quinta-feira, 26 de agosto de 2010

Fúria de Titãs... continuação.


Os labirintos são imensos para a compreensão dos mitos, no entanto não podemos deixar de citar alguns que, como contos de fada, nos atraem pela forma psico-histórica e pela relação evolutiva do universo; entre eles está a batalha dos Titãs – Hebe, os Gigantes, Tifão e Ofion --- entre outros, os quais enfrentaram Zeus, são figuras mitológicas, ainda que nos traspassem sentimentos semelhantes aos humanos.

Zeus, filho de Urano e Gaia, teve que matar seu pai em razão de um dia querer devorar todos seus filhos. Mas o filho maior conseguiu rebelar-se e soltar seus irmãos. Assim, Zeus tornou-se o maior de todos os deuses em razão da vitória desse embate, por fim sendo deus do Olimpo.

A batalha, a criação do todo, revela-se, como diria os cientistas de hoje, a manifestação da matéria, a dissolução do Caos – outro deus. E os Titãs nada mais são que elementos dessa matéria, potencialidades impessoais, sem sentimentos – paixão, instinto, ciúmes, como demonstram as histórias para as crianças, ou mesmo nos filmes. Mas Platão, na República, já avisava que antropomorfizar os deuses seria um tanto quanto perigoso ao mundo. Todos eles transbordam de significados míticos a fim de traspassarem o entendimento-terra do homem, por isso não temos base para montar em nossa psique a força de seu significado.

Será que é só isso?
Nossa cultura atual precisa se enriquecer no tocante a esses elementos simbólicos, nos quais o personagem representa uma peça chave para interpretação do mito. Isso, com certeza, nos resvalou das mãos em épocas negras, todavia, mitos semelhantes jamais perderam sua razão de ser. Apenas o modernismo transformou o que era fonte de inspiração para a compreensão divina em um materialismo psicológico, afundando as possibilidades de resgate – ou quase.

Mas como nos enriquecer?
Na realidade, a dificuldade em voltarmos à crença de que tudo pode ser divino está muito longe; pois há formas partidárias de pensamentos – além de ideias – religiosos, políticos, sociais, etc, nos quais o âmbito da questão com certeza se perderia. Seria dar cavalo de pau em um navio a centímetros de distância de um iceberg!

É, estamos prestes a virar comida de tubarões (a linguagem é metafórica, por favor!). Enfim, precisávamos de uma guinada – uma “revolucionada” – em nossos atos, pensamentos, tudo. Como se voltássemos para um ventre e dele saíssemos e começássemos a repensar nossos atos frente a nós mesmos. Pois esse é o trabalho do mito: não somente nos enriquecer culturalmente, desmistificando segredos divinos, mas principalmente os nossos.

É preciso entender porque aqueles seres mágicos, vivendo em sua época dourada, obedeciam aos deuses; pensar no porquê daqueles seres que pareciam escravos trabalhavam alegremente em nome de algo tão forte quanto nosso amor ao filho, construindo pirâmides, totens, etc..; precisamos retirar os óculos da vaidade, da matéria, do capitalismo doentio e rever nossos conceitos de espiritualidade. Precisamos entender porque todas essas sociedades, que um dia tinham que ir, viam o mito como uma fonte de inspiração na hora da guerra, da doença, da crença, da política...

Elas sabiam que o mito resguardava um pouco de tudo. Que os sábios sacerdotes ao elaborarem os mitos estavam não apenas construindo algo maior que o próprio homem, mas algo tão fértil quanto o próprio universo.

Volto no próximo texto...


Fúria de Titãs...


Em todas as culturas orientais e ocidentais, antes de Cristo, o simbolismo era muito enraigado quando o assunto era formação do universo. Contudo, não se podia revelar ipsis literis aos leigos os mistérios profundos de uma realidade a que jamais o homem poderia expor de maneira que fosse tão clara quanto o sol que vimos, todos os dias...

Mais do que isso, nessas culturas, o próprio homem e sua personalidade eram temas em contextos mitológicos nos quais, para aquela cultura, era tão normal quanto ir para a escola, ou mesmo se sentar em um banco da praça. Discutia-se, de forma intrínseca e ao mesmo tempo filosófica, quase científica, o simbolismo de tudo.

