quinta-feira, 3 de dezembro de 2015

O Monstro


“Ainda que eu ande pelo vale da sombra da morte...” (Bíblia)
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Queria falar de um monstro que vive a nos mastigar diariamente. Um desses demônios que nos assombram em horas vãs, nas quais precisamos meditar acerca do que somos; preciso falar dele, desse ser grandioso (no sentido mais franco da palavra), ao mesmo tempo belo e terrível, e tentar não elucubrar, mas ser explícito, no sentido mais moral do meu ser.

Falar de um monstro do qual Marcus Aurelius, o grande general romano, além de Epíteto, o qual, apesar de ser um escravo, sempre se lançou ao fogo em nome de sua grande moral, ética, entre outros valores universais, que retiraram o sumo natural da vida, sempre com vistas a dominar esse dragão imperdoável, esse ser vil, que nos afasta de nossos mais intensos ideais.

Não é raro ouvir ou mesmo falar, sentir, cogitar, sussurrar acerca dele, mesmo porque não vivemos sem ele, não seremos quase nada sem ele – esse dono dos infernos, das larvas que nos queimam, do desamor que corrompe, do fogo mal que faz cinzas... – não. Todavia, não temos que nos livrar dele, como diria um velho sábio, temos que nos envolver, sentir a simpatia hipócrita de seus olhos, deixar que nos mastigue e depois aprender com ele...

Não falo do dragão e dos seus elementos intrínsecos, dos quais água, terra, ar e fogo se encontram unidos, presos como vela ao fogo, mão e luva, os quais nos ensinam que olhar para sua face maldosa nada mais é que uma necessidade e, ao passo, impiedade. Falo de um real monstro, nada mais, preso ao nosso físico como um habitante sem fuga, sem janelas para olhar o sol; um demônio que se satisfaz com nossa fraqueza ante a matéria, ao amor mentiroso, às paixões que se formam do nada... a nossa ilusão.

Não falo de algo visível, palpável, reconhecível... Por isso, essas metáforas lúdicas, míticas, na maioria das vezes, perceptíveis como uma estrela no céu a esse ser enganoso, manhoso, ao ponto de nos ludibriar com sua voz e comportamento, fazendo-nos culpados pelos atos pós-raciocínio...

No fundo, no entanto, reconhecidamente, somos culpados, pois não conseguimos afastar jamais esse ser incriado e fadado a nos irritar até o fim de nossas vidas. Um ser que nos faz assassinos e anjos, papas e hitleres, deuses e demônios, sem que possamos adivinhar, sequer, o porquê de tanta maldade... Da sua finalidade, entretanto, sabemos.

Segundo a sabedoria tradicional, nascemos com finalidades de evolução interna, crescemos com essa certeza, que mais tarde serão dúvidas, e morremos sem entender a natureza dessa vinda e ida natural, pelo simples fato de tentar entender esse monstro vil, que se aplacou em nosso mundo: chamam os sábios, a tudo que não é espírito, de personalidade. Então chamamos e esse monstro de personalidade. Ou máscara, como diriam os gregos.

E dessa máscara, após terminarmos nossas teorias acerca do mito arturiano, sob prismas psicológicos, vamos sobre ela falar...

 

 

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