lhe disseram: “não vá por esse caminho!”... mas sempre vão na tentativa de mostrar a eles mesmos e ao mundo a independência, a autonomia, etc e que podem mudar suas vidas, e o próprio universo.

Sim, podem. Contudo, senão tiverem planos de destruição em suas agendas virtuais, podem ouvir a voz da experiência dos pais, ou mesmo de professores que são destinados a serem professores, não loucos que se sentam em cima de mesas e brincam de cantar em nome da educação.

Os jovens podem mudar o mundo, seguindo os preceitos nos quais foram criados e educados; podem sentir em suas mãos a política, a religião, a ciência, a beleza de sentir as transformações humanas e estruturais. E isso é real. Não é sonho. Por isso muitas gerações se sobressaíram, por meio do grito, da vontade de mudar, em nome de uma educação que seguiam desde pequeno, a qual um dia cochichava em seus ouvidos da alma a dizer... “podemos escolher, pois, agora, sabemos qual nosso caminho”.

A juventude de hoje, no entanto, claudica no entendimento do que significa “caminho”, e mais, sente que o mundo, ou o que acontece nele, querendo ou não, é fruto do descaso politico e de alguma forma teme a reação dela (da política) para com seus objetivos de mudança.

Uma coisa é certa. Se tais objetivos não forem tão claros, não adianta ir às ruas, gritar em nome de Deus, da Educação, de uma boa política, pois estar-se-á construindo castelos de areia em cima do oceano.


Tradição.

E quando me bate o ar da reflexão, penso não só em minha mãe, e seus ensinamentos raros, mas em meus mestres, os quais ditam o passado – o legado humano – como forma fundamental para construirmos um mundo melhor. Nele, nesse legado natural, porém mais humano que tudo, começamos a mudança por nós mesmos – não pelos fatores externos, inicialmente, como sempre o fazemos. Desde nosso pensamento com relação às coisas nas quais acreditamos ser belas, e que no fundo são panos de fundo materiais, até o próprio espirito, tão divulgado e ao mesmo tempo tão massacrado pela ignorância humana.

Os mestres, não só os que penso, mas todos, deixaram-nos obras, histórias, mitos, lendas, palavras... tudo em nome de uma real mudança na qual o próprio humano, com suas próprias ferramentas, se transforma todos os dias em alguém melhor.


Entretanto, assim como nossos filhos menores, ou como os jovens de hoje, duvidamos e tentamos estancar qualquer vinculo com o passado, com seus ensinamentos, mesmo sabendo que todos os mestres, inclusive nossos pais, estão corretos.




A Parte que nos Falta

"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....