sexta-feira, 4 de dezembro de 2015

Artur. O Mito que Chama (fim)


O Sol que nos falta brilhar



Hoje, ao me levantar, procurei Artur em mim, esse rei que se alimenta de nossos ideais. Mas não o encontrei. As damas de Avalon o tinham levado, em uma barca imensa, com seu peito ferido da batalha que havia travado com seu oposto, o filho bastardo com sua irmã, Morgana. Porém, antes de procurá-lo, pensei em uma frase de um mestre que há muito fez parte de minha vida, e que só hoje, nesse tenro acordar, tive a grande oportunidade de entender o que me dizia, há mais de quinze anos... “Se procuras Deus, mas já o tem em suas possibilidades, não precisa procura-Lo, pois já o tens por completo”.

Eu procurei Artur, não o tinha visto ante ao meu caminhar claudicante da manhã, mas ao me lembrar do que o mestre havia dito, lembrei-me, mesmo não “vendo” em sua forma mítica; eu já o tinha... E por isso, relembrei de minhas tentativas vãs de lidar com as pessoas, de me assentar a personalidade vazia, com o propósito final de ser um pouco melhor, todos os dias. Por que isso?

Era Artur a bater na porta de minha Alma, a bela Guinevere, a qual tinha se ido após se apaixonar por Lancelot, o cavaleiro que nascera para ser apenas o salvaguarda do Rei, mas que representa em mim a vontade, com sua espada, Excalibur, por meio de meus atos, antes esquecidos, mas agora lembrados, em função dessa busca, enraizada em preceitos clássicos... A melhorar um pouco como humano. Não como Deus.

Contudo, em razão das intempéries e das turbulências que encontramos com fins de provocar Guinevere, Lancelot fica abalado, se distrai e não tem, por segundos preciosos, a visão de Artur, o qual o aguarda em seu trono dourado. Ali, ao seu lado o graal, a potencialidade maior do homem que chegou ao cume da maior montanha que se pudera alcançar; ali, com sua simples borda, cheia de água pura, com sua astralidade divina, a taça que passara pelos mestres, irradia a fé na terra, nos homens, nos ciclos.

O graal, por assim dizer, deve sempre estar ao lado do homem-consciência, daquele que alcançara o número cinco, ou seja, que tangenciou todas as formas de natureza do homem comum e alcançou o mistério maior, e dele vive. Nada mais belo que isso.

O UM



Sabemos que o universo é um, que todas as formas atômicas, quando descobertas, têm sempre uma finalidade, a de completar a próxima. Sabe-se que não há qualquer forma que não esteja fora dele, do Uno, nem mesmo a mais complexa, pois seria falar de um corpo cuja natureza não tivesse algo com qualquer membro interno ou externo.

E o Universo, como um corpo, precisa se comunicar com o seu centro, com vistas a equilibrar seus “órgãos”, como uma regência imensa, no meio do nada, incriada, perfeita, que, por meio de nossos olhos, se passam, mas se escondem quando devem se esconder. O que não significa que não existe.

O centro do nosso universo é Artur. Sem ele não há equilíbrio, não há harmonia, nem o porquê de nossas estruturas sejam elas físicas ou emocionais de viverem. Por ele deve-se viver, falar, sonhar, ainda que nossa vontade esteja com seus sonhos corrompidos por Guinevere, que se apaixonou pelo efêmero.

Ela, ainda que leve tempo, irá acordar no meio daquela selva, juntamente com Lancelot, entenderá que a espada ainda corta, é implacável, e ainda sustenta o sangue das antigas batalhas travadas em nome do belo, bom, justo e verdadeiro, e por isso teremos a esperança de que ela irá atrás de Artur no momento certo, o qual acordará e dirá “A humanidade agora está pronta pra mim”.

Levará tempo. Muito tempo. Mas Artur estará tão concreto em nós quanto o sol que nos ilumina todos os dias.


Nenhum comentário:

Postar um comentário

A Parte que nos Falta

"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....