quinta-feira, 31 de março de 2011

Liberdade! Oh! Liberdade!...



Falar de homens e caminhos é muito difícil. Ainda que eu tente expor de maneira persuasiva, com todos os meus vocábulos volpinianos (do Volp), acrescentarei, a cada dia, nesse mesmo texto, mais informações, me levando a crer que escrever um livro é a melhor saída. E mesmo assim, ficaria faltando informações acerca desse grande assunto.

Então falemos de Liberdade... (que coisa, hein!)

Hoje tentei manter minha veia filosófica em dia, levando meus pensamentos ao que todo homem moderno leva, à liberdade. De repente, no mesmo instante, vem-me um pássaro enorme a sobrevoar meus olhos, sozinho, sem ao menos uma faísca no céu azulado, apenas ele, se perdendo, em busca do seu grande caminho, o caminho das aves.

O primeiro pensamento que nos vêm é o sentimento de liberdade (freedom!), tão preso em nossa garganta quente, ao lado de nossos pensamentos loucos a quebrar algemas da impaciência, da discórdia, do desamor e voar num mundo tão vazio quanto o daquele pássaro que nem relutava em voltar, parar, apenas seguir seu voo.

Tais pensamentos de liberdade coincidem com vários pensamentos, principalmente dos reais presos em cárceres, em abrigos, em asilos, enfim, tais pensamentos concordam com chamados buscadores de felicidade. Mas não é preciso estar preso em cárceres, prisões para que se tenha esse sentimento.

Além da sua vontade física de sair e “voar” nas ruas, pistas; subir e descer montanhas; ser independente, sem patrão, apenas ele e ele mesmo no mais profundo sentimento de viver a vida, o que faz o homem se sentir preso, na verdade, é a falta do conhecer-se a si mesmo, a falta dessa aventura que tantos homens do passado tentaram realizar e conseguiram.

Hoje, quando nos jogamos a fazer o que nos vêm à tona – nessa mente composta de mistérios que somente o responsável por ela sabe-nos dizer o que nela se encontra – o perigo nos ronda, pois não sabemos o que nos guarda quando fazemos o que queremos, sem ao menos uma lei que nos direcione.

Digo isso porque, na maioria das vezes, aceitamos a palavra Liberdade como se fosse um instrumento mágico que nos faz felizes por nos levar aonde nossos atos querem. Não. Não podemos nos deixar levar por isso, mesmo porque somos dotados de capacidades, sejam elas boas ou más, de levar a vida. E a liberdade, como objetivo humano, não pode ser um valor estruturado em capacidades sejam elas as melhores possíveis.

O pássaro


Quando vi aquele ser voando em direção ao nada, na realidade ele tinha para onde ir. Para o seu ninho, para a sua presa ou mesmo em direção à sua comida matutina. Ou seja, para algum lugar que ele poderia se encaixar como pássaro. E isso e ele fazia de forma natural, sem apegos, simplesmente de acordo com a sua natureza de ave.

Será que ele era livre por que voava? Por que tinha várias opções de voo? Por que ninguém poderia pegá-lo? Não. Não era isso. A liberdade era o caminho dele, era ele, sem aquela consciência dúbia humana, na qual pairam pensamentos de aflição, geralmente sem direção, ainda que passando por um caminho.

O próprio pássaro vive de instintos, e se der na cabeça dele voar para o alto, dar um rasante em busca de um mosquito, ou mesmo na cabeça de um homem que faz careta para ele, estaria, sim, dentro de sua liberdade, do seu caminho.

O Homem


Para nós, a liberdade está tão perto e ao mesmo tempo tão longe, porque vimos o sol, as plantas, os pássaros, os insetos, que não percebemos o seu significado. No entusiasmo de sentir um pouco essa paz, o homem chama liberdade a ausência de prisão, de celas, de cavernas, de opressão, simplesmente por não ser um pássaro que voa (daí as asas deltas), o homem quer ser um leão que caça a “qualquer” hora e ficar sentado mostrando as garras, matando de medo outros humanos! (até mesmo o leão possui suas leis); o homem se espelha o tempo todo em seres que ele gostaria de ser, e quando surge a oportunidade, corre como gazela, voa como pássaro, ruge como leão... Enfim, o homem deixa de ser ele mesmo em função de um sentimento que alimenta desde criança, de ser livre baseado em seres que possuem leis a seguir.

Assim, nesse ímpeto desenfreado, deixa de conhecer a si próprio, e foge o tempo todo de suas obrigações, de seus compromissos como ser humano, de suas leis, de sua Lei.

Quando Epíteto, filósofo, disse “Podem me cortar as pernas e eu ainda serei um homem livre”, estaria se referindo à condição de ser humano que alcançou, um nível um tanto quanto distante de nós, pois acreditamos que somos realmente seguidores de nossos princípios legados pelos deuses. Não. Não somos humanos ainda, comparados ao filósofo.

Para quem quer entender Epíteto, temos uma obra interessante, com o mesmo nome, na qual o autor revela a simplicidade de se buscar, e de entender essa saga de ser um pouquinho melhor todos os dias, na consecução de pequenas tarefas, sempre se repetindo, se elevando na ponta da alma, dentro da liberdade.

O grande filósofo era estoico, uma doutrina severa em relação às debilidades humanas, e quem entendia tal doutrina e as praticava (não eram muitos!), como Marcus Aurélio, general romano, segundo diziam “teriam iluminação própria”, ainda que estivem na multidão.

E os estoicos, em relação à liberdade, sempre diziam “Liberdade é Deus”. Para os menos espertos, eu digo, parafraseando os grandes, “Liberdade é ter um caminho e nele dar sempre o melhor de si”.



Aos buscadores.

quarta-feira, 30 de março de 2011

Homens e Caminhos II

A um idealista, no entanto, a morte não é nada senão um breve espaço de tempo entre a vida e a vida, o que se intui desde o dia em que seus olhos brilham por justiça, amor e principalmente Liberdade. A morte real a um idealista seria a prisão interna, o descaso de autoridades sem apelo popular, a religiosidade mentirosa, a política mentirosa, corrupta sem ao menos um representante coerente. A morte a um idealista nada mais é que vegetar em teorias que não levam nem trazem benefícios à humanidade.

Quando morre um homem como Steve Beecou, não se vão suas ideias. Assim como a de muitos outros – Che Guevara, Luther King, Mandela (ainda vivo), Gandhi, e muitos --, suas práticas são exaltadas e elevadas pelos que ficam; assim, quando morre um ser que procura viver em função do próximo, literalmente, não como nós ouvintes e falantes do dia-a-dia, em função de coisas nobres ensinadas desde que o mundo é mundo, no entanto, apenas aqueles corajosos, ou melhor, inexoráveis seres maravilhosos, se prontificam, antes do sol e da chuva, dos terremotos e dos dilúvios em sacrificar-se pelo gosto de um dia ver uma criança nascer com todos os seus direitos, e livre – seja ela de qualquer cor ou raça, nacionalidade...


