segunda-feira, 20 de julho de 2009

Pai, o Manual Existe (I)




Ainda que houvesse um manual que nos traduzisse a melhor maneira de educar os filhos, o jogaríamos de lado (o manual é claro..), esqueceríamos todos os detalhes do livreto, fosse em inglês e espanhol, português, ou mesmo ilustrativo apenas, e nos encarregaríamos pessoalmente de ligar o filho; é, assim como nos chega um computador, uma máquina de lavar... Sei lá, ou mesmo um brinquedo complicado... Se houvesse esse manual, no entanto, com certeza, muitos divergiriam de sua redação, do conteúdo, da ponto de vista, do que faltaria, ou mesmo da rigidez...

Ou seja, assim como tudo que é imperfeito no fazer humano, o manual já nasceria morto. Não há manual. Não há, hoje, alguém ou mesmo uma instituição voltada à criação, desenvolvimento, maturidade, juventude, envelhecimento e morte de um ser humano que, suponho, dê certo (digo suponho, entenderam?).

Hoje, em nome de religiões que adotam – depois de velho – muitos de seus fiéis, acreditando reeducá-lo em relação ao nascimento ou morte universais, levando-o a acreditar em regras pos morten, mas não em relação ao seu presente, atrapalham mais que ajudam, pois estão traduzindo precariamente uma lei natural baseada em premissas frágeis pelas quais se passam individualmente, e não coletivamente, e isso é perigoso.

Além disso, levar uma criança a acreditar nesse caminho tortuoso em relação a céu e infernos e não ao seu presente – ações e reações --, é como ensinar que as escadas não possuem degraus, é traspassar uma idéia de que as montanhas são fáceis de subir, e que o seu cimo é embaixo e não encima!

A complexidade do caráter educativo que nos colocam as instituições não só nos faz sentir fracos, mas, muito mais, sem referenciais. E realmente, não temos. Então partir de que ponto? O que está restrito aos seres humanos quando falamos em educação, em amor aos filhos, em família? Tudo. Nossa educação – ainda sem manuais (referenciais) – revela-se fria e regada a políticas falsas – seja na religião, seja na real política (Congresso, Câmara...) --, de forma que não se pode andar. Às vezes acredito que não sejam políticas falsas, mas a real ignorância em iniciar um processo real educativo no qual crianças, jovens e idosos sejam inseridos. Muito falam de interesses próprios, de que há uma confabulação contra tudo e todos a fim de que “seus interesses” não sejam feridos. Quanto mais um empregado souber da realidade de sua empresa mais cedo ele será demitido, pois ele pode tomar o lugar do patrão...

É claro que nesse âmbito estaríamos falando metaforicamente de senhores e governos, de uma época massacrada pelos valores perdidos, e mais, de pessoas perdidas há muito tempo; acho que estou falando de nós!... Estaria, ainda, falando da história – da grande história – e dos mal avisados de uma educação porque estavam passando, e que, hoje, colhemos frutos podres desse comportamento desavisado.

O manual pede para existir. Todos pedem esse manual. Razão? Não há freios para o comportamento vil dos jovens. O dragão os engole sem questionamentos. E eles entram na boca do animal, querendo mais experiências próprias, mais adrenalinas, simplesmente pelo fato de querer testar a vida. Ao testá-la, não gosta do que não viu e, sem ferramentas para voltar, sem alguém que possa elucidar seus problemas, suicida-se.
Os pais, eternos filhos de uma vida que não souberam se educar, choram e pedem a Deus que os guardem em seu trono. É natural e concebível... Não há nada direcionado à educação como um todo em nosso meio.

O Manual

Na antiguidade, na idade de ouro da Grécia, Roma, Egito e de outras nações realmente civilizadas, o governante, antes de levar a criança a qualquer profissão, ou qualquer escola de cunho didático, a levava a ter a real educação, cujos parâmetros eram uma filosofia baseada na Ética, Moral universais, nas quais o ser humano estaria inserido não como um ser especial, mas como um ser que comungava valores também universais; ou seja, o que se aprendia ali, serviria para qualquer época e lugar. Esse pensamento estaria dentro da Arte, da Religião, da Política, das Leis, as quais até hoje – graças a elas – o mundo ainda existe. Tal idéia repele, assim, o partidarismo, o qual, de alguma forma, existe e atrapalha na consecução de seus fins e dos fins humanos, justamente por ser partidarista.

Hoje educação é informação, não formação. Do contrário que se aprendia nas clareiras das fogueiras nos tempos dos guerreiros que contavam a seus filhos feitos nas quais havia a disciplina, a ordem, a lei, mesmo na guerra – ao contrário das guerras atuais.

Não há guerra, não há batalhas diárias nas quais morre-se com escudos, espadas imensas, ou mesmo vestido em prata, numa armadura tão pesada quanto nossa consciência, mas o medo em transformar filhos em guerreiros do dia a dia, em gestos e modos clássicos, dos quais se podem tirar orgulho e independência. Simplesmente pela falta do Manual.

Atualmente é melhor educar um cão que uma criança. O medo de adotar uma criança, trocar suas fraldas e mais tarde ser ofendido ou ofendida, leva o cão tomar o lugar de muitas delas que vieram ao mundo e pagarem pelo que realmente não fizeram.

Na antiguidade, pais doavam suas crianças a escravos que sabiam, às vezes, mais que os patrões, os quais educavam de forma clássica aqueles filhos. Após certo tempo, voltavam a fazer parte do âmbito familiar esmerados, fortes, com uma natureza afetiva e guerreira das quais podiam-se extrair mais e mais frutos. Daí vieram os grandes governantes, generais, imperadores...
O manual começa a ser feito.

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"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....