quarta-feira, 30 de setembro de 2009

A Oração de Cada Um


Há muito nos foi ensinado a orar. Um ato pelo qual nos comunicamos com Deus. Uma ação humana em que todos, sem exceção, sem debruçam, seja a uma parede, seja a um santo de barro, seja a uma natureza aberta ou fechada, para demonstrar sua devoção, amor e acima de tudo respeito às entidades (ou Entidade Maior).

No Antigo Egito, os iniciados nos mistérios ajoelhavam-se ao que representava o símbolo, não ao símbolo, pois sabiam que a matéria era uma forma de ponte pela qual a energia universal (cosmológica) se ligava ao homem – e mais – o próprio homem seria santuário de entidades que se manifestavam diariamente nele mesmo, por isso, cultivava, em si, o respeito a seu corpo, morada da divindade, do mistério.

Em culturas ameríndias, a Lua, entidade que representava o Logos feminino, traduzia a força sensível no seu humano, uma potencialidade, assim com o sol, representante do Logos masculino, várias forças energéticas no homem, também.

Nas escolas pitagóricas, havia os acusmáticos, discípulos que estavam ali apenas para ouvir, não para falar. Segundo conta-nos a história, o mestre os deixava até cinco anos sem pronunciar uma palavra, mas não era bem assim. O discípulo falava apenas o necessário, ou seja, quase nada. É o que nos acontece se falarmos apenas o que é razoável. Enfim, sabia o mestre que o ser humano tinha muito mais que ouvir os sons da natureza, a voz dos mestres, a voz interna de cada um, em vez de falar e falar impensadamente.

Na Índia, em respeito a várias religiões do país, todos oram em lugares diferentes, no entanto da mesma forma: olhando a si mesmo como peça fundamental do todo. A Índia, como país que foi, possui ainda alguns resquícios tradicionais, e um deles é a iniciação – ainda que não da mesma forma do passado. O indivíduo, depois de ter passado sua vida voltada ao sagrado, entrega-se à morte simbólica, jogando-se no rio Ganges, onde se manifestam várias formas de ritos da região. Ali, mergulhando como um ganso em busca de um alimento, o discípulo, orquestrado por seu mestre, sai da água e volta, molhado, à uma nova vida. A ressurreição.

Em meio a juramentos de desapegos à matéria, ele se vai, sem olhar para trás, em busca de seu próprio caminho simbólico, para o qual todos, segundo eles, somos designados. A oração se faz, o adeus aos parentes e amigos, e até mesmo ao próprio mestre, mostram o abandono ao mundo velho, a renovação espiritual, a proclamação de um mundo novo ao qual trilhará daqui para frente.

Hoje, não sintetizamos tais comportamentos como normais, pois somos de culturas informais, complexas, a cair em detrimento da nossa falta de informação acerca de outras culturas, e achamos que estamos corretos dentro de uma ilusão sem base, no entanto também tradicional.

Uma prova disso é que, quando Jesus, ao se tornar Cristo – iluminado – nos deu uma oração para ser feita todos os dias, em homenagem ao nosso Deus interior. “Pai nosso, que estás no Céu, santificado seja o Vosso Nome, assim na Terra como no Céu. O pão nosso de cada dia nos dai hoje, perdoai a nossas ofensas, assim como tens perdoado aquele que nos tem ofendido. Não nos deixai cair em tentação. Livrai-nos do Mal.”.


Repleto de simbolismos o falar do mestre, depois de iniciado, passou aos seus discípulos orações voltadas ao Todo, a Deus, ao Pai. Assim, como todo ser que passou pelos mistérios, sua linguagem notória do grande Espírito que sobrevoa o mundo, como uma potencialidade a qual o homem comum não internalizou, é de difícil compreensão. Por isso, se tentássemos traduzir uma oração de Cristo, temos que resgatar chaves próprias para a interpretação não só das orações, mas também de muitas passagens nas quais ele se refere ao Pai.

Contudo podemos adiantar que, na Antiguidade, Céu seria o ponto culminante, que faria parte da Tríade humana – dentro da grande Tríade universal --, e Terra, a parte física, pétrea, material, até mesmo vegetal do Todo. Pão, na linguagem cristã, significava o corpo de Cristo; o vinho seria o espírito; enfim, a oração cristã tem uma série de simbolismos, que, unidos, estariam relacionados ao Deus interno de cada um.

O Nome, em maiúsculo, segundo nos diz a tradição, é algo que temos antes mesmo de nascer, é o real Nome – não o que obtemos em nosso nascimento dado pelos pais. Há uma passagem bíblica em que Cristo dá o nome a Saulo, que mais tarde tornar-se-á Paulo, por designação do próprio mestre que o fez seu principal discípulo. O nome ‘Paulo’ é o real nome do humano que nascera. E todos temos nosso real nome. Basta encontrar um real mestre para nos dizer.

A oração, voltando, independe de culturas, de homens, ricos e pobres, ela é mais que palavras que se vão na noite ao encontro das estrelas. “São comunicados que se entrelaçam com a de outros seres humanos, em uma grande comunicação”. Ela independe de templos, a não ser que a façamos em nosso templo em particular; ela revela a humanidade de cada um, na busca pelo espírito maior, na consecução de uma família, sociedade e um mundo melhor.


segunda-feira, 28 de setembro de 2009

Ser ou Não Ser


Nascemos e crescemos e adotamos na personalidade, essa máscara grega, uma série de fatos, acontecimentos, até mesmos nuances dramáticas, como tristezas, alegrias, amor, doenças... As quais sintetizam um universo pelo qual passamos todos os dias.

O teatro vai além. Ele supera até mesmo a maneira de entender o universo, de cada um, em seu nível. Mas o real teatro, aquele pelo qual todo universo dança, sacode, vai e volta, como uma sinfonia de Vivaldi, somente o grande Sábio compreende.

Um deles um dia disse: “A Vida é um grande teatro, no qual pensamos que cada cena é real, porém, quando menos esperamos, estamos em outra peça”. De longe percebemos que em alguma coisa nos encaixamos. E essa coisa é a nossa vida em particular, essa pela qual (e nela) lutamos com nossas garras, armas, travas, arcos e flechas, e às vezes com a nossa própria vida.

É o teatro se formando. Quando entendemos que em cada esquina há um sentido, seja ele obliquo ou paralelo, triangular, esférico, cheio de prismas, aí sabemos que estamos dentro de um contexto não casual, porque sentimos dores, alegrias, remorso, paz, guerra... Ou seja, aquela esquina, aquela pequena esquina, a que tanto aguardamos uma pequena virada, nos esconde mistérios da nossa personalidade – essa máscara que carregamos e com ela nos identificamos e a amamos até o fim de nossos dias...