Quando se chegava ao homem, por mais que fossem especialistas – cientistas da época, filósofos, etc – não havia outra forma senão experimentar, na própria carne, a vivência do mito. Assim, tínhamos a educação propriamente dita.

E por falar em educação, os escravos – no caso grego – ensinavam filhos de militares a se comportar, a serem estrategistas, e a respeitarem as culturas, os mitos...enfim, não havia escola pública, nem privada, apenas o saber advindo daqueles que possuíam experiência para tanto. Assim, nasciam Julius Césares, Marcus Aurelius, Adrianus, sempre em meio a filósofos como Epíteto, um dos percussores do estoicismo, entre outros.

Depois que se criou o mito e seus simbolismos perfeitos – isso por volta de dez e quinze mil anos antes de Cristo, por iniciados, todas as explicações em torno do mundo se tornaram “fáceis” do ponto de vista grego, romano, egípcio, celta... Mas não do nosso ponto de vista. Tanto que, hoje, a palavra mito significa mentira, longe, e muito, do seu significado real.

O mito, como diziam, retratava, simbolicamente, uma realidade profunda. Não é um conto, uma lenda, nem mesmo uma história, embora muitos acreditam em finais felizes e, quando assistem a filmes americanos com o título “Fúria de Titãs”, acreditam que seja uma história contada com monstros, heróis, deuses, havendo, portanto, um final feliz – talvez haja, mas não é com esse intuito que o mito exista, mesmo assim esperamos.

Na História de determinadas civilizações, como a da própria Grécia, houve um processo mitológico por detrás da narrativa. Homero, grande historiador, conta em Ilíada e Odisseia dez anos de batalhas entre espartanos e gregos, nas quais deuses e heróis jamais vistos em nenhuma narrativa se fundem com uma realidade que fora o nascimento de uma grande civilização. Aqui, ficam dúvidas da existência da batalha, mas arqueólogos já encontraram vestígios do que fora a maior guerra de todos os tempos. Todavia, procuram ignorantemente os cientistas os fantasmas dos heróis, como o do grande Aquiles, o qual ganha notoriedade por suas características: grande, forte, belo, semideus e que confrontava as divindades da época como ninguém, além dos próprios inimigos.


Aquiles foi vencido pelo calcanhar. Quando pequeno, sua mãe o banhara no mar da imortalidade, pegando-o pequeno Aquiles pelos calcanhares, esquecendo de molhar estes. Assim, nasceu a sábia expressão “todos têm um calcanhar de Aquiles”. Razão porque o mito nos traduz algo maior e mais profundo, todavia, superficialmente, a fim de que possamos interpretar – vamos dizer assim – ao nosso dia a dia.

Assim como o mito de Aquiles, que morrera com uma flechada no calcanhar, apesar de sua enorme habilidade de guerreiro, temos outros mitos que nos retratam a alma humana, de maneira sutil e ao mesmo tempo indecifrável aos nossos olhos. Talvez por isso as más intenções na relação entre o que se vê e o que se compreende.

Mitos como o do labirinto no qual se resguardava o Minotauro, metade homem, metade touro. Nele, Teseu, o herói se inclina em matar a fera, levando consigo um novelo de linha para não se perder. Nesse mito, apesar de sua profundidade, conseguimos nos infiltrar e sentir que somos mais uma vez vistos como o próprio labirinto, e que a fera que nele mora são nossos instintos, ou em um nível universal a decadência do mundo.

Ainda no labirinto, o herói, nossos princípios, convicções referenciadas no sagrado, tenta por meio de um novelo, talvez a própria filosofia grega, encontrar o animal e destruí-lo; assim, como em uma prova iniciática, nossos instintos são domados – ou isolados de nossa esfera – e, aproveitando o novelo, saímos do labirinto, nos tornando jovens internamente, pois nossos valores são outros.



Volto já.



terça-feira, 17 de agosto de 2010

Sonhos destruídos, Dois.


