sexta-feira, 5 de fevereiro de 2016

O Pão e o Vinho de Platão




Dizem que Platão, em sua clássica academia, pedia a seus discípulos que, ao olharem um objeto em cima da mesa, meditassem sobre ele. Ali, o mestre, imbuído de uma filosofia secreta, da qual retirava seus ensinamentos, dizia... “Olhem para ele (o objeto), tentem ver mais do que apenas seus olhos percebem”. Como era embebido de chaves, o que passava aos crédulos jovens nada mais era que uma profunda meditação sobre a Alma.


Mas, com que objetivo? Vamos dizer... Ideal. Com que ideologia Platão fazia o que fazia? Será que simplesmente pelo fato de preocupar-se com os objetos, ou mesmo com sua alma, ou havia mais algo por trás daquela preocupação ideológica? – Eu digo que, ao se tratar de um filósofo clássico, que poderia ser mais um falacioso, contador de histórias, um mero político, no sentido mais moderno da palavra, o filósofo tinha um sentimento de amor profundo em modificar as estruturas humanas a partir de algo que possuímos e destruímos, sem levarmos em consideração a grande importância desse tesouro chamado alma.


Não foram escritos com vistas ao lado financeiro, mesmo porque, à época, não havia editoras, vendas, comércio em torno da literatura, como o é hoje. Não. Seus escritos, com base em uma tradição, tinham como finalidade, assim como os demais que vieram antes dele, e que tentaram com a mesma ferramenta explicar o ser humano ou o próprio universo por meio da Alma, tinham como ideal mudar o mundo... E conseguiram!


Hoje, cientificamente, podemos perceber que não é falácia filosófica quando grandes cientistas dizem... “possuímos universos micros”, e que a partir do átomo já podemos sintetizar o que somos... Platão, Demócrito, Plotino, Anaxágoras, Anaximendes conseguiram, com suas parcas ferramentas, descobrir que o verdadeiro átomo era aquele que circundava antes do próprio átomo nascer... Mas como?, diria o mais cético – Respondo que tais homens falavam da grande Alma, organizada em seu centro, a qual se revelava em princípios não visíveis, os quais se transformaram em valores, ou mesmo deuses, dos quais, a própria mitologia, e depois as lendas, histórias, etc...


Entender princípios por meio do visível é apenas um começo. O que temos é uma pequena organização estruturada, alinhada, ordenada pela Inteligência Cósmica, com fins de tornar o Universo... Universo. Então, vislumbramos assim a matéria em sua mais complexa forma. Nela nos mergulhamos, e com olhos bem abertos nos questionamos... “Como pode ser?”. Por isso e por mais, Platão, ao aprender com seus antepassados, e depois de passar por escolas iniciáticas, racionalizou a Alma, sintetizou-a, e esmiuçou a matéria até destruí-la, quer dizer, usou-a até deixá-la vagando em um espaço semelhante a um compartimento que se desloca de uma nave para deixar o principal a navegar, sozinho...


O compartimento que fica vai nos explicar o mundo. Vai nos detalhar a realidade da essência a que chamamos espírito, ser; vai nos explicar a transitoriedade necessária da matéria, que se desloca naturalmente de corpo em corpo e deixa o principal se encaixar em outras naves, na busca por experiências e explicações sobre o Cosmo, Deus, etc.


E como uma linguagem natural dos homens que fazem entender por meio da profundidade e ao mesmo tempo aos que se interessam pelos mistérios do Alto, os filósofos do passado conseguiram ser atemporais – eternos – graças à própria forma com a qual lidaram em suas explicações a respeito do que somos, o que fazemos, o que podemos fazer na consecução de nossas vidas, e mais, dentro da estrutura de cada sistema humano, seja ele capitalista ou não, comunista ou não, democrático ou não, arranharam os muros da incompetência daqueles que preferiram ser rebeldes e inventar um novo mundo, por meio de ideias até mesmo sem referenciais, e matar gerações... A filosofia, aqui, fez  pessoas refletirem acerca do que o próprio regime seria ou qual deles seria o melhor a todos.


O véu platônico, que desce dos céus e se enclausura nas ondas da vida do todo, realiza seu papel assim como a de muitos filósofos que vieram com tal ideal: mudar o mundo. E aí perguntamos... “Que mundo?”.


O Universo é infinito e não tem problemas em mudança; ele o faz por si mesmo. Mas há universos finitos dos quais fazemos parte e que são essenciais ao nosso mundo. Falo de nossas necessidades básicas nas quais nos lamentamos eternamente por não serem ou estarem de acordo com o que queremos. Claro. Nossos referencias são sempre palpáveis e por isso se vão antes de iniciarmos qualquer pretexto, qualquer coisa que chamamos de nosso mundo...


Nossos universos, que construímos com nossas mãos, se vão e viram sombras, cinzas, átomos, e se perdem nas asas do invisível.  Graças às nossas mentes e corações, enraizados na matéria, pensamos finitamente, e nos vamos ao pó sem aquela consciência de que o realmente importante ficou para trás ou acima de nós – não pensamos nisso; mas nossos físicos refletem e sabem que há muito mais que simples braços e pernas, além de um racionalismo enganoso que não sobe para entender a si mesmo.


Um dia alguém disse... “Meu reino não é desse mundo”.


Como um rabo de cometa que se perde no espaço depois de viajar o cosmo inteiro. E no fim daquela calda, faíscas naturais se envolvem com outras, até formarem partículas visíveis. Chaga o tempo de se diluir, virar pó. Estes, invisíveis aos olhos humanos, tornam-se átomos, que se tornam elétrons, prótons, energias circundantes, e por fim... se vão. Será?


Assim a matéria se consome em seu espaço, em seu nível, seja ela conhecida ou não – manipulada pelos Diachorrans, deuses, segundo Platão, os quais, em sua organização, em sua natureza, na Natureza, na Vida, nesse mar primordial, vão incidir como uma grande Alma paralela, como um outro cosmos, como uma grande lei desconhecida aos olhos.

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