O homem tem seus vários caminhos, assim o diz a bíblia indiana Bagavagîta, “Todos são diferentes, caminhos diferentes, mas se encontram no final dele”. Ou seja, não é preciso que vivamos em função de um ideal arduamente, em passeatas, em gritos pelos nossos direitos, mas sempre buscando, de acordo com nossa capacidade e natureza, o melhor para o próximo, ou mesmo não sermos incoerentes, nos educando tendo como norte o bem maior.

E o nosso norte deve ser um desses heróis que sempre lutaram e foram fieis a seus princípios. Estamos sem homens desse naipe em nossas prateleiras, mas, se observarmos bem, os clássicos nos trazem Adriano, Julio César, Alexandre, o grande; Ramsés, o filho da luz, até mesmo os grandes músicos do passado que tiveram suas vidas regadas a dificuldades, mas que, mesmo assim, respeitaram a todos, e, mais, conseguiram compor belíssimas músicas, como Mozart, Bach...

Se não há norte, não andamos. Se andamos, caímos e dificilmente levantamos. Um exemplo disso são adolescentes que caem no mundo, quando não possuem pais ou qualquer figura masculina que lhes serve de apoio para seus primeiros passos – ou últimos.


Mas havendo um, nos sentimos como cometas em direção a um sol que nos dará mais brilho a cada passo. E longe dele o brilho se perde. Assim, precisamos sempre de caminhos, de mestres, de professores, de irmãos, de pais, de amigos nos servindo de heróis ainda que com pequenos atos, como um grande abraço hora certa.


Aos grandes, aos pequenos, a todos.

Homens e Caminhos


Ontem, parece-me que todos os problemas pessoais me vieram à tona. E eu, tão perdido quando uma barata, correndo dos grandes pés da falta de solução, num grande ato heroico, ligo a TV e, no momento mais certo possível, um grande filme está por começar. “Um Grito de Liberdade”, um clássico da década de oitenta, que conta a história do povo africano na época do apartaid – segregação racial que se deu na mesma década, na qual negros e brancos não falavam a mesma língua.

Nessa época, tão difícil para a África do Sul, nasceram vários lideres pelos direitos humanos, entre eles Nelson Mandela, vivo até hoje e presidente do país, eleito democraticamente, após uma grande reforma no regime da África.

Contudo, não se esquecem as mentes mais saudosas da África de que um grande homem, com sua sensatez, inteligência, honradez, humanidade, que lutou severamente até a morte pelo sue povo, chamado Steve Beecou, levou vários africanos a serem eles mesmos, independente do regime.

O filme não exalta a figura de Steve, mas o mostra de maneira fiel, como sempre foi: fiel aos princípios de humanidade e igualdade, ainda que sob a violência brutal dos brancos que detinham o poder. Poucos se falavam, e, se falavam, eram escondidos a fazer planos para uma vida melhor, em suas casas.

Às vezes, do nada, vinham policiais de toda a espécie transformar a vida daqueles homens e mulheres sem direitos no país em um inferno, atirando, estuprando, queimando alojamentos simplórios, e todos os tipos de animalidades. A desculpa deles, dos animais, era de que estavam em território do governo e que aquela minoria tinha que sair, pois estavam transformando aquele lugar em local perigoso à saúde pública.

Não contavam, contudo, com a voz do grande homem, que se “rebelava” contra atos semelhantes. Sua indignação, no entanto, não era fazer passeatas, brigar contra brancos nas ruas pelos negros, mas dizer a verdade e vivê-la apesar de tudo, e para isso Steve tinha as palavras. Que palavras!

Sem medo de “confrontar”, como ele mesmo dizia, as autoridades, sempre fazia alusão aos negros como um povo que gostaria de ser eles mesmos, não brancos, pálidos, ou com modos brancos; queriam ser negros com suas vidas respeitadas, com seus modos, crenças, opiniões, política, ainda que não educados para tanto, porque a educação em voga era branca, ou seja, com professores que possuíam ideias, modos, opiniões dos heróis, dos pastores, dos salvadores, dos educadores brancos.




Como todos sabem, a educação não têm cor, muito menos a religião. Partidarizá-las por uma maioria que detém o poder é racismo. E de racismo viviam os Bantus, tribo da qual saiu a maioria negra africana, e que dela saiu Steve Beecou.

Um ser que ‘violava’ as leis racistas, tentando, sob a luz da razão não negra, nem branca, mas a universal, entrar nas mentes públicas – juízes, promotores, chefes de polícia, advogados – e fazer-lhes entender que ser branco não era ruim, mas que seus atos já não eram humanos, e sim de seres bestiais que tentavam dominar um país com leis desiguais a ponto de assassinar crianças e mulheres indefesas, e outras bestialidades não contadas no filme. Fazer-lhes entender que ser negro era e é ser humano, com sua cultura, com suas vestes, com família e emprego, os quais eram tirados e violados literalmente longe da opinião internacional.

Claro que um ser como esse não era apenas um homem, era um idealista, destes que não tinham medo de viver no chão proibido, desses cujo céu só existe para os privilegiados, mas que fazia questão de olhar para cima, pois o céu não tem dono. Desses homens que tinham a estrutura simples, até mesmo o andado, mas tão forte quanto larvas a destruir um mundo débil quando suas palavras fortes e reais ao ouvidos brancos vinham às claras... Para os negros, conforto; para os brancos, traição às leis e à África do Sul.

Não era apenas um homem tentando mostrar uma realidade pisada pela maioria branca, mas um ser que se sentia na obrigatoriedade de falar o que via e o que sentia – e isso o levou a ser o mais procurado e odiado depois de Mandela na África do apartaid.

Por fim, morre assassinado. No fundo de uma cela estreita, seu corpo, espancado ao extremo, nu, cheio de dor, e sua cabeça, com o crânio à amostra, teriam sido vistos por um médico que fora convidado para saber se Steve não estaria fingindo. O doutor, triste com o que vira, pediu que o corpo de Steve fosse levado com urgência ao hospital mais próximo, mas a policia não o quis e o levou ao hospital mais distante, dentro de uma ambulância precária, sem acompanhante, com a cabeça batendo fortemente no casco da viatura... levando nosso querido amigo ao óbito, antes de chegar ao suposto destino.

(Volto no próximo....)

segunda-feira, 28 de março de 2011

A Sombra de Um Espírito Guerreiro - final

Haiti


Falamos de comportamentos, de religião, de uma filosofia de vida maravilhosa advinda de lugares secretos, dos quais saíram povos orientais, cuja disciplina soma todas as outras a que assistimos e por elas passamos e relatamos aos amigos, filhos, enfim... E com um olhar meio débil, sentimos vergonha do nosso comportamento ocidental do qual não se pode tirar muita coisa. Mas somos ocidentais... E será que é só por isso que não temos a mesma possibilidade se sermos civilizados na hora em que problemas gêmeos aos dos orientais nos atingem?