Hoje, quem pode repensa o fato de trazer ao mundo uma criança; se não houver estrutura financeira, psicológica, adeus. Mesmo assim, ainda que havendo todos os meios necessários para se criá-la, temos o mundo como se fosse um dragão à espreita a jogar seu fogo na primeira hora em que sai da casa em busca de uma amizade, de um emprego, de uma pequena aventura. É como se criássemos um filhote de águia, porém o medo da grande raposa em devorá-lo ou transformá-lo numa outra raposa, nos fizesse ser vigias constante da cria.

Criou-se o medo de criar, cuidar, estender nossa linhagem. A razão disso talvez seja um Estado falho em segurança, educação etc, etc... por consequência os anti-heróis tomam conta de nossas ruas, na noite, no dia... A refletir nos becos, ou mesmo a céu aberto, o tráfico, a decadência da juventude em busca de aventuras e que terminam em cárceres privados ou em cemitérios.

Mas discutir as falhas de algo que é relativo, mesmo em proporções dantescas como nosso mundo, estado, sociedade, país... é como se pedíssemos para averiguar nossas próprias falhas, porque nos soa como se fôssemos omissos a tudo que criticamos. Contudo, quando criticamos, levamos pontos a serem analisados em uma sociedade quase cega que deve entender e se informar em relação a tudo, principalmente em relação ao próprio sistema, o democrático.

Levantar questionamentos acerca dele, começar a produzir efeitos pelos atos que podem ir de encontro a esse mal que nos corrompe em forma de falas e propagandas, leis... Propagandear o bom senso entre os jovens, leva-los uma realidade maior do que essa pela qual passamos, mostrar-lhes o valor de fazer o bem, dar-lhes a visão do bônus em acreditar em heróis reais, os quais um dia viveram em nossa terra como semideuses, com seus atos até hoje, de tão maravilhosos que foram e são, duvidosos.

A democracia, como um rio enlameado, no qual em quatro e quatro anos nos mostra as fezes de ratos dos ratos-humanos, surge como uma salvação para a escolha do bem, da “solução” aos cidadãos, que, em meio a má-educação, péssima saúde, péssimo tudo, graças ao hipócrita sistema, funciona como bomba genocida e, por mais que não vemos, inteligentíssima, pois nos faz acreditar que somos um povo, um governo e um país harmônicos.

Harmônicos não quer dizer tudo dentro de um mesmo saco. Muito pelo contrário. Cada qual cumpre (ou cumpriria) seu papel, dentro de sua natureza, dentro de sua necessidade, assim como o sol e o próprio homem. A grande esfera iluminando a todos independente da natureza das pessoas, animais, plantas e pedras, sem a escolha que se faz quando a natureza é humana. O sol não escolhe a quem iluminar, sempre cumprindo seu ciclo, sua natureza, sem pedir, sem férias, sem pagamentos extras, enfim, o que sempre esperamos de um grande ser.

E nós podemos sê-lo. Contudo, a raiz que conduz ao pensamento... “Temos que votar para que possam fazer algo por nós”... é uma raiz profunda de uma ignorância até mesmo infantil, a qual se alastra em tempos e tempos, de maneira que não podemos pensar em outra coisa senão em nós mesmos – essa é a razão de acreditarmos na democracia. O próprio interesse humano em se abster de seu papel idealizador, de fazer algo pelos outros, até mesmo pela natureza que o cerca, e acreditar que somos os comandantes, os generais do mundo, nos faz mais distantes de uma realidade pela qual utopicamente lutamos.

Ou pelo menos acreditamos que estamos lutando.
Os idealistas sumiram. Os homens de grande valia que queriam mudar o mundo estão sentados à beira da estrada, pegando carona, viajando pelo mundo. Não há mais força em suas palavras, pois soam como discursos falhos, cheios de democracia – retórica, enganos, demagogia, mentiras... – com algum interesse em se filiar a partidos, colocar uma gravata, ser nutrido dos grandes salários (serem corrompidos)!

A corrupção é como se fosse um lixo imenso só igualado aos grandes lixos do mundo, no qual pairam urubus, que somos nós, a beliscar o que nos deixam de pútrido às margens do mundo.

