terça-feira, 18 de dezembro de 2018

Pugilista Miserável

Há milênios percebe-se exemplos de líderes que nos enganam, que nos desestruturam e que buscam, antes de nos destruir, nossas fragilidades. A maioria das vezes acontece no meio religioso e político no qual seres humanos, revestidos de uma suposta sabedoria específica a mais que os demais, nos desmontam como castelos de areia em meio a um mundo em que, todos os dias, nos faz desacreditados, infelizes, depressivos e até suicidas.

Tudo começa quando estamos doentes da alma, quando precisamos de um bom abraço, ou uma pequena palavra que nos eleve a autoestima, a nos deixar um pouco férteis de esperança por alguns dias. Nada mais. Ao saber dessa fragilidade, desse lado humano profundo, do qual poucos saem, lá vem o político, o religioso, o mal idealista (o real terrorista), o mal em pessoa destronar qualquer possibilidade de refletir sobre algo que se guarda em nossos corações, como a própria vontade.

O medo, a dor, a falta de céu, o sentimento de manipulação, a batalha sem referenciais, a aventura desmedida, se transformam em relevos que se alojam em nossas almas, em seu mais profundo sensor, do qual até mesmo o maior mergulhador teria dificuldade em sair. Isso me lembra Vitor Hugo, que um dia em "Os Miseráveis", uma de suas principais obras, a se referir às reflexões de um de seus personagens principais 'Jean', quando imerso em sua culpabilidade, descreve sua semântica, ao dizer que "nada mais profundo que a alma humana", e tinha razão.

Quando nos dissipamos para o lado interno, do qual não sabemos emergir, pois nossa capacidade educacional nos falta em meio a um mundo materialista que se importa mais em informar do que formar, nos dando apenas razoáveis possibilidades de lutar em prol a bens externos, nos quais em cima morremos, e quando não, em nossas covas com dizeres hipócritas a respeito do que fomos ou poderíamos ser.

Nunca nos ensinaram a lidar com nossos valores internos, ou mesmo com nossa vontade -- pelo menos no meio "freudiano", quando se percebia que nada mais era que um mergulho em nossa sexualidade, a qual, ainda que seja bom e natural, começou a se inclinar para o lado maior do mundo, e assim tomar nossas vidas, de nosso mundo. Dessa forma, qualquer questionamento voltado à vida, a resposta, graças aos iniciados em apologias nefastas, se inclina para o lado sexual, no pior sentido.

Não podemos, no entanto, culpar apenas os homens dessa grande caverna, na qual se fazem e refazem com nossa ignorância. Não. Trazemos a possibilidade de refletir em nosso meio a respeito deles, de seus atos, quando nos tomam em nossas principais dores, na nossa coluna mais frágil. Temos que desconfiar, ainda que seja o próprio Papa, nosso pai, tio, enfim, pois são todos humanos, e isso quer dizer que suas pretensões, ainda que sejam aparentemente belíssimas, nos fazer repensar por meio de seus atos, os quais, geralmente, não são perfeitos. A evolução não é de hoje para amanhã.

Retiremos, assim, um aprendizado clássico, desses que jamais nos esquecemos. Se uma pessoa é materialista, ela vai nos conduzir pelos caminhos materiais mais profundos, a nos remeter a um fosso enganoso, sempre com palavras belas, suntuosas, de modo a conseguir seus objetivos, sexuais ou não, materiais ou não, espirituais ou não. Essa talvez seja a maior manipulação humana, pois mexe com nossos desejos de mudança, de uma rebeldia interna, na qual paira a vontade de um mundo melhor, de uma casa melhor, de um filho melhor...

O líder espiritual, se é que existem, é uma estrela imóvel, pois não pede, não cura, não traduz nossos sentimentos rasos, não se inclina a nos ajudar em nossas doenças, sejam elas quais forem. O líder espiritual nos faz ser mais humanos, evoluídos, dentro de "tarefas" um pouco árduas nas quais nos renegaríamos em realizar por sermos preguiçosos e ignóbeis. Ele sabe que o espírito é um só, que seu comando é uma referência aos demais e por isso, nas mínimas questões, sabe que nada sabe.

Já o guru manipulador vai de encontro a real natureza, ainda que sejamos egoístas em pensar no que seja isso. Ele vai querer quebrar regras, vai dissimular comportamentos, falas, e descordar com todos que sejam contra ele. E você, que quer seus objetivos, vai concordar com ele até a última palavra, pois um dia, lá no topo, ele foi um homem real ao ser ver, e a de todos.

Esse guru do fim dos tempos, a querer ou não, vai ser destituído pela mesma criança que um dia viu o rei nu, enquanto todos o viam com um "roupa da cor da pele", e vai quebrar o feitiço, nos retirar a venda da alma, nos envergonhará pessoalmente de nossos atos, e nos fará morrer um pouco em nosso humilde espaço.

A única saída contra possíveis "líderes", talvez, como dia Marcus Aurelius, imperador romano e filósofo, seja levantar os braços, assim como um eterno pugilista, a espera do próximo adversário. Dele podemos levar alguns socos, mas sabemos nos proteger de outros golpes mais sérios e profundos.




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