Na difícil arte de mudar o mundo, encontramos a difícil arte em lidar com as palavras, com seu sentido, que as vezes não é o literal; com seus meios mais sutis em estravasar, em semânticas, o que realmente significa o que estamos tentando expor.
E nesse limite
imposto pela natureza da filologia, encontramos metáforas, símbolos, mitos, os
quais nos direcionam a uma neolinguística poderosa, na tentativa, não vã, de
descobrir pelos desdobramentos dos idiomas, pelas suas nuances, o real significado de tudo
que queremos... dizer.
E o que
queremos dizer, aqui e hoje e sempre, é que quando nos dispusemos a mudar
qualquer seguimento que escolhemos, seja ele relevante ou não à humanidade,
temos que nos propor de coração em fazê-lo... Até aqui, tudo bem, certo?
Mas nada é
gratuito, certo, direcionado, quando se trata de modificar (o verbo aqui é
intransitivo, de propósito), reestruturar, criar, e naturalmente o ser humano
sabe disso. Sabe, contudo, desdenha e se sente um ser sem responsabilidades –
além das que já é – o que o torna separativo de si mesmo, simplesmente porque
há ideais a cumprir, forças a atrair, mistérios a desvendar, e, um dia, entender
os sistemas nos quais vive.
Parece-nos que
os sistemas são uma forma incondicional de modificações estruturais a partir do
próprio homem que o cria, nomeia, gerencia, e ao mesmo tempo dele se desfaz. Como
um cavalo de Troia que, usado para seus devidos interesses, é construído e
deixado de lado, mofando...
Os sistemas,
depois de feitos, usados como panos de chão também, onde os pés – nesse caso, o
caráter de todos os homens que o idealizaram --, são esfregados, e marcas
deixadas, são esquecidos... Lembrados apenas quando estão se perdendo em
imagens, as quais, na realidade, refletem a própria imagem do criador.
E quando nos
referimos a sistemas, pensamos nos ditatoriais, nos tirânicos, nos
democráticos, nos quais a palavra – como de inicio falava – perde o sentido, e
ao mesmo tempo sua sacralidade e poder. Perde o poder de mudar, simplesmente porque ela, a palavra,
usada como meio de consecuções políticas e pseudo-religiosas, se vai.
A própria palavra
é usada para trazer à tona os sistemas, os rios de materialidade fria nos quais
o menos informado é obrigado a viver, e mais tarde obrigado a amar. Não há como
ser indiferente a esse outro rio; porém, temos a consciência, esse ser místico que
nos faz ver com outros olhos o “o rei nu” de cada sistema.
A semântica destas
palavras, assim como o próprio universo, deve ser lida com olhos internos,
assim como no passado, com seus mestres, que, em meio a um mundo em crise, em
qualquer tempo, nos fazia ler ainda que fôssemos ignorantes – o que, no
passado, era uma qualidade – um pouco da natureza.
O mundo é
outro, inclusive o das palavras heroicas, das palavras que nos revelam
fielmente o que somos, e tentam nos impor um mundo melhor por meio de seus
significados históricos, clássicos por assim dizer, e nos conduzir a um mundo
melhor... As palavras devem, assim como no passado, virem do coração e ao mesmo
tempo serem elevadas, partindo de inicio de nossas escadarias internas e galgar
o mais alto degrau do homem.
Não há
receitas. Devemos deixar os sistemas passarem. O que nos faz melhores hoje,
agora, e por um bom tempo, é matéria trazida do fosso frio do pensamento
coletivo, dentro do qual todos nós estamos enraigados,
ou mais, a depender da palavra que se usa em cada cultura, apenas um ato
para nos fazer compreender um risco no Oriente.
É certo que
nossos atos, na maioria das vezes, são tão fortes – e são – quanto palavras
soltas e incoerentes (ou que ficaram com o tempo), sem nexo, e que deságuam no
mar e se transformam em gotículas como qualquer outra em um oceano cheio de
nada... Mas a palavra dita de dentro da alma descontaminada, como filha pura
que nasceu em meio a uma floresta paz e borboletas, vai fazer mais sentido que
um ato incoerente...
Esse é o modo
de mudar o mundo com as palavras. Assim como subir uma montanha na tentativa de
alcançar a lua, na loucura de alcançar o céu com um esticar de braços, ou no
grito ao um raio para que ele cesse... A dificuldade humana em resgatar o mundo
por meio delas é visível.
Contudo... (há
sempre, graças a Deus, esse contudo), a fagulha de uma esperança que reina
através dos tempos, por meio de uma palavra que persiste em fazer o homem
confuso em seu realizar e que, às vezes, dá certo, e que deixa, na entrelinhas,
outra esperança, a de um mundo melhor... É a palavra Amor.
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