segunda-feira, 28 de março de 2011

A Sombra de Um Espírito Guerreiro - final

Haiti


Falamos de comportamentos, de religião, de uma filosofia de vida maravilhosa advinda de lugares secretos, dos quais saíram povos orientais, cuja disciplina soma todas as outras a que assistimos e por elas passamos e relatamos aos amigos, filhos, enfim... E com um olhar meio débil, sentimos vergonha do nosso comportamento ocidental do qual não se pode tirar muita coisa. Mas somos ocidentais... E será que é só por isso que não temos a mesma possibilidade se sermos civilizados na hora em que problemas gêmeos aos dos orientais nos atingem?


Um exemplo disso, talvez seja – não querendo impor uma visão paradigmática – os terremotos do Haiti, do Chile, nos quais vimos o desespero, a dor, a miséria... – não nas consequências do terremoto – mas na consequência do próprio desespero em não saber lidar com a situação.


Comportamento


Os terremotos sempre existiram, assim como os vulcões, os tsunamis, maremotos, todos eles têm a razão de existir. É o comportamento clássico da natureza com a finalidade de renovar a terra, deslocando seus eixos, criando ondas, e qualquer que seja o país que estiver na zona de imperfeição terrena terá que passar por esse capricho da natureza.


O Haiti, como foi visto no inicio do ano, foi parcialmente destruído por um imenso terremoto, e países do Ocidente tiveram que ajudá-lo a se reerguer – uma tarefa não muito simples, mesmo porque aquele país, já pela natureza que se encontrava, tivera que lutar contra saques e violações de todos os níveis. Dizem que até mesmo crianças que tiveram seus pais mortos e que ficaram sem moradia foram levadas por máfias para terem seus órgãos vendidos.


O miserável país, hoje, sujeito a pouco tempo à colonização europeia, depois de meses na tentativa de se levantar, ainda com ajuda de milhares de organizações não governamentais, está esquecido, deixado pelas autoridades que sempre se julgam responsáveis por esse povo. Estados Unidos, Brasil, Inglaterra... e outros que tentam democraticamente organizar o país, depois do terremoto, ficaram como se fossem um bando de pássaros no céu se batendo sem saber para onde voar. O terremoto maior no Haiti se fez depois que o real terremoto se foi. Lixos, mosquitos, esgotos, agora mais do que nunca ativos numa terra de ninguém.


Os escombros estão lá, os famintos, agora com mais fome ainda; a ajuda humanitária é a mesma, sempre cuidando de suas mãos para que não se pegue nenhuma doença contagiosa. Sem falar na febre amarela que veio com tudo, pois em lugares pobres, cujos esgotos correm a céu aberto, onde crianças se divertem, tomam banho... Comem, bebem, e assim por diante, traduz a falta de organização de um povo comparado sub-raças esquecidas, além da desumanidade nossa de cada dia.


Sem cultura que os faça organizados, os haitianos, assim como todo o povo que passa por uma situação gêmea – terremotos, maremotos vulcões, tsunamis etc – cuidou para que seu país fosse assim. Filhos de colônias ditadoras, não souberam se organizar e viveram ‘até ontem’ sob o comando de outro governo, agora independente, democrático-tirânico, o que lhes deram mais pólvoras para revoltas homicidas e genocidas, das quais não se tiraram nada, nem mesmo o básico, muito menos paz.


O pais, um dos mais pobres do mundo, hoje, duela com muitos outros no contexto mundial para ser notado, mas a sua história temerosa – a sua cultura falha e o aspecto afro – tem lhes dado vários títulos como o ‘filhos esquecidos’; mas não por isso devemos deixar, bem claro, que uma nação, assim como uma pessoa, sente as dores do preconceito, e o Haiti, tal qual vários países africanos, sente a necessidade até de ter um terremoto, não real, mas um terremoto de humanidade advinda de todos os países.



Chile



Há países nos quais a miséria está longe, a educação é espelhada por vários outros, a política, a religião são bem notadas no contexto internacional, porém, quando há problemas maiores que ele, sabemos a cultura, a educação e até mesmo a sua estrutura são apenas castelos de areia que desabam em comportamentos humanos.


Pela coerência, é difícil até mesmo em comparar aos países pobres nos quais acontece o mesmo. A obrigação de serem mais disciplinados se vai com o primeiro tremor. Saques, tiros, violência foram menores em relação ao Haiti, contudo por essa obrigação sabemos que nos soa como um país mais miserável do que o colonizado. Esse foi o Chile.


É estranho, é desumano... É de deixar o mundo consternado pela falta de estrutura psicológica quando nos vêm problemas de igual naipe. Não só no Haiti, Chile, mas em países de grande porte como nos Estados Unidos, temos a impressão que o medo das pessoas está no por vir, não no acontecimento em si. Está certo que somos filhos de várias guerras genocidas, mas os japoneses também! Está certo que passamos por uma Idade Média, mas os japoneses, de alguma forma, também! Ou estou errado?!


Será por que somos menos religiosos, menos evoluídos – sim, talvez, mas em que sentido? Se comportamento mede a evolução de um povo, de uma pessoa... Temos que voltar às salas de aula, tentar entender o porquê de nossa incoerência com relação ao que dissemos, vivemos, pretendemos... Enfim, o porquê que somos filhos rebeldes cuja natureza é querer ser e não ser.



Comportamento


A filosofia de vida conta muito. Não adianta termos religiões sem ideais fortes dos quais possamos viver em paz e harmonia com o próximo; não adianta tentar entender o próximo se somos ainda incompreensíveis no sentido mais literal da palavra!


Marcus Aurélio, filósofo grego, dizia “Vamos parar de admirar as pessoas e vamos ser um deles!” – está faltando essa iniciativa interna, sem egoísmos, sem que tenhamos vergonha de dizer “temos que aprender com eles!” .


Vamos parar de admirar os japoneses e sejamos semelhantes a eles nesse sentido humano. Claro que, como foi dito, cada qual tem sua cultura e razões de ser, e nós temos a nossa. Mas isso não nos faz menores, pelo contrário... A vida nos dá oportunidades claras e mudanças em qualquer sentido, mas a que mais precisamos, urgentemente, é a humana.


E quando se nos passa um país sendo tomado por tsunamis, arrasando cidades inteiras... E seu povo preocupado em ser companheiro, organizado, limpo, amigo e irmão, parece-nos o inicio de uma nova raça, sei lá, como se tivéssemos esperanças renascendo lá no fundo de nossos corações.


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