quinta-feira, 24 de março de 2011

A Sombra de um Espírito Guerreiro


É admirável, inspirador, norteador e de encher os olhos. É o que posso, ainda me faltando palavras, minudenciar acerca desse povo maravilhoso que mora nessa grande ilha chamada Japão – e em meu coração.

Depois de inúmeros terremotos no passado, os quais o fizeram mais organizados no sentido de se preparem para outros no presente, nessa semana, os japoneses foram surpreendidos, mais uma vez, com a fúria da natureza não muito adormecida, e que, dessa vez, trouxe consigo o maior dos terremotos jamais visto no país, o que fez gerar tsunamis enormes – ondas que se iniciam pelo deslocamento interno das rochas – destruindo cidades, portos, aeroportos, pontes... Enfim, tudo que estava ao alcance do grande manto molhado que se iniciou no meio do mar e terminou por cobrir o que tinha sido feito em anos de vida pelos japoneses.

Contudo, assim como em muitos acontecimentos de semelhante natureza, eles conseguirão se reerguer e se transformarem, mais uma vez, em símbolos de fortaleza para a humanidade... Por quê?

Comportamento



Não é de hoje que o comportamento oriental nos dá um baile. Seja no aspecto religioso, familiar, social, filosófico, todos eles, em razão de uma cultura profunda, advinda do alto das montanhas, das escolas orientais e, é claro, de algo que jamais saberemos, como o simbolismo de sua história, mas que simplesmente nos revela, sempre que podem, a elegância humana em lidar com os fatos mais dantescos, catastróficos, nos ensinando, nos revelando, nos alegrando, nos impressionando... Enfim, alimentando esse nosso lado espiritual tão deteriorado pela Idade Média atual.

Não podemos generalizar, claro. Os orientais são apenas (entre aspas) mais práticos em relação a nós, quando são acionados a praticar esse lado interno. Nós, ocidentais, também temos, de acordo com nossa história, seres incríveis que nos plantaram aquela semente que nos faz mais fortes, mais dignos, mas a cada dia que passa somos levados por caminhos tortuosos do capitalismo, que, como um boneco cheio de cordas, nos trata e nos faz acreditar que o único caminho da vida é estar bem externamente, tirando-nos todas as possibilidades de nos reeducarmos em relação aos perigos iminentes da natureza, até mesmo de nossas pobres vidas.

Por que “nos reeducarmos”? Sempre soubemos que a filosofia vital é ser feliz independentemente de algo que produzimos, trabalhamos ou temos, mas a relação educacional do dia a dia nos faz trabalhar ao contrário disso. E não estou falando de hoje. Já faz séculos. Por isso... A admiração aos japoneses, chineses, etc.

Não que os orientais não sofram, mas sabem lidar com a situação, qualquer que seja, de maneira a serem mais organizados, menos agressivos, mais intuitivos, trazendo à tona mais reflexões acerca do ocorrido – em pequena ou larga escala.

Eles sofrem, e muito. Não há ninguém que não sofra nesse mundo, mas a natureza dos japoneses é de um povo que sempre conduziu a todos à sua ordem, ainda que sejam daoístas, confucionistas, xintoístas, budistas... Porém, além de tudo, são seres que possuem legados impressionantes em guerras, terremotos, o que ‘facilita’ ser o que são – seres preparados, disciplinados, com força para novos embates.

Mas, se dissermos que tudo isso os levou a ter um comportamento ‘x’, talvez estejamos corretos, contudo isso não explica seu comportamento, apenas revela parte do segredo deles.

Religião


No Japão, assim como em todos os países orientais, acreditamos que todo comportamento advêm do budismo, uma filosofia de vida que virou religião – legado de Sindarta Gautama, o pequeno homem que questionava a existência humana e que se iniciou embaixo de uma árvore, a qual, segundo alguns, ainda permanece na Índia, lugar em que nasceu Gautama. Daí veio o Buda, o iluminado, antes mesmo de os ocidentais terem seu próprio iluminado – Cristo.

As características de um seguidor do budismo talvez seja a calma, a paz interna, levada à pratica vivencial, a busca pelo silêncio, pela verdade, pelo amor ao próximo, mas sempre regada entender de maneira clara a realidade porque passamos.

Mas apenas parte, na verdade, bem menos do que se pensa, do Japão é budista. A grande maioria é xintoísta – uma outra forma de doutrina, confundida pelos ocidentais como religião. Xintoísmo, resumidamente, significa “caminho dos deuses” ou “caminho filosófico”.

Não tão antigo quanto o budismo, o xintoísmo teve seus primeiros escritos revelados nos séculos VII e VIII. Época em que o próprio xintoísmo não possuía ainda suas características, porque todo o pensamento dele era voltado à colheita dos povos, da mitologia, às estações do ano, enfim, não se podia vê-lo com características de um pensamento único no Japão, na China...

O xintoísmo é explicado pelo culto à natureza – o que revela a preocupação dos orientais com o valor simbólico que ela traz ao homem, e ao próprio valor material e espiritual dela; caracterizado ainda pelo respeito ao politeísmo, ao animismo (que vem de anima > alma > espírito), aliado a uma “cosmogonia” – uma doutrina que se preocupa em explicar a origem do universo, cosmo...

Assim, também o daoísmo (ou Taoismo, do Tao-Te-King, de Lao Tse), que se ensina o Tao, elemento simbólico que se subdivide em duas partes – preta e branca dividida ao meio – cada uma delas com um pequeno ponto, branco e preto respectivamente.

O Tal pode vir a significar o amplo universo em que vivemos, pode significar até mesmo cada um de nós, com dualidades, além dos mistérios iniciáticos dos quais pouco se fala no oriente, mas se pratica nas mínimas coisas – ou grandes!

Nele, no daoísmo, há elementos que – ao contrário das religiões do Ocidente – se fundem com o budismo, xintoísmo, até mesmo com o confucionismo, doutrina de Confúcio, um dos maiores sábios da China, acerca da natureza, da vida, dos cosmos, enfim, todas elas são claras a respeito de vários elementos essenciais à vivência humana, sempre com ideais maiores do que eles mesmos.

Daqui podemos tirar, talvez, um pouco do mistério que esconde o povo japonês.



(Continuo no próximo texto)

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