Assim, os sonhos se vão, em meio a disputas por uma presidência ou mesmo por uma representação de uma sala de aula. São a mesma coisa. Os dois visam um fim que não são de sua natureza.

Os sonhos estão sendo destruídos propositalmente. Por esconderem a face do caminho a ser percorrido, da mística, da divindade em nós, da real humanidade; os sonhos são perigosos, pois nos faz confrontar com os maiores sentimentos de amor e liberdade a que jamais vimos nesse mundo.

Os sonhos escondem a face de Deus. Nele vimos a dor e sorrimos; sentimos a paixão e nos despimos da escravidão – ao contrário do que nos ensinam e já nos embutiram na alma. Nele, o amor se sobrepõe, edifica, dá a glória ao idealista, e, em meio a feridas e guerras, continua-se a batalha, por mais difícil que seja.


Não deixemos de sonhar, nunca!






segunda-feira, 16 de agosto de 2010

Rastros de Amizade


Quando as amizades se vão, ficam rastros de sua beleza. Dos grandes encontros, dos grandes sorrisos, dos abraços no inicio e no fim da festa.

Quando as amizades se vão, ficam marcas de uma verdadeira paz no coração de quem cedeu a casa, ou o cantinho, para abrigar “aquela rapaziada” com quem sempre se pôde contar...

Quando as amizades se vão, as lágrimas batem no coração, e quando nele tocam, parecem larvas de vulcão presente a tanto tento inerte...

Quando as amizades se vão, a alma vai com eles, até suas casas, deixando um por um em seus portões, pedindo a Deus que os faça melhor do que são, todos os dias...

Quando as amizades se vão, não há dor, discórdia, guerras, batalhas infindáveis, mas a sensação de que não se foram, e que sempre estarão, ali, dialogando e dando o máximo de si para a alegria do anfitrião.

Quando as amizades se vão, não se vão. Ficam firmes, presos como ideais de juventude grega no espírito daquele lugar que os abrigou. Ficam marcas fortes de uma filosofia que não se vai, apenas está oculta aos nossos olhos e visíveis ao coração dos grandes homens.

Quando as amizades se vão, o sol se vai, e, como os amigos, deixa rastros de beleza no céu infinito. Deixa a saudade no céu, deixa as estrelas aparecerem, deixa outros astros se destacarem... Porém...

Quando os amigos se vão, deixam, como o sol, seus raios emprestados em outro ser, na lua, ou melhor, no grande céu da humanidade.

Quando os amigos se vão, a saudade fica, e a honra de ser amigo de cada um deles se fortifica.

Aos Amigos do Projeto Leônidas.

sexta-feira, 13 de agosto de 2010

Sonhos Destruídos


Houve uma época em que tínhamos referenciais e sabíamos distinguir o certo do errado, o verdadeiro do falso, o bem do mal. Hoje, com interesses sublevados ao extremo, até nossas escolhas estão em fase de depreciação, quer dizer, esse ser inato, está nos sendo retirado.

Não sei em que ponto histórico nos retiraram esse valor, pois já não nos fazia muito tempo em que poderíamos retirar déspotas, sair e ver o sol, sem as preocupações diárias; atualmente, nossas preocupações com o que nos colocam na mente e nos sonhos, nos faz frios e as vezes desumanos a ponto de nos retirar a beleza de realmente sermos humanos.

Mas o que mais me preocupa não é a falta de algo, realmente. Mas a notória estática de todos. Ou seja, estamos parados e indo ao encontro dos grandes interesses da mídia ventríloqua e à mercê dos conceitos inventados por ela; além da perda da hombridade e caráter, que se resvalam no fosso do nada...

