Já percebeu que estamos divagando
muito entre a filosofia e a ciência? Para muitos, uma coisa não tem nada a ver
com outra, o que é um grande erro. Um filósofo não é somente um produto mental
que vive a questionar a vida – por que eu vivo, para onde vou, para onde... –
mas um ser prático que se move em direção a seus objetivos, ou a ideais
espirituais. Um cientista não é somente um produto bruto que vive de
descobertas em prol dos mistérios físicos do Cosmos.
No caso, estamos trazendo à
luz de nosso universo particular uma coincidência
que se arrasta por séculos, com prismas que se criaram dentro de uma teoria que
há muito nos transporta para frente e para trás, desde que somos buscadores -- falo da Relatividade.
Fazendo referência novamente aos
filmes – já perceberam que, nesses filmes em que homens vão ao espaço, navegam
por anos, com suas parcas espaçonaves, e voltam com cara de novinho, como se
nada tivesse ocorrido, e encontram todos com cara de idosos quase com pés na
cova, ou mesmo com habitantes que se tornaram macacos, em razão de um confronto
entre raças que houve na terra, e você não pôde participar dele graças a sua
viagem??
Pois é. Isso ao filósofo só
interessa a parte em que se pode mudar as estruturas humanas com vistas a um
mundo melhor. Faz parte do ideal de todos, no entanto, nas entrelinhas dessa
teoria se esconde uma psicologia, como disse anteriormente, que o próprio Ocidente
faz questão de ignorar. Como lidar com esse aspecto – a velhice – se com ele
nos importamos tanto, desde que nascemos?
A velhice, segundo alguns, nada mais
é que um estado psicológico; para outros, um tanto quanto mais realistas, é um
estado puramente físico. Por isso, o medo em envelhecer. No primeiro caso,
posso dizer, de maneira filosófica, que não é somente um estado psicológico,
mas muito mais. É um estado cultural que não se enfrenta, e ao mesmo tempo espiritual,
do qual não sabemos quase nada.
Aos japoneses, a exemplo do fator
cultural, quanto mais velho, mais sábio; assim o é em muitas repúblicas
orientais. A nós, ocidentais, ainda que não todos, nada mais é que um estado pré-morten.
Isso, no entanto, não deveria fazer parte de nossa cultura, mesmo porque fizeram
parte dela grandes heróis dos quais ensinamentos acerca da velhice podemos ter,
aprender e levar como legados imortais ao nosso túmulo.
Os espartanos, romanos, gregos,
todos eles, a exemplo, tiveram mitos que retratavam a beleza de ser tornar jovem ao envelhecer.
O mito era assim, compreensível somente ao povo daquele lugar no qual os deuses
eram protagonistas de histórias surreais, mas que, no fundo, significava algo
maior do que nosso egocentrismo, medo, preguiça... Algo que os alimentava sem
que fosse preciso fomentar religiões diversas em nome de um antropomorfismo
massacrante.
Temos o mito do Labirinto, no
qual Teseu, o grande herói, foi enviado para acabar com o monstro que aterrorizava
a todos: o minotauro. Cabeça de Touro, corpo de homem, meio cego, e que
exterminava pessoas inocentes quando lançadas ao labirinto do rei. Nosso herói,
no entanto, graças ao novelo de sua amada, Ariadne, consegue entrar, encontrar
o monstro e eliminá-lo.
O que isso tem a ver com a
velhice?? Muita coisa. Já que a deterioração física não era muito levada em
consideração como hoje, e sim os feitos heroicos; e sim, a juventude eterna da
alma; e sim a força em realizar sonhos ainda que com idade avançada... O mito
revela uma luta entre o monstro (em todos os sentidos simbólico) que se perde
dentro de nós, em forma de medo, de dor, de materialismo, de conforto, os quais
nos assombram ou se tornam sombras pelo resto de nossas vidas.
