quinta-feira, 16 de julho de 2009

Em Nome de Deus


Sabemos que no passado a Igreja assassinava em nome de Deus: quem não fosse seu adepto, seria queimado, torrado, mas não esquecido. Há muitos que não foram adeptos, como o herói Giordano Bruno, em sua saga particular, levado ao extremo do sacrifício somente para fazer parte de uma grande mentira à qual teria que ser obedecida.

O tempo se passou. Não temos mais a Igreja que nos ameaça com tochas embaixo de nossos pés, mas temos uma cultura que nos execra se pensarmos contra o que nos é imposto. Não querendo me referir a esse tipo de restrição, nem mesmo falar acerca dos valores cléricos atuais, mas sim de uma cultura corrosiva, a qual, como no passado, nos lacra as possiblidades de viver em função do Bom, Justo e Verdadeiro. Falo dos meios televisivos e de outros meios de comunicação, que, embora tenham serventia válida para determinados fins – como alguns programas, que não são a maioria, -- nos joga cachoeiras de inutilidades das quais não se pode tirar nada, nem mesmo criticar, pois há simpatizantes dentro desse meio. A força é mesma do passado. Apenas não percebemos.

O show de horrores começa quando ligamos a TV, às seis e meia da manhã. Percebe-se, pode acreditar, que há competição de como e quem mostra mais pessoas mortas na cidade e no país; algumas lançam jornalistas quase dentro do corpo do defunto, antes mesmo da perícia, com intuito de demonstrar a agilidade e competência da emissora em relatar, in locu, o féretro que necessita urgentemente ser retirado das ruas; mas, como se pode perceber, até mesmo a cultura pobre, nos permite pensar que o cadáver ficará ali somente para ser observado por todos, até o último candidato a choro observar, e logo após o último detalhe da última emissora ser levado ao ar...

Nos desenhos que vão ao ar por voltas das nove e meia, a violência virou brincadeira de criança. Sem exagero, os cartunistas capricham nos sangues dos personagens, os quais fazem rosto de homem sério, não de criança, nem mesmo de adolescente, mas de homens maus, cruéis, dos quais saem palavras fortes, que, para uma criança de nove a dez anos, tenho a certeza, apenas dos pais se podem ouvir.

Mas vamos mais além. Nos programas vespertinos, jovens de todas as idades falam gírias incompreensíveis naturais da língua, mas, ao que me parece, nem mesmo em outro planeta se pode compreendê-los. Mas quem liga para isso, quem liga para uma cultura esfacelada, e quem sabe o que é cultura, e além, o que estamos fazendo aqui assistindo a esses programas, e por que não estamos jogando uma bola, correndo, vivendo, vibrando com a vida em nossas veias, e se emocionando com as coisas belas da vida?

Ao que nos parece, a propaganda contra ao que nos é de direito ainda é pobre. Rica é a cultura das cinco e meia para seis da tarde, na qual mostra pessoas relatando seus problemas, caseiros, individuais, em nome do belo dinheiro, a um apresentador que, se fosse em um determinado país, já tinha sido enviado para a linha de execução por matar gerações e gerações de jovens com sua infeliz presença, quiçá com o diz.

Nossas personalidades, incitadas com os conflitos alheios, iniciam um processo de bestificação. Queremos a qualquer custo alguma coisa para criticar o próximo – seja irmão, amigo – a fim de saciar a sede do mal que há em nós. O processo é lento e mascarado, pois podemos jurar que o que fazemos é certo e não fará mal algum, nem mesmo às crianças que a eles assistem.

Porém, não gostamos de comer baboseiras, não gostamos de dormir em espinhos, não gostamos de ter pesadelos, não gostamos de qualquer mal visível, correto? E o mal invisível, quem poderia distingui-los? Onde está? Será que o demônio só se encontra nas veias do fiel que cai pedindo ao pastor que o deixe de qualquer maneira?... Será que o mal é somente quando a morte roça em nosso pescoço nos momentos mais difíceis? Acredito que o mal também é uma questão de escolha involuntária que fazemos. Às vezes está tão perto de nós quanto uma pessoa querida. O mal pode estar todos os dias se propagando nas primeiras fileiras dessa guerra não declarada, mas que, no fundo, sabemos que ele está ganhando.

As TVs, não sei qual é o propósito, mas, em nome da educação, do amor, da juventude e da alegria, transformam nossos dias em puros filmes de terror, nos quais os personagens somos nós mesmos. Pois tudo que se introspecta na vida real faz efeito em nós, tão fortemente quanto um beliscão, ou um puxão de cabelo, mas não sentimos... Será por quê? Talvez ficamos adormecidos pela grande propaganda dos desenhos, novelas, filmes, programas apelativos, que tanto há anos nos destroem a alma...

Renovemo-la! Lutemos até o fim de nossos dias, sabemos que podemos contra todos e contra tudo. Sabemos o quanto é difícil, claro, pois temos poucas armas, mas temos a principal e mais infalível: o coração, ainda fértil de terras onde se pode plantar bons frutos, como o amor a livros e músicas clássicas; plantar uma educação, ainda que para o nosso meio é caipira é antiquada, como por exemplo, sorrir com o sorriso de seu filho, seja ele pequeno ou grande; ser amável, ainda que uma forma imatura de lidar atualmente com as pessoas. Abraçar seus pais, beijá-los; colocar em diários o que podemos fazer de bom para os próximo amanhã!

Enfim, propagandear seus próprios ideais de humanidade, antes que acabemos com o mundo e sejamos mais um a espera do fim, sem mesmo fazer algo para que um dia houvesse um bom começo...

Nenhum comentário:

Postar um comentário

A Parte que nos Falta

"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....