Não há mais simplicidade do mundo, aonde quer que vamos. A simplicidade a que me refiro vem da determinação dos grandes homens que se perderam em construções bestiais, nas quais são retratados a intriga, a dor, o desespero, a pobreza no sentido personalístico, revelando nelas a má direção da inteligência.
Talvez esteja sendo simplista, mas nem mesmo a mais simples ponte tem o objetivo de fazer realmente o seu papel. Antes, porem, se fosse feita para o bem comum, no qual todos pudessem dela usufruir, de maneira que suas cordas, passarela, ornamentação, tudo que a transforma em algo realmente necessário pudesse ser o que é. No entanto, graças à política e seu jeito sujo de ser, temos que passar pela mesma ponte e dizer “quanto foi gasto?”, “E a Saúde, será ninguém consegue ver?” – enfim, rastros de ódio nos corrompem pelo simples fato de o próprio homem moderno ser um ser político...

Houve uma época em tínhamos o direito de questionar e receber as respostas de forma simbólica e ainda vivenciá-la, praticando com nossos gestos, tendo o próprio sagrado como referencial em nossas ricas vidas. Hoje, o que nos move, além do dinheiro suado, nada mais é do que a união de dois sexos, o coito, a força de duas pessoas desenvolvendo novos métodos de se satisfazerem fisicamente – é a chamada apologia sexual que degrada, em todas as esferas, a própria civilização... – isso em tudo que come, bebe, dorme, trabalha...

Muitos falam em apologia sexual, mas ainda não embutiram em suas vidas a seriedade da questão. O que se tem hoje nunca em época alguma houve tanto: pedofilia na família, nas ruas; pedofilia na internet, e em lugares jamais vistos, até mesmo na Igreja. Nunca nos despimos tanto de nossas responsabilidades sociais para assumir que somos homossexuais, lésbicas, e ao passo educar crianças num âmbito totalmente fora dos princípios humanos.

A Educação é outro ponto a salientar. Nunca houve tanta desinformação ou tanta informação inútil. Ainda sim, desvirtuação de conceitos como a própria educação o esta sendo. Antes, a educação nada mais era que mostrar a beleza interna e transferi-la externamente, ou seja, um processo que apenas poucos tinham a notoriedade de adquirir. Hoje, por mais que nos formamos em ótimas universidades, faculdades, somos totalmente informados.

A má educação força o próprio aluno a ser o professor, força o professor a ser o tirano, e este ainda ser o vilão. A má educação nos retira o bom comportamento, nos dá o desrespeito aos fatores históricos, e, mais, nos tira o direito de ser o que somos: humanos; a má educação nos faz transgredir normas, leis, princípios universais e dar o nome de liberdade. A educação não é algo que nos dão, mas algo que o próprio universo nos força a ter para a evolução nossa de cada dia.
Ontem, tínhamos aprendido que respeitar os mais velhos era um fator tão importante quanto a própria vida, pois nada melhor do que dar valor a quem nos direciona para a vida.

Hoje, nem os velhos, pelo menos a maioria, se dão respeito, porque buscam pouco a sabedoria ou não sabem o que e isso – a religião os corrompeu, os retirou a luz da experiência, deu-lhes pessoas mais novas que se julgam pastores e que sabem da velha vida tanto quanto aqueles cuja sabedoria era inata.

A religião era um fator decisivo. Nela se encontrava Deus. Hoje, tortuosamente, encontramos diferenças que são usadas com intuito de enlarguecer mais a distancia entre os homens. A realidade de um passado em que a religião nos aproximava de Deus e dos seres humanos se foi e não tem data para voltar.

A religião, hoje, é apenas uma palavra que desmistifica os sentidos, os valores; que gera dúvidas e que assassina os mais simples de coração. Com a filosofia de levar ao céu pelo espírito santo mal compreendido os ignorantes, que sequer questionam a origem da vida, a Igreja consegue transformar a religião em ponte para o obscuro em nome de um Deus inventado há muito, graças ao obscurantismo da Idade Media.

Outras pontes são criadas, todos os dias, não para unir, senão para distanciar a todos os homens, por isso tão quebradiças que são.

Volto em outro texto.

terça-feira, 10 de agosto de 2010

A Bruxa de Cada Um


Ela se faz ao nascer o individuo. Cheia de opiniões abstratas acerca do que não existe na realidade, cerrado em comportamentos, modos e educações, como uma lareira quente no frio a esquentar a eterna face oculta de nossa alma, tão perdida e ao mesmo tempo tão voltada ao sagrado, o qual, graças às opiniões, também se perde em meio a bocas, corações e mentes, voltadas à persona – essa máscara que se tornara inviolável com o tempo...

