Quando pequeno, eu lia muito a bíblia cristã, e tinha minhas dúvidas acerca de tudo que lia. Normal. Eu só não tinha alguém que me poderia sanar essas dúvidas. Um dia questionei minha mãe a respeito de Deus, e ela uma devota mais do que outras, não permitiu que eu me prolongasse com a conversa. Para ela, claro, Deus era inquestionável, era a última instância das sombras humanas, sobre a qual não tínhamos muito o que saber, apenas a reverenciar, pedir e amar.
Entretanto, crianças cujas respostas não são aceitas ou não respondidas ficam com a orelha coçando e iniciam sua busca, perguntando até mesmo a quem nada entende. Normal. Os caminhos, percebi, tinham que ser aventurescos, no sentido mais duro da palavra (que não existe no dicionário...), a qual pode ser lida como aventureira, cheia de ação, determinação; meus caminhos, nesse ramo da vida, por mais que eu não queira, foram os mais difíceis do que a maioria, e isso eu tenho a certeza.
Por ser um P.N.A, o que sei lá o que significa, mas que possui o direito de ingressos pela metade no cinema (!), desde os seis anos de idade, fui "objeto" de cuidado, não somente de minha mãe, mas de minha família, e por que não dizer de Deus...? Ele, segundo minha genitora, fora o responsável pela minha sobrevivência em um período em que a Saúde era pior do que a de hoje, em que hospitais só atendiam com ferramentas de mecânico...
Não me lembro de nada, porém. Apenas dias em que caía demais ao chão e por causa disso mantenho minha cabeça com um "galo" na parte direita sempre cantando, e é claro, sempre sujeito a perguntas de curiosos, como meu filho. Mesmo assim, mesmo com tudo dizendo que não sou um mero ambulante normal, pois minhas pernas, mãos e braços possuem sequelas fortes da doença adquirida no passado, mesmo assim, não paro de questionar Deus, seus mistérios, seus fiéis, seu comportamento, seu tudo, seu nada...
Entretanto, com minhas buscas, desde a tenra elucubração acerca do Bem e do Mal, as leituras clásicas começaram a fazer parte de minha jornada, além de exemplos práticos de pessoas que seguiam e não seguiam religião. Todas elas, de alguma forma ou outra, possuíam semelhanças, em andado, em comportamento, em inteligência, em humildade, mas uma diferença me fazia mais astuto e burlador divino: Deus salvava alguns, outros não.
Até então, tenho em mim que tais diferenças sempre vão existir e que cada pessoa, seja em particular ou em grupo, vai conseguir se salvar, ir para o seu céu, seja com Deus ao trono, ou com as sete virgens a sua espera, ou com Alá, Buda, sempre os esperando em algum nível. A questão é que, hoje, se eu morresse, como um saco cheio de ossos ao chão, sem sentido algum, não saberia para onde ir, ou se viraria um vampiro ao encalço de mulheres lindas para me fazer companhia... Não sei.
Tenho medo de virar um cientista, nesse sentido. Percebo, com meu estudos, que chegam a acreditar que somos apenas um aglomerado de células palpitantes, sobre as quais corre sangue, e acima desse, pele e mais peles, e assim por diante. Claro que é mais complexo do que isso, mas tais estudiosos acreditam na causalidade, que tudo não passa de uma mera forma de organização explícita, vinda de um motor mais explícito ainda, sobre o qual não sabe nada, e nem vão saber.
O único cientista sobre o qual eu tive coragem de ler foi nosso amigo Einstein, que, de Deus, falava, se informava, e possuí sua opinião clara. Um dia disse, "Não acredito em um Deus que se sobressaia acima dos seres humanos e deles toma conta". O que me fez ficar mais reflexivo, mais perseguidor e questionador da questão, deixando de mão, em quase léguas de distância, minha família, minha mãe.
E por tudo, peço perdão a ela, mas não poderia deixar de entender questões que até hoje me faz um ser sem céu, sem chão, louco para conhecer o inferno, mas também para conhecer a mim mesmo. E quando vejo o sol, quando o vejo pela manhã... Quando tenho minhas inspirações poéticas, minha vontade mudar o mundo... Vontade de ir às ruas e gritar até morrer gritando, a dizer que temos jeito de sair dessa sombra horrível que paira sobre nós... Vejo muito de mim e um pouco de Deus.
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