“Ainda que eu ande pelo vale da
sombra da morte...” (Bíblia)
Queria falar de um monstro que
vive a nos mastigar diariamente. Um desses demônios que nos assombram em horas
vãs, nas quais precisamos meditar acerca do que somos; preciso falar dele,
desse ser grandioso (no sentido mais franco da palavra), ao mesmo tempo belo e
terrível, e tentar não elucubrar, mas ser explícito, no sentido mais moral do
meu ser.
Falar de um monstro do qual Marcus
Aurelius, o grande general romano, além de Epíteto, o qual, apesar de ser um
escravo, sempre se lançou ao fogo em nome de sua grande moral, ética, entre
outros valores universais, que retiraram o sumo natural da vida, sempre com
vistas a dominar esse dragão imperdoável, esse ser vil, que nos afasta de
nossos mais intensos ideais.
Não é raro ouvir ou mesmo falar,
sentir, cogitar, sussurrar acerca dele, mesmo porque não vivemos sem ele, não
seremos quase nada sem ele – esse dono dos infernos, das larvas que nos
queimam, do desamor que corrompe, do fogo mal que faz cinzas... – não. Todavia,
não temos que nos livrar dele, como diria um velho sábio, temos que nos
envolver, sentir a simpatia hipócrita de seus olhos, deixar que nos mastigue e
depois aprender com ele...
Não falo do dragão e dos seus
elementos intrínsecos, dos quais água, terra, ar e fogo se encontram unidos,
presos como vela ao fogo, mão e luva, os quais nos ensinam que olhar para sua
face maldosa nada mais é que uma necessidade e, ao passo, impiedade. Falo de um
real monstro, nada mais, preso ao nosso físico como um habitante sem fuga, sem
janelas para olhar o sol; um demônio que se satisfaz com nossa fraqueza ante a
matéria, ao amor mentiroso, às paixões que se formam do nada... a nossa ilusão.
Não falo de algo visível, palpável,
reconhecível... Por isso, essas metáforas lúdicas, míticas, na maioria das
vezes, perceptíveis como uma estrela no céu a esse ser enganoso, manhoso, ao
ponto de nos ludibriar com sua voz e comportamento, fazendo-nos culpados pelos
atos pós-raciocínio...
No fundo, no entanto,
reconhecidamente, somos culpados, pois não conseguimos afastar jamais esse ser
incriado e fadado a nos irritar até o fim de nossas vidas. Um ser que nos faz
assassinos e anjos, papas e hitleres, deuses e demônios, sem que possamos adivinhar,
sequer, o porquê de tanta maldade... Da sua finalidade, entretanto, sabemos.
Segundo a sabedoria tradicional,
nascemos com finalidades de evolução interna, crescemos com essa certeza, que
mais tarde serão dúvidas, e morremos sem entender a natureza dessa vinda e ida
natural, pelo simples fato de tentar entender esse monstro vil, que se aplacou
em nosso mundo: chamam os sábios, a tudo que não é espírito, de personalidade.
Então chamamos e esse monstro de personalidade. Ou máscara, como diriam os
gregos.
E dessa máscara, após terminarmos
nossas teorias acerca do mito arturiano, sob prismas psicológicos, vamos sobre
ela falar...
Nenhum comentário:
Postar um comentário