Um filme muito interessante me passou pela cabeça nesse instante para ilustrar minhas ideias hoje, nesse blog, a respeito das ilusões porque passamos. O Quarto de Jack, de Emma Donoghue, o qual não fora baseado em qualquer realidade, chama a atenção para uma (real) realidade a que sempre nos referimos aqui, em termos simbólicos, para ilustrar nossa ideia quanto ao que vivemos em termos ideológicos.
O longa fala de uma mãe que é obrigada a viver em cativeiro sob os cuidados de um homem que sempre vai visitá-la quando pode. Esta mulher tem um filho de oito anos e o educa dentro desse quarto -- por isso o nome Quarto de Jack. Sob o ponto de vista da mãe, a criança cresce, física e emocionalmente, além de receber outra forma de educação, a didática, mas sempre, repito, dentro do que a mãe lhe propõe.
Ali, a verdade sobre a qual é obrigada a aprender, sabe-se, é bem limitada, pois não se consegue ver o céu, as nuvens, apenas pelos poucos momentos que sua genitora o faz ver, por meio de uma brecha no fim do teto, um pouco do azul ou mesmo uma ou duas estrelas sugestivas, o que o faz nem mesmo questionar, apenas a ouvir, mesmo porque o nível de confiança à sua mestra é pétreo.
Em um outro lado do filme, quando sua mãe planeja sair daquele pequeno recinto, que não media mais que quinze metros quadrados, mas que servira de universo ao menino, que já o via como a única estrutura, a tensão tomara conta: era a vez dela desfazer todas as formas mentais que ele havia criado durante os oito anos na qual estivera preso -- sem saber. A reação da criança não poderia ser outra... Assim como uma pessoa que é ludibriada há anos, fica com ódio da mãe e não consegue entender o porquê que fizera aquilo e não lhe dissera a verdade desde o início. Seus modos, comportamentos, falas, atitudes, frente a essa nova realidade, o faz confuso e, mais, o faz sentir traído pela mulher que ama tanto.
Vamos estacionar aqui.
O que aconteceria se algum dia nos dissesse que estamos em um grande quarto, preso por amos que se julgam donos de nossas mentes? que tudo que aprendemos nada mais são que histórias montadas com o intuito de nos prender mais e mais nesse grande recinto? Com certeza, sorriríamos e diríamos que a pessoa que nos aparece para dizer isso é, no mínimo, louca e pediríamos, dentro de nosso raciocínio, provas e tentaríamos buscar naquelas palavras alguma verdade, caso contrário mataríamos o mensageiro...
O Quarto de Jack é um filme e o nosso não. Podemos, sem ofender as religiões, questionar a respeito de nosso quarto, mas àqueles que tenham um ponto de vista tangível sobre ele, nos quais não apenas sobre se há ou não ilusões no recinto, mas sobre o que há lá fora e dentro de nós. Se questionarmos apenas pessoas que sabem sobre aquele metro quadrado, no qual tanto vivemos desde a infância, vamos receber respostas somente no aspecto físico da questão, ou não, pois há seres que nasceram dentro desse quarto (todos nós), e nele se aprofundaram, de modo que tiveram respostas nesse quesito, simplesmente pelo fato de que o Grande Mestre do Quarto faz as respostas serem reais, eternas e divinas....
Nada mais natural, mesmo porque todos, sem exceção, estão simbolicamente presos, quase que algemados, em termos de conhecimento, pois não se consegue ver nada além das paredes, das sombras, dos prêmios, histórias, até mesmo dos valores reinventados com vistas a dar ao questionador algo para adormecer...
Por isso, há aquele que um dia não apenas viveu, mas também de alguma forma tentou nos passar por meios quase misteriosos a realidade porque passaram. Por que misteriosamente? -- simplesmente pelo fato de que há mais teóricos que desvirtuam mensagens do que mestres que possuem a espiritualidade lastreada do passado. Digo espiritualidade, no entanto, pode-se perceber que até mesmo o pouco do caule educacional que se impõe com a pretensão de mudar um pouco o eixo de algumas formas de vida, já é o bastante para que percebamos o quanto temos que mudar as pessoas... E isso é ruim para aquele que aparece de vez em quando no Recinto.
Aqueles que perceberam essa realidade, em algum ponto do quarto, sentiram a necessidade de outras respostas e encontraram um meio de sair dele, viram o sol, respiraram a brisa do Bem, e notaram que somos duais em tudo que tocamos, falamos, percebemos, opinamos, enfim, que nada deve ser possuído de uma sacralidade senão houver uma ligação com a real Natureza, caso contrário estamos nos prendendo de forma voluntária, como por exemplo, criando fatores educacionais estanques, deuses com vistas a modelar o homem, políticas sem o intuito de seguir com a verdade, e nisso tudo com gerações presas a um céu inventado -- aquele seria o Mestre.
Sabemos que não um trabalho suave, longe disso. A percepção vem de si mesmo. Aquele mestre que burla a alma quando tudo nos soa como repetitivo, quando as formas mentais se aprofundam em nós, e percebemos que, por alguns instantes, a vida é mais que um fator modístico, ou seja, que invenções nada mais são que uma necessidade de nos fazermos presos ao inconsciente, então, eles não venceram. Nós vencemos.
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