quarta-feira, 24 de março de 2010

D E U S


Os mananciais existem como livros abertos ao homem-sábio que sabe ler nas entrelinhas a semântica da vida. Com rios desgovernados, animais livres, crianças a nascer, homens de bem a trabalhar, a vida discorre no peito da terra, do mar, do ar... e do fogo.

A terra, mesmo com seus habitantes nefastos – os vermes – alimenta, infiltra, reanima e nos faz de pé; as águas, ainda que quentes, ainda que frias, jorram-se das entranhas da matéria e se vão, com ideais prânicos, a alma do peregrino que vem de longe – nós.

O ar, ao bater na alma universal, tão rarefeito, tão leve, quando em forma de brisa, e violento, em rajadas, em ciclones, em furacões, quando em forma divina, é a essência de um enigma maior – nós. O fogo, espírito humano, dado pelo deus Prometeu, que roubara de Zeus, que o amaldiçoara na cruz eterna pelo mal que fizera a humanidade... Fogo, ainda que pequeno, queima ou mesmo começa um incêndio em uma grande floresta, em uma grande civilização...

E o manancial, misterioso, continua a explorar a si mesmo, continua com sua ciclicidade, nas pedras, nas plantas, na profundeza sombria, cujos mistérios não saberemos jamais. Nosso único meio é tentar descobrir em nós esse manancial que corre solto, como criança levada no parque; descobrir para onde vai; tentar entendê-lo, talvez, em nós, pois o possuímos como um micro-organismo vivo – uma célula – na alma, cheia de vida, como furacões, larvas de vulcões, enfim, semelhantes a um atleta cuja velocidade não varia...

Nesse mistério aberto, as luas e sóis harmonizam – tais quais a todos as raças de toda a terra, de toda a galáxia, de todo o infinito... Nesse mistério, os instintos, presos a uma lei natural, correm e lutam pela sobrevivência, e morrem para gerar uma outra vida: é o renascer de cada alma.

Não se fala, não se ouve, apenas o correr das almas em direção ao Grande Espírito, tão inimaginável quanto Ele próprio. Suspenso, sem fim, tão mítico quanto qualquer criatura, o espírito se sustenta, se revela e é velado, se mostra e se esconde, tão simples e tão complexo... Tão belo e ao mesmo tempo tão bruto. Visto como a inteligência maior, Ele comanda, mas não dá ordens, mostra a dor, mas não é Injusto, não mostra a face, mas se inclina ao coração da espécie mais simples à mais complexa, o homem.

Não há divisões, não há partidos, mas há seleções de raças, lugares, elementos, seres, os quais unidos refletem seu corpo, e não necessariamente sua mente, que, acima de qualquer visão humana, se abre e se mostra maior que todo o universo.

Mas o homem, ainda que ínfimo em sua complexidade, pelo seu racionalismo exacerbado, pode um dia compreendê-lo. Um dia... um dia...

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