Ela se faz no andado estranho rumo ao deserto da vida, com um vento de cem noz, que nos faz perder o rumo, a consciência, às vezes, nos cegando em pleno sol. E no meio desse deserto calamitoso, o medo se faz em forma de dor, desespero, pânico rumo ao desconhecido...

Ela se faz na pressa. Ao passar por cima dos valores mais humanos, nos faz esquecer quem somos, e para onde vamos. Nos faz perder o referencial a que tanto temos direito e ao passo obrigação seguir. Ela não é má nem boa, apenas existe com a pretensão de nos ver em meio a essa caminha e ao mesmo tempo julgar o próximo e culpá-lo pelos nossos erros.

Ela é mãe da discórdia, da desumanidade, da instabilidade emocional, espiritual. Desfalece nossos sonhos, nos faz esquecer de nossos pequenos e bons ideais – isso pela raiz – mesmo porque não interessa a ela assistir de camarote a um dos seus escravos arrebentar as correntes que nele foram colocadas desde a tenra idade – desde o dia em que nasceu...

Ela nos faz dormir o sono da preguiça. Não nos levantar mais. Nos faz sonhar com o nada e dele nos impregnar de sorrisos apenas porque é bom sorrir – não porque temos algo com o que sorrir. Para ela, a glória é um sinal de derrota. Seja qual for a vitória de um de seus escravos – seja materialmente, seja emocionalmente, porque não se pode dar linha a quem sonha, a quem precisa indagar acerca da vida, de tudo... Seria perigoso demais deixar alguém descobrir que tudo não passa de uma porta de papel... E rasgá-la com o tempo.

O tempo é amigo dela; e inimigo nosso. Tudo corre em favor dela, de seus sonhos macabros em exterminar os nossos: arrebentar as correntes internas, a que nos seguram no minuto em que pensamos por nós mesmos, que nós doem a alma tão violentamente quando enxergamos a luz do grande caminho a que devemos seguir.

Ela se enraivece quando buscamos a verdade. Quando descobrimos que somos parte de veias universais e que nossas vidas são digitais divinas em meio a outras digitais, que, em seu conjunto, revelam-se em mistérios tão grandes quanto o próprio universo.

Muitos se sacrificaram, deram suas vidas, apesar do comprometimento com família, amigos... Mas sabiam que o ideal em buscar desvendar os mistérios divinos nada mais é que comprometer-se com a humanidade.

Todavia, o racionalismo científico nos tirou da meta maior e deu a ela mais força de amplidão, tornando-se simplista em seus exemplos, sempre em explicações materiais, que deram, até hoje, uma fortaleza quase que inexpugnável aos seus valores de argila.

Enfim, ela está em nós, em forma de cansaço, de medo, de piadas retrogradas, de histórias mentirosas de heróis idem. Ela está em nós em forma de roupas, falas, modos, vivência, educação... Tudo isso de forma velada, sem que percebamos. E o dia em que percebemos, ela sempre consegue nos driblar ficando do nosso lado, não sendo companheira, mas traiçoeira com a pior das finalidades... A de nos parar rumo à verdade e nos dar uma formatada para que não busquemos mais nada e durmamos sorrindo achando que a vencemos...


sexta-feira, 6 de agosto de 2010

Meu Guri

(Ao filho que um dia será pai)
Colher frutos fresquinhos de uma horta, levá-los à mesa, e ter medo até de ingeri-los de tão belos que são. Olhar para o sol, sentir aquele fulgor interno de seus raios, criando ladrilhos dourados em seu coração... Ver o mar pela primeira vez, sentir aquele susto maravilhoso, como se a alma saísse e voltasse em questão de segundos... Apenas porque não se sabe de onde vem tanta água... Receber uma brisa pura no rosto, o odor da terra molhada no nariz, a água no corpo, depois de um dia suado...