Um exemplo disso, talvez seja – não querendo impor uma visão paradigmática – os terremotos do Haiti, do Chile, nos quais vimos o desespero, a dor, a miséria... – não nas consequências do terremoto – mas na consequência do próprio desespero em não saber lidar com a situação.


Comportamento


Os terremotos sempre existiram, assim como os vulcões, os tsunamis, maremotos, todos eles têm a razão de existir. É o comportamento clássico da natureza com a finalidade de renovar a terra, deslocando seus eixos, criando ondas, e qualquer que seja o país que estiver na zona de imperfeição terrena terá que passar por esse capricho da natureza.


O Haiti, como foi visto no inicio do ano, foi parcialmente destruído por um imenso terremoto, e países do Ocidente tiveram que ajudá-lo a se reerguer – uma tarefa não muito simples, mesmo porque aquele país, já pela natureza que se encontrava, tivera que lutar contra saques e violações de todos os níveis. Dizem que até mesmo crianças que tiveram seus pais mortos e que ficaram sem moradia foram levadas por máfias para terem seus órgãos vendidos.


O miserável país, hoje, sujeito a pouco tempo à colonização europeia, depois de meses na tentativa de se levantar, ainda com ajuda de milhares de organizações não governamentais, está esquecido, deixado pelas autoridades que sempre se julgam responsáveis por esse povo. Estados Unidos, Brasil, Inglaterra... e outros que tentam democraticamente organizar o país, depois do terremoto, ficaram como se fossem um bando de pássaros no céu se batendo sem saber para onde voar. O terremoto maior no Haiti se fez depois que o real terremoto se foi. Lixos, mosquitos, esgotos, agora mais do que nunca ativos numa terra de ninguém.


Os escombros estão lá, os famintos, agora com mais fome ainda; a ajuda humanitária é a mesma, sempre cuidando de suas mãos para que não se pegue nenhuma doença contagiosa. Sem falar na febre amarela que veio com tudo, pois em lugares pobres, cujos esgotos correm a céu aberto, onde crianças se divertem, tomam banho... Comem, bebem, e assim por diante, traduz a falta de organização de um povo comparado sub-raças esquecidas, além da desumanidade nossa de cada dia.


Sem cultura que os faça organizados, os haitianos, assim como todo o povo que passa por uma situação gêmea – terremotos, maremotos vulcões, tsunamis etc – cuidou para que seu país fosse assim. Filhos de colônias ditadoras, não souberam se organizar e viveram ‘até ontem’ sob o comando de outro governo, agora independente, democrático-tirânico, o que lhes deram mais pólvoras para revoltas homicidas e genocidas, das quais não se tiraram nada, nem mesmo o básico, muito menos paz.


O pais, um dos mais pobres do mundo, hoje, duela com muitos outros no contexto mundial para ser notado, mas a sua história temerosa – a sua cultura falha e o aspecto afro – tem lhes dado vários títulos como o ‘filhos esquecidos’; mas não por isso devemos deixar, bem claro, que uma nação, assim como uma pessoa, sente as dores do preconceito, e o Haiti, tal qual vários países africanos, sente a necessidade até de ter um terremoto, não real, mas um terremoto de humanidade advinda de todos os países.



Chile



Há países nos quais a miséria está longe, a educação é espelhada por vários outros, a política, a religião são bem notadas no contexto internacional, porém, quando há problemas maiores que ele, sabemos a cultura, a educação e até mesmo a sua estrutura são apenas castelos de areia que desabam em comportamentos humanos.


Pela coerência, é difícil até mesmo em comparar aos países pobres nos quais acontece o mesmo. A obrigação de serem mais disciplinados se vai com o primeiro tremor. Saques, tiros, violência foram menores em relação ao Haiti, contudo por essa obrigação sabemos que nos soa como um país mais miserável do que o colonizado. Esse foi o Chile.


É estranho, é desumano... É de deixar o mundo consternado pela falta de estrutura psicológica quando nos vêm problemas de igual naipe. Não só no Haiti, Chile, mas em países de grande porte como nos Estados Unidos, temos a impressão que o medo das pessoas está no por vir, não no acontecimento em si. Está certo que somos filhos de várias guerras genocidas, mas os japoneses também! Está certo que passamos por uma Idade Média, mas os japoneses, de alguma forma, também! Ou estou errado?!


Será por que somos menos religiosos, menos evoluídos – sim, talvez, mas em que sentido? Se comportamento mede a evolução de um povo, de uma pessoa... Temos que voltar às salas de aula, tentar entender o porquê de nossa incoerência com relação ao que dissemos, vivemos, pretendemos... Enfim, o porquê que somos filhos rebeldes cuja natureza é querer ser e não ser.



Comportamento


A filosofia de vida conta muito. Não adianta termos religiões sem ideais fortes dos quais possamos viver em paz e harmonia com o próximo; não adianta tentar entender o próximo se somos ainda incompreensíveis no sentido mais literal da palavra!


Marcus Aurélio, filósofo grego, dizia “Vamos parar de admirar as pessoas e vamos ser um deles!” – está faltando essa iniciativa interna, sem egoísmos, sem que tenhamos vergonha de dizer “temos que aprender com eles!” .


Vamos parar de admirar os japoneses e sejamos semelhantes a eles nesse sentido humano. Claro que, como foi dito, cada qual tem sua cultura e razões de ser, e nós temos a nossa. Mas isso não nos faz menores, pelo contrário... A vida nos dá oportunidades claras e mudanças em qualquer sentido, mas a que mais precisamos, urgentemente, é a humana.


E quando se nos passa um país sendo tomado por tsunamis, arrasando cidades inteiras... E seu povo preocupado em ser companheiro, organizado, limpo, amigo e irmão, parece-nos o inicio de uma nova raça, sei lá, como se tivéssemos esperanças renascendo lá no fundo de nossos corações.


sexta-feira, 25 de março de 2011

A Sombra de um Espírito Guerreiro - II

Assim como uma flauta que soa fina ao se confundir com o canto do vento, como um canto alegre de um pássaro na manhã gelada de outono, assim como a luz que permeia discreta nas nuvens, após sua persistência; assim como uma lágrima que cai após uma breve paz no coração... Assim deveríamos ser.


O segredo japonês pode estar nas doutrinas que adota, desde sempre; mas a sua natureza contínua em batalhar nos campos de sua história, que volta e meia nos traz a reverência, a disciplina, a honra como meios de sobrevivência, ainda que mortos de fome ou mesmo totalmente desestruturados, nos dá uma outra forma de reflexão.

