domingo, 15 de maio de 2016

A Difícil Arte de Mudar o Mundo (iv) : as orações.




Esses dias, fui à pediatra do meu filho. Lá, em meio a conversações de pais e uma secretária sonolenta que diz adorar crianças, na parede, pertinho daquela televisão a que ninguém dá ouvidos, havia uma tábua, dessas nas quais se colocam inscrições em relevo, e nela uma oração: A Oração da Serenidade.

Começa assim: Concedei-me, Senhor, a Serenidade necessária para aceitar as coisas que não posso modificar; Coragem para modificar aquelas que posso e Sabedoria para conhecer a diferença entre elas.

No modificar do mundo, não há apenas modificações estruturais, como se sabe, mesmo porque temos emoções, sentimentos, vontades, tudo isso resumido a uma alma que nos remete a uma reeducação interna, perceptível e direcionada ao Ideal. Sei que falo muito Nele, mas deixo muito pouco a respeito de sua existência, dentro de minhas convicções, o que não exprime exato o que ele significa...

Para mim, o Ideal é uma das mais belas orações que os deuses nos deram como forma de nos fazer um pouco mais humanos; contudo, como tudo que é perceptível, mas dependente de nossa alma voltada à matéria, é muito difícil – nada gratuito. O Ideal, no entanto, não depende dos esforços humanos, das orações humanas, mas Dele mesmo, simplesmente porque ele se confunde com Deus.

As orações, remetidas ao Ideal, são ferramentas naturais e necessárias para a Comunicação entre o ser humano e divindades, de modo a torná-los mais divinos, quando esse elo se faz. Ou seja, há outros meios para a realização humana de modificação do mundo, tornando-o melhor, mas as orações, desde que o homem é homem tem feito com que a natureza humana e universal sejam apenas uma, quando conectadas.

Na oração –  da Serenidade –, como em todas as orações, há uma verdade atemporal que nos diz internamente acerca do que somos e podemos realizar para uma simples vivência interior. Assim como em todas, ela nos traduz um pensamento clássico, mas esta, em especial, nos traz  o que um dia Epíteto e Marcus Aurelius, estoicos, nos trouxeram como a chave principal para a modificação de um mundo...

§  Concedei-me, Senhor, a serenidade necessária para aceitar as coisas que não posso modificar; Coragem para modificar aquelas que posso e Sabedoria para conhecer a diferença entre elas


Como saber o que podemos modificar e o que não podemos? A priori nos parece fácil, mas se nos deparamos com situações práticas, saberemos o quão é difícil. Mesmo que sejam fáceis de identificar, de sentir e ver o que nos cerca, as situações nos mostram os mistérios das realizações, e a partir daí ficamos mais perto dos deuses e nos vemos dentro de uma garrafa na qual só há uma saída... a da parte de cima.

O Ideal, em seu maior som, nos grita como um grande pai devoto do filho. O filho, nós, em meio à flamejante bandeira do desespero, simplifica o momento, olha a seu redor e percebe que nada era mais que uma situação de decisão baseada em preceitos mais que humanos, e ao mesmo tempo tão simplória quanto uma luz que nos chega do sol...

O homem se identifica com os raios que reluzem na natureza, e pede a Deus que o seja da mesma forma em sua família, em sua sociedade e país. Nada melhor do que um homem banhado pelo raio do sol do Ideal, que ultrapassa seus objetivos, penetrando em seu coração, atingindo sua mais nobre vontade de mudar o mundo.

O Ideal humano é aquele o identifica consigo mesmo, dentro de atmosferas nas quais pássaros são pássaros, cães são cães, pedras são pedras, plantas são plantas, mas em sua atmosfera (lei natural) humana não há algo tão simples e completo como as leis minerais, vegetais e animais... Temos o livre arbítrio, um combinador de consciência e a falta dela em um só ser: o humano.

Falaremos do livre arbítrio mais tarde.

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