E ainda vencer a partida mais difícil de algo; colher o sorriso da criatura mais ranzinza depois de anos de tentativa... Receber o amor divino, a consecução espiritual, a realização de uma obra, o concretizar de um objetivo... Nada, nada é tão belo quando o dom de ser pai pela primeira vez. Nem mesmo uma bela manhã de domingo...

Nada substitui a experiência em ver nascer o filho, cheio do sangue, do choro, da alma puros. Nada se contrapõe ao pegá-lo no colo, após o parto – ainda que desajeitado, em braços mais ossos que músculos...

Nada substitui o sorriso da chegada, o choro da partida. O grito de mentirinha, o choro de verdade... A alegria da união, a tristeza natural... Sei que a vida vai me nutrir dessas imagens durante muito tempo, e sei que outras surgiram. Contudo, o primeiro momento em que se vê uma criança a bater o pezinho no útero como se quisesse voar para vida afora, é misterioso.

Tudo isso será infinito como uma obra clássica, em minha alma. Pois nunca, nem mesmo no post-mortem, eu me esquecerei.


O Êxito do Nada


Poderia dizer muitas coisas, mas seriam apenas opiniões. Assim, não teriam sentido. Seriam apenas palavras ao vento baseadas em premissas sem lastro, definidas apenas como opiniões... E no decorrer de minhas premissas, sem particularidades, apenas como pedras a estreitar mais a compreensão, linhas se formariam, parágrafos se tornariam crianças a desenvolver-se num ritual lúdico... Não, não vou me dar o trabalho de dizer algo.


Poderia criar mais de um parágrafo, afinado com as circunstâncias, com meus problemas internos, com a dor do mundo, com o filosofar do universo. E nele criaria sugestões que, se não bem colocadas, criar-me-iam inimigos, e, de acordo com minha capacidade em não criá-los, desistiria. Por isso, desisto...


Não. Não tenho razão em alimentar fantasmas que se unem em festas dentro de almas, se alojam no epicentro do nada e criam o tudo, como um átomo em ebulição em meio a seu próprio universo de átomos, que geram mais e mais nadas. Por isso, mais palavras ao vento eu jogaria...

Nada melhor do que sentir-se sozinho, junto de seus pensamentos. Calmo. Ameno. Sem pensar em qualquer coisa que cause espanto, admiração, espasmo, susto... Confusão. Nada melhor do que discorrer sozinho, sem pretensões interesseiras em forma de palavras frias, sem rumo. Nossos caminhos merecem mais que isso. Merecem ladrilhos de ouro, ornamentados e pratas em seu meio fio... Palavras maltratam, nos fazem fugir do assunto, desmistificam a realidade...


E assim, consigo, com meu peito cheio de orgulho, dizer que escrever nada mais é que criar a dor em linhas; por isso, não escrevo. Nem quero fazer em breves espaços mentirosos como em paginas em branco, como nossa mente. Seriam incongruências, falácias, e além de tudo, prolixo, ímprobo de minha parte – como um escritor, que não sou – tentar enganar-me na feitura de estruturas subliminares e em suas entrelinhas ser o que não sou.


Poderia fechar meus pensamentos em um texto, e dizer que nele nada faria, apenas ficar calado, propenso a silenciar-me nas palavras, enganosos símbolos, as quais nos fazem nos debruçar ante nossa própria incoerência de ser o que não somos, até o fim de nossos dias – verdadeiros, perante nos mesmos.


Regis :O)

segunda-feira, 2 de agosto de 2010

A Sexta (30) de Pão e Vinho.


Tudo se transforma com o tempo. Não há mais o que dizer. Apenas lembrar que nos movemos pelas sementes que plantamos no passado, colhemos frutos no presente, e arrancamos arvores no futuro. Plantei, colhi e estou quase derrubando árvores que estão me dando frutos difíceis, muito difíceis...


