Desde que o homem é homem, ele cria prêmios, honrarias, todos em forma de medalhas, troféus, louros, enfim, sempre com o objetivo de presentear alguém que tenha se destacado em algo, em alguma coisa que, na maioria das vezes, outros não o são. Nos jogos Olímpicos, nos campeonatos, nas modalidades que se criam, que renascem, em tudo. Em órgãos federais, públicos, em instituições particulares, públicas, de modo que não cessam ano a ano, sempre com esse intuito: destacar.
Mas nem sempre podemos cair nessa armadilha da premiação. Quando o mundo está sendo questionado por mentes que há muito estavam adormecidas, percebe-se que, em meio a elas, existe um sentimento que entrou por debaixo das cortinas dessa pré-revolta: um sentimento de presentear pessoas que não sabem lidar com o seu vaidosismo, com a sua temperança, ao passo, naquele instante, porém, trazia à luz da sociedade um outro, o da rebeldia, do pensamento único de sair em direção a outro caminho.
Freados, homens se voltam ao luxo da premiação, que, na realidade, nada mais é que uma forma de detê-lo ao que ele poderia pensar e agir, a favor ou contra aquilo que lhe é inerente como ser humano, seja lá o que for. Assim, com sua vontade presa a valores inventados, calar-se-á, e se unirá à multidão que se julga livre. Uma liberdade arbitrária dentro da qual somente poderá falar e fazer aquilo que convém ao seu caráter manipulado.
Um dia um filósofo grego, iniciado, sábio, ao perceber que seu mestre estava a descortinar uma sociedade que já, há quientos anos antes de Cristo, se sobressaia pela vilania de um sistema que acreditavam ser o melhor, ou pelo menos aqueles que nele mandavam acreditavam nisso, falou um pouco em sua metafórica república sobre a premiação humana: "criam prêmios com o fim de mudar o homem de direção".
A direção, por assim dizer, está bem clara. Não é a nossa. Tomamos rumos gêmeos, não diferentes do que queremos tomar. Nos filiamos ao homens que amam condecorações, estrelas, premiações, troféus, e quando enchemos nossas galerias, percebemos, muito tempo depois, que são apenas plásticos moldados, madeiras manipuladas, e às vezes, um pedaço de prata banhada a ouro. A nobreza, a vontade, a fé, a beleza com que tivemos nas competições se vão como água em riachos, pois o que nos interessava nada mais era que um prêmio...
Os romanos, grandes como eram, não só em cultura, como em tudo que faziam na era clássica, sabiam que as premiações nada mais eram que articulações naturais ao homem. Ou seja, não poderiam deixar de existir, porém jamais esquecer-se-iam de que um dia nascemos homens e um dia morreremos e nos tornamos pó.
Diziam que quando um general chegava em com suas bigas, cheias de honrarias conquistadas da casa do inimigo, desfilavam ao povo e eram apresentados ao governador, o qual, para eles, tinha um presença quase divina. E tinha. Em sua biga, atrás do general que se apresentaria ao governador da província, um serviçal sempre a dizer "você é um homem e não um Deus!" -- e repetiria a frase até que ele descesse daquela carruagem e recebesse o seu louro -- uma coroa feita com um pequena planta que tinha um sentido simbólico.
Esse sentido interno quanto às premiações não temos, mesmo porque o que nos aguarda é uma eternidade cheia de prêmios pelo que fizemos em relação a nós mesmos e não ao próximo. E quando se é cristão, o maior prêmio é o céu, literal, cheio de pessoas belas, flutuantes, sorridentes, tomando rios de mel, e dependendo da cultura, de virgens a nossa espera.
As premiações nunca cessam e nossa maneira de lidar com elas, a cada dia, nos torna obsessivos em alcançá-las, pois a espiritualidade se esvai com o tempo. Pois, espiritualidade, hoje, é ter muito, não ser muito. Prova disso são igrejas passadas e modernas que se deleitam em iguarias materiais em nome de deuses, de Deus, de cristos e Budas, com ornamentos nada simbólicos, diferentes da dos homens realmente espirituais do passado, que um dia nos mostraram que o maior prêmio é encontrar a si mesmo.
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