terça-feira, 18 de setembro de 2012

Cavalgando com o mestre (II)


Marco Aurélio: "Compete a você!"


Como foi dito no texto anterior, Marco Aurélio escrevia suas meditações em meio a batalhas, assim como se nestivesse a escrever um diário de modo normal, semelhante a outros que se criam com a finalidade de segredar seus afazeres em poucas ou muitas linhas, sempre com datas, dia, lugar, mas não era não um diário... Eram pensamentos, meditações!
Seus pensamentos, que partiam de premissas estoicas, foram se delineando e tomando espaço à medida que se iam crescendo. Já que o mestre era partidário de uma escola cujo ensinamento era voltar ao que o velho Sócrates ensinava, não deixou por menos o que dela entendera.
Sabia o imperador que todas as dúvidas relativas ao estoicismo vinham da compreensão do modo simples, do viver natural do homem, o qual tinha (tem) dificuldades em trazer ao seu mundo pequenos valores advindos de seu Eu, portanto, Marco Aurélio, o fez da melhor maneira possível: na prática diária, ou melhor, nas batalhas diárias, que, por sua natureza, iam de encontro ao que o homem chama de paz, harmonia, integração, mas o imperador, ao saber disso, trouxe-nos o grande ensinamento de que fica melhor ensinar na presença de problemas, do que na ausência deles.

Um pouco do grande Ensinamento

“Desde o raiar do dia, dia a você mesmo: hoje vou encontrar um intrometido, um ingrato, um insolente, um mentiroso, um intrigante e um grosseirão. A ignorância da natureza do bem e do mal fez deles o que são. Mas eu sei que o bem é por natureza belo e mal, horrendo, e sei que estes que erram são por natureza meus irmãos, não de sangue, mas por serem todos dotados de razão, e participarem do divino” (Escrito entre os Quadi no Rio Gran)...
Todas as vezes que leio esse pedaço de capítulo, tento sobreviver a pessoas que vivem somente para o mal (ou menos que isso, claro). Dessas que nunca dizem “bom dia!”, ou mesmo “tchau, até amanhã”, mas principalmente dessas que burlam sua personalidade pacifica ao ponto de deixar-nos com o pior aspecto astral desde a hora em que chega a algum lugar até o fim de sua presença no dia...
Ao ler,  reflito acerca dessas pessoas, tento não pensar em Hitler ou Mussoline – ditadores-homicidas da história que deixaram rastros de dor e  que até hoje ao serem lembrados nos dão a impressão de que ainda podemos ser assombrados pelos resquícios de seus pseudoensinamentos que, com o tempo, ganham mais adeptos.
Sei também que somos pacíficos de sê-los, não da maneira como foram. Podemos sê-lo na negação consciente ao próximo, no destruir de uma amizade, de uma família... Enfim, o que um dia nos parece impossível, mas que, mais tarde, pode vir a ser tão natural quanto o ar que respiramos.  Não podemos deixar a tanto.
Por isso, penso nessa máxima estoica como mais um tijolo, não como um referencial, para montar uma estrutura maior que eu, dentro de minhas possibilidades. E sei o quando é difícil, mas Marco Aurélio sabia e dava aos seu soldados a batalha, e nela a possibilidade de ter um ideal, podendo o soldado morrer como um simples ser humano, ou um herói. Porém, sabemos que, no estoicismo, herói somente seria aquele que vence a si mesmo. Podemos ser heróis que nascem com a alma elevada, ou procura sê-lo,  ou simplesmente um  humano a reclamar da vida, das pessoas, da sociedade, do mundo...
Então, “desde o raiar do dia”, tentemos, como nossas ferramentas, lidar com pequenos seres que tentam exterminar nossas possibilidades de crescimento, pois sem eles, não haveria a contrapartida do universo – pois nem todos os seres são maus, ou mesmo totalmente bons. Marco Aurélio nos convida a nos harmonizar não somente com as coisas belas, mas principalmente com valores que fazem parte da esfera humana, ou seja, com pessoas que tem a índole separatista, egoísta, interesseira, mas que fazem parte do todo também, e que sem elas não podemos nem tentar ser que queremos ser... um pouco divinos.

(volto com mais pensamentos)


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