O mito revela, ainda, um herói: nosso
ser, nosso morador do terceiro andar, que tomou todos os andares de nossos
elementos físicos, psíquicos e racionais, com intuito de eliminar nossas dúvidas
quanto ao que somos. E depois de centralizar-se como dono de nossas almas, de
elevar nossos ideais, sabe que a velhice, assim como outros atributos naturais,
é uma grande necessidade humana, pela qual temos que passar, viver e aos demais
ensinar.
Depois, o mito nos mostra uma
juventude que se revela após o descobrimento da saída do labirinto: o mundo se
abre, nossas almas também. Nossos corpos são apenas uma palha que vai se
queimar naturalmente, mas nossas almas, em nome do ideal, sobreviverá
eternamente.
Em outro grande mito, o de
Sindarta Gautama, o Buda, que conta a história de um jovem príncipe que, mesmo
com toda a sua fortuna, se preocupa com o nascer, envelhecer e com a morte, e
que depois de entender por meios iniciáticos a natureza de tudo, se torna Buda,
iluminado, vem nos traduzir a ânsia interna de resolver nossos dilemas mais
internos, não somente para entendê-los, mas para com ele convivermos e respeitá-lo,
no sentido mais humano e universal que pudermos. Não há modo, constatou: temos
que obter a velhice como um triunfo para a compreensão de nossa natureza.
Ainda sobrevoando o assunto...
Dizem que os espartanos, em sua velhice, eram vistos como deuses, mesmo porque
morriam jovens idealistas em guerras intermináveis. Porém, ao envelhecer tornar-se-iam
sábios ao ponto de serem ovacionados aonde fossem. Nos ginásios, a exemplo,
quando surgiam para assistir aos espetáculos, eram aclamados de pé desde o
minuto em que apareciam até o momento em que se sentavam.
Ciro, o grande orador, em seu
livro Diálogo Sobre a Velhice, diz que não há o que temer acerca da velhice,
pois é o objetivo dos jovens. E diz, “É a coroa maior do ser humano”, pois são
raros os que chegam até ela com sabedoria e amor.
Em nossas fábulas acerca da
velhice, temos as teorias dos grandes cientistas que nos envelhecem mais ainda,
sem culpa é claro de ambas as partes, pois estamos frente a outra educação
sobre o nascimento, juventude, velhice e morte. Se seguíssemos o passado, não
só respeitaríamos nosso nascimento, a juventude, além da velhice, mas a morte
também. Esta, inviolável, professora da vida, ainda é vista como o fim e não
como o começo – e isso nos envelhece culturalmente, pois as grandes nações do
passado sempre diziam que éramos eternos, e hoje estamos limitados a acreditar
em alegorias reais pos-morten, ao passo destruindo a beleza do que somos.
Imortais.
Voltando e terminando.
Para morrer é preciso nascer, e
para nascer é preciso morrer, dizia Platão. Em poucas linhas, nos segredou a
imortalidade; não somente ele, muitos antes dele e assim por diante, em
códigos, ou abertamente como Sócrates, que nos mostrou o quão somos parte desse
todo universal que se abre todos os dias, ainda que não se feche nunca.
E quando tocamos na velhice, e
quando chegamos a ela; e quando sentimos as primeiras dores, e quando nos
chegam as primeiras rugas...enfim, quando a natureza nos diz, “é hora de deixar
seus desejos e ser mais sábio”, pensamos na morte, como surdos, ignorantes e
fracos em espírito. Por isso, muitos buscam igrejas antes da morte, por isso, muitos
iniciam o processo de perdão, ou começam a fazer parte de instituições de
caridade, ONGs, etcs, pois o céu, aquele literal, cujo Dono quer ver um ato de
bom grado antes de sua morte, nos espera...
Não adianta, nosso corpo se vai
com o tempo, mas nossas almas são jovens e necessitam de respostas dos
questionamentos invisíveis – com ou sem pastores, padres – e tenta seguir seu
ideal de crescimento junto ao ser, o morador que tanto nos incomoda quando
pensamos em evoluir ao real céu. E quando o percebemos... adeus, labirinto,
adeus, questionamentos, adeus, velhice; adeus morte.
Vamos ouvir mais o que temos para ouvir. Vamos
falar o que deve ser dito, e pensar o que somos
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