segunda-feira, 13 de julho de 2020

Na Essência dos Sistemas

"Podemos ser o que somos, e transformar a República"




Sabemos que a essência de todos os sistemas é nada mais que a preservação das leis e dos povos que a eles obedecem; sabe-se também que muitos que deveriam seguir esse conceito, não o seguem em razão de perceber que todos os conceitos podem ser manipulados em favor daqueles que o representam -- me refiro a presidentes eleitos diretamente e outros, indiretamente.

A questão, no entanto, não reside apenas em preservar ou proteger aqueles que são governados -- ou pelo menos isso --, mas sim descobrir, neles, nos sistemas, o papel daqueles que são a maioria, ou melhor dizendo, da massa, do povo, dos governados. Vários livros, entre eles, o magnífico "A República", de Platão, no qual o filósofo se debruça arduamente sobre a busca do conceito de Justiça, trabalhando as tarefas de cada um em uma Cidade imaginária. Essa característica, porém, é adotada a partir do momento em que intuirmos a obra tal qual uma quimera ou mesmo uma utopia, o que nos restringe internamente em iniciar qualquer coisa ou dar qualquer passo.

A obra (A República), claro, é universal, e ultrapassa qualquer conceito de República que temos, mas, graças à metáfora linguística -- comparação a partir de dois ou mais elementos, a formar um terceiro -- podemos, sim, olhar à nossa volta, conceituar, preparar, sondar a essência de cada um nos sistemas, levar à pratica. Ou seja, descobrir nosso papel dentro da Cidade, seja ela Platônica ou não, dentro de nossos sistemas políticos ou não -- ou, mais amplamente, universais.

Não temos a visão cosmológica dos mestres antigos, mesmo porque os templos de iniciação não existem mais. Podemos, dentro do simples que nos revela diariamente, ler a vida que nos passa diante dos nossos olhos. Nossa iniciação é tão lenta e gradual, tão tensa e falha, que nos cabe apenas encontrar nossos caminhos sozinhos, até encontrarmos nosso mestre.

Não é fácil.
De volta à República, para quem a leu, sabe que Platão transforma tudo em algo microscópico, até mesmo semântico, de modo que, se percebermos bem, está-se a referir ao nosso interior, ou seja, de nossas almas, o papel delas, e vai além: fala em forma de mitos que traduzem o papel da personalidade humana, como o mito de Er, no qual fala de um cavalo levando uma carroça, a deixar claro que o animal, quando desgovernado, é a nossa persona indomável. Não apenas esse mito; o que mais de deixa reflexivo é o mito do Giges, o qual revela o que somos quando não vistos pelos outros. Segundo o filósofo, somos tão obscuros que nos auto-preservamos psicologicamente quando estamos perto das pessoas com as quais vivemos. 

Pode ser isso, mas também pode ser algo mais profundo, como disse, porém, o que temos em mente é que, nesse mito, quando Giges, um dos personagens mais educados da história contada, se revela outro ao descobrir que o anel de possui é mágico: ao colocá-lo no dedo, pode desaparecer... (essa cena vocês já viram certo?). O possuidor do anel se revela um ser quase que bestial.

Então, assim que desaparecemos ante ao olhos do próximo, ou mesmo quando estamos sozinhos, nossa Cidade interna se revela, cheia de problemas. Somos vaidosos, somos injustos, somos horríveis por dentro, e muito mais. Somos Giges.

Há muitos problemas quando falamos em sistemas, em reestruturação de valores, de iniciar uma nova vida, pelo menos, algo parecido. Há a Cidade micro e a macro. E quando observamos o que podemos mudar nesse grande mundo que nos cerca é porque percebe-se que tudo depende de nós, não apenas diretamente, mas principalmente indiretamente... Todavia,  Somos Giges, pedindo para desaparecer e nos mostrar quem somos realmente. Não precisamos disso, mesmo porque cada um é um sistema diferente do outro, e nossos mestres, o visível, não precisa nos aparecer, mas sim nos dar chaves onde quer que ele esteja. 

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