Comecemos desde o início: os gregos sempre diziam que o teatro era composto de seres eternos: nós. As máscaras seriam todas formas volúveis humanas – esse relativismo que impera em nossa alma. Nós, no teatro, seríamos o ator, e ess ator, tal qual hoje, encarnaria vários papeis ao mesmo tempo em muitas cenas. Isso pode ser visto atualmente no teatro moderno, resquício do passado grego; pode ser visto em novelas, o folhetim diário das noites, e também nos filmes, uma forma extensiva de folhetim, que, de certa forma, não diferencia do teatro grandemente.

Enfim, cada ator, seja de novela, filme ou mesmo do próprio teatro, depois que retira sua fantasia, vai para o seu camarim, respira fundo, veste-se com seu traje normal, toma um banho, vai para casa ou não, e volta a ser uma pessoa normal, com todas as características de antes, talvez até gêmeas do seu personagem profissional – no teatro, novela ou filme.

Os gregos sabiam que esse ser que se veste de um personagem pode ser, dentro de um contexto filosófico, um modelo inspirando no grande universo que nos coloca máscaras quando concebemos a vida. Essa máscara seria todas as situações nas quais passamos; seria, dentro de algo mais sutil, o que sentimos – como fora dito mais acima. O grande ator, que recebe pele, ossos, caras, pernas e braços, seria o verdadeiro ator – seria nós. Tal ator passaria, segundo a tradição, por muitas vidas, a fim de se aperfeiçoar internamente, evoluindo em cada cena – tornando-se, um dia, Ator e Expectador do grande teatro universal.

Mas dentro do que somos, podemos ter essa realidade embutida em nossas vidas – de que somos partícipes de um pequeno teatro, e que, dentro dele, podemos ser um pouquinho melhores a cada dia. Baseando-nos nos grande atores de tvs, filmes, teatros, podemos, em cada cena, improvisar, baseados no livre arbítrio, ter idéias relacionadas a melhoria das peças, fazer todos entender que é só um meio pelo qual temos que passar, sentindo o que devemos sentir, e além de mostrar a todos o ideal, mas que, no fundo, são apenas frivolidades tão naturais quanto o sorrir de uma criança que ainda não tem consciência de nada. Podemos ainda fazer com, em cada peça, haja subpeças, e assim por diante, mas sempre com uma visão voltada ao grande ator, esse que somos, não importa o que fazemos, contudo o perdemos de vista.

Mas e a morte? A morte seria a ida do ator para uma nova peça, para um novo teatro, em um outro contexto. E assim sucessivamente...



quarta-feira, 23 de setembro de 2009

A Difícil Arte de Conhecer a Si Mesmo, III

Muitos questionam o fato de sermos tão violentos, desumanos, psicologicamente desequilibrados; mas, por outro lado, há os grandes seres que nos ajudam a refletir acerca de nossa breve estada no mundo, na vida – mesmo sendo uma medíocre vida às vezes. A razão pela qual eu em mais um texto exponho esse assunto é justamente a falta de pessoas como essas, que nos fazem felizes, já com sua presença, com o seu ar de simplicidade, às vezes, luminoso, nas horas em que mais precisamos de exemplos, e na falta dessas horas também.

Não há exemplos ao nosso redor, e quando há tentamos refletir sobre o que somos, ou o que podemos ser semelhantes àquela pessoa que não fizera nem um esforço para sê-lo: simplesmente é, e pronto. Alguns, claro, pela educação que receberam, até então; outros, graças a intempéries da vida, tornaram-se melhor gradativamente, aprendendo... Aprendendo... Não importa a que partido, religião pertença. Por traz de cada casaco, blusa, paletó, cheio das insígnias, cartazes ambulantes, há um ser humano cheio de boa vontade, a fim de levar seu projeto de alcançar a Deus, seja no céu ou mesmo na terra.

Mas será que é sempre necessário que sejamos religiosos no sentido estrito da palavra para sermos um pouco melhor? Muitas igrejas – Católicas, Evangelistas, Pentecostais... – diriam que sim. Contudo, se nos remetemos à Tradição, teremos a visão clara de que hoje somos levados a sofismas brandos, os quais nos prendem a ideias de acordo com o nosso estado psicológico. Ou seja, muitos se iludem com chamamentos de pastores, bispos, padres, quando estamos imbuídos de problemas sem fim. Somos, na realidade, ratos que todos os dias prendem cabeças em ratoeiras armadas.

O Egito de cinco mil anos, à época dos clãs hebraicos, que se instalaram na “Terra Vermelha”, albergava muitas tribos, o que dava o título à nação de politeísta, pois aceitava em suas terras diversas religiões, e seus respectivos deuses. Quer dizer, além dos próprios deuses egípcios, os faraós permitiam que houvesse louvores em diversas línguas que vinham de longe, a fim de se instalarem e aprenderem com o dono do império. O Egito já tinha a sua definição de Deus, e ela não restringia nenhum conceito; é provável que já sabiam que o conceito de Deus não era o que temos hoje, ou seja, somente o lado que nos interessa. Assim, cai por terra as expulsões das grandes nações que se fizeram em cima dos faraós...

Em Roma, até certo tempo, há dois mil anos, todas as religiões também eram aceitas. Porém, os cristãos, como se fossem donos da verdade, tentaram, sem sucesso, impor sua religião aos grandes imperadores, que já possuíam um conhecimento tradicional acerca do que era religião. Ou seja, não poderiam deixar – de uma ora para outra – seus deuses, divindades, que sempre foram norte a todos, à época. Mesmo assim, foram vencidos, porque a insistência do cristianismo em uma terra em decadência tornou mais fácil a vitória. Mas sabemos que houve uma Roma que abrangia a todos de maneira indiscriminada e harmônica.

Assim também na Grécia, na Índia antiga e em outras nações que, querendo ou não, foram exemplos de que não é preciso que sejamos partidários religiosos ou políticos para a consecução de nossos projetos. É preciso apenas que sejamos idealistas, buscadores da verdade, assim como sempre o fomos. Todavia, não fazer dessa busca um partidarismo, ou melhor, uma forma de ser alguém que saiba mais que outros, pois seria contra tudo aquilo por que lutamos no passado – a verdade.

