domingo, 2 de setembro de 2012

A Solidão de um Texto


Imagem conhecida nas redes sociais.
 Poderia ser real.

Eu sou um texto. Normalmente eu venho das mentes humanas mais discursivas, racionais e, normalmente, mais poéticas-emocionais, em forma de poemas ou poesias, os quais refletem o âmago, o universo, o cosmo interior dos homens, ou antes de tudo o poço, o rascunho, a hediondez daqueles que morrem em vida.
Mas não deixo de ser texto, às vezes discursivo, narrativo, descritivo ou na maioria das vezes opinoso, que se veste de drama, invenções suprarrealistas, advindas de uma realidade fria, falha, e fina... Coberta de um sentimento falso. Mesmo assim, não deixo de ser esse mundo no qual letras, vogais e consoantes, se unem e formam silabas. Destas que se unem, formam-se palavras, e destas eu formo linhas que transformam em orações, e não tardam em virar períodos.
Queria falar destes seres que me constroem – períodos --, eles são belos por excelência. Lembram-me no inicio, quando os sumérios e suas cuneiformes escritas tentavam passar aos homens, através de mim, uma linguagem simples... serio! Na realidade, a simplicidade não havia, apenas na mente dos sacerdotes, dos reis, e mais tarde, na escrita sagrada dos iniciados, semelhante aos egípcios.
O período se iniciou e não tardou para surgirem os textos – olha eu ai! --  sagrados, mas eram tão sagrados que, nem se existissem faraós atualmente, teriam a capacidade de interpretá-los, apenas os antigos.
Mas não foram apenas os textos sagrados que ficaram restritos não. Houve uma época na qual o latin, advindo do Lácio, terra que virou colônia de Roma muito tempo depois, se tornou a raiz de várias línguas latinas (ou seja, latin), e, em uma outra época mais remota, muitos homens fizeram vários textos fechados com finalidades interesseiras, o que tardou a muitos compreenderem o que se passava ali, ao seu lado... Até hoje.
E ainda hoje, magistrados – doutores em Direito – usam dessa artimanha com outros propósitos, o de abreviar expressões que, em português ou espanhol, argentino são longuíssimas etc, mas também – ou melhor, com mais desejo, de imperar aquele sentimento de reis, sacerdotes, sei lá...
Mas eu, como texto, sou apenas um tradutor. Traduzi por muito tempo o sentimento de amor dos grandes amantes, que chegavam às damas, pelas mãos de um cavalheiro, que corria feito louco apenas para satisfazer a alma da amada; era extremamente belo... Hoje, se aparece um papel – não papiro como antes – cheio de letras escritas à caneta, rasga-se sem saber o conteúdo, pois o que vale, agora, são caracteres expressos em tela de computador, de maneira que nem eu sei se são ou não linhas, frases, períodos... o que revela não apenas a dificuldade de expressar o que há nos humanos, mas rapidez como o mundo está se transformando em um planetas de seres iletrados (sem letras), não românticos, pois é preciso amor nas palavras, no coração, e coragem para dizer “te amo” com todas as suas sinonímias.

Hoje, t. amo. T. q-ro; uma forma frágil e ignóbil de revelar o que se tem no fundo de uma alma que se prepara para ressaltar todos arquétipos internos, mas, graças à instituição criada pelos humanos com finalidades de castrar sentimentos, e fazer apologias ao que correram os homens de bem, nada mais se faz... Ou pior que isso, revela-se naturalmente uma característica que não nascera com o homem, contudo encarnou-se nele após o advento da sinceridade netiana (rede sociais), que é ser o um ignorante nas palavras, escritas ou orais, como se fosse algo tão normal quanto andar...
Eu não ando. Mas vejo que estou desaparecendo com o tempo. As palavras que enganam estão surgindo da boca de milhares, e ganham mais textos; é o chamado neologismo forçado, pois encantam, com pirotecnias verbais, não com finalidades sagradas – longe disso – mas para criar grupos que se viram sem gramáticas, sem leituras, apenas com o que tem nas idéias... O perigo vem daí.
E quando se falam em livros? É trazer à tona fantasmas de épocas nas quais Machado de Assis, Álvares de Azevedo e outros clássicos são vistos como criaturas estranhas ou monstruosas, a depender a quem se fala, pois estaremos espantando ou criando inimigos – ou pior, dando uma de intelectuais!
Os livros são pensamentos humanos, e muito mais que isso, são experiências pelas quais se passa um ser, ou muito mais. Podemos dizer que livros são o baú das culturas clássicas, modernas e atemporais. E, racionalmente, posso dizer, como diria um humano, um universo de períodos concatenados com ideais naturais e singulares de se compreender, por meio de letras, silabas, palavras, frases, períodos, e muito amor.

Eu sou um texto. Eu meu objetivo era transpassar o que antes tentavam os antigos homens. Seria, no mínimo, revelar os segredos de uma época com vistas ao respeito de cada sociedade, cultura, ou mais provavelmente, de cada homem. Não vejo mais isso... O povo, agora latões de depósitos criados com o tempo, tem a sua educação em particular,  tem a gíria, tem a linguagem de internet, tem os pequenos símbolos ao lado do computador como forma de dizer o que está se passando em corações e mentes – com pequenos corações, com travessões, dois pontos -- , enfim, não temos muita coisa, não temos nada... Temos apenas a frialdade inorgânica do ser humano como símbolos disfarçados de tudo, até de texto.



Uma imagem vale por muitas palavras. Uma palavra, por milhares de armas.

Nenhum comentário:

Postar um comentário

A Parte que nos Falta

"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....