Falar de homens e caminhos é muito difícil. Ainda que eu tente expor de maneira persuasiva, com todos os meus vocábulos volpinianos (do Volp), acrescentarei, a cada dia, nesse mesmo texto, mais informações, me levando a crer que escrever um livro é a melhor saída. E mesmo assim, ficaria faltando informações acerca desse grande assunto.
Então falemos de Liberdade... (que coisa, hein!)
Hoje tentei manter minha veia filosófica em dia, levando meus pensamentos ao que todo homem moderno leva, à liberdade. De repente, no mesmo instante, vem-me um pássaro enorme a sobrevoar meus olhos, sozinho, sem ao menos uma faísca no céu azulado, apenas ele, se perdendo, em busca do seu grande caminho, o caminho das aves.
O primeiro pensamento que nos vêm é o sentimento de liberdade (freedom!), tão preso em nossa garganta quente, ao lado de nossos pensamentos loucos a quebrar algemas da impaciência, da discórdia, do desamor e voar num mundo tão vazio quanto o daquele pássaro que nem relutava em voltar, parar, apenas seguir seu voo.
Tais pensamentos de liberdade coincidem com vários pensamentos, principalmente dos reais presos em cárceres, em abrigos, em asilos, enfim, tais pensamentos concordam com chamados buscadores de felicidade. Mas não é preciso estar preso em cárceres, prisões para que se tenha esse sentimento.
Além da sua vontade física de sair e “voar” nas ruas, pistas; subir e descer montanhas; ser independente, sem patrão, apenas ele e ele mesmo no mais profundo sentimento de viver a vida, o que faz o homem se sentir preso, na verdade, é a falta do conhecer-se a si mesmo, a falta dessa aventura que tantos homens do passado tentaram realizar e conseguiram.
Hoje, quando nos jogamos a fazer o que nos vêm à tona – nessa mente composta de mistérios que somente o responsável por ela sabe-nos dizer o que nela se encontra – o perigo nos ronda, pois não sabemos o que nos guarda quando fazemos o que queremos, sem ao menos uma lei que nos direcione.
Digo isso porque, na maioria das vezes, aceitamos a palavra Liberdade como se fosse um instrumento mágico que nos faz felizes por nos levar aonde nossos atos querem. Não. Não podemos nos deixar levar por isso, mesmo porque somos dotados de capacidades, sejam elas boas ou más, de levar a vida. E a liberdade, como objetivo humano, não pode ser um valor estruturado em capacidades sejam elas as melhores possíveis.
O pássaro
Quando vi aquele ser voando em direção ao nada, na realidade ele tinha para onde ir. Para o seu ninho, para a sua presa ou mesmo em direção à sua comida matutina. Ou seja, para algum lugar que ele poderia se encaixar como pássaro. E isso e ele fazia de forma natural, sem apegos, simplesmente de acordo com a sua natureza de ave.
Será que ele era livre por que voava? Por que tinha várias opções de voo? Por que ninguém poderia pegá-lo? Não. Não era isso. A liberdade era o caminho dele, era ele, sem aquela consciência dúbia humana, na qual pairam pensamentos de aflição, geralmente sem direção, ainda que passando por um caminho.
O próprio pássaro vive de instintos, e se der na cabeça dele voar para o alto, dar um rasante em busca de um mosquito, ou mesmo na cabeça de um homem que faz careta para ele, estaria, sim, dentro de sua liberdade, do seu caminho.
O Homem
Para nós, a liberdade está tão perto e ao mesmo tempo tão longe, porque vimos o sol, as plantas, os pássaros, os insetos, que não percebemos o seu significado. No entusiasmo de sentir um pouco essa paz, o homem chama liberdade a ausência de prisão, de celas, de cavernas, de opressão, simplesmente por não ser um pássaro que voa (daí as asas deltas), o homem quer ser um leão que caça a “qualquer” hora e ficar sentado mostrando as garras, matando de medo outros humanos! (até mesmo o leão possui suas leis); o homem se espelha o tempo todo em seres que ele gostaria de ser, e quando surge a oportunidade, corre como gazela, voa como pássaro, ruge como leão... Enfim, o homem deixa de ser ele mesmo em função de um sentimento que alimenta desde criança, de ser livre baseado em seres que possuem leis a seguir.
Assim, nesse ímpeto desenfreado, deixa de conhecer a si próprio, e foge o tempo todo de suas obrigações, de seus compromissos como ser humano, de suas leis, de sua Lei.
Quando Epíteto, filósofo, disse “Podem me cortar as pernas e eu ainda serei um homem livre”, estaria se referindo à condição de ser humano que alcançou, um nível um tanto quanto distante de nós, pois acreditamos que somos realmente seguidores de nossos princípios legados pelos deuses. Não. Não somos humanos ainda, comparados ao filósofo.
Para quem quer entender Epíteto, temos uma obra interessante, com o mesmo nome, na qual o autor revela a simplicidade de se buscar, e de entender essa saga de ser um pouquinho melhor todos os dias, na consecução de pequenas tarefas, sempre se repetindo, se elevando na ponta da alma, dentro da liberdade.
O grande filósofo era estoico, uma doutrina severa em relação às debilidades humanas, e quem entendia tal doutrina e as praticava (não eram muitos!), como Marcus Aurélio, general romano, segundo diziam “teriam iluminação própria”, ainda que estivem na multidão.
E os estoicos, em relação à liberdade, sempre diziam “Liberdade é Deus”. Para os menos espertos, eu digo, parafraseando os grandes, “Liberdade é ter um caminho e nele dar sempre o melhor de si”.
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