Ser religioso, na Antiguidade, era ser humano, ou seja, era buscar seus valores baseados em premissas éticas e morais, no sentido mais clássico da palavra. Era aprender, internamente, a lidar com a vida e lá na frente colocar em prática seu intuicionismo, levando o conhecimento aos seus discípulos.

Ser religioso, talvez, seja mais que isso. É transcender a condição de homem, é iniciar-se nos mistérios divinos. O que para nós só é uma realidade a partir do momento que tentamos ser gentis, educados, organizados, amados, a partir de valores universais, não familiares, sociais, etc, pois estes têm sua relatividade, o que é muito perigoso.

Quer dizer, se você coloca um papel no lixo só porque o chão deve ficar limpo, tudo bem, mas ainda pode ser que amanhã você mude de ideia. Ou mesmo quando você o faz por ser educado e que alguém te ensinou que as coisas devem estar sempre limpas, isso nos dá uma dependência psicológica, pois é possível que nos decepcionemos com o mesmo ser humano que nos ensinou tal coisa. Então, é preciso que tenhamos uma visão um pouco maior: que o meio ambiente deve ser cuidado, e que, se não cuidarmos dele, teremos um futuro incerto (e qual futuro é certo?). Isso nos dá margem para pensar que não temos que nos preocupar como seres humanos prioritariamente, e sim com as plantas, animais, lixo...

Enfim, um ser religioso, na antiguidade, poderia dizer que estamos mais atrasados em pensamentos universais do que Idade Média. Pois saberia que, se partimos de premissas interesseiras, cairemos em areias movediças antes de ela se formar. Saberia, também, que temos que nos referenciar sempre em um sol acima de nossas cabeças e possibilidades, tal qual o próprio sol acima das montanhas, as quais estão sujeitas a tempestades, tufões, mas sempre esperam o sol acima delas. O crente diria Deus, o filósofo diria Ser, este que vive em nós, apesar dos pesares; apesar de uma personalidade bruta, volúvel, cheia de medo... O filósofo, aquele que ama a Deus, diria que o próprio sol se esconde em nós, e espera que nos religamos com ele.

O filósofo diria que somos o próprio Sol, ser maior que seria a totalidade humana, no sentido mais belo da palavra. Seria o sol o próprio ser humano que sabe de sua existência e dos outros, e de tudo. Por isso, a preservação, a organização, o respeito à Lei.

Por enquanto, não temos essa possibilidade, contudo temos luas e sóis em nós a espera de conquistas internas. Tudo é possível, principalmente quando damos o primeiro passo – dar bom dia, abraçar a todos, sorrir aos mais tristes, pedir desculpas, redimir-se depois, dar presentes simples com coração, almejar a paz, almejar batalhas nas quais sou vencedor independente do resultado, amar, amar muito a si mesmo, e aprender sempre, mesmo que seja com uma criança, e muito passos desinteresseiros em busca de si mesmo, de Deus, conhecendo-se.

segunda-feira, 21 de setembro de 2009

A Arte de Conhecer a Si mesmo, II

As organizações internas, baseadas na grande lei, são, de pronto, utópicas, mesmo porque somos, além de ocidentais, somos filhos de uma humanidade em que a expressão ‘conhecer a sim mesmo’ é simplesmente metafísica a quaisquer olhos.

Não adianta repetirmos como em um mantra (palavra ou expressão repetidas inúmeras vezes, em igrejas ou em mosteiros) tal expressão. Mas uma coisa podemos fazer: tentar entender, de acordo com nossas ferramentas, um pouco do que somos, ou o que podemos ser, a partir de todas as coisas que nos acontecem.

Diziam, na Antiguidade, que nada nos ocorre por acaso. O que significa isso? Significa que, dentro de tudo que fazemos, nada aparece a nós, assim, simplesmente pelo fato de existir apenas.

Uma grande prova disso é que, no universo, os alinhamentos planetários, comandados por forças desconhecidas (por nós, claro!), os cometas, a expansão das estrelas, sua destruição... Há sempre algo regendo, no sentido de organizar, dentro de um grande contexto cosmológico, o todo. Parmênides tentou nos explicar isso e nos deixou claro que “nada mais estático que a mudança”; Platão já dizia “Deus é a medida de todas as coisas”; já os indianos têm em sua cultura o “Pralaya”, movimento de retração, e o Manvantara, movimento de expansão universal; os cientistas têm as explosões do Big Bang.

Bem, juntando tudo, temos um único modelo de organização na qual o fruto é o mesmo: o próprio universo no qual estamos, também, como grãos de areia coloridos, em um enorme saco sem circunferência, mas que possui a forma esférica – antes de tudo, infinita.

Trazendo tudo isso para nós, é dizer que há uma organização em nossas vidas que devemos respeitar (ou aprender), baseada nessa grande premissa de que somos parte do grande todo; e, se nele faltar uma chispa, ele não o é. Muitos, claro, em razão de antigas culturas entenderem que deve haver uma manipulação antropomórfica por trás de tudo, criou-se um ser cheio de inteligência, saber e misericórdia humanos – não falemos ainda sobre isso – referenciado no próprio homem, ou mesmo em sua sombra. Blavatsky dizia que, se o mundo fosse povoado por vacas, elas teriam como modelo divino um grande boi, a tomar conta de todos.

E é assim que o vemos; mas, dentro do antropomorfismo, também há de se respeitar tais opiniões referentes a essa ideia, mesmo porque há estruturas complexas dentro das quais se seguiu em todos esses anos, séculos, nos quais a tentativa de entender a Deus se fora por água abaixo: a recriminação ao próprio filósofo, ao cientista que buscava a verdade, ao artista que singularizava o universo em suas obras, ao músico que sintetizava o sagrado em suas canções...ao religioso que descobria a verdade... Enfim, um declínio circunstancial, quando o próprio homem tentava conhecer a sim mesmo e o próprio universo.

Hoje, vivemos nesse meio antropomórfico. Os valores que nos fizeram humanos estão revertidos em hipocrisias em forma de religião, música, política, até mesmo – para não falar principalmente – na arte em geral. Ou seja, consequencias tão grandes que elucidam, historicamente, o caminho do homem em direção a nada (críticas ao próximo; desumanidade...), o que se tornou tão natural quanto respirar. Mas isso, como dito, é histórico, ou seja, não é de hoje! É de muuuuito tempo.

Enfim, a arte de conhecer a si mesmo, hoje em dia, só se compara a buscas por conforto “espirituais-financeiros”, diferente de uma época na qual a religiosidade e o próprio homem se confundiam em um só corpo. Época em que Deuses e naturezas eram nortes. Hoje, nosso egoísmo, inveja, interesses nos confundem com amebas na tentativa de sobreviver ao um mundo que podamos.

