quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Fatos da Vida


Há muito sentia depressão, uma doença que se inclausura em nosso ser como se fosse passageiro que não quer descer do ônibus. Passageiro este que faz questão de lhe dizer o quanto você não presta, dentro do que você faz, transformando-se em uma célula pobre, invisível, que não se arranca com faca, nem mesmo com cirurgias.

A depressão consiste muito mais que isso. Consiste em devorar seus principais meios de susbsistência psicológicos e espirutuais. É quando o passageiro se sente dono do ônibus... Depois disso, não há nada que o impeça de falar... falar... o que quiser; e você, nesse estado de escravidão, não tem saida, a não ser, pensar em fugir da vida. Do mundo. Das pessoas que não te ajudam. O medo em falar-lhes sobre o problema aquece mais a dor e propaga mais os problemas pelos quais se passa. As saidas não existem. É assim que se vive um depressivo, e também se morre.

Após anos, crescendo em âmbitos preconceituosos (por ser negro, pobre e deficiente...e burro), consegui sair, devagar... Dando espaço ao passageiro, acredita? Ele mesmo não sabe, mas até ele é passageiro – no sentido de passar, e nunca mais voltar. Foi o que aconteceu, quer dizer entre aspas. Pois, de vez em quando, em minha pobre vida – brincadeira, -- engraçadinhos, desvirtuados, cheios de panças, trocam, por nada, palavras de desafeto por nada a quem nunca lhes fez mal – a este que lhes fala, também.

Mas é sempre assim. Todos os males são cuidados à medida de seu tempo, de seu poder. Quando maior que nós mesmos, nos sentimos tragados, antes mesmo de enfrentá-lo. Isso é péssimo. Um dia perguntei a um grande professor acerca dos instintos do homem, que sempre o atrapalha na vida, levando-o a tomar decisões fora do tempo. “Devemos ser como domadores de leões, meu caro” – disse ele; “quando o animal estiver por perto, e você quiser domá-lo, vai chegando perto dele, sempre devagar, bem devagar...” – ilustrando com seus passos em torno de um suposto leão, “depois, quando menos você pensa, já o dominou”.

Assim o vejo, esse monstro que me consumira há anos, não me deixando, sequer, sair da cama, e ao fazer temia a reação das pessoas, inclusive irmãos. Hoje, olho bem para o gigante que me atormentou anos atrás – caído ao chão, ao lado de meus pés, -- com os olhos cerrados, pés frios, corpo gelado, contudo ainda com as veias pulsando e seu coração com um pequeno marca passo, tentando levá-lo à vida. Estou de olho!

Não é tão fácil. Depois que se passa por todos as nuances psicológicas, achamos que é fácil, pois, de cor, sabemos o que nos representou no passado tudo aquilo. Representou nós mesmos. Uma debilidade que fora comendo frutos proibidos à medida que fora nascendo. A minha debilidade atual, que é ser deficiente, levou-me a pensar, graças a exemplos comerciais e práticos, que eu não tinha lugar na sociedade, em casa, em mim mesmo. O ser-depressão começar a se formar, levar-me a um mundo exagerado, onde pessoas só queriam saber de conversa apenas para sentir pena de mim. Um mundo em que todos eram falsos, todavia, um deles me lançava como um ser que poderia ser alguém e que ninguém, a não ser eu mesmo, conseguiria se-lo. Às vezes é preciso levar em consideração o que dizem, mesmo que tenham dó de você. A questão é que você já está sentido dó de você mesmo, pô! Então, mais um, ou uns?

O gigante começou a se irritar, pois não adimitia questionamentos, caso contrário, teria que rever seu conceito de escravidão ao jovem que se instalara ao seu lado. A vida, o amadurecimento, inato ao humano, estava se fazendo em minhas veias – a leitura, os pensamentos, o ideologismo, as ruas, as conversas... Tudo era armas contra o grande que se fazia meu dono. Aos poucos, eu minava seu poder.

Até que um dia passei na faculdade. Quando achei que poderia fazer amigos, muitos amigos (claro que os fiz), deixar o medo de lado, correr em direção à porta da liberdade... Que nada. Lá, pessoas de todos os niveis me viam e sentiam que eu era diferente; viam que alguma coisa eu tinha que os expulsava automaticamente. O que seria? Depois de descobrir, sentei-me. Pensamentos do tipo “não consigo mais me levantar...” participaram dessa cabeça que lhes conta essa história. Contudo, não fora por muito tempo. Meu nivel de cultura fora demasia melhor do que muitos. Minha fala, minha didática, meu ritimo, minha história de vida... Sanaram problemas semelhantes a esse, durante um bom tempo.

Assim, em leituras, em estudos... Mas quem vai à faculdade tem que paquerar, certo? Certo. E aí, o que aconteceu? Depressões, depressões... O gigante tinha me pego na hora em que eu menos esperava, mas ele sim. É, o meu estado físico era a razão das dores, percebi; mais ainda, teria eu que viver dele o resto da vida, de meus últimos dias depressivos, debaixo da cama, como um rato com medo do homem que lhe prepara o veneno?...

Fui à luta. Paquerei, levei pé na bunda. Chorei... E isso me lembrou uma antiga noiva que me negara pelo fato de sua mãe não me aceitar como eu era. Depois de me conhecer, sentira saudades para sempre.

Após a faculdade, quase me casei com ela, eu disse quase. Pois é, as frustrações estavam terminando, mesmo porque eu tinha encontrado o ponto fraco do gigante que me consumia. E mais, eu sabia lidar com ele à medida que meus passos íam saindo. Minha resposta ao gigante, para ser mais claro, o tiro no infeliz foi dizer a mim mesmo: “a vida continua, querendo ou não. Debaixo de cobertas, edredons, fugindo, se matando – jogando-se de montanhas... levando tapas, sendo ameaçado, humilhado ou não... a vida continua.” – nós, quando depressivos, achamos que todos os seres humanos do planeta, inclusive os presidentes, vão parar e pronunciar palavras de carinho e amor àquele que se esconde atrás do medo de viver porque é deficiente... pobre... negro... burro... (vamos à luta!)

Hoje, eu me deprimo mais – quer dizer, não literalmente --, com a submissão de um povo a si mesmo. A um povo que não sai do chão, não vai em busca do que lhe é de direito na própria vida, como nascer, morrer e viver, com orgulho, apesar dos pesares. Com isso eu me deprimo!

Claro que há épocas e épocas, e, claro, para eu pensar desse jeito, hoje, é preciso um amdurecimento de ideias, um concretizar de convicções. E por falar nisso, a filosofia tem me feito muito bem, ao sedimentar minha formação em relação a tudo que eu tinha medo, preconceito.

Falar sobre depressão é dificil. Mais dificil é sair dela. Mesmo assim, para aquele que a tem, desejo que descubra seu gigante, encontre seu calcanhar de Aquiles e, ao encontrá-lo, matem-no, ou ele pode voltar a qualquer hora.

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