Estou falando de meu filho. Hoje, recebi uma noticia de que ele irá para uma creche daqui a uma semana. Meses atrás, fomos a uma dessas creches governamentais – nas quais não se paga pelo serviço ótimo das pessoas que lá trabalham com crianças – e, com o coração forte, fiz a ficha em nome da minha esposa, que, hoje, sexta-feira, 30, beirando agosto, recebeu um telefonema seis meses depois de espera. Isso após ter comentado a meia hora acerca de uma creche para o filho. E fomos vê-la... E aparentemente tudo está quase acertado.


Estou triste e ao mesmo tempo feliz. Feliz pelo fato de que meu filho vai realmente se socializar – brincar com outras crianças, ser cuidado por terceiros, ser amado de novo... Ali, ele vai ser um pequeno grande homem que sentirá as angústias, medo, dor... Mas não ira dizer, mesmo porque não poderá dizer... Apenas chorar.


Na creche, seus olhos não serão os mesmos, sua feição será mudada, seu comportamento se modificará, enfim, meu querido filho, graças à socialização, caminhará ao encontro de um mundo que se resguarda a ele, desde o dia em que nasceu.


Mas, em casa, eu e minha esposa teremos o frio em época de calor, teremos a dor sem feridas, choraremos até não haver mais lugares para se chorar... Vai ser duro. Meus olhos, presos a essa face reta, agora são apenas pupilas em busca de uma solução menos dolorosa, que não acreditam ainda no que esta acontecendo, não acreditam no mundo, não acreditam nas pessoas... E que, agora, terá que confiar...


Minha esposa, que não chora há anos, deixou-se avermelhar antes mesmo de realizar a inscrição na creche. Polemizou , falou, pisou, se enraiveceu... Mas no fundo criou expectativas, sorriu e até me convenceu de que tudo aquilo, apesar do mundo simples que era, apesar da humildade que transparecia naquele lugar, apesar de pensar torto... Poderia ser aceito, graças às nossas conversas.


Não sei se realmente aceitamos. Pedro, filho nosso, nosso único filho, cuidado por uma babá incrível – beirando à perfeição --, há mais de um ano de seis meses, não se encaixava bem em um agrupamento de cinco pessoas – pois chorava; tinha (tem) ciúmes, cai ao chão por manha, grita alto para chamar a atenção... E não consegue sair de nossas vidas, até a meia noite – pois esta super ocupado em assistir a eeseetao (Lase Tow)! Programa em que há um grande herói a sobrevoar uma pequena cidade onde moram quatro crianças, um prefeito engraçado, uma senhora educada (e pirada) e uma criança de verdade chamada Stefane.

Do alto, o personagem “Sportacus” – não Espartacus – sai voando de seu dirigível ao socorro dos seus amigos que aprontam todas, mas que são atrapalhadas pelo melhor personagem do seriado, Roki Robins, o vilão mais magro e feio depois do Dik Vigarista – o patrão do Mutler, o cachorro da risadinha, lembra-se?


Assim, Pedro, com seus olhinhos dando risadas no fim da noite, dorme no sofá ao lado da mamãe. E eu, sorrindo ao lado dos dois, Pedro e esposa, vai, como um pai babão, a acordá-los para dormir, acreditam?


Pedro vai dar os primeiros passos em uma grande experiência daqui pra frente, assim como seus pais, que, durante dois anos se acostumaram com o pequeno Pepe acordando e correndo para a TV, sentando pedindo uco (suco...), como ele sempre fala ao pedir o insubstituível suco de laranja... Serio! ou ficar pedindo “ami” (almoço), açan (maçã), ananan (banana)... além de folhear seus pequenos livros, jogando-os ao chão após a “leitura”. E muitas peraltices...

Esse e o Filhao..
Daqui pra frente, acordará com a mamãe aos seus ouvido dizendo “Amor da mamaaaaeee! Acorda!”. Isso até que se acostume com sua grande jornada pequena aos olhos do publico, mas tão importante a nós quanto à primeira viagem a lua...


Daqui pra frente, como diz aquela musica, “tudo vai mudar”. Será tudo isso apenas uma pequena trilha que nos dará consciência de que outras trilhas virão, e que, no entanto, uma só devera ser trilhada?


Pode apostar que sim.


Regis ao Pepe.

A Parte que nos Falta

"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....