O conhecer a sim mesmo, embora tão longe quanto a lua da terra ao homem, pode-nos ser uma realidade ainda que distante da maior delas, mas, mesmo assim, real, a ponto de nos elevar a um patamar de diferentes em relação àquele que se distancia do seu conceito de humano todos os dias. O que seria?

Voltar a ser humano.

Volto no próximo texto.





quarta-feira, 16 de setembro de 2009

Fatos da Vida


Há muito sentia depressão, uma doença que se inclausura em nosso ser como se fosse passageiro que não quer descer do ônibus. Passageiro este que faz questão de lhe dizer o quanto você não presta, dentro do que você faz, transformando-se em uma célula pobre, invisível, que não se arranca com faca, nem mesmo com cirurgias.

A depressão consiste muito mais que isso. Consiste em devorar seus principais meios de susbsistência psicológicos e espirutuais. É quando o passageiro se sente dono do ônibus... Depois disso, não há nada que o impeça de falar... falar... o que quiser; e você, nesse estado de escravidão, não tem saida, a não ser, pensar em fugir da vida. Do mundo. Das pessoas que não te ajudam. O medo em falar-lhes sobre o problema aquece mais a dor e propaga mais os problemas pelos quais se passa. As saidas não existem. É assim que se vive um depressivo, e também se morre.

Após anos, crescendo em âmbitos preconceituosos (por ser negro, pobre e deficiente...e burro), consegui sair, devagar... Dando espaço ao passageiro, acredita? Ele mesmo não sabe, mas até ele é passageiro – no sentido de passar, e nunca mais voltar. Foi o que aconteceu, quer dizer entre aspas. Pois, de vez em quando, em minha pobre vida – brincadeira, -- engraçadinhos, desvirtuados, cheios de panças, trocam, por nada, palavras de desafeto por nada a quem nunca lhes fez mal – a este que lhes fala, também.

Mas é sempre assim. Todos os males são cuidados à medida de seu tempo, de seu poder. Quando maior que nós mesmos, nos sentimos tragados, antes mesmo de enfrentá-lo. Isso é péssimo. Um dia perguntei a um grande professor acerca dos instintos do homem, que sempre o atrapalha na vida, levando-o a tomar decisões fora do tempo. “Devemos ser como domadores de leões, meu caro” – disse ele; “quando o animal estiver por perto, e você quiser domá-lo, vai chegando perto dele, sempre devagar, bem devagar...” – ilustrando com seus passos em torno de um suposto leão, “depois, quando menos você pensa, já o dominou”.

Assim o vejo, esse monstro que me consumira há anos, não me deixando, sequer, sair da cama, e ao fazer temia a reação das pessoas, inclusive irmãos. Hoje, olho bem para o gigante que me atormentou anos atrás – caído ao chão, ao lado de meus pés, -- com os olhos cerrados, pés frios, corpo gelado, contudo ainda com as veias pulsando e seu coração com um pequeno marca passo, tentando levá-lo à vida. Estou de olho!

Não é tão fácil. Depois que se passa por todos as nuances psicológicas, achamos que é fácil, pois, de cor, sabemos o que nos representou no passado tudo aquilo. Representou nós mesmos. Uma debilidade que fora comendo frutos proibidos à medida que fora nascendo. A minha debilidade atual, que é ser deficiente, levou-me a pensar, graças a exemplos comerciais e práticos, que eu não tinha lugar na sociedade, em casa, em mim mesmo. O ser-depressão começar a se formar, levar-me a um mundo exagerado, onde pessoas só queriam saber de conversa apenas para sentir pena de mim. Um mundo em que todos eram falsos, todavia, um deles me lançava como um ser que poderia ser alguém e que ninguém, a não ser eu mesmo, conseguiria se-lo. Às vezes é preciso levar em consideração o que dizem, mesmo que tenham dó de você. A questão é que você já está sentido dó de você mesmo, pô! Então, mais um, ou uns?

O gigante começou a se irritar, pois não adimitia questionamentos, caso contrário, teria que rever seu conceito de escravidão ao jovem que se instalara ao seu lado. A vida, o amadurecimento, inato ao humano, estava se fazendo em minhas veias – a leitura, os pensamentos, o ideologismo, as ruas, as conversas... Tudo era armas contra o grande que se fazia meu dono. Aos poucos, eu minava seu poder.

Até que um dia passei na faculdade. Quando achei que poderia fazer amigos, muitos amigos (claro que os fiz), deixar o medo de lado, correr em direção à porta da liberdade... Que nada. Lá, pessoas de todos os niveis me viam e sentiam que eu era diferente; viam que alguma coisa eu tinha que os expulsava automaticamente. O que seria? Depois de descobrir, sentei-me. Pensamentos do tipo “não consigo mais me levantar...” participaram dessa cabeça que lhes conta essa história. Contudo, não fora por muito tempo. Meu nivel de cultura fora demasia melhor do que muitos. Minha fala, minha didática, meu ritimo, minha história de vida... Sanaram problemas semelhantes a esse, durante um bom tempo.

Assim, em leituras, em estudos... Mas quem vai à faculdade tem que paquerar, certo? Certo. E aí, o que aconteceu? Depressões, depressões... O gigante tinha me pego na hora em que eu menos esperava, mas ele sim. É, o meu estado físico era a razão das dores, percebi; mais ainda, teria eu que viver dele o resto da vida, de meus últimos dias depressivos, debaixo da cama, como um rato com medo do homem que lhe prepara o veneno?...

Fui à luta. Paquerei, levei pé na bunda. Chorei... E isso me lembrou uma antiga noiva que me negara pelo fato de sua mãe não me aceitar como eu era. Depois de me conhecer, sentira saudades para sempre.

Após a faculdade, quase me casei com ela, eu disse quase. Pois é, as frustrações estavam terminando, mesmo porque eu tinha encontrado o ponto fraco do gigante que me consumia. E mais, eu sabia lidar com ele à medida que meus passos íam saindo. Minha resposta ao gigante, para ser mais claro, o tiro no infeliz foi dizer a mim mesmo: “a vida continua, querendo ou não. Debaixo de cobertas, edredons, fugindo, se matando – jogando-se de montanhas... levando tapas, sendo ameaçado, humilhado ou não... a vida continua.” – nós, quando depressivos, achamos que todos os seres humanos do planeta, inclusive os presidentes, vão parar e pronunciar palavras de carinho e amor àquele que se esconde atrás do medo de viver porque é deficiente... pobre... negro... burro... (vamos à luta!)