Quem já teve a oportunidade de ler sobre os samurais sabe que eram seres extraordinários, cuja forma de viver era tão disciplinada que nos pareciam seres de outro mundo, ainda que fossem seres humanos. A guerra para o samurai era sagrada. E quem já teve a oportunidade de ler acerca das guerras civis japonesas sabe que não eram guerras genocidas, e sim guerras nas quais generais tinham a visão simbólica da natureza e que só atacavam o inimigo quando a natureza o assim o pedia.

Enfim, o comportamento japonês de viver em função de algo mais profundo pode vir, além de sua filosofia nas guerras, mas também da junção do seu passado, nas ilhas dos Mares do Sul ou mesmo na Ásia Oriental. Há quem diga que vieram dos atlantes, uma forma de vida que dominou os continentes dez mil anos antes do dilúvio – este em razão do poder destes moradores da Atlântida, que não souberam lidar com tanto poder sobre a terra, que deslocaram o eixo da terra em seis graus, causando o afundamento dos continentes. Os Atlantes, segundo especialistas, tinham, antes de serem os destruidores daquele mundo, as mesmas características dos orientais de hoje.

E hoje, milhares de anos de depois, ainda com comportamentos capitalistas-modernos, meio racistas, meio xenófobos até, neles sobrevoa um pouco daquela virtude do grande samurai, se observa a paz de um Buda, a força filosófica de um Confúcio, a organização de um guerreiro que lê na natureza seu futuro, a grandiosidade de um atlante, e a dedicação a seus pares como forma de ideal.

E nessa prospecção em buscar o porquê de sua sabedoria, nos sentimos crianças frente ao japonês, que, místico por natureza, obedece, de alguma forma, a uma tradição universal...

Mas o mistério continua...


(Continua no próximo texto)

quinta-feira, 24 de março de 2011

A Sombra de um Espírito Guerreiro


É admirável, inspirador, norteador e de encher os olhos. É o que posso, ainda me faltando palavras, minudenciar acerca desse povo maravilhoso que mora nessa grande ilha chamada Japão – e em meu coração.

Depois de inúmeros terremotos no passado, os quais o fizeram mais organizados no sentido de se preparem para outros no presente, nessa semana, os japoneses foram surpreendidos, mais uma vez, com a fúria da natureza não muito adormecida, e que, dessa vez, trouxe consigo o maior dos terremotos jamais visto no país, o que fez gerar tsunamis enormes – ondas que se iniciam pelo deslocamento interno das rochas – destruindo cidades, portos, aeroportos, pontes... Enfim, tudo que estava ao alcance do grande manto molhado que se iniciou no meio do mar e terminou por cobrir o que tinha sido feito em anos de vida pelos japoneses.

Contudo, assim como em muitos acontecimentos de semelhante natureza, eles conseguirão se reerguer e se transformarem, mais uma vez, em símbolos de fortaleza para a humanidade... Por quê?

Comportamento



Não é de hoje que o comportamento oriental nos dá um baile. Seja no aspecto religioso, familiar, social, filosófico, todos eles, em razão de uma cultura profunda, advinda do alto das montanhas, das escolas orientais e, é claro, de algo que jamais saberemos, como o simbolismo de sua história, mas que simplesmente nos revela, sempre que podem, a elegância humana em lidar com os fatos mais dantescos, catastróficos, nos ensinando, nos revelando, nos alegrando, nos impressionando... Enfim, alimentando esse nosso lado espiritual tão deteriorado pela Idade Média atual.

Não podemos generalizar, claro. Os orientais são apenas (entre aspas) mais práticos em relação a nós, quando são acionados a praticar esse lado interno. Nós, ocidentais, também temos, de acordo com nossa história, seres incríveis que nos plantaram aquela semente que nos faz mais fortes, mais dignos, mas a cada dia que passa somos levados por caminhos tortuosos do capitalismo, que, como um boneco cheio de cordas, nos trata e nos faz acreditar que o único caminho da vida é estar bem externamente, tirando-nos todas as possibilidades de nos reeducarmos em relação aos perigos iminentes da natureza, até mesmo de nossas pobres vidas.

Por que “nos reeducarmos”? Sempre soubemos que a filosofia vital é ser feliz independentemente de algo que produzimos, trabalhamos ou temos, mas a relação educacional do dia a dia nos faz trabalhar ao contrário disso. E não estou falando de hoje. Já faz séculos. Por isso... A admiração aos japoneses, chineses, etc.

Não que os orientais não sofram, mas sabem lidar com a situação, qualquer que seja, de maneira a serem mais organizados, menos agressivos, mais intuitivos, trazendo à tona mais reflexões acerca do ocorrido – em pequena ou larga escala.

Eles sofrem, e muito. Não há ninguém que não sofra nesse mundo, mas a natureza dos japoneses é de um povo que sempre conduziu a todos à sua ordem, ainda que sejam daoístas, confucionistas, xintoístas, budistas... Porém, além de tudo, são seres que possuem legados impressionantes em guerras, terremotos, o que ‘facilita’ ser o que são – seres preparados, disciplinados, com força para novos embates.

Mas, se dissermos que tudo isso os levou a ter um comportamento ‘x’, talvez estejamos corretos, contudo isso não explica seu comportamento, apenas revela parte do segredo deles.

Religião


No Japão, assim como em todos os países orientais, acreditamos que todo comportamento advêm do budismo, uma filosofia de vida que virou religião – legado de Sindarta Gautama, o pequeno homem que questionava a existência humana e que se iniciou embaixo de uma árvore, a qual, segundo alguns, ainda permanece na Índia, lugar em que nasceu Gautama. Daí veio o Buda, o iluminado, antes mesmo de os ocidentais terem seu próprio iluminado – Cristo.

As características de um seguidor do budismo talvez seja a calma, a paz interna, levada à pratica vivencial, a busca pelo silêncio, pela verdade, pelo amor ao próximo, mas sempre regada entender de maneira clara a realidade porque passamos.

Mas apenas parte, na verdade, bem menos do que se pensa, do Japão é budista. A grande maioria é xintoísta – uma outra forma de doutrina, confundida pelos ocidentais como religião. Xintoísmo, resumidamente, significa “caminho dos deuses” ou “caminho filosófico”.

Não tão antigo quanto o budismo, o xintoísmo teve seus primeiros escritos revelados nos séculos VII e VIII. Época em que o próprio xintoísmo não possuía ainda suas características, porque todo o pensamento dele era voltado à colheita dos povos, da mitologia, às estações do ano, enfim, não se podia vê-lo com características de um pensamento único no Japão, na China...

O xintoísmo é explicado pelo culto à natureza – o que revela a preocupação dos orientais com o valor simbólico que ela traz ao homem, e ao próprio valor material e espiritual dela; caracterizado ainda pelo respeito ao politeísmo, ao animismo (que vem de anima > alma > espírito), aliado a uma “cosmogonia” – uma doutrina que se preocupa em explicar a origem do universo, cosmo...

