quinta-feira, 12 de maio de 2016

A Difícil Arte de Mudar o Mundo (iii) -- Palavras





Na difícil arte de mudar o mundo, encontramos a difícil arte em lidar com as palavras, com seu sentido, que as vezes não é o literal; com seus meios mais sutis em estravasar, em semânticas, o que realmente significa o que estamos tentando expor.

E nesse limite imposto pela natureza da filologia, encontramos metáforas, símbolos, mitos, os quais nos direcionam a uma neolinguística poderosa, na tentativa, não vã, de descobrir pelos desdobramentos dos idiomas,  pelas suas nuances, o real significado de tudo que queremos... dizer.

E o que queremos dizer, aqui e hoje e sempre, é que quando nos dispusemos a mudar qualquer seguimento que escolhemos, seja ele relevante ou não à humanidade, temos que nos propor de coração em fazê-lo... Até aqui, tudo bem, certo?

Mas nada é gratuito, certo, direcionado, quando se trata de modificar (o verbo aqui é intransitivo, de propósito), reestruturar, criar, e naturalmente o ser humano sabe disso. Sabe, contudo, desdenha e se sente um ser sem responsabilidades – além das que já é – o que o torna separativo de si mesmo, simplesmente porque há ideais a cumprir, forças a atrair, mistérios a desvendar, e, um dia, entender os sistemas nos quais vive.

Parece-nos que os sistemas são uma forma incondicional de modificações estruturais a partir do próprio homem que o cria, nomeia, gerencia, e ao mesmo tempo dele se desfaz. Como um cavalo de Troia que, usado para seus devidos interesses, é construído e deixado de lado, mofando...

Os sistemas, depois de feitos, usados como panos de chão também, onde os pés – nesse caso, o caráter de todos os homens que o idealizaram --, são esfregados, e marcas deixadas, são esquecidos... Lembrados apenas quando estão se perdendo em imagens, as quais, na realidade, refletem a própria imagem do criador.

E quando nos referimos a sistemas, pensamos nos ditatoriais, nos tirânicos, nos democráticos, nos quais a palavra – como de inicio falava – perde o sentido, e ao mesmo tempo sua sacralidade e poder. Perde o poder de mudar, simplesmente porque ela, a palavra, usada como meio de consecuções políticas e pseudo-religiosas, se vai.

A própria palavra é usada para trazer à tona os sistemas, os rios de materialidade fria nos quais o menos informado é obrigado a viver, e mais tarde obrigado a amar. Não há como ser indiferente a esse outro rio; porém, temos a consciência, esse ser místico que nos faz ver com outros olhos o “o rei nu” de cada sistema.

A semântica destas palavras, assim como o próprio universo, deve ser lida com olhos internos, assim como no passado, com seus mestres, que, em meio a um mundo em crise, em qualquer tempo, nos fazia ler ainda que fôssemos ignorantes – o que, no passado, era uma qualidade – um pouco da natureza.

O mundo é outro, inclusive o das palavras heroicas, das palavras que nos revelam fielmente o que somos, e tentam nos impor um mundo melhor por meio de seus significados históricos, clássicos por assim dizer, e nos conduzir a um mundo melhor... As palavras devem, assim como no passado, virem do coração e ao mesmo tempo serem elevadas, partindo de inicio de nossas escadarias internas e galgar o mais alto degrau do homem.

Não há receitas. Devemos deixar os sistemas passarem. O que nos faz melhores hoje, agora, e por um bom tempo, é matéria trazida do fosso frio do pensamento coletivo, dentro do qual todos nós estamos enraigados, ou mais, a depender da palavra que se usa em cada cultura, apenas um ato para nos fazer compreender um risco no Oriente.


É certo que nossos atos, na maioria das vezes, são tão fortes – e são – quanto palavras soltas e incoerentes (ou que ficaram com o tempo), sem nexo, e que deságuam no mar e se transformam em gotículas como qualquer outra em um oceano cheio de nada... Mas a palavra dita de dentro da alma descontaminada, como filha pura que nasceu em meio a uma floresta paz e borboletas, vai fazer mais sentido que um ato incoerente...

Esse é o modo de mudar o mundo com as palavras. Assim como subir uma montanha na tentativa de alcançar a lua, na loucura de alcançar o céu com um esticar de braços, ou no grito ao um raio para que ele cesse... A dificuldade humana em resgatar o mundo por meio delas é visível.


Contudo... (há sempre, graças a Deus, esse contudo), a fagulha de uma esperança que reina através dos tempos, por meio de uma palavra que persiste em fazer o homem confuso em seu realizar e que, às vezes, dá certo, e que deixa, na entrelinhas, outra esperança, a de um mundo melhor... É a palavra Amor.

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