Hoje, eu me deprimo mais – quer dizer, não literalmente --, com a submissão de um povo a si mesmo. A um povo que não sai do chão, não vai em busca do que lhe é de direito na própria vida, como nascer, morrer e viver, com orgulho, apesar dos pesares. Com isso eu me deprimo!

Claro que há épocas e épocas, e, claro, para eu pensar desse jeito, hoje, é preciso um amdurecimento de ideias, um concretizar de convicções. E por falar nisso, a filosofia tem me feito muito bem, ao sedimentar minha formação em relação a tudo que eu tinha medo, preconceito.

Falar sobre depressão é dificil. Mais dificil é sair dela. Mesmo assim, para aquele que a tem, desejo que descubra seu gigante, encontre seu calcanhar de Aquiles e, ao encontrá-lo, matem-no, ou ele pode voltar a qualquer hora.

terça-feira, 15 de setembro de 2009

A Difícil Arte de Conhecer a si Mesmo


Tenho refletido muito acerca do que somos e/ou do que poderíamos ser. Na realidade, já transpusemos em textos uma série pensamentos sobre o tema. Mas é sempre bom voltar a assuntos que geralmente nos sentimos bem (ou insatisfeitos). Para inicio de conversa, queria dizer que o que mais me leva a pensar é sempre o dia a dia. Com uma série de circunstâncias ora desenfreadas, ora organizadas, o dia a dia me oferece pontes para entender o que eu sou o que posso ser; contudo, todavia, mas... Não tem importância, nem mesmo os grandes de épocas passadas souberam lidar com esse labirinto, com essa floresta, com essa comédia dantesca que somos nós, mesmo tendo todas as ferramentas possíveis...

Com tais ferramentas (poucas), já metaforizando, andamos feito Cristo em águas enlameadas em busca de uma solução para o que nos atormenta, desde a hora em que acordamos, até a hora de dormir. Parece-nos uma panela que não para de bater em nossos ouvidos, ensurdecedora, dizendo “Tá erradooooo, comecemos de novo!” – e lá vamos nós, todos os dias, tentar outra vez, até que nos bate a falta de ânimo, entusiasmo... revirando os olhos, com raiva, às vezes, triste, a enfrentar uma empreitada que se parece mais com uma guerra sem inimigos visíveis – é a falta do que fazer?

E continuando... Andamos como aposentados decanos em busca do café da manhã, que, mais uma vez, vem sem o bendito açúcar, pois somos diabéticos! O sol não é mais o disco solar a que tanto chamávamos de o belo ser que nos alumina, nem a lua escapa de nossas líricas mal fadadas canções – a natureza não tem nada a ver com nossos rumores, e mau humores – e nela colocamos culpa, do tipo: só porque eu iria procurar emprego hoje, é que as nuvens se juntaram...

A visão da vida nos torna curta. Todos começam a fazer parte de um conluio no qual só você é culpado, e você quer culpar a todos! Sair dessa ferida tão grande quanto os olhos do planeta é saber lidar consigo mesmo e com leis nas quais temos que saber de sua existência. Não adianta, somos o que somos, independente do que pensamos ser..

A arte de se conhecer, como diria um grande filósofo, é tão difícil quanto fazer a própria nave, com as próprias mãos, e ir ao espaço. Claro que, quando não se predispõe para tanto, fica mais fácil subir cachoeiras como salmões famintos. Ou mineiro recusar queijo...

Mas do que estou falando? Falo de uma possibilidade de viver como ser humano e de uma organização a qual estamos propensos, porém não há como pegá-la literalmente, vê-la, tocá-la, mas senti-la e levá-la à nossa linha de uma conduta, na qual, todos os dias, como trapezistas, andamos e caímos. Por quê (de novo?)? Simplesmente porque somos humanos? Sim. A lei que regula os animais é a mesma que nos regula. Para aqueles é fácil, pois já lha obedecem; nós, seres de consciência à flor da pele, pensamos; por isso, dificultamos nossa jornada frente à Lei (ou às leis); até mesmo leis relativas à nossa sociedade nos deixam tortos, imaginem leis que não sabemos que existem!

Mas não é preciso tudo isso para, pelo menos, saber lidar conosco mesmo, no sentido de conseguir uma reta, uma linha, seja qual for; caso contrário, não teríamos objetivos, não é mesmo? É através deles que podemos medir nosso caráter, nosso amor a vida, talvez, pois nada, nada mesmo, vai nos levar a nós mesmos se não tivermos um pequeno caminho que seja.

Mas a questão é um pouquinho mais profunda que isso. Ela se estende a elementos que possuímos, a poderes que possuímos e, graças à ignorância humana, que não é pouca, nossas realidades bambeiam na linha daquela reta – ou de qualquer reta pela qual passamos. Todavia, é graças a esse andado de bêbado que descobrimos a necessidade de alguma coisa que nos faça refletir acerca de nossos caminhos e de nós. Não é a toa que de pai, irmãos, professores e mestres precisamos para a grande caminhada rumo a essa organização invisível...

Mas para onde vai essa organização? Depende. Ela pode nos levar a conseguir nossos interesses pessoais, assim o faz os mafiosos... políticos... (serão sinônimos?) cujas organizações são baseadas em princípios materiais, financeiros (familiarmente financeiros), com uma base muito bem podada, a ponto de durar centenas de anos no poder...

Há outras organizações, no entanto, que se contrapõe ao dito acima. A linha pela qual elas ‘andam’ são linhas tradicionais, advindas de culturas responsáveis pelo real conhecimento humano até agora. Muitas seguem linhas desconexas, claro, racionais em excesso, mas outras levam a sério o significado de espiritualidade – infelizmente, a maioria não ocidental. Não importa, todas elas são voltadas ao conhecimento de si mesmo.

Tais escolas (organizações) trabalham o individuo – como diria Platão – como um ser indivisível, ou seja, que não se divide. E na mesma linha o veem como um pequeno estado, onde há guardiões, comandantes, guerreiros, contadores de histórias; todos esses elementos são de uma República na qual o filósofo nos queria passar como devemos no portar perante a nós mesmos. É complicado? É e muito.



Volto no próximo texto.

terça-feira, 8 de setembro de 2009

Núcleo Familiar


Semana que passou foi deveras reflexiva para mim. Quer dizer, tudo agora – não sei se é a minha idade – é um tanto quanto reflexivo no melhor sentido da palavra para este que vos escreve. Minha mãe completara 72 anos de idade. Todos comprando presentes, organizando a reunião, que se dá a cada dia sete de setembro, a fim de que tudo dê certo. Isso, com sobrinhos, netos, bisnetos, faltando ou não.