Assim, também o daoísmo (ou Taoismo, do Tao-Te-King, de Lao Tse), que se ensina o Tao, elemento simbólico que se subdivide em duas partes – preta e branca dividida ao meio – cada uma delas com um pequeno ponto, branco e preto respectivamente.

O Tal pode vir a significar o amplo universo em que vivemos, pode significar até mesmo cada um de nós, com dualidades, além dos mistérios iniciáticos dos quais pouco se fala no oriente, mas se pratica nas mínimas coisas – ou grandes!

Nele, no daoísmo, há elementos que – ao contrário das religiões do Ocidente – se fundem com o budismo, xintoísmo, até mesmo com o confucionismo, doutrina de Confúcio, um dos maiores sábios da China, acerca da natureza, da vida, dos cosmos, enfim, todas elas são claras a respeito de vários elementos essenciais à vivência humana, sempre com ideais maiores do que eles mesmos.

Daqui podemos tirar, talvez, um pouco do mistério que esconde o povo japonês.



(Continuo no próximo texto)

quinta-feira, 17 de março de 2011

Sem Fim

Acho que o submundo não tem fim. Por mais que se tente sair dele, há laços imensos que te envolvem o pescoço, quando não o corpo inteiro. A fraqueza da mente talvez seja a maior responsável por tudo. Uma hipótese, claro. Nada melhor do que conjecturar a respeito do fracasso por não conseguir algo tão importante na vida... algo do tipo viver em paz consigo mesmo.

Se eu estivesse entre os mestres, tenho a certeza de que me diriam que eu estaria envolvido nessa prisão em razão de um laço que eu mesmo apertei e que agora, como todos os laços fortes, tenho que tentar afrouxa-lo ou cortá-lo com uma faca – ou espada... A mesma mente.

Não é tão simples assim. Todos os seres humanos são portadores de ferramentas que adquirem na vida, com experiências boas ou ruins, e delas tiram seu sustento interno: sua religião, sua filosofia... Seus princípios. Não é nada gratuito mesmo.

Hoje com meia idade, ainda me sinto portador de experiências as quais teria que por elas passar quando mais jovem... Mas a natureza é sábia, e nós, homens, burros. Não há nada que caia em nossos braços do céu ou do inferno que não seja injusto. De alguma forma temos que alimentar isso, caso contrário...

Muitos se envolvem em religiões, dentro das quais encontram serem cuja capacidade de parlar é imensa, contudo não têm experiência suficiente para acalentar ânimos, pelo menos os meus... Muitos se engajam em escolas budistas, taoistas, teosóficas... até mesmo filosóficas com o intuito de compreender o que é o problema em si, e se deparam com enormes teorias evasivas em relação a eles; leem de tudo, de Platão à Bíblia, e saem professores em problemas... Contudo...

Nada melhor do que enxergar a vida como uma imensa montanha russa, na qual subimos e descemos, e que somente os fortes sorriem tanto na parte que desce, quanto na parte que sobe... Fácil, não?

Mas a tentativa de compreender nada mais é que tentar compreender a nós mesmos, pois não somos apenas filhos de um universo estanque; pelo contrário, somos filhos ligados a vários fios invisíveis universais, cada um mais diferente do que o outro... Mesmo assim, é difícil lidar com esse universo tão incompreensível, tão detentor de mistérios dos quais não conseguimos sair nem entendê-lo (claro!), ficaria sem graça se pudéssemos!

Hoje, quando falo em submundo, falo de descaminhos. Cada um com o seu. Descaminhos longos, pequenos, médios... Mas que não deixam de ser descaminhos. A natureza de cada um tem a sua importância na vida, contudo há alguns que são de uma natureza tão imperfeita, que somos obrigados a pedir ajuda, aquela ajuda aos céus, enfim... A tudo que nos rodeia.

Nesse instante, nem mesmo as clássicas de Bach, as palavras do mestre Marcus Aurélio, os códigos bíblicos, com verbetes míticos, históricos... Nem mesmo os estoicos com sua doutrina perfeita nos tiram do fim do mundo em que nos metemos... Daí vem os sentimentos de depressão, de dor, longe da paz de espírito que tanto almejamos e que, por buscar erroneamente, caímos, morremos, ressuscitamos... e não saímos do imbróglio simplesmente porque queríamos tentar entender a vida ou satisfazer nossos desejos mais simples, como o de ser feliz.

Aqui, no submundo, o crime é natural; a pornografia, a esperteza, a falta de ética, de moral, o materialismo em excesso, o sofrimento por nada, a loucura por cargo, dinheiro, beleza... Aqui, no submundo, a imperfeição beira a perfeição.

Aqui, conjecturar a respeito do amor, da paz, da vida, de Deus, da verdade é tão natural quanto no andar de cima – de onde nunca devíamos ter saído; porque na prática somos bestas sádicos na tentativa de matar uns aos outros por algumas moedas – assim, compreendemos, enfim, aquele mito que conta a história de um discípulo que entregou seu mestre por alguns trocados... O discípulo somos nós, e o mestre, o próprio universo a espera de nossa espiritualidade, lá no alto, além das nuvens, além das estrelas, cometas, dos sistemas... Além de nós mesmos.

segunda-feira, 14 de março de 2011

Sem segredos


Sabe aquele momento de pura felicidade em que nos encontramos às vezes, quando ouvimos uma música clássica que nos inspira o dia todo – ou pelo menos nos minutos em que ela desliza em nossos ouvidos, desce para alma e chega àquela parte que, como diriam os mais sensíveis, subjaz a tudo e mergulha no infinito escuro dos sentidos, nos fazendo fechar os olhos e sorrir como bobos em frente a uma orquestra?...

Sabe aquele momento em que você é surpreendido por um milagre natural, que somente você presencia e fica como um ser especial por alguns instantes, observando, amando, colocando as mãos no rosto, lacrimejando num rosto seco de saudades por algo verdadeiro?

Sem falar naqueles dias em que, mesmo havendo a mais forte ventania e respingando chuvas em sua roupa nova, e suas botas, sapatos, sei lá, de repente pisam numa poça suja a transbordar em sua calça limpa como se fosse apenas contigo, e, ao ver o seu rosto demasiadamente leve, sorridente aos outros que passam loucos pelo tempo ruim, que não passa, mas você, ali, com aquele ser estranho introduzindo um sentimento de liberdade, de amor e paz, tanto quanto qualquer guru...


