segunda-feira, 21 de setembro de 2009

A Arte de Conhecer a Si mesmo, II

As organizações internas, baseadas na grande lei, são, de pronto, utópicas, mesmo porque somos, além de ocidentais, somos filhos de uma humanidade em que a expressão ‘conhecer a sim mesmo’ é simplesmente metafísica a quaisquer olhos.

Não adianta repetirmos como em um mantra (palavra ou expressão repetidas inúmeras vezes, em igrejas ou em mosteiros) tal expressão. Mas uma coisa podemos fazer: tentar entender, de acordo com nossas ferramentas, um pouco do que somos, ou o que podemos ser, a partir de todas as coisas que nos acontecem.

Diziam, na Antiguidade, que nada nos ocorre por acaso. O que significa isso? Significa que, dentro de tudo que fazemos, nada aparece a nós, assim, simplesmente pelo fato de existir apenas.

Uma grande prova disso é que, no universo, os alinhamentos planetários, comandados por forças desconhecidas (por nós, claro!), os cometas, a expansão das estrelas, sua destruição... Há sempre algo regendo, no sentido de organizar, dentro de um grande contexto cosmológico, o todo. Parmênides tentou nos explicar isso e nos deixou claro que “nada mais estático que a mudança”; Platão já dizia “Deus é a medida de todas as coisas”; já os indianos têm em sua cultura o “Pralaya”, movimento de retração, e o Manvantara, movimento de expansão universal; os cientistas têm as explosões do Big Bang.

Bem, juntando tudo, temos um único modelo de organização na qual o fruto é o mesmo: o próprio universo no qual estamos, também, como grãos de areia coloridos, em um enorme saco sem circunferência, mas que possui a forma esférica – antes de tudo, infinita.

Trazendo tudo isso para nós, é dizer que há uma organização em nossas vidas que devemos respeitar (ou aprender), baseada nessa grande premissa de que somos parte do grande todo; e, se nele faltar uma chispa, ele não o é. Muitos, claro, em razão de antigas culturas entenderem que deve haver uma manipulação antropomórfica por trás de tudo, criou-se um ser cheio de inteligência, saber e misericórdia humanos – não falemos ainda sobre isso – referenciado no próprio homem, ou mesmo em sua sombra. Blavatsky dizia que, se o mundo fosse povoado por vacas, elas teriam como modelo divino um grande boi, a tomar conta de todos.

E é assim que o vemos; mas, dentro do antropomorfismo, também há de se respeitar tais opiniões referentes a essa ideia, mesmo porque há estruturas complexas dentro das quais se seguiu em todos esses anos, séculos, nos quais a tentativa de entender a Deus se fora por água abaixo: a recriminação ao próprio filósofo, ao cientista que buscava a verdade, ao artista que singularizava o universo em suas obras, ao músico que sintetizava o sagrado em suas canções...ao religioso que descobria a verdade... Enfim, um declínio circunstancial, quando o próprio homem tentava conhecer a sim mesmo e o próprio universo.

Hoje, vivemos nesse meio antropomórfico. Os valores que nos fizeram humanos estão revertidos em hipocrisias em forma de religião, música, política, até mesmo – para não falar principalmente – na arte em geral. Ou seja, consequencias tão grandes que elucidam, historicamente, o caminho do homem em direção a nada (críticas ao próximo; desumanidade...), o que se tornou tão natural quanto respirar. Mas isso, como dito, é histórico, ou seja, não é de hoje! É de muuuuito tempo.

Enfim, a arte de conhecer a si mesmo, hoje em dia, só se compara a buscas por conforto “espirituais-financeiros”, diferente de uma época na qual a religiosidade e o próprio homem se confundiam em um só corpo. Época em que Deuses e naturezas eram nortes. Hoje, nosso egoísmo, inveja, interesses nos confundem com amebas na tentativa de sobreviver ao um mundo que podamos.

O conhecer a sim mesmo, embora tão longe quanto a lua da terra ao homem, pode-nos ser uma realidade ainda que distante da maior delas, mas, mesmo assim, real, a ponto de nos elevar a um patamar de diferentes em relação àquele que se distancia do seu conceito de humano todos os dias. O que seria?

Voltar a ser humano.

Volto no próximo texto.





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