É algo fabuloso a que minhas irmãs se dedicam. Fico apenas a refletir junto ao meu filho e esposa, a qual todos os anos me surpreende. Esse ano, fez questão de comprar uma lembrança para a sua sogra. Mas depois entendi o porquê: um dia, uma das minhas irmãs reclamou que “aquele que ganha mais” não estaria dando presente a altura da aniversariante... Achei um comentário, do meio, um tanto quanto maldoso, mas seria natural, principalmente quando se trata de pessoas da família que não têm o “sangue harmônico”; e minha esposa, minhas irmãs e irmãos ainda não sabem o sentido dessa palavra. Contudo sempre se harmonizam quando se trata do grande dia sete de setembro...

É disso que precisamos em família, harmonia, pois é um dos maiores núcleos fraternos ao qual temos conhecimento até hoje. Há vários institutos, várias organizações, mas a mais perfeita poderia ser a família. Digo poderia porque acredito que filosoficamente todos nós somos. Não há nada que nos possa frear no sentido de nos unir em sermos um núcleo idealístico, voltado ao bem como um todo.... Mas é sonho, quimera mesmo.

Não, não tem jeito. Hoje, em família, aproveitamos as diferenças básicas para nos distanciarmos um do outro; talvez porque somos família. Mas será que família, esse núcleo tão natural, nos dá essa abertura justamente por nascermos dentro dele? Poderia ser diferente, já que o temos como meio de nascimento, crescimento, amadurecimento e... Não, não é necessário morrer me família – mas não é diferente.

Em todas famílias, há uma abertura de desbravar o ódio humano, mas também o carinho em todos seus moldes. É ali, na família, que o laboratório se faz. Nascem demônios que se convertem em anjos, e anjos que se convertem em... Pois é, nada melhor do que um laboratório frio, ao mesmo tempo quente tal colo de mãe... Não poderia ser assim.

Todavia, não tem como não sê-lo. Geralmente mães e pais, moldados em educações arcaicas, sem o mínimo de organização que os transcende, criam filhos sob o manto de uma informação a qual chamam de educação. Levam filhos a acreditar que o mais importante é ser alguém – nesse momento, a falha é constante, pois queremos sempre que filhos sejam políticos, juizes, advogados... isto é, seres que ganham um bom salário, o que desconfigura uma sociedade que nasce com indivíduos em lugares que não tem a vocação.

Mas não é só isso, a competição vinda de irmãos, às vezes banalizada pelos genitores, ou apoiada em demasia por eles, destrói núcleo familiar, já de pronto. Não podemos, de forma alguma, ter o sentimento de competição num meio em que tudo foi unido por amor. Se tal sentimento persiste dentro da família é porque pais não sabem (ou não souberam) lidar com problemas advindos deles próprios. Sim... Os pais se tornam responsáveis, até determinada uma idade do filho, pelos problemas que deles partem.

Mas o núcleo familiar não se descreve de maneira tão gratuita e muito menos seus problemas, mesmo porque nos daria panos para manga... O mais importante é entender que, por ser um núcleo, devemos nos dar conta de que os pais são a semente que nos geraram. E nós, galhos, daremos folhas, prova de nosso amadurecimento, além de frutos, nossos filhos, os quais darão mais frutos, netos, e assim por diante, todos eles ligados àquela uma semente...

Todavia, nada mais importante dizer que, mesmo sendo frutos, folhas, galhos de uma mesma semente, cada membro passa por experiências diferentes, traçará seu caminho como lhe aprouver. Isso é, muitas vezes, inconcebido pelos genitores que, por acharem que são eternas sementes, são donos dos caminhos de todos seus frutos – ou seja, filhos.

Por termos raízes em nossos calcanhares, temos medo de dar nossos passos sozinhos, e sempre recorremos às sementes – pais --, que, com certeza, fazem bem o seu papel. Assim, reconhecidos como mais que pais, por sempre terem nos dado conselhos, sentem a grandeza de vigiar a cria, eternamente...

O núcleo familiar se desfaz e se faz em reuniões – churrascos, aniversários, enterros, visitas – e percorre longos caminhos na tentativa de lidar com ele mesmo. Pois, não direciona filhos ou filhas a caminhos independentes, pois o mundo nos ensinou que ser independente é errado; não traduz seu presente e se baseia em passados errados, e distorce realidades quando pais não buscam as verdadeiras raízes na tradição que tanto a formou.

Observando a natureza, vemos animais que jogam suas crias de cima da árvore, outros que se afastam dos filhotes, que choram, correm para a mãe, mas são afastados, em definitivo; outras vezes, aves que pulam de montanhas, e não estão nem aí se seus filhotes morrem ou não...

Claro, não somos animais. Temos sentimento. No entanto, repensemos o fato de o termos em excesso, pois podemos castrar todas as possibilidades de crescimento, amadurecimento de todos os filhos que nos são dados por Deus, o qual sempre buscamos, mas não para ficar dele dependente eterno, mas para nos dar coragem, força, e nos iluminar em nossos caminhos tão obscuros e estreitos. E é baseado nisso que os núcleos devem ser ligados ao sagrado – como toda tradição um dia foi.

sexta-feira, 4 de setembro de 2009

O Dia do Silêncio


Haverá um dia em que permaneceremos calados frente a esse grande espelho que nos mostra, o mundo em que vivemos. Atrocidades de todos os níveis relatam a decrepitude humana em níveis a cada dia mais dantescos. Tentar entender o porquê desse rio de sangue que corre em nossos pés, o qual tão vermelho quanto o que em nossas veias corre, é tentar entender uma natureza que não fomos dotados para entender. Mesmo assim, em palavras soltas, em teorias inacabáveis, nos estruturamos, mas, do pior, que sobrevoa a planície de nossas cabeças, não temos mais a rédea, nem mesmo sabemos mais o que é isso.

Nos tornamos vitimas de nós mesmos, e ao mesmo tempo monstros de uma época que nos parece mais um labirinto maior e mais complexo do que aquele que nos fez encontrar a nós mesmos no passado. Nos perdemos novamente. Não temos mais a chave das portas da espiritualidade, aquela que um dia nos tornou humanos, que um dia nos evolucionou acima dos animais... Hoje, não se sabe quem é quem.
Não se sabe se, com o advento do jornal e dos meios céleres de comunicação, ficamos mais perto de realidades do que no passado. Mas o passado – que passado? – nos trouxe somente a bem aventurança, o bem, o bom?... Não sabemos. Simplesmente não se sabe quando começou tudo. Tudo, na verdade, está se indo como um lodo no Tietê, que sai de suas vias sujas e mergulha nas águas imundas de um rio que parece a própria humanidade.

