terça-feira, 8 de setembro de 2009

Núcleo Familiar


Semana que passou foi deveras reflexiva para mim. Quer dizer, tudo agora – não sei se é a minha idade – é um tanto quanto reflexivo no melhor sentido da palavra para este que vos escreve. Minha mãe completara 72 anos de idade. Todos comprando presentes, organizando a reunião, que se dá a cada dia sete de setembro, a fim de que tudo dê certo. Isso, com sobrinhos, netos, bisnetos, faltando ou não.

É algo fabuloso a que minhas irmãs se dedicam. Fico apenas a refletir junto ao meu filho e esposa, a qual todos os anos me surpreende. Esse ano, fez questão de comprar uma lembrança para a sua sogra. Mas depois entendi o porquê: um dia, uma das minhas irmãs reclamou que “aquele que ganha mais” não estaria dando presente a altura da aniversariante... Achei um comentário, do meio, um tanto quanto maldoso, mas seria natural, principalmente quando se trata de pessoas da família que não têm o “sangue harmônico”; e minha esposa, minhas irmãs e irmãos ainda não sabem o sentido dessa palavra. Contudo sempre se harmonizam quando se trata do grande dia sete de setembro...

É disso que precisamos em família, harmonia, pois é um dos maiores núcleos fraternos ao qual temos conhecimento até hoje. Há vários institutos, várias organizações, mas a mais perfeita poderia ser a família. Digo poderia porque acredito que filosoficamente todos nós somos. Não há nada que nos possa frear no sentido de nos unir em sermos um núcleo idealístico, voltado ao bem como um todo.... Mas é sonho, quimera mesmo.

Não, não tem jeito. Hoje, em família, aproveitamos as diferenças básicas para nos distanciarmos um do outro; talvez porque somos família. Mas será que família, esse núcleo tão natural, nos dá essa abertura justamente por nascermos dentro dele? Poderia ser diferente, já que o temos como meio de nascimento, crescimento, amadurecimento e... Não, não é necessário morrer me família – mas não é diferente.

Em todas famílias, há uma abertura de desbravar o ódio humano, mas também o carinho em todos seus moldes. É ali, na família, que o laboratório se faz. Nascem demônios que se convertem em anjos, e anjos que se convertem em... Pois é, nada melhor do que um laboratório frio, ao mesmo tempo quente tal colo de mãe... Não poderia ser assim.

Todavia, não tem como não sê-lo. Geralmente mães e pais, moldados em educações arcaicas, sem o mínimo de organização que os transcende, criam filhos sob o manto de uma informação a qual chamam de educação. Levam filhos a acreditar que o mais importante é ser alguém – nesse momento, a falha é constante, pois queremos sempre que filhos sejam políticos, juizes, advogados... isto é, seres que ganham um bom salário, o que desconfigura uma sociedade que nasce com indivíduos em lugares que não tem a vocação.

Mas não é só isso, a competição vinda de irmãos, às vezes banalizada pelos genitores, ou apoiada em demasia por eles, destrói núcleo familiar, já de pronto. Não podemos, de forma alguma, ter o sentimento de competição num meio em que tudo foi unido por amor. Se tal sentimento persiste dentro da família é porque pais não sabem (ou não souberam) lidar com problemas advindos deles próprios. Sim... Os pais se tornam responsáveis, até determinada uma idade do filho, pelos problemas que deles partem.

Mas o núcleo familiar não se descreve de maneira tão gratuita e muito menos seus problemas, mesmo porque nos daria panos para manga... O mais importante é entender que, por ser um núcleo, devemos nos dar conta de que os pais são a semente que nos geraram. E nós, galhos, daremos folhas, prova de nosso amadurecimento, além de frutos, nossos filhos, os quais darão mais frutos, netos, e assim por diante, todos eles ligados àquela uma semente...

Todavia, nada mais importante dizer que, mesmo sendo frutos, folhas, galhos de uma mesma semente, cada membro passa por experiências diferentes, traçará seu caminho como lhe aprouver. Isso é, muitas vezes, inconcebido pelos genitores que, por acharem que são eternas sementes, são donos dos caminhos de todos seus frutos – ou seja, filhos.

Por termos raízes em nossos calcanhares, temos medo de dar nossos passos sozinhos, e sempre recorremos às sementes – pais --, que, com certeza, fazem bem o seu papel. Assim, reconhecidos como mais que pais, por sempre terem nos dado conselhos, sentem a grandeza de vigiar a cria, eternamente...

O núcleo familiar se desfaz e se faz em reuniões – churrascos, aniversários, enterros, visitas – e percorre longos caminhos na tentativa de lidar com ele mesmo. Pois, não direciona filhos ou filhas a caminhos independentes, pois o mundo nos ensinou que ser independente é errado; não traduz seu presente e se baseia em passados errados, e distorce realidades quando pais não buscam as verdadeiras raízes na tradição que tanto a formou.

Observando a natureza, vemos animais que jogam suas crias de cima da árvore, outros que se afastam dos filhotes, que choram, correm para a mãe, mas são afastados, em definitivo; outras vezes, aves que pulam de montanhas, e não estão nem aí se seus filhotes morrem ou não...

Claro, não somos animais. Temos sentimento. No entanto, repensemos o fato de o termos em excesso, pois podemos castrar todas as possibilidades de crescimento, amadurecimento de todos os filhos que nos são dados por Deus, o qual sempre buscamos, mas não para ficar dele dependente eterno, mas para nos dar coragem, força, e nos iluminar em nossos caminhos tão obscuros e estreitos. E é baseado nisso que os núcleos devem ser ligados ao sagrado – como toda tradição um dia foi.

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