Vamos deixar o oculto misterioso, desconhecido, assombroso, miraculoso de lado. Vamos falar dele de maneira... frugal, como diria meu filho, que está aprendendo a falar difícil, com seus dez anos! Mal sabe ele que faz parte de um milagre sutil da natureza, que o colocou no mundo para nos ensinar a combater a nós mesmos, como se fôssemos grandes guerreiros combatentes, com receio de atravessar uma velhinha na pista...
Não podemos nos aprofundar nessa realidade, nessa base da qual se manifesta toda sombra que nos rodeia. Não há nada de eterno naquilo que se vê, se toca, se constrói, apenas em sua essência que se mostra inalterável, indivisível, para sempre... É por isso que não devemos nos emocionar espiritualmente com o que temos, mas naquilo que se mostra por meio dela, por trás dela, como num texto cheio de palavras e períodos, esquecidos pelo homem, mas reguarda elevadas formas semânticas quando lemos.
Se nos apropriarmos de algo que não temos força, assim como muitos não o têm, poderemos, como ignorantes produzindo pedras ao invés de sóis, desalinhar um pouco mais nosso trajeto aos nossos ideais humanos. E é por isso que autores, além de estudiosos no assunto, pregam a não adoção do oculto como forma de vida. Ou seja, quando temos religiosos se manifestando em prol de forças ocultas com vistas a manipulá-las e transformá-las em espetáculos, em templos, pode-se dizer que aquelas formas ocultas, a que tanto chamam de demônios, podem existir em um determinado plano, no entanto chamá-las à tona como artifícios naturais para chamar atenção de seus fiéis, é um tanto quanto perigoso...
Em templos umbandistas, seguimento de religiões africanas, nos quais há séculos faziam reverências a seus deuses da terra e do fogo, nomeando-os assim como fazem os antigos, hoje seus "sacerdotes" trabalham como para-raios de seus santos, deuses, astrais de pessoas que se foram, e incorporam eloquentemente a fúria e a dor tal qual aquele indivíduo se estivesse presente...
A natureza nos deu poderes naturais de descobertas, de vontade, de caminhar em favor de nossas elevações, evolução natural, sem precisar incorporar qualquer santo. Apenas aqueles que o podem e respeitam essa possibilidade devem fazê-lo, mesmo assim de maneira discreta, sem publicidade, marketing, de maneira que não seja um produto de venda ou troca.
O que nos resta é viver em função do nosso oculto, desse ser que nos deram quando nascemos e vai prevalecer em nossas almas até nosso corpo expirar seu prazo na terra. E posso dizer, por isso, que não há nada melhor no mundo do que sentir o oculto num abraço de mãe, de alguém que amamos muito, pois aqui não se guarda somente o aspecto físico, mas um sentimento que nos eleva a seres humanos reais, dos quais partem poesias, atos divinos, sacralidades abissais, quando encontramos Deus, no levantar e no dormir.
O que nos resta, muito além, é sentir o cheiro da rua molhada, da espera de uma namorada no portão, de um sorriso após um dia raivoso, de uma palavra amiga, e até mesmo de um grupo que se une com vistas a falar em paz, amor, harmonia, vida, palavras que nos atinge o coração. O oculto está mais que visível nessas ocasiões, pois nos faz mais quentes em enfrentar a vida, cheia de suas nuances contraditórias, sobre as quais dariam outro texto, mas o oculto é pura e simplesmente nosso ideal a ser buscado, para que possamos, com nossas ferramentas diárias, subir um degrau todos os dias.
Tente não sentir nada ao ouvir uma música clássica pela manhã, ou mesmo um texto belo que te eleva antes de dormir; tente não se emocionar com um criança lhe dando um pequeno presente ao saber que você não tem nada materialmente a dar para ela... Tente, só tente. Leia em voz alta sobre os grandes guerreiros e tente imitá-los em sua própria caminhada, assim como o faziam os leitores de Ilíada e Odisseia, Baga vagita, entre outros textos clássicos que sempre estão em moda.
Sejamos um Marcus Aurelius quando em sua saga a desvendar impérios escrevera acerca de sua filosofia de vida, de si mesmo, de um modo tão incrível que há muito o livro do Imperador tem sido a a fortaleza de muitos guerreiros modernos.
O que nos resta do oculto é respeitá-lo e não buscá-lo além de nossas medidas, mesmo porque ele sempre está entre nós, a nos conduzir, nos puxando para cima, para o alto, e não nos cabe ir por aí a fora como especialistas divulgar bendições ou maldições sem conhecer de maneira frugal o que a vida nos dá.
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