Muitas coisas se parecem conosco, e infelizmente somente aquilo que sempre descartamos: o mal, o hediondo, o frio, o vil... Nada mais. E o rio se vai a quilômetros, como o vento que vai e vem em nome do que lhe apraz, assim como nossas brisas que se foram.

A vontade do homem, hoje, talvez seja fugir de si mesmo, ir à lua – ou a Júpiter – e ficar por lá, com intenções de nunca mais voltar e nunca ter que encarar sua própria face no grande espelho.

Em resposta, gostaria de ficar em silêncio. Chorar baixinho e reviver, no que resta de minha alma, o que fizemos em outrora pela humanidade que nos clama no presente. Sorrir pelo que fizemos, de pouco, contudo o bastante para morrermos com um pouco de dignidade, sem ter medo de olhar para cima, olhar para o céu, olhar aquela ave, que um dia nos simbolizou o espírito ao lado dos deuses; olhar as árvores, que resistiram às intempéries, tal qual nós, humanos, um dia também o fizemos, com labor e amor. Amor, que palavra é essa? Qual finalidade? Também se foi no grande rio, presa à paz, à vida, à virtude...

Quero continuar olhando, agora, para dentro de mim, como se o fosse para dentro de todos os humanos, e orar, pedindo perdão a tudo que fizemos e reconhecer nossos erros – tão grandes que nos daria bilhões de anos encarcerados; mas não há cadeia pior do que a nossa consciência, presa ao erro, essa algema maior que nossas ambições. A consciência, presente dos deuses, ainda flutua sem correr naquelas águas verminosas do rio incessante.


Tínhamos um tesouro e dele nos restou apenas a lata com a qual trocamos por ele. Nossas mentes racionais, intelectualmente formidáveis – sem o mínimo de espírito --, nos trouxe a dor eterna de olhar para nós mesmos e jamais entender o porquê fizemos isso com o mundo. Este, em reação por nosso “carinho”, deu-nos a destruição, o fim de tudo que era belo.

quinta-feira, 3 de setembro de 2009

Mais que Vidas



Não sabemos quem fez as pirâmides – ou o quê; não se sabe o que fizeram os romanos perderem a hegemonia de sua grandeza, e decaírem; não se sabe o porquê da queda de várias civilizações – como as ameríndias; não sabemos de muitas coisas, uma delas o que fez Cristo dos sete aos doze anos.

Não há nada que nos faça voltar as história e entender, nas entrelinhas, tais questionamentos, que, para muitos, são motivos de buscas acirradas, loucas e desvairadas, a ponto de viver a vida em meio a livros, ou mesmo laboratórios, universidades...

Não percamos tempo, vamos atrás de alguma coisa que seja de nós mesmos, de nossa vida perdida no meio da multidão que nos arrasta, tal qual aquela que sai do estádio de futebol. Tentemos sem aspas viver a vida, essa grandiosidade divina que pela qual se ama, se engrandece. Deixemos os mistérios em seu lugar, busquemos apenas o que nos é próprio – isto é, o amor às pessoas, ao mundo. Precisamos disso agora, mais do que nunca.

Nessa multidão, que se vai, somos símiles em sentimentos, mas somos díspares em cores, em ideais, seja religioso, político, familiar... Não importa. O que nos faz humanos não é nosso caminho, mas o que nos faz andar nele, o que, geralmente, nos confunde, nos atropela, nos agride. O que nos faz humanos é o amor que temos um ao outro, essa força divina que, inata, se enraíza sem pedir licença, e, graças, morre em nossos corações, à beira do abismo de nosso espírito.

Por outro lado, os mistérios nos chamam. De zumbis nos fazem. Aquele frio em nossas almas – aquele frio que se iguala apenas quando olhamos para baixo de um grande abismo, lembra-se? – a pedir que caminhemos com medo, tal qual o guerreiro que sabe que morre naquela batalha, mas algo nela e em seus companheiros fica, que é a certeza de que o amor à liberdade, o amor à busca, o amor à vida, e o sentimento de imortalidade, fruto de várias experiências vivenciadas, elevadas à máxima potência, além do amor ao próximo... Tudo...!

E nós mortais, quando olhamos para trás, nos vemos, apesar delas, vivos no passado, e além disso, de que fomos realmente únicos em batalhas anteriores, que nunca terminaram, e que nunca terminarão.

As batalhas sempre existirão. As guerras, idem. Todavia, a paz, que buscamos tanto, torna-se meros lembretes de verões que nunca vieram. Por quê? Por que somos detentores de um medo que nos impede de viver, de sorrir, de abraçar o próximo, de dizer algo que valha a pena, nem que seja a si mesmo, o que diria àquele que precisa? Não... Não podemos ser assim. Ao mesmo tempo, não podemos ser confundidos com loucos desvairados em meio à multidão que tanto se arrasta para lugar algum: ela não vai compreender; vai te prender, enjaular em grades, rirá de você e exilar-te no primeiro buraco da terra...

O que posso tirar disso é que ser (ser) humano é proibido, é coisa de maluco! Além de querer ser um pouquinho melhor consigo mesmo, quero ser melhor com as pessoas com quem tanto ando, vivo... Você está louco?!

Viver a vida, re-ga-da-men-te, sem que haja exageros, mesmo que a morte nos perturbe em jornais, revistas; ainda que pulem dos abismos; ainda que corram para os hospitais, ainda que te empurrem, te pisem... Ainda que seja o caos. Viver como sábios – ainda que sejamos ignorantes de pedra – em nosso cantinho, em nosso abrigo – naquele cantinho que tanto amamos e conhecemos. Se alguém nos procurar, faça-o procurar uma cadeira, sentar-se; depois, ouça-o, escute-o com carinho, dê um belo sorriso, abrace-o e comungue sua dor, ou melhor, tente transformá-la em um ser de outro mundo, enviando-o ao seu planeta de origem. Quanto ao amigo que se sentou, faça-o entender que nele há a paz que tanto buscamos, há o Deus, há saídas para o mal, entradas para as esperanças, para as lágrimas verdadeiras... Para tudo que quisermos!

