segunda-feira, 29 de março de 2010

Á Sombra da Inquisição

Não sei o que chamamos de justiça hoje, mas nos parece um montante de interesses por carne, ossos, sangue. Isso ficou claro no julgamento dos Nardoni, na ultima semana. Em meio a um todo de evidências, o casal foi entregue à justiça pública como dois conjuntos de ossos sem alma – realmente era o que evidenciava, pois, a priori, já nos transparecia em razão das provas no apartamento dos dois.

Mas segue os critérios justos de investigação e, em quem sabe, culpabilidade, dos réus ou não... Assim o foi. Porém a massa desinformada, sem critério algum, cheia das opiniões, crucificava a imagem do casal antes de qualquer julgamento – o que é natural, pois estamos em um mundo no qual nos deparamos com opiniões diversas e que podem influenciar um meio, mesmo assim, eu me senti numa Idade Média contemporânea, em que tochas e xingamentos por pouco não apareceram na mídia...

A mídia (runf...!), essa voz que não cala em nome do povo, (leia-se tronco a espera dos futuros assados), refuta qualquer ideia de inocência, de paz, de justiça, e sim de digladiações invisíveis, confronto, lutas e até mortes em nome da lei democrática que diz “não é proibida qualquer manifestação ideológica” por parte da imprensa. Nesse meio, tripudia-se, arranca-se olhos, bocas e cabelos com a finalidade de demonstrar que a mídia sabe o que é justo – lamento, mas não sabe não.

Não é justo que se espalhe nas ruas o ódio, o desespero, a guerra, a dor de uma mãe. Não é justo que jogue duas pessoas ao fogo – o pior dos fogos – antes de um julgamento... Não é justo que se premedite um julgamento antes mesmo de ter acontecido... A própria imprensa desconceitua os conceitos, irrevela opiniões de religiosos, filósofos, escolas morais; enfim, desgoverna ainda mais o que já nos é desgovernado – nosso mundo. Mas o papel dela se resume a isso: achar que é a voz de alguém. Não é não.

Após investigações, a perícia deu cem por cento de possibilidades de o casal ser responsável pelo crime – morte de uma menina, à época com seis anos de idade, após ser jogada pela janela do edifício – e refutara todas as opiniões contra, inclusive àquelas que afirmavam terem mexido na cena do crime – e mexeram. Mas a questão em foco não é o casal ou quem seria o real mentor-executor do crime, mas o senso de maturidade dentro de uma sociedade cuja educação é tão vazia, mentirosa, caótica, que, até os próprios neandertais, se sentiriam cientistas!

Quem conhece a história sabe que a decadência de comportamento se vê ao longo dos tempos em comunidades que, pelos seus atos, acreditam em fatos circunstanciais e casuísticos como se fossem o final do mundo. Levam uma realidade cientifica como se fosse um milagre advindo de Deus – como choro de santos, águas batismais que curam, etc, além dos eclipses que geraram no passado alvoroços, sem falar das sociedades que execravam os pensadores; um mundo que fora gerado pela ganância humana, e que nunca mais fora esquecido.

O nosso atual mundo está bem pior. Depois dos terremotos no inicio do ano, no Haiti e Chile, vimos o quanto resguarda o animalesco em nós. Saques, violência, mortes, tráficos de crianças demonstraram a verdadeira face humana diante do problema: somos ainda mais neandertais do que nunca; estamos em uma Idade Média pior do que aquela em que a Igreja comandava e jogava ao fogo os homens que pensavam... Hoje, qualquer um é jogado.

Feliz são aqueles que possuem interessem divinos e que nos dão esperanças de um mundo melhor, porém tais almas estão – graças à impressa – se extinguindo. A influência é tanta, que não se refuta uma massa, pois, morre-se na rua linchado... Mas quem vai refutar uma massa? Refuta-se apenas o núcleo criador dos massacres em uma época em que se precisa esquecer o mal que gerara toda a tristeza no passado; é preciso reavaliar o que é justo, transformar isso em educação e gerar menos linchadores de plantão.

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