Lembra-se dos dias em que se machucava ao cair no chão cheio de pedras pontiagudas, notava-se o joelho ferido, saindo aquele sangue quase negro, e que, ao tocá-lo, sentia-se dor, a dor real? Todavia o mesmo joelho, o mesmo sangue deixavam de existir apenas pela mente que passeava entre campos belos, tais quais aqueles que se veem em viagens longas, e que nos fazem viver momentos férteis de ideias, de humanidade?... Pois, eu me lembro.

E nos dias movimentados, cheios de crianças, mulheres, pais e filhos disputando a sala, a cozinha, o quarto, o teto. Depois de histórias contadas por irmãos, cunhados cheios da cerva; de sobrinhos, filhos e netos eloquentes em seus pedidos de lanche, almoço... Enfim, após o terremoto familiar... o silêncio... esse ser magnífico que se esconde dentro de cada um ainda que não saibamos. Esse ser divino que nos faz refletir acerca do nosso papel na vida, no universo, vem acentuar a razão na noite ou mesmo no inicio da tarde, quando pássaros iniciam seus sonhos.

Nós, humanos, precisamos disso dessa paz a que tanto almejamos desde que somos... Humanos, mas somos traspassados por sentimentos contrários ainda que dormimos, ainda que descansamos, ainda que pensamos, há, contudo, pensamentos de que não precisamos ser assim, muito pelo contrário. Dizem que a vida é um emaranhado de leis que devem ser obedecidas à revelia, sem ao menos perguntarmos o porquê.

Não devemos acreditar nisso. Há o silêncio das esferas, dos átomos, do próprio sol, que nos intensifica internamente sem pedir nada a ninguém, com seu jeito belo e silencioso, com o qual nos deparamos todos os dias, mas cai no vazio ao ser confrontado com o barulho das cidades, dentro do qual nos perdemos.

A prática leva à perfeição. Nosso porto seguro, nossa alma, esconde um lugarzinho, ainda que franzino, estreito, para nós é como um paraíso inteiro com direito a cachoeiras de mel, ondas de chocolate, surfando descalços a mil metros do mar. Temos o arco-íris, temos o pote no final dele, temos o que quisermos, mas é preciso escutar aquele ser do terceiro andar que ultrapassa nossos corpos e mentes, e viver, simplesmente viver de bem com a vida.

Sei o quanto é difícil, mas imaginemos um daqueles monges tibetanos que, mesmo em meio à multidão – Dalai Lama – parece estar entre as nuvens, sorrindo aos pássaros que beliscam seu ouvido bem carinhosamente.

Hoje, agora, talvez esse lugar que supera tormentos externos – intrigas, conflitos, violência moral, etc – nos faça acreditar que não é preciso viajar, como diria Marcus Aurélio, não é preciso ler tanto livros de autoajuda ou mesmo buscar um lugar seguro. Nós o temos, bem pertinho. Aqui dentro.



Regis

sexta-feira, 11 de março de 2011

Cinzas

Dias de carnaval, folia, fantasia, enredos.
Gritos, loucuras, sujeira.. mortes.
Lágrimas, batalhas, estradas... cansaço.
Doenças, pobreza, riqueza... esconder-se...

Dores, frios, berros, noite, dia... Alívio.
Trabalho, físico, sono... cama.
Falas, alegrias, discussão, abraços... chão.
Amantes, namoros, passado, presente...Futuro.

Filhos, esposa, família, festas... Pensamento.
Pagamentos, raiva, fúria, tormentos... Terremoto.
Casa, roupa, comida... Solidão.


R

sexta-feira, 4 de março de 2011

Perdão, a Palavra (fim)

(Aos Buscadores)

O homem, segundo Platão, é um Deus e já se esqueceu. Houve um tempo em que, antes dessas religiões separatistas, desses blocos partidários, das competições, dessa nossa natureza racional tomar conta de nós, éramos puros. Tínhamos a fé, a religião, a paz, sem rótulos. O universo em nós corria como rios que desembocavam no maior dos rios, que jorravam no Oceano da vida...

No passado, plantávamos, colhíamos, nos alimentávamos, vivíamos extremamente nossas vidas religadas a um Todo complexo, no qual todas as vidas estavam inseridas. Mas a necessidade humana de trazer de volta o plantio depois das enxurradas, dos terremotos, nos trouxe outra necessidade: a de orar e pedir a qualquer entidade o nosso pão de cada dia...

Éramos voltados ao sagrado. O profano nada mais era que a falta do religare em relação àquelas entidades que nos protegiam, mas também estavam, em algum nível, dentro de nós. E os iniciados sabiam disso.

A terra, o Fogo, o Ar e a Água sempre foram elementos dos quais vieram outros elementos mais sutis os quais apenas alguns, mais tarde, como os pré-socráticos, os sacerdotes egípcios tiveram o entendimento. Tais elementos sutis, de acordo com alguns filósofos, foram responsáveis pelo inicio do universo, o qual sempre existiu antes mesmo daquele pequeno ponto invisível do átomo explodir e iniciar o processo de criação do Uno.

Ali, potencialidades de todos os tipos – além da água, terra, fogo e ar – se expandiram e deram origem ao que chamamos de sistemas, o nosso Solar, e mais outros e outros, sem fim. Aqui se esconde o segredo maior...

Não havendo inicio nem fim, o universo de desprende dele mesmo e começa a expansão em milhões de anos; após essa expansão sem fim, inicia-se o processo de recolhimento, bem devagar, como se cada estrela estivesse se apagando, imperceptivelmente...

Jostein Garden, autor do livro Mundo de Sophia, ilustra bem essa passagem, comparando a expansão universal e seu recolhimento a um balão enorme cheio de pontinhos. Ao crescer, é como se estivéssemos enchendo o balão, mas chegaremos a um ponto em que teremos que esvaziá-lo bem devagar até ficar bem pequeno. Assim é o universo. Manvantara (expansão) e Pralaya (recolhimento), segundo a filosofia indiana.

Mas por que tais explicações, se estamos dissertando acerca da palavra perdão? –Tudo. Os processos pelos quais passamos não são aleatórios, apenas quando caem no livre arbítrio do homem quando este se depara com problemas e deles não conseguem sair. Contudo, se estamos inseridos dentro de uma lei universal inexorável, não só para os homens, mas a todos os seres conhecidos ou não, e se há leis que funcionam desde que o primeiro ponto surgiu no universo dando inicio a tudo; e se a modificação dessa lei, de maneira arbitrária, a sua violação, nos dá inicio a uma série de problemas sejam eles internos ou não... Não temos o perdão.

Talvez para o conforto passageiro de determinados homens que causaram danos à vida do próximo ou mesmo à sua, mas é só isso... Se as leis são inexoráveis, não esperemos que haja qualquer entidade que nos leve ao céu depois de recebermos, seja lá de quem for, o perdão.

