O Sol que nos falta brilhar
Hoje, ao me levantar, procurei Artur em mim, esse rei que se
alimenta de nossos ideais. Mas não o encontrei. As damas de Avalon o tinham
levado, em uma barca imensa, com seu peito ferido da batalha que havia travado
com seu oposto, o filho bastardo com sua irmã, Morgana. Porém, antes de procurá-lo,
pensei em uma frase de um mestre que há muito fez parte de minha vida, e que só
hoje, nesse tenro acordar, tive a grande oportunidade de entender o que me
dizia, há mais de quinze anos... “Se procuras Deus, mas já o tem em suas
possibilidades, não precisa procura-Lo, pois já o tens por completo”.
Eu procurei Artur, não o tinha visto ante ao meu caminhar
claudicante da manhã, mas ao me lembrar do que o mestre havia dito, lembrei-me,
mesmo não “vendo” em sua forma mítica; eu já o tinha... E por isso, relembrei
de minhas tentativas vãs de lidar com as pessoas, de me assentar a
personalidade vazia, com o propósito final de ser um pouco melhor, todos os
dias. Por que isso?
Era Artur a bater na porta de minha Alma, a bela Guinevere, a
qual tinha se ido após se apaixonar por Lancelot, o cavaleiro que nascera para
ser apenas o salvaguarda do Rei, mas que representa em mim a vontade, com sua
espada, Excalibur, por meio de meus atos, antes esquecidos, mas agora
lembrados, em função dessa busca, enraizada em preceitos clássicos... A
melhorar um pouco como humano. Não como Deus.
Contudo, em razão das intempéries e das turbulências que
encontramos com fins de provocar Guinevere, Lancelot fica abalado, se distrai e
não tem, por segundos preciosos, a visão de Artur, o qual o aguarda em seu
trono dourado. Ali, ao seu lado o graal, a potencialidade maior do homem que
chegou ao cume da maior montanha que se pudera alcançar; ali, com sua simples
borda, cheia de água pura, com sua astralidade divina, a taça que passara pelos
mestres, irradia a fé na terra, nos homens, nos ciclos.
O graal, por assim dizer, deve sempre estar ao lado do
homem-consciência, daquele que alcançara o número cinco, ou seja, que
tangenciou todas as formas de natureza do homem comum e alcançou o mistério
maior, e dele vive. Nada mais belo que isso.
O UM
Sabemos que o universo é um, que todas as formas atômicas,
quando descobertas, têm sempre uma finalidade, a de completar a próxima. Sabe-se
que não há qualquer forma que não esteja fora dele, do Uno, nem mesmo a mais
complexa, pois seria falar de um corpo cuja natureza não tivesse algo com
qualquer membro interno ou externo.
E o Universo, como um corpo, precisa se comunicar com o seu
centro, com vistas a equilibrar seus “órgãos”, como uma regência imensa, no
meio do nada, incriada, perfeita, que, por meio de nossos olhos, se passam, mas
se escondem quando devem se esconder. O que não significa que não existe.
O centro do nosso universo é Artur. Sem ele não há equilíbrio,
não há harmonia, nem o porquê de nossas estruturas sejam elas físicas ou
emocionais de viverem. Por ele deve-se viver, falar, sonhar, ainda que nossa
vontade esteja com seus sonhos corrompidos por Guinevere, que se apaixonou pelo
efêmero.
Ela, ainda que leve tempo, irá acordar no meio daquela selva,
juntamente com Lancelot, entenderá que a espada ainda corta, é implacável, e
ainda sustenta o sangue das antigas batalhas travadas em nome do belo, bom,
justo e verdadeiro, e por isso teremos a esperança de que ela irá atrás de
Artur no momento certo, o qual acordará e dirá “A humanidade agora está pronta
pra mim”.
Levará tempo. Muito tempo. Mas Artur estará tão concreto em
nós quanto o sol que nos ilumina todos os dias.
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