Sei o quanto é difícil lidar com pessoas, com o mundo,
com a vida, enfim, com esse universo de diversidades, no qual a compreensão,
baseada em nossos princípios, nossos interesses, por mais belos que sejam, caem
por terra quando debatemos com a mesma espécie. Por isso, pesquisei, muitos preferem ficar
enclausurados em quartos, em cavernas ou viajar e conhecer lugares, em vez de
pessoas.
Assim, por consequência, nos aparecem os exercícios regulares de ioga, nos
quais buscamos, forçosamente, a espiritualidade... o ser, nós mesmos, com intuito
de fugir do mundo, no mais hipócrita dos sentimentos, conflitar com o resto do mundo com feições semelhantes a santos.
Uma feição limpa de pecados, de sorrisos meigos, de paz... Mas será tudo isso
realmente necessário a enfrentar a vida lá fora, com seus personagens?
Nesses dias, tive a oportunidade de provar isso tudo. Fiz um
ambiente a parte, em casa, com intuito de buscar a paz, escutando minhas
músicas clássicas prediletas – de Bach, de Mozart, etc – nas quais, percebi, em
locais penumbrosos, no silêncio, fazem mais sentido do que quando as colocamos
bem alto, na tentativa de ouvir as óperas mozartianas
com a profundidade devida.. Mas não.
Na penumbra, com uma visão bela de quadros, ou mesmo de uma natureza
simples, em meio a pensamentos livres de causalidades, a música faz seu papel:
retira seus rancores, suas dores, seu cansaço, te enriquece, eleva a sua alma a
uma região desconectada do real, a faz reconhecer a si mesmo, e como uma
criança que viu o sol pela primeira vez de uma montanha, dela não quer descer
mais. Como um dia disse Platão, "A
educação musical é a suprema, visto que, mais que qualquer outra coisa, o ritmo
e a harmonia conseguem penetrar os mais secretos recantos da alma".
Entretanto, temos que descer, mesmo porque nosso objetivo
não é ficar escutando música o resto de nossas vidas. Temos um trabalho, e nele,
querendo ou não, temos que focar em pessoas, pensar em como tratá-las, ou como não entrar em
vias de discordâncias diárias. E quando houver essa possibilidade, não por
culpa em si muito menos no outro, mas pensar em aperfeiçoar a tônica da vida,
que são os relacionamentos..
Muitos, contudo, já não querem nem mesmo saber de
investidas, pois acreditam que o ser humano é um ser difícil, mas não somos
seres humanos também? Então devem pensar o mesmo de nós. As investidas devem
continuar, e não podemos generalizar situações nas quais não fomos bem, muito
pelo contrário, aí é que devemos reformular nossas investidas!
No filme “Pat Adans, o amor é contagioso”, Robin Willians,
em seu melhor papel, o de um pretendente a médico, fazia brincadeiras com o intuito de conhecer mais as pessoas, por mais difícil que fossem. Com o tempo,
via que seu “treinamento” era necessário também nas aulas práticas de medicina,
quando percebia que, ao visitar algumas enfermarias com seus professores, os pacientes
eram chamados pelo número, e não pelo nome, mas ele fazia questão de perguntar
qual era o nome do paciente.
A prática individual, demonstrou, é necessária para realizar qualquer
projeto, mas o de conquistar seres humanos é o mais difícil. Mas sabemos que há
alguns que nascem com a sutileza e a habilidade para tanto, e outros, no
entanto, não. Preferem distanciar-se. Mais alguns, não. Estes não são nem A ou
B, pois querem se aproximar, dar o melhor de si, na conquista, no amor, na
amizade, mas têm medo...
Para esses, torna-se não somente um projeto, mas um ideal de
vida, e tentam entender a si mesmos, indo a igrejas, escutando músicas
religiosas, sacras, clássicas, na tentativa de encontrar não só a paz, mas o
outro que o compreenda.
Nesse exercício a alma pode crescer se estiver preparada
para tudo, mas acreditar que a vida será como uma “lacrimosai”, de Mozart, pode
esquecer. Ela é tão variada quanto à Nona, de Beethoven, com depressões,
elevações, mediações, lágrimas, sorrisos, mistérios, sóis, chuvas, terra, ar,
água (Vivaldi!) e fogo!
Podemos encontrar a paz em nossas meditações, mas precisamos
de meditações tais quais a de Marcus Aurelius, as quais nos remetiam (e nos
remetem até hoje) a um céu, mas não nos deixam retirar os pés do chão jamais.
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