Nós simplesmente tratamos o perdão assim como tudo que queremos, como foi dito. Mas não se pode dizer “não cresça, plantinha”, se você jogar água nela. Há uma lei que precisa ser observada dentro desse universo, no qual as plantas de todos os tipos precisam de água para desenvolver suas folhas, mais tarde frutos... etc. E a planta não vai, por mais que estejamos com o sentimento louco e contrário ao seu crescimento, deixar de crescer... É mais fácil ela morrer, porque as plantas tem vida. E uma vida que se choca com outra cujo astral é débil pode levar daquela problemas não só no crescimento, mas pode vir a falecer com tempo... É só colocar uma pessoa com problemas psíquicos ao lado de uma planta, e mais tarde observe o vegetal. Morto. Do contrário também pode acontecer... Plante um jardim ao som de Bach, Mozart e verás um bando de planta quase que te agradecendo...rs.

Mas o perdão não pode ser transformado em um ser. Ele é uma criação humana aos homens que querem uma saída para seus problemas. Aos homens que querem se confortar, acreditando que nada mais precisa, a não ser aquela palavra de bem-aventurança criada a partir de um processo de paixão universal, e pronunciada pelos homens que se julgam perto de serem divinos.

O perdão pode até existir, mas não desacelera nem uma lei em função de interesses celestes ou não. A lei universal não é cruel. Se temos a visão de que a planta crescerá independentemente de nossos sentidos, se temos a visão de que somos parte de um todo e que estamos sujeitos às leis internas e externas, se entendemos naturalmente essa lei, não precisamos criar qualquer palavra com a finalidade de confortar ou não o próximo.

Mas não é fácil. Qual é o padre que vai dizer “olha, não posso fazer nada por você. É a lei!”.(?)






Regis.


quinta-feira, 3 de março de 2011

Perdão, a palavra.


Em algum lugar na Bíblia, ou em vários lugares dela, foi colocada a palavra perdão como remissão de pena ou de ofensa, dívida, desculpas... Indulto... Sei lá, rs, o que nos leva a refletir acerca desse verbete precioso, que chega a ser santo por excelência... No entanto, há sempre atos com os quais lidamos na vida tão complexos, que tal palavra, de alguma forma, fica sem sentido.

Estou me referindo àqueles atos quase santos, cujo poder é indescritível somente em pensar neles, e que, ao mesmo tempo, se torna infantil da nossa parte expressar dentro de determinados contextos o que não somos... Santos. A palavra soa, mas não quem a expressa, temos que pensar nisso.

Deixe-me simplificar... Atos bárbaros são acometidos por seres monstros que se dizem humanos, mas são sociopatas, desumanos (!), atos esses vistos e revistos todos os dias por nós, dentro de nossos limites internos, os quais, não se sabe, quanto tempo continuaremos em nossos limites – eu, particularmente, sinto-me a cada dia preso nas grades de meus limites, infelizmente, com a mente impregnada de desconfianças e horrores humanos, graças a esses que maltratam o dia a dia sem pudor.

Mesmo assim, há aqueles que perdoam (aqueles do segundo parágrafo, rs). Como seres de outro mundo, nascituros de planetas puros e simples, que se enveredam pelas “portas do céu...”, “que nasceram com asas embutidas no corpo”; há aqueles que, também, não havendo outra saída, perdoam.

Mas o que é o perdão? O que significa a essas pessoas que perdoam ainda que seus filhos, irmãos, pais, mães... são assassinados de forma brutal por seres cuja estrutura veio somente para destruir conceitos de amor, até mesmo de perdão? Seres que vieram para redefinir até o que é céu e o que é inferno – não há limites para tanto! Aí vai de cultura para cultura... A palavra perdão toma, assim, a abrangência que permitimos.

No Ocidente, temos vários livros que nos conduzem ao pensamento de que desculpar é humano, perdoar é divino... Livros que nos dizem que a parte nossa, a do perdão, deve ser exercitada, trabalhada a cada dia a fim de que sejamos mais cristãos, mais amigos, mais família... São os de autoajuda...

É certo que temos valores e um deles talvez seja aquele que esteja escondido dentro daquele cantinho da alma, na qual somente poucos têm acesso, mas não podemos nos enraizar em sentimentos para nos realizar pessoalmente... A palavra perdão tem denotações várias, nas quais a relatividade predomina. Ou seja, não é algo absoluto, como diria na Antiguidade. Algo criado pode não ter o efeito esperado ao que o universo espera.

Hoje, nessa cultura (a nossa Ocidental), fazemos o que quisemos com as palavras, com os seus sentidos, e nos elevamos (ou não), mas sempre nos baseando naquilo que achamos. A palavra perdão é assim. Apregoamos-nos em seu sentido cultural, não universal, e a transformamos em... Universal!



Muito usada no meio religioso, sabemos que muitos a esperam da voz do padre, do pastor, sei lá, como se o próprio Cristo o fizesse... Mas será que o Salvador entende assim o perdão? Será que este mesmo vocábulo tem a mesma função na grande oração cristã, o Pai Nosso?... Não sei , e nem pretendo discutir isso...

No Oriente, tal palavra não tem o mesmo sentido, ou nem é pronunciada em alguns países, mesmo porque não a veem da maneira como nós. Chega a ser piada o significado que damos a ela para os orientais.

Todos eles, orientais, são claros no que acreditam. Não há a relatividade em palavras, sentidos, apenas referências nas quais se baseiam e que, ainda com influência ocidental, tentam seguir. E conseguem.

O perdão, na visão deles, para ser mais claro, não existe. Se contássemos uma história do tipo “houve alguém um dia que perdoou outro porque é divino, ainda que esse outro tenha feito algo desumano”, seriamos taxados de cômicos. Quase isso...

Para eles, que vivem em contextos culturais totalmente diferentes dos nossos, que temos uma visão aquém a respeito de disciplina, ordem, lei, são mais rígidos quanto a palavras, a símbolos, a nomes, a leis, etc. Não são tão flexíveis culturalmente. E quando dizemos que a palavra perdão, exercitada por todos como um ingrediente a servir a santidade maior, é claro que aí é cultural, para eles soa como algo cômico, mas não é assim, é cultural...

A maioria esmagadora dos orientais acredita em deuses, em Buda, em seres mitológicos dos quais se explica a origem do universo – diferente dos demais (maioria) ocidentais que não vão muito com essa, como diríamos em nossa santa ignorância, ‘crendice’ de que o universo é governada por deuses, e sim por Deus, um ser que está lá em cima nos vigiando e aos nossos atos, fazendo justiças, o bem e nos delegando a verdade quando a Ele nos referimos... Mais uma vez, para os orientais, somos iniciantes no quesito religião...

Quando se fala em deuses, fala-se das potencialidades conhecidas e desconhecidas do Uno. Não é algo aleatório, sem história, pelo contrario... Todas as nações, até mesmo algumas ocidentais, como Peru, México, tinham essa filosofia em suas religiões.

