quinta-feira, 19 de dezembro de 2013

Um Natal Longe Demais

Que as luzes sempre permaneçam acesas!





Ainda ontem, coloquei uma cartinha embaixo da porta para o Papai-Noel.
Meu filho, de cinco anos, feliz, fora dormir dizendo 'papai noel, me traz 
o presente, viu? Eu fui um bom menino e obedeci à mamãe e ao papai.'
Em gestos como esse, com um coração borbulhoso de lágrimas,
sorri pela pureza de uma mentira tão bela quanto à verdade que o mundo
me mostra.





Lá vem ele, cheio de luzes estampadas nas esquinas, nos prédios, nas casas e casebres; enfeitando o mundo, com seus arrojados símbolos, com suas mensagens fortes, outras piegas, mais algumas simples e baratas. E por falar em baratas... E os presentes?... Que loucura! Caixas e mais caixas coloridas, e, por dentro, a surpresa, ou não, que no dia o acanhado menino vai receber...

A correria do dia a dia, a vontade de rever a família que mora atrás dos pensamentos, dentro da alma. Esquinas lotadas; taxis com suas corridas caras, perfazendo trajetos mais caros ainda, apenas para ganhar o seu décimo... E os ônibus? Agora temos mensagens de Natal onde apenas se mostrava um painel robótico, simples e direto. É o fim ou o início?

Sei apenas que estamos perdidos e desconsolados, estamos confusos e enrolados. Nossas mentes, ao pobre pensamento de ir e vir às lojas, não se comunica com o coração, pois, assim como celulares, a linha parece cortada nessa época. Será sempre assim?

Quando é que o Natal realmente significou realmente o Natal? Não se sabe. Sabemos que o cristianismo o criou com o fundamento de que Cristo, Jesus, teria nascido nessa data, vinte e cinco de dezembro... Claro que não. Todos sabem que tal data é tão simbólica quanto o dia das mães, dos pais o é.

Sabemos que houve várias datas nas quais fora comemorado e vivenciado tanto quanto hoje o é nessa cultura louca de gastos. Não sei, mas acredito que a essência do Natal não é ainda a do peru que se assa no forno, com uma bela salada a sua espera; não é para mim a reunião de uma família que se desconjura todos os dias; não é.

E quando observo o mundo indo ao encontro de seus entes queridos, fico a pensar... “por que somente nessa data o fazem?”, e ao mesmo tempo, revela-se importante, mesmo porque tal gesto o é, não por ser Natal, mas por ser um gesto humano... O que nos falta.

Falta praticarmos um Natal fora do dele. Presenteando nossos entes, dando mais vazão à nossa intuição de que precisamos nos reunir e nos abrir um com o outro, sempre quando nossas naturezas o querem. Perfazendo caminhos tortuosos, mas que, pelo ato, sabemos que será ao encontro de algo definido...

O que vejo é que há luzes em demasia e pouquíssimas dentro do homem. Há uma correria em prol do presente barato e bonito, mas, como em todos os natais, braços precisam se abrir, receber pessoas; mãos precisam se esticar para o aperto inicial, que dará inicio também a uma grande amizade... No entanto, como diria o sábio... “os deuses choram pela hipocrisia humana”.

Existe sempre, entretanto, a célula no universo, que o faz voltar a ser ele mesmo; a célula do mundo, escondida em algum deserto, na mais profunda areia; há a célula nas sociedades, a qual nasce com o idealista, pronto para modificar o pensamento do povo; há a célula dentro da família, que é o homem que trabalha, que paga suas contas, e que humildemente perfaz seu caminho em busca por respostas para um mundo melhor...

Há a célula biológica, que responde às tensões diárias, e que nasce, cresce, morre, e dá lugar a outra, até uma certa idade; há a maior delas, a da alma. Esta que alimenta todas as células em nome de algo maior e melhor dentro homem, que se aproxima de uma sociedade por meio de suas leis, e as enobrece quando a elas obedece; uma célula que não envelhece, não emudece, e modifica nossos dias, sem sabermos.


A essa célula eu daria o nome de Natal. 

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