A vida nada mais é que uma consecução de todas as vidas.

terça-feira, 1 de setembro de 2009

Vida e Morte, lados de uma mesma moeda


Diziam os antigos que a morte é apenas mais uma vida, um complemento de nossas vidas, regada a mistérios e indagações. Não há nada melhor que iniciar uma conversa baseada na tradição. E principalmente uma que se refere à Vida, algo que, infelizmente, é mal interpretado atualmente.

É falso afirmar que somos detentores únicos da vida, pelo simples fatos de que andamos, falamos, respiramos, amamos... É falso afirmar que a morte é uma penumbra misteriosa que serve apenas de complemento ao nosso viver, ou mesmo o fim de nossa existência.

Vida e morte se interligam por uma linha tão sutil, a qual temos medo de compreendê-la. Ao relacionar vida e morte em uma mesma frase, temos a impressão de que estamos falando de coisas opostas (talvez), desarmônicas... Não. Pelo contrário. Falar sobre as duas é falar de uma coisa só: Vida, com V maiúsculo. Essa que engloba uma totalidade megauniversal, que transcende todos os conceitos humanos.

Por isso, falar do metafísico (além do homem) é tão difícil. E por isso que somos marginais do conhecimento; do real e palpável conhecimento. Nada mais. Se tentássemos relacionar esse todo em nossas educações, não teríamos medo de, pelo menos, começar uma pequena convicção.

Mas justamente pelo fato de não conhecermos é que escutamos teorias e nela acreditamos, principalmente de clássicos como os livros cristãos, indianos, chineses... E não estamos errados, mas, já que é um assunto que beira o metafísico, devemos entender que não sairia gratuito ou mesmo coloquiais determinadas explicações – como ir para o céu; ir para o inferno; cachoeiras de prata, de ouro; sete loiras, embaixo de cascatas, à nossa espera; tronos divinos; presentes divinos... E assim vai. Não se pode compreender o imensurável com nossos corações e mentes, sem sair do chão.

Tudo isso poderia ser resumido em uma só palavra: mitologia. Em todas as civilizações, mitologias explicaram um universo – principalmente, nas civilizações gregas e romanas -- no qual apenas uma lei existe, e dentro dessa lei pairam potencialidades organizadas, cada uma com sua vocação – vamos deixar assim – dessa forma, teríamos o Darma – difícil de explicar, pois se refere a uma organização além de nossas compreensões, as quais podem ser resumidas dentro de nossos dia a dia, mas não de maneira tão organizada; todavia somente para entendermos quão necessitamos dela.

Tal organização (Darma) seria vista, de acordo com a tradição, como uma linha divina (para nós, Deus); para deixar bem claro o quanto que é difícil explicá-la, sabe-se que até mesmo o Caos faria parte dessa Lei.

A Vida nunca começou, segundo a tradição. Ela sempre existiu (incluindo a morte). Para o raciocínio humano, a vida começa quando alguma coisa materialmente lhe aparece aos olhos. Seja uma rosa, uma criança que vem ao mundo... Ou até mesmo uma pessoa desaparecida que há muito não se vê. A morte se explica pela falta. Quando nos vamos materialmente, quando desaparecemos dos olhos do próximo; quando uma flor murcha, quando um animal se vai... Etc.
Mas a morte, esse ser indubitavelmente misterioso, seria apenas uma forma de desaparecimento de uma determinada civilização, sociedade, povo, homem, até mesmo um fio de grama, os quais voltariam com a mesma essência, no entanto sem a mesma estrutura com a qual veio da primeira vez. Ou seja, como um ciclo que nasce, cresce, amadurece e se vai, é a vida. Interminável.

No nosso nível, difícil entender, mesmo porque fomos dotados de várias culturas dentro das quais cada povo foi educado. Culturas nas quais até hoje, simbolicamente, respeitam as tradições de há milhares de anos; por outro lado, outras que, em razão de períodos escuros passados, titubeiam na busca torta pela verdade.

Hoje temos a Terra, a Água, o Ar, e o Fogo, cada qual agindo de maneira diferente em diversos pontos do universo. Desses elementos, pré-socráticos tentaram nos passar a origem de tudo, de maneira simbólica, pois, ainda que fossem elementos palpáveis, não teriam apenas funções meramente visíveis dentro do contexto universal. E realmente tinham razão. A vida não se explica em um caderno de anotações.

Assim o foram vários filósofos, entre eles Platão, Aristóteles, Plotino, e mais tarde, nossa querida professora Blavatsky, que, em meio a educadores orientais, reuniu sua doutrina acerca da Vida em vários livros (Doutrina Secreta I, II, III... etc). Antes disso, Buda, Confúcio, Zoroastro, iniciados – o que significa que são seres que possuem apenas aparência de humanos... E são mais que isso – traduziriam a Vida em suas escrituras. Por falar nisso, Cristo não nos deixara nada.

Sócrates já dizia que nada sabia, por mais que fosse o maior sábio de sua época. Imagine nós, aparentes sábios, com raciocínios super lógicos, mas tão impuros quanto panos de chão na lama, na tentativa de traduzir as estrelas, o sol, o universo sem seguir as pegadas dos grandes homens que, com certeza, vieram para facilitar nossos caminhos, nossas vidas. Imagine nós, pinta de cientistas que ‘descobrem’ tudo, ‘inventam’, mas que, no fundo, sabem que nada pode ser inventado, descoberto, revelado, mesmo porque já o fizeram no passado. É só estudar um pouquinho da história do Egito.

Um povo que soube traduzir mistérios vitais e segredá-los à medida que seus passos iam progredindo; contudo, o ser humano decai, e com ele sua época, seu mundo, seus valores. Tudo que nos resta são provas de que somos ignorantes. Por incrível que pareça eles também achavam que eram! Então, o que somos?

Para eles, Deus era tudo. Para nós, apenas o que nos interessa. Para eles, não havia nada que fosse por acaso; para nós, somos o centro de tudo que nos acontece e nos cerca. Para eles, a vida era tudo que estaria fora e dentro de nós. Para nossa espécie, vida nada mais é que o respirar de um ser humano...

No passado, a vida era comemorada em todos os seus aspectos; hoje, muito mal em nossos aniversários...

Aprender a lidar com a vida, sem que tenhamos medo da morte, é buscar entender as duas de maneira que saibamos a priori uma coisa: nosso corpo físico é mortal, até mesmo o do grande herói do passado que governou décadas, enrugou, envelheceu, se foi... Mas para isso é preciso entender que a vida é cíclica e que nossa essência é eterna, tal qual a de todo universo, que nunca termina.









A Parte que nos Falta

"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....