Quando se fala em deuses, ao contrario do que trama os filmes americanos, não se fala em seres fortes ou mágicos, mas de naturezas as quais todos os iniciados tinham que internalizar – havia escolas gregas, romanas, egípcias para tanto... --; fala-se de energias desconhecidas que fulguram em algum lugar e ao mesmo tempo e todos os lugares, daí a necessidade de nomear.

A nomenclatura Júpiter, Saturno (deus das Águas), Hades, Ceres, Tlaloc (deus da Chuva!), Hitzloptzile (deus da Guerra), Marte (também da Guerra!), etc vem de uma necessidade de louvar ou mesmo direcionar-se àquela divindade a fim de que o homem pudesse tornar-se mais familiar a ela, a essa energia que o beneficiava na plantação, que o protegia na noite, que o religava ao bem, e que longe delas seria o mal...

Enfim, tudo seria Deus. Mesmo o próprio homem em sua mentalidade obscura, cheia de mistérios bons e maus, não só participaria, como também seria um pouco dessa potencialidade...










(volto no próximo texto, perdão rs)











terça-feira, 1 de março de 2011

Na casa da Mamãe (fim)


Minha família tem muitas histórias interessantes, mas prefiro falar da saudade que sinto de todos – e poderia, nesse mesmo blog, me referir a todos mesmo – sobrinhos, cunhados, sobrinhos-netos, etc – os quais são pedras preciosas não só para a minha mãe, mas para mim também. Principalmente daqueles que viraram membros efetivos nas “reuniões” loucas que damos em datas comemorativas – falo do Beleza (quase irmão), Marcelo e Carlos, grandes caras!

Mas o núcleo, aquele formado pelos grandes e pequenos, é essencial para que uma grande família se desenvolva e se transforme no que é hoje. Dependendo da aceitação, haverá outros que se tornarão membros graças a estes, que considero a nata, todos os guerreiros e guerreiras do R e do J.

Rosângela, por exemplo, pelo seu ar sério, nos faz parecer que não gosta nem de água gelada para não doer os dentes, mas é carisma puro, é dança, é voz (trovão!), é dedicada e possui muita fé em Deus, assim como nossa genitora, Josefa. Nas festas, precisamos puxá-la para dançar, senão... Mas gosta de um bom vinho, de uma boa conversa e se derrete pelos homens banguelos de sua juventude... Pô, mas já tem um!

Rejane, nossa querida Bia, já dançou muito, mas no passado. Hoje, em razão de seus pequenos problemas de ordem psíquica, apenas observa a todos assim como uma grande “Xavier” dos x-men. Às vezes tenta interferir quando a bagunça ultrapassa a linha natural, ou melhor, quando ela acha que passou da linha.

Rosemary, a querida Meire, beque, meirinha..., senta-se ao lado dos grandes sábios da festa, como de sua mãe, e de sua irmã mais velha, e se destaca pelo seu sorriso, que, outrora, se infiltrou em corações da mais alta corte. Acho que ela tem um pouco de culpa do meu jeito de ser alegre. Antes, dançava e nos envolvia em seus passos, -- mesmo grávida – e muitas meninas sentiam inveja dela, porque os boys da hora dançavam junto. Hoje, é mais dedicada a sua família e, vamos dizer..., ao sacerdócio. Mas isso não a faz distante de nós, pelo contrário.

Ruth, apesar de gostar mais de pagodes e de seus cantores cheios da ginga, de vez em quando dança a música dos anos setenta, mas não por muito tempo...Quando nela bate o termômetro de que ficou dois minutos sem ouvir as lamúrias dos sambistas, a "briga" pela troca da música se inicia, rs! E, é claro, tenho que admitir, temos que ser democráticos, ainda que tal sistema de escolha seja sempre o pior, rs! – não sou eu quem diz, olha os governos aí!

Rose, enfermeira de plantão, está sempre disposta a dançar, beber, comer, falar, tudo que a festa-bangunça oferece. Sem ela, não há festa, não há casa, não há bagunça. É como uma missa sem o padre, o coral sem o regente, a orquestra sem o maestro. Rose se destaca pelo gingado que leva a vida; levou muitos negões ao suicídio (rs), e hoje está quase se aposentando, graças ao casamento... Será?

Eu, Reginaldo, Regis, Reginho, Dollar, lindão, Regisobelo, Nado... etc, apenas tento ser o que não sou, um ser belo por natureza, levando a vida nas letras, cheias de sentimentos e saudades dos encontros, da paz que nos traziam, do amor a que busco tanto, mas sempre me desemboco no oceano maldito dos metidos, dos falsos, dos grosseiros, os quais tentam me nortear tirando minha alegria de vez em quando, mas... O que somos nós, senão isso aí? Não é mesmo? Na relaidade, sou muito mais feliz do que devia. Estou no céu!

E a festa começa, bagunça à parte, todos sorriem, fofocam, criam casos, correm atrás de seus filhos, de seus netos, fazem pouco da cara do outro, do que o outro diz, e assim por diante. A irmandade está feita.

Depois de muita conversa repetida, muito vinho repetido, e cerveja idem... Aí vem mais conversa repetida, vinho repetido e cerveja idem! Kkkk! E vamos até a hora em que dona Zefa começa a fechar as portas em sinal de cansaço; mas somos resistentes!

Alguns dormem no lugar da cervejada, mais alguns vão para o colchão (aquele que já está cansado de sair do depósito só pra servir de chão a folgado); os corajosos vão pra casa – seja no Guará, Samambaia ou mesmo Valparaiso – e se aventuram sonâmbulos no meio do caminho.

No passado, havia aqueles que dormiam na cadeira de tanto beber; havia aqueles que se despediam da festa às seis da tarde, e só iam embora às duas da manhã. Mas é passado...

Hoje nos reunimos protocolarmente no dias das mães, ou mesmo no dia sete de setembro, para parabenizar (e festejar) a dona da casa, que nos leva ao céu com sua dedicação aos filhos, sempre, sempre teimosa em trabalhar com afinco mais que suas filhas na preparação de tudo, o que a faz mais jovem em certo ponto. Todavia não podemos abusar de qualquer que seja a juventude, muito menos dela.
Na verdade, não podemos abusar desse paraiso que se chama familia, pois somos seres que despreendem das leis facilmente, e em uma casa há leis que devem ser respeitadas, todas elas baseadas em principios, sejam cristãos, políticos, sociais, etc, mas que tragam sempre a união, a paz e a verdadeira confraternização a que estamos acostumados lá no fundo de nossas almas.
Temos que reservar nossos sonhos de união e realizá-los em familia, com todos unidos.
Que venha a próxima festa!



A Todos Irmãos.

A Parte que nos Falta

"É ótimo ter dúvidas, mas é muito melhor respondê-las"  A sensação é de que todos te deixaram. Não há mais ninguém ao seu lado....